Capitulo 1



O cachecol era uma lembrança de um passado que só ela se lembrava existir. A foto presa a ele era a prova de que ele havia existido, mesmo que só ela soubesse disso. Pousou carinhosamente o cachecol dentro do baú assim que ouviu passos se aproximando. Sussurrou algumas palavras e o baú estava selado, podendo ser aberto apenas por ela. A porta foi destrancada e o quarto invadido por um homem de longas vestes negras.


- Sairemos esta noite. Certifique-se de se comportar, Lily. – Ela o ouviu dizer, com desdém.


- Me chame de Evans, Snape. – Ordenou, sem olhar para o homem – E pode ficar tranquilo. Esse quarto é uma suíte, então não preciso sair daqui em momento algum.


A frase foi dita com um sarcasmo rancoroso, seguindo pelo olhar quase arrependido do homem pousado no vão porta. Quase: preferia tê-la ali a vê-la com ele.              


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Os jardins estavam ensolarados de maneira quase insuportável, assim como o calor. Nem ao menos sentando á beira do lago era possível refrescar-se. E agora que não podia ficar sem camisa, a situação era ainda mais desconfortável.


- Ei, não quer dar um pulo no lago? – perguntou, beijando o pescoço da namorada, mas logo foi parado.


- Sabe que não podemos. – ela respondeu, sem tirar os olhos do livro.


- Mas ta quente de mais. Tenho certeza que ninguém nos delataria.


- Por Merlin, James, você é Monitor Chefe!


- Exatamente por isso ninguém dos delataria! Além de Monitor Chefe, também sou popular – depositou um beijo na bochecha dela – lindo – depositou outro – e artilheiro do time de quadribol da Grifinoria! Por que alguém iria querer me ferrar?


- James, sabe que não podemos fazer isso por que... – Parou de ouvi-la antes que pudesse se dar conta disso. Algo em seu subconsciente lhe dizia que nunca havia parado para observá-la, enquanto outra parte dele lhe avisava que já havia feito aquilo milhares de vezes. Cabelos longos, cor acaju, quase sempre soltos. Quando não estavam soltos, sabia que estariam em uma trança frouxa ou um coque. Olhos verdes e intensos, quase hipnotizantes. Pele levemente pálida, colorida apenas pelas poucas sardas espalhadas no nariz. Lábios finos que se moviam de maneira sedutora, mesmo quando gritava. Nem ao menos percebeu quando a calou roubando-lhe um beijo, rapidamente correspondido.


O livro foi deixado de lado e não disseram nada quando o beijo cessou, apenas pousaram-se entre as raízes da gigante árvore ao pé do lago. Ele fechou os olhos e relaxou. Adorava ficar daquela maneira com a namorada, lhe trazia paz e certa esperança no que lhes aguardava ao final daquele ano letivo. Não sentiu quando a namorada retirou seus óculos, mas ouviu bem o melhor amigo gritando seu nome.


Ao abrir os olhos teve a impressão de ter visto a mistura borrada de verde, amarelo e azul que costumava ver quando estava sem óculos nos jardins da escola. Piscou uma vez e constatou o que não queria: o teto marrom de seu quarto. Ao seu lado, Sirius gritava palavras sem nexo e tirava roupas do armário escancarado. Não conseguiu fazer a não ser murmurar o nome do amigo, confuso, e buscar os óculos ao lado da cama.


Sirius estava impaciente ao ponto de ter prendido o cabelo longo e ondulado, e tinha uma rara expressão seria no rosto. Ou não: com tantos ataques, não era mais tão difícil vê-lo naquele estado. Olheiras profundas, suor lhe cobrindo o rosto e raiva nos olhos. Onde estavam aqueles tempos tranquilos nos domínios de Hogwarts?


- ... Que merda Bellatrix tem na cabeça? E aquele nojento do marido dela, então? Por Merlim, qual a graça em atacar um vilarejo trouxa?! – É, ele estava realmente nervoso, mas nem James, que o conhecia tão bem, poderia dizer exatamente o por que. Mesmo que sempre tivesse certo gosto por itens trouxas, não chegava ao ponto de ficar naquele estado. Nunca nem ao menos haviam tido uma amiga trouxa para justificar tanta raiva.


- Outro ataque? – James murmurou, levantando-se da cama e colocando a calça, já desperto.


- Mas é claro que sim, né, James?!


- Ok, respire um pouco e espere pra descontar a raiva nos comensais. – declarou já vestido – Onde é dessa vez?


- Subúrbio trouxa, mais afastado da cidade, pra nossa sorte. – Informou, e aproximando-se e segurando o braço do amigo, aparatou.


 


A área onde aparataram estava calma, mas podiam ouvir feitiços, gritos e estrépitos vindos logo adiante. Imediatamente se dirigiram até lá, com pressa. Sirius mais do que James, que ainda tinha na cabeça seu último sonho. Ou diria lembrança? Nos últimos seis meses não sabia distinguir ou entender os tais sonhos. Sempre em Hogwarts, sempre com seus amigos e sempre com uma garota ruiva.


O toque, o aroma, a suavidade da pele, as mãos quentes envolvendo a sua. Por que aquilo lhe parecia tão... tão nostálgico e ao mesmo tempo desconhecido? Remus uma vez lhe disse que a guerra o mudou muito, o havia deixado mais serio mais adulto. James discordava. Acha que os sonhos o haviam deixado assim. A falecida mãe já havia lhe dito que desde pequeno ficava serio com coisas nostálgicas ou enigmáticas. Não resistia a ficar pensando o tempo todo naquilo, até que descobrisse o que era, e agora não era diferente.


Nos sonhos, sempre que olhava para a tal ruiva, sentia-se relaxado. Algo crescia em seu peito e lhe deixava com a incrível vontade de abraçá-la, beijá-la, levá-la consigo para longe dos olhares divertidos dos amigos e reprovadores dos alunos da escola. Queria possuí-la, tê-la para si, acorrentá-la a ele, deitar em seus braços e nunca mais sair de lá. Mas por que se sentia assim?


Nem um duelo com Dolovh o tirava daquela linha de pensamento. De onde a conhecia? Já sonhara com ela em cada parte do castelo de seu antigo lar, em todo tipo de situação. Uma briga, uma conversa, uma discussão simples, outras divertidas. Já sonhara estar com entre beijos e abraços, comentários maliciosos e declarações fortes. Tudo era real, tudo parecia real... a não ser pelo fato de nunca tê-la acontecido. Em todos os sete anos na escola de magia, nunca conhecera uma garota ruiva, não que fosse da Grifinoria. Havia uma de Corvinal, mas sabia que ela tinha os olhos castanhos, e tinha certeza nunca ter tido mais intimidade do que um beijo com a garota.


- Mas que merda ta fazendo, James?! – Não viu o rosto de quem havia lhe puxado para atrás de um muro. Não precisava, sabia quem era. – Tá dormindo ainda, é? Quer morrer, seu imbecil?


- Foi mal, Remus, eu só... – “Só estou pensando em alguém que não existe, mas que não sai da minha cabeça há meses”, completou mentalmente. Pousou os olhos, por um instante, no rosto do amigo. Algumas cicatrizes o marcavam, varia ali ele conhecia, e o olhar estava cansado, mas decido a lutar. Não era hora de preocupar-se com um sonho, não com os amigos correndo perigo. – Tem algum ferido?


- Fenwick foi torturado, mas já o salvamos, ficou inconsciente. - Ele se virou para ele – É melhor acordar, Pontas. Deixa pra dormir depois.


Concordou em um aceno e ambos se separaram. Dormir. Sim, sem duvida era o que mais queria naquele momento. Sabia o que esperar ao sair da escola, mas não imaginava que seria tão intenso. Talvez seja por que outros comensais se formaram com ele. Talvez por que quisessem exterminar o que restara da Ordem da Fênix. Talvez quisessem matar aqueles que deixaram órfãos, já que não puderam fazê-lo enquanto estavam protegidos dentro dos portões de Hogwarts. O sangue lhe subiu a cabeça e saiu em disparada atrás de um comensal que tentava fugir escondido. Ele poderia ter sido o assassino de seus pais, e mesmo que não fosse, merecia morrer.


O comensal, cujo rosto era protegido por uma mascara, corria para a parte abandonada da pequena vila: a parte que fora destruída por uma antiga guerra entre trouxas. Não demorou a chegar, e quase o perdeu de vista observando os escombros do local. Prédios destruídos, carros antigos de cabeça para baixo, tudo entre um matagal obviamente ignorado pelos poucos trouxas que viviam nas redondezas. Seguindo o comensal, entrou em um prédio de poucos andares, com paredes destruídas, moveis revirados e parte da escada destruída. Ao ver a capa do comensal, subiu as escadas apressado.


Seguiu seu instinto e entrou na primeira porta que vira. 

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