# Verdades e revoltas



Rony olhou abismado para o que o vampiro lhe dizia, e uma súbita vontade de rir se apoderou dele outra vez. Mas o garoto se segurou.




-- Como assim? O que você quer dizer?




O vampiro suspirou. Virou teatralmente a sua capa carcomida nas bordas, e sentou-se na cama. Rony afastou-se o mais que conseguiu do vampiro. Mas a criatura lhe observou com ar triste e olhos que sugeriam fome e piedade. Rony mirou o vampiro e foi um tanto para a frente na cama, para mais perto do habitante pouco conhecido da Toca.




-- Entendo o seu questionamento, Rony. E sei que está com medo de mim... mas eu não quero lhe fazer mal, de jeito nenhum. Gosto mais dos Weasleys do que aparento, batendo tanto naqueles canos.... enfim..... eu espero que me escute. Não precisa acreditar em mim, mas escute o que eu vou dizer, e por favor, avise todos que puder. Não deixe ninguém entrar na Toca além dos Weasley, Rony.




Enquanto Rony mirava intrigado o vampiro, uma coruja entrou pela janela aberta do quarto de Rony. Deixou-lhe uma carta no colo e voltou a sair pela janela, em direção ao céu azul. Não abriu o pergaminho, pois estava pouco interessado no que ele lhe dizia; queria ouvir o que o vampiro queria dizer.




-- Por favor, explique-se. -- Foi tudo que Rony conseguiu dizer.




O vampiro suspirou mais uma vez. Andou pelo quarto, avistou com um olhar faminto Pichitinho, mas virou o rosto e olhou para Rony com um olhar de dar pena.




-- Os gnomos querem matar os Weasley.




O pesado silêncio que se havia feito no cômodo de Rony se dissipou como névoa de fumaça; o garoto não conseguiu conter-se, e soltou uma gostosa gargalhada.




-- Gnomos? GNOMOS? Eu lá tenho que me preocupar com gnomos? Basta pegá-los pelos pés que eles voam longe! Hahahah!




-- Voam, mas voltam, Rony. E falam. Falam muito -- Tentava dizer o vampiro, mas as risadas de Rony ecoavam e batiam nas paredes excessivamente laranjas do quarto do garoto.




-- Você está me dizendo que GNOMOS estão tentando exterminar a família Weasley? E você sinceramente acha que vão conseguir? -- Disse Rony em mais uma risada.




-- Muito provavelmente, Rony, se vocês não se unirem. Os gnomos não são as mais renegadas criaturas do mundo mágico, você sabia disso? Falam, e falam muito. Fazem alianças. Não são muito fortes, mas têm amigos muito influentes, Rony.




Rony parou de rir, mas não tirou o tom debochado da voz.




-- Eu sinceramente não acredito nessa história.




-- Foi o que pensei. -- Disse o vampiro, retirando um papel do bolso. Era muito amarelo e mofado, com as bordas rasgadas e comidas pelo tempo. -- Então lhe trouxe uma prova.




O vampiro abriu o papel com cuidado e o estendeu para Rony. Quando o garoto pegou-o, percebeu que estava quase se desfazendo.




-- Muita umidade -- esclaresceu o vampiro. Rony virou o papel e pôde observar, claramente, vários homens-palitos, de cabelos muito vermelhos, riscados um a um, dentro de uma casa muito torta. A casa tinha túneis por debaixo da terra. Uns garranchos completavam o conteúdo no papel. Rony devolveu o pergaminho para o vampiro.




-- E o que isso quer dizer?




Agora o vampiro deu uma risada debochada e má. Os cabelos de Rony se arrepiaram.




-- Os gnomos deixam isso em todo lugar, com setas indicando para cá. Têm tocas, sabe. Querem espalhar a idéia de que vão lhes matar. Estou sempre circulando pelas tocas de gnomos, geralmente encontro bom sangue por lá, e já ouvi muito, Rony, e posso lhe dizer, qe gnomos são tontos, mas não são absolutamente burros. E são muito rancorosos, em todas as vezes que vocês os arremessam. Isso não é uma boa combinação. Outro dia mesmo vi uma carta, garranchosa como essa, e que, se não me engano, estava escrita em quimerês, a língua das Quimeras. Isso não é boa coisa.




Rony relanceou um olhar ao desenho mais uma vez, e fitou o vampiro, de sobrancelhas erguidas:




-- Mas, quem garante que esses.... esses "amigos" dos gnomos vão ajudá-los? Eles não nos odeiam, pelo que sei!




-- Realmente... mas odeiam os amigos de seu pai do Ministério, que os caça e os extermina em quantidades absurdas, Rony. Por que eu mentiria para você? Vivo aqui há anos, sou amigo do seu pai... ah, não..... -- O vampiro parecia muito amargurado.




-- Você e meu pai são amigos? Como assim? -- Perguntou Rony, agora francamente abismado.




-- É uma velha história, Ron.... seu pai sempre me ajudou, quando descobriu que eu era um vampiro, em Hogwarts... Molly nunca gostou muito de mim, mas.... bem, uma vez Arthur fez uma expedição em uma casa em que os canos batiam e uivavam, e pensou que fosse eu, realmente... em vez de me exterminar, que era o intuito de seus colegas, Arthur me ajudou.... me cedeu o sótão da Toca para viver... mas eu não deveria contar essa história, é segredo, você não pode dizer a ninguém! Sou uma criatura ilegal, e se me encontram, Rony, eu me ferro.




Rony riu desta vez, mas não da maneira de antes. Achou muito interessante a história daquele vampiro, e sorriu para ele. Acreditou em sua história.




-- E o que podemos fazer?




O vampiro sorriu para Rony, e sentou-se na cama mais uma vez.




-- O mais importante é não deixar nenhum Weasley dentro de casa, pois o ataque está previsto para esta noite. Não sabemos o que pode acontecer, mas sei que a Toca é mágica somente para vocês. Pode lhes auxiliar em momentos de perigo, mas não ajuda outras pessoas, de maneira alguma. Então, faremos um plano. Esta noite, no jantar, irei contar isso para o resto da casa, e assim poderemos armar alguma coisa.




-- Certo. -- Disse Rony somente. Distraído, o garoto pegou o pergaminho que a coruja lhe trouxera e abriu-o. Depois de alguns minutos lendo-o, Rony deixou cair o papel de sua mão, imediatamente frouxa demais para segurar qualquer coisa. O garoto ficou branco como papel.




-- O que foi, Rony? -- Perguntou o vampiro, preocupado.




Rony olhou assustadoramente para o vampiro.




-- Mione está vindo se hospedar aqui em casa. Hoje.




***





CONTINUA...

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