O perdão




- Murta?
O fantasma da garota virou assustado, como se tivesse visto, ela própria, uma assombração.
- Quem é você?
A visitante ficou imóvel. Nunca mais entrara naquele banheiro desde que a outra morrera. Agora, encarando o corpo fluido, revia a mesma menina de anos atrás. Os óculos, que a fizeram alvo de tantos gracejos, ainda pendiam do rosto esquálido.
- Sou eu... Olívia! – declarou, com um fio de voz - Olívia Hornby!
Murta pareceu levar um choque. Sempre desejara aquele encontro. Planejou-o por anos a fio, mas o discurso de miséria que faria, os impropérios que lançaria contra aquela que fora sua algoz, de repente pareceram sem sentido. Diante de si não tinha mais a antiga companheira de escola, mas uma senhora muito idosa, maltratada pelos anos.
A mulher se esforçava para falar, mas tremia e hesitava. Sofria visivelmente. Tudo o que pensara em dizer se evaporou em segundos e um silêncio quieto invadiu seus pensamentos.
- Eu te perdoo – disse Murta, de repente, sem ter planejado, mas parecia que perdoara a si mesma.
Olívia estremeceu, sem acreditar, mas logo o reconhecimento estampou-se em seu rosto. Viu que Murta chorava. As lágrimas também lhe fugiram. Estavam em paz.


 

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