Único



Ela não sabia como viver a vida, aos olhos da sociedade. Para si e para os que tinham um mínimo de conhecimento, ela sabia mais do que muitos como viver a vida. Para uns ela era louca, para mim ela era sábia, como uma Deusa.


Ela sabia como viver, ela conhecia tudo. A arte de sobreviver era fácil de mais para ela, seu único inimigo era o amor. Um sentimento complicado, confuso e ao mesmo tempo simples, límpido, mas ela nunca recebeu a dádiva de poder amar alguém.


Sua mente era simples, antes que a tragédia acontecesse. Nem sei o porquê estou chamando este acontecimento de tragédia, afinal ele pode ser considerado um presente, que trouxe lembranças boas para a Deusa, mas esse mesmo acontecimento também trouxe a maior dor sentida. Uma única garota foi a razão de tanta confusão. Apenas uma garota conseguiu mexer com a Deusa da Vida.


A arte de amar foi concebida à Deusa, para ela era algo estranho, tudo era muito estranho. Sensações novas, sentimentos novos, pensamentos novos, tudo isso ela sabia na teoria. Mas as coisas na vida real são muito mais diferentes do que está escrito nos livros. Ainda mais quando se trata de um sentimento tão forte como o amor. A Deusa se sentia completa ao lado da menina, se sentida feliz, parecia que ela não precisava de mais nada além da outra menina.


Passou-se um ano de convivência com esses sentimentos. Aquela estranha sensação já não era mais estranha, a Deusa conseguiu dominar aquela complicada arte, e por mais difícil que fosse, nada era impossível para a Deusa e nada era mais complicado, nem mais simples, do que a Deusa em si.


Por ela conseguir entender as duas coisas mais complexas para os homens, a de viver e amar, sua mente tornou-se ainda menos possível de ser traduzida pelos outros.


Um ano havia se passado. Um ano amando, um ano com uma única pessoa em mente, um ano sentindo-se viva. Aquilo era esplêndido.


O seu amor era sua melhor amiga, nada mais óbvio. A pessoa que ela mais entendia, a pessoa que mais a entendia. A única que gostava da sua presença, a única que lhe dava importância, que não a tratava como um “alienígena”. Por mais que ela não se importasse com as ações dos outros, no fundo ela ficava chateada com o preconceito de todos.


Em um belo dia a Deusa resolveu contar a melhor amiga quem era a pessoa por qual estava apaixonada. Ela pensou muito, levou em consideração tudo o que poderia acontecer. Ela sabia que poderia perder a amizade de que tanto adorava, mas ela sabia que o risco valeria a pena. Então ela arriscou.


Mas ela perdeu.


Algo inesperado pela Deusa aconteceu. A rejeição dos seus sentimentos por parte da sua amiga foi algo que ela realmente não esperava receber. Porém essa não foi a pior surpresa.


A negação.


A negação foi pior. A perda da amizade e o preconceito vindo da sua amada foram as piores coisas que aconteceram a ela. A incredibilidade que a Deusa sentia com relação aos acontecimentos. A perda do seu chão, a perda do seu céu, a perda de tudo que tinha algum significado para ela.


A perda do seu mundo. Aquilo pareceu o fim para a Deusa.


E pela a primeira vez a Deusa se perdeu. Pela primeira vez a Deusa não sabia o que fazer, não sabia para onde correr ou mesmo se deveria correr. A Deusa despencou do seu palácio, tudo que ela tinha construído na sua mente, tudo que fez questão de parar para compreender, o porquê e como as coisas aconteciam, simplesmente tudo se perdeu. A sua mente havia desfalecido. E pela primeira vez ela sentiu a dor do amor.


A grande Deusa passou nada saber. A Deusa decaiu por um simples e complicado sentimento humano. E se antes já não a entendiam, agora era pior. A Deusa tinha morrido por dentro, a sua chama, aquela vontade de enfrentar o mundo e descobrir todos os seus segredos tinha sumido, ela se tornou um morto-vivo a vagar pela terra.


Tudo havia perdido as cores, tudo passou a não ter vida, o brilho que a própria vida possuía lhe tanto encantava havia sumido.


Por que continuar em mundo onde ela só enxergava podridão? Por que continuar ali se ela já não tinha a luz para lhe guiar? Essas eram perguntas que não saíam da cabeça da Deusa. E pela primeira vez ela não tinha argumentos para continuar.


Em uma noite a Deusa, agora decaída, foi para a torre mais alta do castelo. Tinha se despedido dos poucos que se preocupavam e se comunicavam com ela.  Ela aguardou até o memento da lua alcançar o seu posto mais alto no céu, naquele momento ela enviou uma carta à sua amiga desculpando-se por tudo que ela havia feito, mesmo não estando errada.


Mas a sua amada ainda não tinha se entregado aos braços de Morfeu e estava sentada próxima a janela, observando a noite enluarada no momento em que viu uma coruja vindo em direção ao dormitório com uma carta no bico. Ela leu e, com lágrimas nos olhos, correu para os jardins.


Ela chegou a tempo de ver a Deusa abrindo os braços, como ela fazia quando sentia o vento vindo ao seu encontro, ela dizia que sentia como se estivesse voando. Ela gritou o nome da Deusa numa tentativa falha de impedir o suicídio iminente. A carta que a menina segurava caiu de sua mão. No verso da mesma havia um pequeno poema, um dos preferidos da Deusa.


“Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.”


Aquele poema era o seu preferido. Era trouxa, mas ela se identificava tanto com ele. Talvez pelo fato dela realmente se refugiar na torre de astronomia, ficava observando a lua no céu e o seu reflexo na água. Para ela, aquilo era mágico.



“No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar.”


Ela sonhara mais de uma vez em saltar do seu santuário. Quem sabe assim, ela realmente fosse capaz de abrir suas asas e voar?



“E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar.”


A Deusa estava com seus braços abertos, ela quase era capaz de ver o sorriso no rosto da menina, ela se sentia a pessoa mais livre do mundo. Na hora, sua amiga não conseguia entender o que levou a Deusa a tomar tal decisão, mas um tempo depois ela descobriu e não foi capaz de sorrir por um bom tempo.


“E como um anjo pendeu
As asas para voar.
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar.”


O corpo deixou a torre. Agora ele planava no ar. Ela era capaz de ver um par de asas se abrindo e fazendo com que a menina planasse.


  “As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...”


Com a visão embaçada pelas lágrimas, a menina pôde ver corpo cair do alto da torre. Então ela gritou ainda mais alto, abafando o som do baque surdo do corpo batendo na grama fofa do jardim.


Eu soube que, naquele momento, a alma da Deusa conseguiu se libertar e alcançar a paz tão desejada. Demorei um tempo para me acostumar com a idéia de que a Deusa não estaria mais do meu lado para conversar comigo, ouvir os meus desabafos adolescentes sobre amores não correspondidos. Eu não teria mais aquele abraço aconchegante, aquela voz sussurrante que sempre dizia que tudo ficaria bem, que me ajudaria a enfrentar tudo e todos e que nada daria errado, já que ela estaria sempre ao meu lado.


Afinal ela me amava.


E eu, no fundo, sempre a amei também.


 


 


 


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NA:


Genteeee, essa história é velha demais. Mas a minha amiga tava quase me batendo então eu resolvi postar para que eu pudesse ter a minha vida poupada.


Eu escrevi isso quando tinha uns 14 anos eu acho, já se fazem 4 anos. Portanto levem isso em consideração e não me matem please D:


Fora isso, o de sempre. Comentários, muuuuuitos comentários. É com eles que eu descobri se escrevi merda ou não ;D


Bjos, Bea.


 


Ahhh, não liguem pra erros de português, não pedi pra ninguém revisar. Sorry!

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Comentários (2)

  • MiSyroff

    Bia amor, que fic mais linda!Eu realmente sou muito estúpida por demorar tanto a ler ela, é realmente muito linda *-*Parabéns, e vou ler mais ^^Beeeijos

    2011-08-30
  • juhmusso

    Eu amo esse poema! Muito legal o jeito com  que você juntou a história com ele. Ficou muito bom. 

    2011-05-05
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