Delírio

O vento lá fora soprava forte. Estava sendo bem difícil dormir.

A menina de cabelos ruivos se revirava na cama de armar.

Fechou os olhos por um momento. Vislumbres de borrões vermelhos e verdes passaram por sua mente.

Em poucas horas estaria assistindo à partida final da Copa Mundial de Quadribol.

A ansiedade era enorme.

Uma coruja piava forte no andar de baixo. A menina se perguntou se Edwiges havia retornado. Harry não chegara com a linda ave, branca como a neve.

Harry... Por que pensava tanto nele? Isso começava a chateá-la.

Na verdade, sempre soube, desde pequena que gostava de aventura, e histórias fantásticas, e sem dúvida, amar o menino que sobreviveu poderia certamente, ser uma aventura e tanto. Logicamente não seria fácil.

Mas já não era fácil.

Ela poderia ser realmente apenas uma menininha boba, que acabara de completar 13 anos, mas ainda assim o admirava muito. Por que ele não reconhecia isso pelo menos?

Por que ele tinha que desviar o olhar sempre que ela o encarava? Ou será que era ela que desviava o olhar?

Suspirou.

“Por que sempre tenho que acabar me torturando em pensamentos absurdamente longos sobre o Harry?”- disse baixinho para si mesma.

Hermione se remexeu na cama, logo ao lado.

Gina olhou assustada, mas a morena dormia em um sono tranqüilo.

Por um momento muito breve e muito louco correu os olhos dos olhos fechados de Hermione até sua boca meio aberta, – era uma boca decididamente linda – aliás, desde que beijara Teo Boot, um menino meio magricela e narigudo da Corvinal no ano anterior,  andava reparando como a boca das meninas eram muito mais desenhadas e bonitas do que a dos meninos.

“Como seria beijá-la?” perguntou-se de repente em pensamento, a ruiva.

Logo achou-se louca e tentou varrer o pensamento da cabeça.

Era Hermione, ela acordaria, teria uma crise de pânico, e nunca entenderia sua súbita vontade.

Resolveu então desviar seu olhar para o céu negro lá fora.

Trinta segundos se passaram.

Parecia tarde de mais, precisava daquilo.

Ela levantou-se e se postou de joelhos em frente ao rosto da morena.

Com certeza Hermione acordaria.

“Poderia dizer que eu estava sonhando?” perguntou-se Gina, novamente em pensamento.

Foi aproximando sua boca da boca de Hermione. Já conseguia sentir sua respiração. Era um hálito gostoso...

Precisava bolar um plano.

Ela voltaria rápido para a cama de armar e fingiria estar dormindo.

Foi então que aconteceu. Muito rápido, muito súbito. Encostou fracamente seus lábios nos lábios de Hermione. A menina estremeceu, mas não acordou.

Gina, de um salto silencioso deitou-se e se cobriu novamente.

Virou-se para o outro lado. Se Hermione acordasse, não a veria acordada também.

 

Aproximadamente dois minutos depois ouviu Hermione indagar; a voz bem fraca:

- Gina?

A ruiva não respondeu.

- Gina, você está acordada? – insistiu a menina.

Continuou em silêncio.

Ouviu a morena se revirar.

- Acho que tive um sonho... estranho... – Sua voz estava mais baixa, provavelmente havia se virado para a parede também.

Silêncio.

Será que Hermione acharia mesmo que fora um sonho?

Talvez Gina nunca viesse a descobrir.

A única coisa que agora ela sabia, era que a boca das meninas – se todas fossem iguais a de Hermione – eram incrivelmente macias, saborosas.

A ruiva não dormiu aquela noite.

Permaneceu ali, pensamentos indo e vindo, até o amanhecer.

 

 

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.