Mar a vista!



Sete anos se passaram. Há sete anos raptaram-no. Há sete anos eu não sei se meu primeiro e único amor ainda existe.


 


*FLASHBACK*


 


A escuridão me escondia no corredor escuro daquele palácio colossal. As lágrimas banhavam meu rosto de 10 anos. Encolhida em um canto qualquer, eu estava apenas preocupada em abafar meus soluços, sem êxito.


Passos começaram a ecoar pelo corredor. Comedidos, calmos. Vi a única fonte de luz, lá longe, cessar quando a porta foi fechada. A pessoa estava do lado de dentro e agora vinha em minha direção.


_Ninguém vai te achar aqui agora, pequeno lírio. Não precisa mais chorar. – Disse a voz de James, agora ao meu lado. Lembro-me que seu tom era doce, tranqüilizador, e foi como um calmante para mim.


_Não consegui, Jay. Eu decepcionei seu pai e agora ele vai me mandar embora. – Solucei, me encolhendo ainda mais, enquanto escondia meu rosto entre os joelhos. – Não quero ir embora.


Senti os braços dele me envolverem em um abraço protetor.


_Você só não conseguiu cantar a ultima melodia, Lily. Ele não vai te mandar embora. Eu não deixarei.


Ficamos em silêncio até meus soluços pararem.


_Vamos dar uma volta no jardim? Não tem ninguém lá fora a essa hora. – Propôs ele e eu assenti.


Queria ter podido negar. Queria tê-lo impedido de sair daquela casa.


Saímos sorrateiramente até o hall de entrada, para então nos depararmos com uma imensidão de grama fofa, que eu adorava andar descalça.  Sentamo-nos lado a lado observando a quietude da cidade logo abaixo.


_Por que estão todos tão calmos ultimamente, Jay? Nunca mais vi festas após o pôr do sol.


_É por causa dos Marotos. – Ele sorriu-me. – Nunca ouviu falar? – Completou, ao ver minha cara de desentendida. Neguei com a cabeça.


_A cada sete anos um navio pirata vem a essa cidade saquear o banco da marinha e espalhar o caos. – Começou ele, olhando para o mar no horizonte escuro. – Sempre nessa época do ano.


_Por que não os capturam, já que sabem quando eles aparecem?


_Tentam. – Ele falou com um olhar misterioso. – Dessa vez acreditam que poderão pegá-los, porque elegeram o meu pai para governar a cidade, que é um superior na marinha. Assim poderão unir mais forças à segurança da cidade.


_Uhm... E esses caras são maus? – Eu perguntei, começando a ficar com medo. James virou para mim e sorriu.


_Não lhe acontecerá nada, pequeno lírio. Quando você tinha três anos eles também vieram, e você nem ficou sabendo, não é mesmo? Eles causam caos, mas só machucam quem se puser em seu caminho. Essa é a parte estranha... – Ele respondeu, ficando pensativo. – Um dia, se não conseguirem capturá-los agora, eu irei.


_Jay, aí eu posso te ajudar a pegar os caras maus? – Meus olhos brilharam de excitação só de pensar em ajudar James em algo. Afinal, ele cuidava de mim dês de que me encontraram.


_Claro, Lily. Você será meu braço direi... – Uma explosão ecoou pela cidade ao mesmo tempo que um clarão se fez presente no horizonte. Vi James levantar em uma fração de segundos, agarrando minha mão para que eu também o fizesse. – Lílian, vamos entrar.


_Não tão rápido, rapaizinho. – Vi um punhal surgir ao lado do pescoço de James e eu congelei. – Você é James Potter? Filho do governador da cidade e Supremo da Marinha?


_Não. – Respondeu James simplesmente, olhando para mim como se dissesse que eu deveria correr o mais rápido que pudesse. Mas minhas pernas estavam congeladas pelo terror, e eu nunca o abandonaria. Uma gargalhada estridente fez-se presente.


_Boa tentativa, jovem. Ande! Seja bonzinho e me acompanhe. E é bom essa garotinha não tentar gritar, ou irei matá-la. – Ameaçou ele. James, antes de dar o primeiro passo, me deu um empurrão, derrubando-me sentada na grama fofa. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas quando ele deu o primeiro passo em direção ao caos da cidade logo abaixo, à qual eu estava completamente alheia. Essa foi a última vez que o vi.


 


*FLASHBACK*


 


A cidade estava calma, como naquele dia. Desde o início do outono eu vinha dormindo a relento perto do porto, procurando qualquer indicio que pudesse anunciar a chegada dos Marotos. Agora eu podia ver e entender a poderio que a marinha havia levantado para a proteção da baía. Navios branco e azul estavam preparados, canhão a postos pelos buracos quadrados em seus cascos. Eu podia até imaginar o estrago que aquilo faria e fiquei imaginando se realmente havia alguma possibilidade de escapar vivo dali.


Vi o vulto de um homem passar apressado pela praia, o que era estranho a essa hora da noite. Ele parou perto da água e levantou um braço, fazendo um sinal de OK com a mão. Então, em menos de um minuto, de dois navios, um de cada lado da baía, ambos do centro da frota, surgiram luzes vermelhas, que se cruzaram no ar, formando um X. De longe, o anúncio que eu esperara por sete anos ecoou. Eles estavam vindo.


 


A comoção foi geral. Escutei o alarme da cidade soar da torre vigia. A gritaria começou. Um navio surgiu no horizonte e, mais rápido que eu imaginava que um navio pudesse navegar, chegou à costa. Desembarcaram mais ou menos uma dúzia de homens, descendo de todos os lugares possíveis, menos pela escada. Alguns guardas vieram correndo para contê-los, mas pareciam tontos e trançavam as pernas. Bêbados? Os piratas não precisaram de muito para livrarem-se deles, dirigindo-se ao banco.


Peguei meu chapéu de pirata e corri para o barco, agora quase deserto. Ao subir as escadas vi quatro homens. Dois estavam dentro do que pareciam ser um buraco, com apenas metade dos corpos para fora e olhavam ansiosamente para minha direção. Os outros dois puseram-se prontamente a minha frente, impedindo minha passagem.


_Algum problema, rapaz? – Perguntou o mais alto, cabelos escuros e desarrumados. Vestia um sobretudo, pelo que as fracas luzes da cidade me permitiam ver. Seu porte parecia ser imponente e, só por isso, me deu arrepios de medo.


_Gostaria de me juntar à tripulação, senhor. – Respondi, minha voz falhava.


_Ha! Escutou isso, Moony?


_Mesmo ciente do volto de lealdade que terá que fazer e sobre pressão de três capitães exigentes em um único navio? – O outro dirigiu-se a mim, a voz calma e comedida. Porém, não consegui desviar o olhar do primeiro.


Vacilei por um instante. Minha vida estava prestes a se tornar um inferno. Mas pensei em James...


_Sim, senhor.


_Então seja bem vindo a bordo, maroto. – Alegrou-se o grandão, colocando a mão em meu ombro.


Vi sua feição mudar e senti então sua mão apertar o local.


_Você tem certeza que agüentará a vida em alto mar com esse corpinho magricelo?


_Treinarei.


_Então entre e ajude aqueles dois a carregar o porão de ouro assim que seus novos amigos chegarem.


_Sim, senhor. – Atendi rapidamente. Ele não havia se apresentado, mas só pelo seu tom de voz autoritário, eu sabia que ele era um dos capitães.


Passou tudo muito rápido. Em menos de dez minutos eu já estava ajudando os ladrões a esconderem o ouro no que eu percebi ser uma espécie de porão. Apenas quando eu e aqueles dois que eu havia visto anteriormente terminamos de empilhar tudo lá em baixo é que eu me deixei dar uma espiada para fora. Estávamos saindo lentamente mar adentro. Alguns homens, que eu sabia que não eram da marinha, estavam dentro dos navios azul e branco. Um a um, eles foram liberando as velas para uma suposta perseguição, mas todas elas, minuciosamente, continham quatro rasgos que formavam a letra M.


Permiti-me aproximar da borda, esgueirando-me pelo bando de piratas que festejavam de modo um tanto violento, para visualizar nossa fuga de camarote. Os cidadãos que estavam nos navios sumiram então em busca de seus canhões e, minutos depois, milhões de pedacinhos de papéis picados explodiram no ar, caindo como um lençol sobre o mar por onde passávamos. Lembrou-me uma grande festa.


No final do navio, de frente para a cidade, três homens estavam de pé olhando as caras furiosas dos cidadãos. O homem imponente que eu havia conhecido e um outro de cabelos espetados, não muito menor que ele, davam “tchau” descaradamente para eles. O outro, que tinha voz suave, apenas observava ao lado deles.


_O que você fez com todo aquele pessoal da marinha que estava de prontidão na cidade, Progs? – Perguntou o último.


_Estão dormindo angelicalmente sobre as mesas de uma festa oferecida pelo governador. – Vi seu perfil sorrir para os outros dois marotamente. – Seus traços eram perfeitos, e me davam uma sensação muito boa.


_Esse é o nosso garoto! – Falou o mais alto de todos, o de sobretudo. – E aquela munição que você colocou nos canhões dos navios deles também foi genial! Dava a impressão que festejavam o nosso roubo. Até parece que foi idéia minha!


_Menos, Padfoot! Você não teria uma idéia tão brilhante quanto essa.


_Vamos, vamos, vocês dois. Menos papo egocêntrico, mais trabalho. Nossa tripulação precisa de nossas últimas ordens antes do toque de recolher.


Os três viraram-se em minha direção, onde todos se encontravam mais atrás, e me pegaram no flagra, encarando-os.


_Ora, ora, o nosso futuro maroto. – Falou o que eu agora sabia ser Padfoot. – Venha conhecê-lo, Progs. Eu estava ficando cada vez mais nervosa. – Esse é o... – Ele me olhou por um instante. – Não lembro-me de ter dito seu nome.


_Não disse. – Eu respondi, percebendo tarde demais que não foi uma resposta muito educada a se dar para um capitão pirata. Sua cara se fechou ameaçadoramente e eu me encolhi. Os outros dois explodiram em gargalhadas.


_Boa, garoto. – Falou Progs entre risos. – Eu sou Progs, um dos capitães. – Ele estendeu a mão para mim e eu virei-me para ele, procurando fugir do olhar fuzilador de seu companheiro.


_Uhm, é um prazer senhor. Meu nome é Lucky. – Eu respondi, aceitando o cumprimento, e tentei puxar a mão de volta. Ele então segurou-a, desfazendo o sorriso e me encarando mais diretamente. Será que ele iria reconhecer uma garota apenas pelo rosto? Abaixei a cabeça buscando a proteção do meu chapéu, que me fora tirado.


_Algum problema, Progs? – Moony olhava de mim para o capitão, que ainda me encarava.  Depois de inacabáveis segundos, o homem soltou a minha mão.


_Vamos voltar. – Ele disse simplesmente.


_Está louco? Pirou na batatinha? – Perguntou Padfoot, que parecia ter esquecido da minha resposta mal educada com a ordem do companheiro.


_Não estamos em temporada de recrutar novos marujos.


_Ha, e você vai chegar lá e deixar os cidadãos chutarem seu traseiro para que possamos fugir novamente?


_Padfoot, chega de gracinhas. – Interrompeu-o Moony. – O que há de errado? – Perguntou ao outro.


_Nada. Esquece. – E Progs saiu andando em direção à uma porta que levava ao interior do navio. Os dois outros acompanharam-no com o olhar até ele sumir, e então Moony virou-se para mim, me examinando.


_O que? – Eu perguntei. Se eu fora descoberta, não havia mais nada que eu pudesse fazer.


_Nada. Ele é estranho. – Ele respondeu-me. – Bom, eu sou Moony. Também sou um dos capitães. Seja bem vindo. – Ele apertou minha mão. – Agora, se me da licença. – E saiu atrás do outro.


Escutei um pigarrear e, com um frio na espinha, dei-me conta que estava sozinha com Padfoot. Virei-me lentamente para ele e dei um sorrisinho amarelo.


_Uhm, a festa. – E sai de mansinho procurando me esconder entre a bagunça de piratas, com ele me encarando de braços cruzados.


 


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


 


Os meus primeiros dias em um navio pirata foram muito árduos. Por eu ser a única novata, ops, novato, todos achavam que eram meus superiores. Porém, os verdadeiros superiores, os três capitães, esses eu via com muita pouca freqüência. Pelo que tinha percebido, eles estavam voltando para a cidade natal, portanto os marujos não precisavam de tantas ordem por já saberem o que fazer.


Bom, foi assim que eu descobri como eu amava a minha vida anterior e que meu trabalho dentro da casa do governador era brincadeira. Quando James foi embora, seu pai me colocara para trabalhar em troca de um local para eu ficar, ao invés de eu só cantar como costumava fazer. Acho que ele me culpou pelo rapto de seu filho.


Uma vez por semana os empregados da mansão tinham o dia de folga. Foram nesses dias, e em todas as noites da semana que eu fugia para a casa do mestre Dumbledore. Ele me ensinou todas as coisas que eu sei sobre os marotos, sobre piratas e tudo o mais. Ensinou-me que existem piratas que apenas vagam por aí procurando tesouros escondidos e existem os que roubam. Disse-me que não da para julgar os dois grupos de forma geral, pois cada grupo de piratas tem seus princípios e suas éticas, como cultura de cada povo.


A dos marotos eu ainda não descobri. Eles pareciam ser bem unidos como um grupo, amigáveis e brincalhões. Todos foram legais comigo, apesar de sempre tentarem me passar a perna em algum assunto e me chamarem de frangote. Mas eu nem ligava. Além de ter gostado deles, o dia em que eu reencontrarei James está cada vez mais próximo.


Já passaram-se 2 dias desde que fugimos da minha cidade. Hoje teríamos que lavar o chão do navio, e eu já podia sentir minhas costas reclamarem. Já era de manhã, mas os marotos só acordam umas duas horas depois de o sol raiar. Eu havia despertado e não conseguia dormir mais. Subi as escadas que levavam ao convés do navio e senti a brisa marítima da manhã acariciar meu rosto.


A manhã surgia clara, com céu azul. Sentei-me na borda, com os pés pendurados para fora. Por alguns instantes, permiti-me retirar o chapéu para que o vento pudesse brincar com meus cabelos, há tempos mais curtos do que eu gostaria. Pensei em como James gostava da cor deles. Ele costumava dizer que pareciam fogo, quando expostos ao sol. Inconscientemente, tirei do bolso uma caixinha comprida e abri-a, revelando um lírio seco que eu sempre carregava. O lírio que ele me dera um dia. Cantei uma canção que eu não sabia de onde viera, mas que me aliviou um pouco.


 


“Desde o dia que você partiu sem uma palavra de adeus,


Eu senti que o cenário ao meu redor mudou.


As memórias incompletas, também mudaram.


Onde você está agora?


Com quem você está?


Que tipo de roupa está vestindo?


O que está fazendo e do que está rindo?


Eu estou bem aqui. Ainda agora, estou bem aqui.


E eu ainda acredito que nos veremos novamente.


Esse sentimento não mudará.


Você é o único em quem eu penso.”


 


_Um navio pirata não é lugar para uma flor. – Eu pulei de susto ao escutar uma voz tão próxima, e, se não fosse por seu dono, teria caído mar adentro. Coloquei-me de pé e encarei Moony assustada. Minha voz me entregara?


_Achei que todos estivessem dormindo, capitão.


_Costumo acordar cedo. – Ele sorriu-me. Eu havia visto os três capitães apenas uma vez à luz do dia. Eles ficavam sempre em um compartimento separado. Da vez que os vi, os olhos de Moony despertaram minha atenção. Eram pacíficos, mas um brilho de sagacidade fez-me temer pelos seus inimigos. Agora ele apresentava o mesmo sorriso simpático. Talvez ele fizesse parte do perfil do capitão. – Seu lírio. – Ele estendeu-me a flor seca e só então dei-me conta que eu estava sem ela e que podia tê-la perdido para o mar.


_Ah, obrigado. – Eu peguei-a, encarando-o realmente grata.


_Lucky, mantenha esse lírio seguro cuidadosamente. Um navio pirata não é lugar para uma flor, volto a te dizer. Poderão querer jogá-la aos tubarões. – Ele colocou a mão em meu ombro, apertou-o levemente e virou-se para ir embora. O engraçado é que eu tive uma pequena sensação de que o feminino não era para o lírio que deveria ser, e nem o alerta. – Ah, bela voz. – Ele terminou, antes de sumir.


 


N/A: 

nath krein: Obrigada pelo meu primeiro coment! *-*
Espero que continue gostando da história =DD
Bjos

Eluna: OMG! Vc achou mesmo? Bom, ideias para mim não faltam. Essa não é a minha primeira fic, mas dessa vez estou fazendo algo bem diferente. Nunca tinha escrito uma aventura.
Espero que eu consiga expressá-las bem para que você continue lendo *-*
bjos 

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