Único



O pior era que ela entendia. Ele tinha o mundo nas costas, sempre teve. Ela tinha que arcar com as consequências de amar o garoto no qual o mundo bruxo inteiro tinha esperanças. Mesmo depois dele ter derrotado o inimigo.


A família Weasley estava em luto. Aliás, a maioria das famílias bruxas e trouxas – as que perderam seus filhos bruxos ou amigos dos mesmos na guerra – estavam de luto. Tudo estava se reconstruindo ainda. Hogwarts estava levantando lentamente. Azkaban ainda possuía os dementadores como guardas, apesar de ter mais aurores reforçando a segurança. Vilões estavam sendo julgados.


Apenas a reconstrução do coração de Gina parecia ter sido adiada. E ela entedia completamente. Porém, isso não a impedia de chorar.


Na verdade, a pequena Weasley não gostava de chorar. Nenhum pouco. A não ser que fosse algo realmente grave. Como a morte do irmão. Ou quando ela pensou que Harry estava morto. Ou como agora, quando seus sentimentos ruins que estavam guardados há tanto tempo, explodiram na forma de lágrimas.


Seu corpo já parecia programado para não chorar, tanto que poucas lágrimas saíram. Ela se odiou por isso; gostaria de chorar tudo logo para não acontecer de novo. Apoiou os braços cruzados sobre o joelho e jogou sua cabeça para trás, olhando o teto e deixando escapar um soluço.


Três batidas na porta.


Rapidamente, Gina secou suas lágrimas com a mão, engoliu o choro, respirou fundo e, mesmo sabendo que seu rosto ainda estava vermelho e denunciaria o que estava fazendo há cinco segundos atrás, ela disse:


– Entra.


Quase desmaiou quando viu quem era.


– Oi, Gina.


– Harry? – Sua voz estava trêmula. Ela não sabia se era do choro contido ou se era da surpresa.


Ele sorriu. E isso foi o bastante. Ela pulou de sua cama e o abraçou como se aquele fosse o último abraço que ela poderia dar nele. Ninguém falou nada nos próximos segundos. Ambos ansiavam por aquele abraço.


– Você estava chorando? – Harry perguntou, quebrando o silêncio e afastando-se de Gina o bastante para olhar seu rosto. Afagando seus cabelos ruivos, percebeu que os olhos da garota estavam vermelhos e seu rosto estava inchado. Como alguém que acabou de chorar.


– Não. – Ela mentiu. Estava estampado em sua voz.


– Não minta pra mim, Gina. – Harry pediu. – Está praticamente escrito em sua testa.


Ela suspirou e escondeu seu rosto no peito dele.


– Com tudo o que está acontecendo, tudo o que aconteceu... É difícil de lidar. – Gina desabafou. – Pode me achar idiota por falar isso para você – Ela continuou, dando uma risadinha. –, que vem lidando com coisas difíceis desde que nasceu...


– Ei. – Harry levantou seu rosto com a ponta dos dedos. – Não diga isso. Você não é idiota. Você é uma das pessoas mais fortes que eu já conheci, Gina.


– Sério? – Ela contraiu os lábios e o olhou pelo canto do olho.


– Sério. – Ele sorriu.


Ela sorriu também, passou seus braços pelo pescoço dele e enterrou o rosto em seu ombro. Gina se sentiu leve, naquele momento. Como se não houvesse mais problemas. Para ela, o abraço de Harry era como uma bolha. As coisas com a qual ela não conseguia lidar, ficavam de fora.


– Uma das coisas difíceis de lidar – Harry sussurrou em seu ouvido. – somos nós?


Ela hesitou. Respirou fundo. E assentiu.


– Por quê? – Ele perguntou. Ela entendeu aonde Harry queria chegar.


– Eu estou com medo. – Ela sussurrou.


Parecia que no momento em que a bolha fora formada, eles não poderiam fazer um ruído mais alto, senão tudo se quebraria.


Ele a abraçou mais forte.


– Medo de quê?


– Medo de você ir embora de novo.


– Não haverá mais adeus. ¹


– Medo de voltar à estaca zero, quando eu tinha onze e você me via como a irmã do seu melhor amigo.


– Não dá pra voltar ao passado, Gin. Felizmente, nesse caso. Eu te prometo que isso nunca vai acontecer.


– Medo de você não me amar. – Os olhos dela se encheram de lágrimas, então ela os fechou para que ele não tivesse nenhuma chance de ver, mesmo com seu rosto escondido.


Mas sua voz estava embargada. Harry notou que Gina estava chorando. Afastou-se dela minimamente e tentou soltá-la para ver seu rosto. Porém, ela negava e se escondia mais. Ele suspirou.


Engole o choro, sua imbecil!, Gina xingou-se por pensamento.


– Gina, por favor, não chore, você sabe que sempre amarei você. ² – Harry disse, com a maior sinceridade que poderia juntar no mundo.


Ela enfim olhou para ele, com seus olhos marejados, mas sem nenhuma lágrima derramada e, lentamente, um sorriso foi nascendo em seus lábios.


Nenhuma palavra mais era preciso ser dita. Ambos sorriram um para o outro e, com o coração leve de quem resolvia uma complicação, se beijaram sem pressa, sabendo que tinham toda uma vida pela frente.


 


 


¹ “No goodbyes this time” é uma frase da música que inspirou a fic, Open at Close, do Oliver Boyd and the Remembralls.


² “Ginny, please, don’t you cry, you know I’ll always love you”  também é um frase da música. Na verdade, foi essa frase que deu início a idéia da fic.

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