O Fim?



Olhou para o corpo estendido no chão. Sabia que não estava morto, sabia que Narcisa mentia, mas não pôde deixar de sentir as lágrimas que caiam de seu rosto ao observar Voldemort obrigando Hagrid a carregar o corpo de seu herói para que toda Hogwarts visse.


As palavras de Dumbledore mantinham-se frescas em sua mente e se agarrando a elas, acompanhou o cortejo ao sair da floresta proibida. Ouviu, com raiva, Voldemort mentir, dizendo que Harry havia morrido em uma tentativa de fuga. Viu o sorriso presunçoso no rosto ofídico. Emocionou-se ao som do choro de Minerva, Rony e Hermione. Quis confortá-los, avisar que estava tudo bem e...


-Querida, já é tarde e amanhã você tem escola, vá dormir, ok?


A porta de seu quarto havia sido aberta de maneira brusca e agora sua mãe estava ali e ela estava novamente deitada em sua cama. Não havia mais Hogwarts, nem florestas e nem bruxos e feitiços ao seu redor. Pôde perceber, no entanto, que as lágrimas continuavam ali, a brotar de seus olhos e escorrer pelo seu rosto. Sua mãe também percebeu.


- Filha, é só uma história, por favor. Não há razões para chorar. Agora, vá dormir, sim?


E esperou até que a filha tivesse fechado o livro, o guardado na estante e voltado para a cama. Então, deu-lhe um beijo de boa noite e apagou a luz do quarto.


E a menina, ainda deitada na cama, em silêncio, esperou. Ouviu os pais fecharem a casa, notou os sons dos passos que rumavam para o quarto deles e percebeu pelo vão embaixo da porta quando a luz se apagou. Foi então que ela levantou.


O mais silenciosamente possível, tirou a tábua solta do assoalho, sorrindo como sempre fazia, com a coincidência que ali reinava. De dentro do buraco, retirou a lanterna à pilha, acendeu-a, recolocou a tábua de volta do assoalho, pegou o livro na prateleira, voltou para a caba e o abriu.


No mesmo instante, não havia mais quarto, nem escuridão, nem pais. Ela havia voltado.


Observou com medo Voldemort quase matar Neville, o corpo de Harry misteriosamente sumir e então, quando ninguém mais esperava, viu seu herói reaparecer, vivo e forte.


Buscando conforto e companhia, ela procurou por Rony, Hermione e Gina. Quando os encontrou caminhou em passos lentos até eles, que sorriram ao vê-la chegar.


Viram com apreensão Harry desbancar Voldemort na frente de todos, chamando-o de Tom. Se emocionou mais uma vez quando Harry falou sobre o amor e sua importância e então, quando seu coração e o de todos lá não podiam mais suportar, o ápice aconteceu.


O jorro de luz saiu da varinha de ambos. Seus olhos acompanharam, vidrados, o brilho verde do feitiço de Voldemort ricochetear com o vermelho do feitiço de Harry e então voltar para o bruxo; a cena ocorrendo como se tudo estivesse ocorrendo em câmera lenta. Ela viu o feiticeiro mais terrível de todos os tempos ser morto, atingido pelo próprio feitiço e cair ao chão, como uma boneca de pano.


Acompanhou junto o silêncio tenso que se seguiu a esse ocorrido e então os gritos. Viu a exaltação, os agradecimentos ao menino que sobreviveu. Chorou, talvez, mais do que muitos ali a alegria da vitória. E foi no auge desse sentimento que ela foi transportada para dezenove anos a sua frente.


Quando percebeu, estava na Plataforma 9 ¹/². Assustada, olhou em volta e sentiu seu coração disparar.  Viu Harry e Gina, com seus filhos e quase não acreditou. Ora, um dos jovens se parecia tanto com Harry quanto este se assemelhava a Tiago. Viu Hermione e Rony se reunirem a eles, com seus pequenos também. Observou com assombro um loiro que ali perto estava com um filho e esposa e se surpreendeu ao ver no que Draco havia se tornado. Sorriu, com lágrimas nos olhos, ao ver o filho deste com a filha de Rony e Hermione trocando olhares. Por um instante, permitiu que imagens de um futuro casal se formassem em sua cabeça.


E então, os pequenos embarcaram. Sentiu uma dor no coração como se fossem filhos dela. A menina ainda olhava saudosa para o trem que agora sumia na curva quando seus ouvidos captaram um último diálogo a ser pronunciado. Foi quando, de último gesto, Harry tocou a cicatriz que há anos não doía mais que ela percebeu, quase que tarde demais, que tudo havia acabado.


No mesmo instante, ela estava de volta em sua cama, a lanterna em uma das mãos e o livro na outra. Deixou eles de lado enquanto os soluços de seu choro sacudiam seu corpo. Deu-se conta, de maneira dolorosa e real que não haveriam mais aventuras, não haveriam mais duelos, nunca mais estaria na companhia daqueles que, por anos, foram seus melhores amigos.  E então o fim fez-se presente, como uma verdade que dói mais que o suportável, e o choro se tornou mais que inevitável. Deixou que as lágrimas caíssem até não haver mais nada além delas e percebeu que, de alguma maneira, teria de seguir em frente sozinha.


Ajeitou-se em sua cama, ainda se sentindo vazia, quando notou que alguém, no pé de sua cama a olhava sorrindo. Não precisou de luz para saber quem era e, ao retribuir o olhar, viu que não era um, mas sim três.


Harry estava na frente, usando as vestes de Hogwarts. Rony e Hermione estavam mais atrás, também uniformizados e também sorriam. Aparentavam ter seus dezessete anos. Ela os encarou. Não mais chorava.


-Obrigada- disse Harry com sua voz calma e tranqüila – Obrigada por permanecer comigo até o fim.


- Foi um prazer – Ela respondeu. Rony e Hermione acenaram, dizendo “obrigado” juntos. Então os três se viraram, e começaram a caminhar em direção a porta. Ela quase já não podia mais vê-los quando Harry olhou para trás uma última vez e disse, ainda com o sorriso estampado em seus lábios:


- Mas você sabe, não é? Nunca será realmente um fim. – e se foram.


E nesse instante ela pôde compreender o que faria a diferença em sua vida a partir de agora. Ela entendeu que não importava quantos anos ela teria, ou onde estaria, eles estariam sempre com ela e isso, definitivamente, nunca teria fim.

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