Capítulo Único

 

Everything Fades to Gray

O cinza é a cor que resume minha existência.

É misturar branco e preto numa harmonia imperfeita. É estar entre as trevas e a luz, entre o bem e o mal. Ou com uma vida em cinzas, a decompor-se.

Até eu conhecê-la.

Hermione. Aquela que coloriria parte de minh’alma de escarlate. Vermelho de paixão, de desejo, de entrega. E de amor.

Ela era a flor substituindo outra. Para mim o lírio, com o passar dos anos, foi pendendo, uma a uma, todas as suas pétalas – e também a sua graciosidade. A flor branca estava fadada a morrer no gélido Jardim do Esquecimento, enquanto no Jardim da Vida eu cultivava a rosa vermelha que, rodeada por beija-flores, sorria para a primavera. E para mim.

O sentimento – e sofrimento – passado, enfim, seria substituído pela perfeita sensação de ser amado profundamente.

Até eu perdê-la.

Deixei de inebriar-me com seu perfume, quando tive a insensatez de pedir-lhe para me esquecer, por não achar-me o homem ideal para você. Estava enganado. Profundamente.

A minha rosa, entrementes, também deixava cair algumas de suas pétalas quando eu parecia desprezar sua formosura e encanto. Estava enfraquecida, era regada por lágrimas amargas e plantada num terreno infértil.

Até eu reconquistá-la.

– É você que eu amo, Hermione. Fique comigo.

Mais do que nunca eu enxerguei em castanhos a esperança e seu brilho capaz de cegar. Ali me convenci de que aquela flor jamais morreria dentro de mim!

Prometi não mais dar-lhe as costas. Você fez de mim um homem orgulhoso no melhor sentido da palavra. Egoísta por não abrir mão do meu amor, e do seu também. Promessa que eu cumpriria até o último dia neste mundo, ao mesmo tempo, tão cruel e generoso comigo.

Eu me curvaria diante de sua grandeza.

Até a morte.

Quando o cinza novamente estaria presente.

Grisalhos estavam meus cabelos. E a fraqueza e a velhice me subjugariam.

O cinza agora era a sua cor também. Da rosa que também perderia suas pétalas e que esperava apenas por seu definhamento. A minha rosa do amor.

 

 

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