capitulo 5



 "Dançando no luar. Todo o mundo está se sentindo quente e luminoso. É uma visão tão boa e natura. Todo mundo está dançando no luar.”


 A viagem pelo Congo durou três semanas. Luna se divertiu imensamente, a pesar de não ter encontrado o menor indício da existência dos tais gorilas gigantes.


Não pode deixar de se sentir um pouco deprimida ao voltar para casa. Gina tinha marcado o casamento para a semana do Natal, por algum motivo tinha achado que seria um jeito inteligente de unir parentes e amigos para festejarem duas datas de uma só vez. Mas na manhã do dia 21 o dia amanheceu congelante, nublado e com mais ou menos trinta centímetros de neve cobrindo o chão.


De alguma forma, quando o relógio indicou oito da noite, não havia mais o menor sinal de neve no chão sob a tenda aquecida. Tudo estava perfeito, ainda mais perfeito do que o casamento de Gui e Fleur.


Gina tinha feito questão de escolher as cores dos vestidos das madrinhas. Hermione bem que tinha tentado tirar aquela idéia da cabeça da ruiva, mas não tinha conseguido ter sucesso.


Luna não achou nenhum motivo para não aceitar a escolha da amiga e no momento que entrou na tenda ao lado de Neville e caminhou até o altar para ficar ao lado dos outros padrinhos, soube que Gina tinha escolhido aquela cor especialmente para ela. Se sentiu encabulada com os olhares de admiração, mas ainda assim agradecida por ter uma amiga como Gina Weasley.


Foi uma cerimônia simples e bonita, era evidente o quanto os noivos se amavam e aquilo por si só já enchia todos de alegria.


Neville foi rápido em chama-la para dançar assim que os casais começaram a se unir aos noivos na pista. Acabou dançando com ele as dez primeiras músicas. Sem intervalos para descansar.


Sempre gostara de dançar. Durante as férias de verão, costumava passar as tardes no quintal de casa. Às vezes apenas sonhando acordada, outras cuidando das flores e quando se sentia muito feliz ou cheia de energia, gostava de dançar.


Abria os braços e rodava. Às vezes no mesmo lugar, outras por todo o quintal. Gostava de sentir o sol esquentando seu rosto, a terra e a grama debaixo de seus pés e o vento acariciando seus braços e levantando seus cabelos. Sempre sozinha.


Era diferente estar dançando acompanhada agora. E difícil. Devia estar fazendo algo de errado, porque ela e Neville não pareciam estar se entendendo.


No final da terceira música, Neville já tinha quase pisado nos pés dela pelo menos duas vezes. No final da quinta, Luna só conseguia pensar em tirar as sandálias de salto e sentir o chão, mesmo sabendo que estaria frio. No começo da sétima, Neville pisou no pé direito dela sem querer e passou o resto do tempo se desculpando e olhando para os próprios pés. Quando os acordes finais da décima música foram abafados pelo som das vozes dos convidados, Luna ficou na ponta dos pés e beijou a bochecha do amigo.


-Obrigada, Neville.


Se afastou antes que ele começasse a se desculpar novamente. Gostava muito do amigo e sabia que ele ficaria ainda mais embaraçado se ela continuasse por perto. Neville mudara muito durante a guerra, mas em certos momentos ele parecia voltar a ser o menino atrapalhado de antes.


Foi um pouco difícil sair da tenda, por algum motivo outros rapazes pareciam ansiosos para dançar com ela. Mas aquelas dez músicas com Neville a fizeram entender que gostava mais de dançar sozinha.


Sentiu a primeira lufada de ar gelado logo depois de declinar do convite de Harry e conseguir deslizar para fora da tenda, levando o casaco de veludo que o pai tinha lhe dado de aniversário.


A neve havia parado de cair, mas tinha deixado todas as superfícies cobertas de branco. E Luna só queria sentir um pouco o frio e a textura da neve. Ouvir o som engraçado de seus passos todas as vezes que os pés afundavam naquele tapete branco e macio.


Se afastou lentamente da tenda, quando deu por si estava deitada na sua parte preferida do quintal dos Weasley, fazendo um anjo na neve. Não fazia aquilo desde o último Natal. Riu sem nenhum motivo especial e fechou os olhos sentindo o frio penetrar em sua roupa e a respiração voltar ao normal.


E então algo aconteceu.


No começo ela pensou que estivesse imaginando, mas depois de um minuto teve certeza. As borboletas estavam de volta. Batendo novamente as asas dentro da barriga de Luna. Ela sorriu, ainda sem abrir os olhos, tinha sentido falta delas. Durante as semanas no Congo, elas pareciam despertar sem motivo, bastava que ela lembrasse de sua última noite na Inglaterra ou que alguma coruja chegasse trazendo suas cartas.


Mas agora era uma sensação diferente, elas estavam mesmo agitadas e também desconfiava que suas pernas e braços estavam ficando dormentes, mas a culpa daquilo podia ser da neve.


Todas as sensações intensificaram quando ele deitou na neve ao seu lado. Não precisava abrir os olhos ou perguntar quem era. Sentiu o rosto ficar quente e as borboletas se agitarem ainda mais, elas pareciam decididas a sair. Talvez quisessem dar uma olhada em George Weasley, Luna não podia culpa-las. Ela também sentira falta dele.


Virou o rosto na direção dele pronta para comentar das borboletas, mas o olhar dele a pegou de surpresa. Parecia incomodado, triste, preocupado com alguma coisa, talvez.


Sentiu como se todos aqueles sentimentos passassem dele para ela, apenas com a força daquele olhar. Imaginou se aquele não seria algum tipo de dom especial do rapaz.


-Você dançou bastante com o Neville...


A voz dele soou baixa e impessoal, mas por algum motivo ela notou um certo tom de acusação ali. Não conseguiu entender o porquê. Continuou olhando para ele sem piscar, tentando ler o significado daquilo nos olhos dele.


-Ele pediu.


-Eu notei...


Luna sentiu um arrepio estranho correndo por sua espinha. Era engraçado como já não sentia o frio, não escutava mais a música e até as borboletas pareciam ter parado de se debater.


Queria saber o que responder, mas a única coisa que conseguia pensar era na proximidade do rosto de George e em como podia contar cada uma das sardinhas que cobriam o rosto do ruivo. Sentiu a mão dele envolvendo e esquentando a sua, ao mesmo tempo em que tomava consciência do calor que o corpo dele parecia irradiar ali pressionado junto ao seu.


Os olhos dele já não transmitiam preocupação ou tristeza. Agora pareciam emitir calor, esperança e alegria. Eram tão convidativos, ela não conseguiu evitar de se mover na direção dele. Trazendo seu rosto para mais perto do de George.


Apenas para ser arrastada de volta a realidade pela voz de Fred gritando de uma certa distância.


-George, pára de sugar o rosto da sua namorada e traz ela de volta pra tenda. Os noivos já estão indo embora. E descongelem as bundas antes de entrarem.


-Fred! Isso é coisa que se diga?- uma voz feminina reclamou. Luna reconheceu a silhueta extremamente grávida de Angelina junto da de Fred.


-Qual é o problema, Angie? Estou preocupado com a saúde do meu irmão e da minha cunhada e se eles pegarem pneumonia por causa das bund...


-Fred!-Angelina agarrou a orelha do marido e o arrastou para dentro da tenda.


-É melhor nós irmos, antes que Gina venha nos caçar em pessoa.-George disse, ficando de pé e oferecendo sua mão para ajudar Luna a se levantar.


A festa continuou mesmo depois dos noivos terem ido embora. Já passava das três da manhã quando George se ofereceu para acompanhar Luna até em casa. Em um dia normal ela teria preferido ir andando, mas a temperatura parecia ter caído ainda mais. Por sorte eles dois tinham acolhido a sugestão de Fred e se descongelado antes de entrarem na tenda.


As borboletas voltaram a despertar quando George passou os braços em volta do corpo de Luna e a trouxe de encontro a si em um abraço apertado e aconchegante. Em poucos segundos aparatavam na frente da casa dela.


George parecia ter sido novamente tomado pelo silêncio. Luna podia sentir o olhar dele sobre ela enquanto abria a porta de casa.


-Tudo bem se eu ficar até que seu pai chegue?-ele perguntou, seguindo-a para dentro de casa.


Ela o observou sem piscar durante alguns segundos. Era incrível como ele parecia não cansar de surpreendê-la. Concordou, afinal, era meio inútil dizer que não depois que a pessoa já tinha tirado o casaco e se acomodado confortavelmente no sofá.


-Quer um chá?


-Seria ótimo. Quer ajuda?


-Eu sei fazer chá.


A risada de George ecoou pela sala enchendo o lugar de eletricidade. Luna sentiu a vibração no ar e uma vontade incontrolável de rir junto. Até as borboletas bateram as asas alegremente.


Foi para a cozinha fazer o chá. Imaginou que ele fosse segui-la, mas isso não aconteceu.


Quando voltou para a sala, levando duas xícaras fumegantes, encontrou George de pé em um canto encarando fixamente o mapa mundi que ela tinha pintado na parede.


-As estrelas vermelhas são os lugares onde já esteve?-ele perguntou ao pegar a xícara.


-São.


-E as azuis?-ele passou as pontas dos dedos em uma foto onde Luna aparecia de cabeça para baixo rindo. As penas estavam envolvidas na tromba de um elefante que balançava a cabeça alegremente, segurando a garota no ar. Em cima do retrato estava escrito Índia e do lado do nome uma estrela vermelha.


-As azuis são os lugares onde eu gostaria de ir. -Luna respondeu sonhadora.


Os olhos de George pararam sobre a única estrala dourada no mapa. Ela estava marcando a ilha de Bali e debaixo do nome do lugar, Luna tinha colado algumas reportagens cuidadosamente recortadas do Profeta Diário e do Pasquim. Junto dos recordes havia também o esboço do que parecia ser um tipo de criatura pré-histórica, uma mistura de monstro marinho com "Deus sabe o que". Ele chegou mais perto e leu o nome do bicho: Garadiávolo - a face do demônio.


Luna levou um susto quando George começou a tossir e apontar freneticamente para o desenho. Largou imediatamente a xícara que segurava e correu para ajudá-lo. Bateu nas costas dele tentando faze-lo desengasgar.


-Luna... O que significa isso?-ele conseguiu perguntar depois que parou de tossir. Continuava apontando para o esboço e seu rosto estava coberto de manchas vermelhas devido ao esforço para não morrer engasgado.


-É meu próximo destino.


-Seu próx... Luna!-o ruivo balançou a cabeça e deixou a xícara, ainda cheia, em cima da mesinha de centro da sala.


Antes que ela pudesse perguntar o motivo da reação estranha, ele voltou a falar.


-Isso não está dando certo. Não, não, nem um pouco...


Ficou parada observando-o dar uma volta pela sala desarrumando o cabelo e falando com ele mesmo. Sentiu uma vontade irresistível de sorrir, mas conseguiu se conter. Achou melhor descobrir sobre o que ele estava falando antes que acabasse ofendendo-o sem querer.


-O que não está dando certo?


-Isso! Nós dois. -ele parou de andar e olhou para ela franzindo a testa. E Luna achou que talvez tivesse perdido alguma parte da conversa, porque não tinha a menor idéia do que ele estava falando.


-Nós dois?-repetiu lentamente, como se a explicação fosse surgir no meio das palavras a qualquer momento.


-É, nós dois... Quanto tempo você vai ficar fora dessa vez?


-Hummm, não tenho certeza. Alguns meses talvez. Até encontrar o Garadiávolo.


-Alguns meses?-George parecia chocado e estranhamente ofendido com a resposta. Abriu e fechou a boca algum tempo e Luna ficou ainda mais confusa com aquela imitação de peixe, seria possível que ele quisesse lhe dizer alguma coisa com aquilo?


-Você está se sentindo bem?-começou a ficar preocupada depois de cinco minutos.


-Não, não estou. Luna, eu sei que nós ainda não falamos sobre isso e que talvez seja muito cedo, mas você é minha namorada e eu não acho legal isso de você ficar viajando pelo mundo afora sozinha... procurando esses animais exóticos imaginários e possivelmente perigosos.


E nesse exato momento ela se sentiu bem por não estar escutando e bebendo chá ao mesmo tempo, ou com toda certeza teria cuspido todo o líquido quando ouviu o que ele disse. Não achava que seria uma coisa indicada para se fazer na frente do namorado.


-Namorada? Eu sou... Eu... Nós somos?-o tom de surpresa na voz dela não passou despercebido.


O rosto de George ficou imediatamente vermelho, mais vermelho os cabelos dele, mais vermelho do que as cores da Grifinória. Ele não falou mais nada, apenas ficou ali, parado no meio da sala. Com o rosto totalmente vermelho, o corpo rígido, as mãos fechadas com tanta força que estavam totalmente brancas. Luna deu um passo na direção dele e isso foi o bastante para trazê-lo de volta para a realidade.


Ele virou de costas para ela e cobriu o rosto enquanto murmurava todos os palavrões conhecidos e os nomes dos irmãos. Ela parou próxima a ele e ficou observando os movimentos de seus ombros enquanto ele respirava lentamente, se acalmando aos poucos.


-Desculpa Luna. Eu... Sou um idiota.


Luna se assustou com a mudança de tom na voz dele. Talvez fosse melhor se afastar, mas não conseguiu se mover quando ele virou de volta e a encarou. Os olhos dele estavam cheios de sentimentos confusos. Como se uma tempestade estivesse acontecendo dentro dele naquele momento e ela se sentiu atraída para dentro daquele tumulto de emoções. Piscou duas vezes e tentou se concentrar quando notou que ele continuava falando.


-... Mas eu pensei que você soubesse o que estava acontecendo. Quer dizer... Nós já estamos saindo há dois meses e eu não estou vendo mais ninguém e pensei que você também... E Gina e Fred disseram que... E a mamãe... E Gui e Carlinhos falaram que eu devia ir devagar por que... Eu não queria te assustar. Pensei que você queria ir devagar, você é tão diferente de todas as garotas que eu já saí. Tão diferente de todas as garotas. -ele respirou fundo e soltou o ar lentamente antes de olhar bem nos olhos dela e completar.


 -Agora está claro que eu imaginei tudo. -ele deu uma risada triste e forçada. -Muita coisa faz sentido agora...


Luna teve que se controlar para não bater na barriga na frente dele, porque suas borboletas de estimação estavam indóceis. Tudo fazia sentido agora!


-Não!-ela exclamou e riu, entendendo tardiamente que tinha se deixado levar pelo óbvio quando devia ter se concentrado e enxergado com o coração.


Todas as pistas tinham estado na sua frente: as borboletas, o rubor, os encontros tão curiosos e diferentes, porque eram mesmo encontros. Sabia que George devia estar achando que ela era maluca, rindo daquele jeito fora de ocasião. Mas não conseguia se controlar. Se jogou na direção dele, literalmente, e o abraçou com força. Fechando os olhos para se concentrar na sensação maravilhosa de tê-lo tão perto.


-Namorada soa maravilhoso. -finalmente disse, virando o rosto para cima e encarando os olhos ainda cheios de confusão de George. Seu namorado ainda tinha muito que aprender sobre ela. Por sorte, eles tinham muito tempo pela frente.


Observou a compreensão encher os olhos dele de alegria e sorriu ainda mais quando ele passou os braços em volta dela, abraçando-a de verdade.


-Isso quer dizer que nós podemos nos beijar agora? - o sorriso no rosto dele era ainda maior do que o dela.





Música: Dancing In The Moonlight – Robbie Williams

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Comentários (3)

  • Arcenildes Nascimento

        Oh! Pelo amor de Deus! Beija logo antes que eu tenha um enfarte! Amo desesperadamente essa casal! E adoro essa fics!!!!!

    2012-03-17
  • marcela miranda

    muito Obrigada Tah Snape ;D

    2011-12-19
  • Tah Snape

    OOOOOOOOOWWWWWN, fofura demais, e vc escreve super bem. u_u Adoro a fic s2 E eu reaaaaaaalmente vou comentar em todos os capítulos, só que com a preguiça, eu vou demorar para ler todos u.u, pq eu sou muuuuuuuito preguiçosa, vc não tem noção, ninguém tem DD; Eu acho udshhadsuadshu Mas eu realmente gosto muito dessa fic *-*

    2011-10-12
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