Capitulo único



Se jogou na cama sem emoção. Já havia chorado a noite toda. Que tolice, chorar, lágrimas não tiram a dor, não apagam lembranças, não trazem o tempo de volta.

Se sentou na cama e respirou fundo. Olhou a sua mão direita. Se sentiu suja e ao mesmo tempo aliviada, afinal, não estava tão perdida. Tinha um futuro, certo. Extremamente certo. Apertou os olhos com força. Certo? Perdi a noção do que poderia ser certo ou errado há setes anos, e o tempo, irritantemente não volta.

Respirou fundo, e ainda de olhos fechados se jogou de encontro aos travesseiros macios de sua cama. Testemunha das loucuras e erros certos de sua vida medíocre. De olhos fechados viu passar os flashes em sua cabeça, como um filme cortado em partes.



Tentava andar o mais silenciosamente possível, mas era difícil devido o pequeno salto de seu sapato e o chão úmido do castelo. Estava frio e a garoa era insistente. O vento trazia as gotículas de água para os corredores escuros.

Andava depressa, os cabelos escorrendo para trás juntamente com sua capa pesada, que escondia sua camisola de seda azul, um azul que era quase cinza. Se encolheu atrás de uma coluna, ao ver no Mapa, que pegava com seu amigo, toda a noite depois do jantar, com a desculpa que a ajudava nas rondas da monitoria, a gata do zelador.
“Maldita”, pensou. Se a pegassem aquela hora fora do dormitório teria sérios problemas em se explicar. Explicação, qual era a explicação para a loucura que sua vida tinha se transformado depois de ter o pego chorando em um banheiro, de tal maneira que a fez sentir pesar por aquele que sempre foi seu algoz? Que a fez se aproximar e ao ver o seu olhar de desespero o abraçar? E ao fazer isso sentir cada pelo de sua pele se arrepiar e seu estomago dar voltas como nunca havia dado antes? Que explicação existia para o fato de sempre se encontrarem naquele banheiro e ficarem em um silencio acolhedor, até o primeiro “boa tarde” se transformar no primeiro beijo?


Sem perceber já estava em frente aquela tapeçaria absurda no sétimo andar. Mentalizou que a única coisa que queria era ver cabelos loiros platinados, olhos frios, e pele branca de um Malfoy. Entrou. E lá estava ele, impassível, sentado a uma poltrona verde, como só ele poderia ter desejado.

- Demorou. – Disse se levantando vindo na direção dela. Estava de pijama, a blusa de manga cumprida preta e calça da mesma cor. Ainda pode contemplar ao braço da poltrona a capa sonserina dele.

-Filth e sua gata infeliz. – Ela respondeu antes de ser beijada com volúpia, desejo e saudade.

- Só três vezes na semana é pouco pra mim. – Ele disse em meio a beijos no pescoço e a retirada da capa dela.

- Tudo é pouco para você,
Draco. – Sim, ali ela poderia perder a compostura e dizer, gritar, gemer o nome dele sem problema.

- Você é suficiente,
Hermione. Ao menos aqui. – Como era bom ouvir seu nome naquela voz rouca, maliciosa, e arrogante, que só ele tinha.

Apenas deu um ultimo sorriso antes de ser jogada com força na cama. O conhecia para saber da sua urgência. Ela também se descobriu urgente quando se viu pela primeira vez nos braços dele.

Ele sempre baixava a luz quando estavam nessa situação. Ela mal podia vê-lo, mas não se importava, queria senti-lo. Desconfiava do por que da pouca luz, mas tinha escolhido não pensar sobre isso. Ali eles eram só e somente, Draco e Hermione. Ali eles eram entrega, pele, calor, arrepio. Boca na boca, e boca na pele. Eram mãos que se perdiam, e corpos que se fundiam num encontro de prazer, de proibido e de loucura jamais sonhado.


Após a satisfação o descanso. Se deitavam abraçados, e as vezes conversavam. As vezes riam das brigas que travavam pelas salas de aula e corredores apinhados de alunos. Mas as vezes, ele ficava muito calado, muito sério, distante. Ela tinha medo de perguntar por que, e ele parecia não querer dizer.

Isso durou até o dia que ele quase morreu pelas mãos de Harry. Ela quase perdeu o controle e azarou o amigo. Se segurou, principalmente, porque precisava ver como ele estava.

Foi até a enfermaria, no mesmo horário que dedicava para seus encontros furtivos. O viu deitado, com seu sempre pijama preto, olhando para o teto. Se aproximou lenta e silenciosamente pela penumbra do lugar. Mas ele a percebeu sem ao menos mover os olhos.

- Você não deveria estar aqui,
Granger. – Ela engoliu em seco. Ele fora áspero e usou seu sobrenome, ali não precisava, estavam só eles. Sem se preocupar em ser percebida, andou mais rápido entrou na área de visão dele, que a encarou com indiferença.

- Queria saber como você estava,
Draco. – Ela arriscou.

- Seu amigo não passou o relatório? Estou bem se levar em conta que era para eu estar morto. Antes estivesse não é mesmo? – Ele a encarou de maneira profunda, esperando a resposta dela.


- Claro que não. Eu ficaria louca, eu mor...

- Não termine a besteira que ia dizer. – Ele fechou os olhos enquanto ela arregalava os dela em susto e decepção.

- Besteira? – Sua voz já tremia em um aviso sobre as lágrimas que não demorariam descer por seu rosto.

- Claro que é besteira. Somos jovens, e por momentos nos permitimos viver como tais. Fomos irresponsáveis, quebramos regras, nos deixamos levar pelas emoções. Mas isso acabou
Granger. A vida real bateu em meu peito com força me chamando de volta. Eu voltei e você deve fazer o mesmo. Siga seu caminho ao lado do Potter, como eu sei que você não deixaria de fazer, porque eu também não deixaria de seguir o meu. Fique com o Weasley, ele é o predestinado a você, o mais certo para ser seu e para você pertencer. Tenha filhos ruivos e extremamente inteligentes. Você é esperta o suficiente para se salvar e salvar seus amigos.

- Draco...

- Qual parte você não entendeu que o sonho acabou? Isso aqui não é conto de fadas e se fosse, eu seria o vilão e você a mocinha. Não nos misturamos, como um Malfoy não se mistura com uma.... sangue ruim. Não há nada que possa ser feito. Você finge não saber o que eu sou, mas eu sei que você sabe, e como tal tenho certas coisas a fazer. Então, vou cumprir com a minha parte e você que cumpra a sua. Adeus.

Ele fechou os olhos mais uma vez, sem demonstrar nenhuma emoção. Ela chorava a ponto de soluçar, confusa com tudo que acabara de ouvir, mas entendo que seu lugar não era ali. Voltou para a sua Torre.

Dias depois, Dumbledore morria, e tudo fez mais sentido do que nunca. Naquele momento se sentiu imunda e traidora, sentiu ódio de si mesma e dele, como nunca havia sentindo.

Partiu com seus amigos para uma aventura que poderia não ter volta. Um ano até voltar para a escola que tanto amava. Voltava ainda com a incerteza da paz. Lutava ao lado dos amigos em busca dela. E foi em meio a essa tormenta que descobriu como um beijo poderia ser doce, tranqüilo e calmo. Os lábios de Rony eram tão diferentes do de Draco, eram tão ternos. Rony era tudo que sua vida precisaria, mas no fundo ela sabia, não era o que ela desejava, queria realmente.

O vira ainda depois disso. O vira ser salvo por seu amigo de dentro daquela sala que um dia fora a única testemunha do quanto ela poderia ser louca, sem pudor, apaixonada, como ela poderia ser uma amante calorosa. No calor, a sala se consumiu e suas lembranças se derreteram dentro dela e se fundiram sem seu coração. Deu uma ultima olhada nele, antes de deslumbrar os horrores que viriam ainda naquela noite.

A guerra acabou. A paz chegou. Ela descansou e por dias se perdeu da realidade. Mas ela voltou com a nota do jornal. Os Malfoy tinham sua sentença. Lucius pegara a perpetua, Narcisa dois anos em prisão domiciliar e Draco, um ano em Azkaban, fora serviços prestados a sociedade bruxa. Aquilo a abalou, mas sabia que assim que tinha que ser.


Um ano depois, em uma noite de chuva, alguém bateu em sua porta. Riu, “Ron sempre esquece algo e volta”.

Mas não era Rony que estava ali. Era um homem alto, de cabelos loiros opacos até a altura do queixo, a pele branca e quase sem vida. O susto e a mão a boca fora inevitável.

- Eu preciso de você.

Foi tudo que fora dito naquela noite. O resto foi dito por lágrimas, beijos e ardência. A loucura estava de volta em sua vida, e ela se sentiu muito bem por isso.


Abriu os olhos e mirou o teto. As lembranças se misturavam com o presente.
Aquela noite, virara dias, que se transformaram em semanas, que resultaram em meses e por fim anos.

Voltou a vida dupla, de amiga, agora namorada, e amante. Ela continuava se sentindo suja, mas não resistia a ele e nem tinha coragem de quebrar as certezas de sua vida.
Ele também arrumou uma namorada. Seu pai, mesmo quase esquecido em Azkaban, não deixava de ser influente. Não existia o preconceito dito, mas existia, certamente, as tradições.

Ele muitas vezes disse que largaria tudo por ela, mas ela ficava calada. Ela não teria coragem de largar tudo por ele. Na cabeça dela, ela tinha mais a perder que ele. E assim, mais uma vez fechou os olhos para a verdade, como tinha feito uma vez, quando não pensava na marca que ele tinha no braço.

Com o tempo, Draco se convenceu de que realmente era pouco para ela, que era apenas uma peça no emaranhado de coisas que era a vida de Hermione. Resolveu que era hora de criar laços em sua vida também. Marcou seu casamento com Astória.
Ela quebrou a casa inteira ao saber disso, mas não levou a serio que ele levaria aquilo adiante quando o viu ali, tão disponível como sempre.

Mas ele levou, e na noite anterior recebera o convite de casamento, “uma provocação dele” e um pequeno bilhete.

“Você sempre foi suficiente pra mim, mas eu não fui, não sou e nunca serei para você. Descobri que sou para alguém, e, como sempre gostei de ser melhor, vou dar o máximo de mim para que continue assim. Você sempre será um pedaço meu, do meu corpo e da minha alma, que vou deixar para trás, mas, que DEFINITIVAMENTE vou deixar.

D.M”

Mesmo no fim, ele saiu por cima, com a ultima palavra. Palavras certas, palavras que diziam a verdade. Ele se casaria com uma sangue puro como tinha que ser e ela casaria com Rony como tinha que ser. Mas por que tudo parecia tão fora do lugar? Porque ele também era um pedaço fundamental dela, e deixar isso para trás estava mais difícil do que ela supôs que seria.

Constatou tarde demais que por querer acertar, por buscar as respostas exatas, as soluções indicadas, errou imperdoavelmente. Errara com ele, com ela, errara com sua vida, e ela sabia que agora era tarde demais.

Ia chorar novamente, fechou os olhos, queria poder mais uma vez se esconder da realidade, mas ela sabia, que desta vez seria impossível. Escreveu, então, trêmula, as ultimas palavras para aquele que, só agora ela tinha certeza, era a beleza, o riso, a leveza, o sabor de sua vida.

‘Apenas perceba
O que eu acabei de perceber
Que nós somos perfeitos um para o outro
E nós nunca encontraremos outra pessoa
Apenas perceba
O que eu acabei de perceber
Nós nunca teríamos que nos perguntar
Se nós perdemos nossa chance, mas
Perdemos nossa chance agora
Perdemos nossa chance agora
Perdemos nossa chance agora
Perceba
Perceba”
Perdemos, EU PERDI. Você quis me mostrar, eu não quis ver.

GAME OVER.





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