visitante indesejado, um deus



Capitulo 2 – visitante indesejado, um deus nasce.


         Depois de certificar-se que as duas estavam em segurança, voltou para casa para tentar dormir um pouco.


         Marlene o esperava acordada.


        Ela se levantou com o semblante preocupado, correu na direção do James e jogou os braços em torno dos seus ombros.


       - O que houve? A central me ligou dizendo que ninguém te achava e... e... eu fiquei tão preocupada, James! O que você fez? Por que esse cheiro de sangue? E por que você não me responde? – várias lágrimas caíam pelo rosto dela


       - Porque você não deixa – James a afastou delicadamente, sua cabeça voltava a doer. Ele pressionou a testa, com uma expressão de dor


        - É melhor você se sentar – ela disse secando o rosto. Ele acatou a sugestão e caiu pesadamente no sofá. – Agora, me fale exatamente o que aconteceu, eu estava doente de preocupação!


        James a encarou e começou a reviver a noite em sua cabeça. Seria uma boa idéia contar exatamente o que acontecera? O modo frio como ele havia matado uma pessoa? Não. Marlene não iria querer saber dessas coisas, e acabaria ficando mais assustada do que já estava.


        Ele abriu um sorriso, o mais convincente que pôde.


       - Eu resolvi o caso.


        - O quê?  Você volta pra casa todo estropiado, tarde e tudo o que você me diz é que resolveu o caso?


        - É isso aí – ele disse se levantando - E se você não se importa, irmãzinha, eu gostaria de tomar um banho e dormir. Amanhã nós podemos conversar mais sobre isso.


         - T-tá bem –ela disse cabisbaixa – tente não fazer muito esforço, você parece estar bem machucado.


        James parou no meio da escada e respirou profundamente. Olhou Marlene e desceu.


         - Lene, – ele disse afagando os cabelos da garota – está tudo bem, mesmo. Você não precisa se preocupar.


          James ligou o chuveiro e esperou a água esquentar. Ele colocou toda aquela roupa para lavar e entrou. O moreno apoiou a cabeça na parede enquanto deixava e água cair por seu pescoço e costas. Ele passou os dedos pelos cabelos molhados e suspirou pesadamente.


         Será que havia feito a coisa certa em não contar para Marlene? Havia feito a coisa certa em matar John? Agora já era tarde para isso. O mais curioso era aquele misterioso homem que o ajudara. Seu nome era Tom, se James bem lembrava.  Por que ele o ajudaria?  Mas isso não importava mais, tudo o que queria era nunca mais vê-lo e tentar levar o resto da vida normalmente.


          James desligou o chuveiro e saiu do banho. Ele colocou a primeira roupa que viu pela frente. Uma calça qualquer de moletom e uma blusa velha e tentou dormir. Mas não conseguiu. Ele ficou a noite toda rolando de um lado para o outro da cama e quando finalmente conseguiu fechar os olhos tinha apenas vislumbres da noite e escutava os gritos aterrorizados de Emily e John.


         - James – Marlene o sacudia levemente – James, acorda.


         - Lene? – ele se levantou bruscamente. Estava suado e seu corte sangrava – O que foi? Algum problema?


        - E-eu não sei, eu que pergunto. Você estava gritando tanto, eu fiquei preocupada.


       - Não se preocupe – ele disse limpando a testa e a bochecha – tá tudo bem, tudo bem. Que horas são?


        - Meio dia. – ela disse timidamente.


       - Eu deveria estar no trabalho há seis horas. – ele se levantou com pressa, o que lhe deu tontura e alguma náusea.


       - Não se preocupe, James. – ela disse o amparando – Eu liguei para a central e eles disseram pra você tirar o dia de folga hoje e não se preocupar. 


       - Dia de folga? – ele se sentou na cama e apoiou a testa na mão – Mas eu tenho que fazer um relatório.


        - Faça amanhã, hoje você vai descansar.


       James sorriu enquanto pressionava a bochecha tentando estancar a ferida. Marlene colocou um pedaço de gaze com um esparadrapo.


       - E mais tarde nós vamos ao hospital para ver isso.


       Ele colocou os braços atrás da cabeça e deitou-se, fechando os olhos.


        -É a primeira folga que eu tiro desde... – a campainha o interrompeu – Quem será?


        James desceu as escadas com calma, sempre pressionando a bochecha. Ele abriu a porta, cansado e ficou surpreso ao ver o homem de casaco parado em sua porta. A última pessoa que queria ver, especialmente em sua porta, era Tom, o homem de casaco. Ele podia ter o ajudado, mas a sua presença só tornava mais reais as lembranças da noite anterior.  


       - Não vai me convidar para entrar, senhor Potter?


        - Er... claro – ele disse saindo da frente da porta, de modo que o homem pudesse passar.


       - Muito obrigado – ele disse polidamente, passando pelo espaço.


       Marlene desceu as escadas e olhou curiosa para o homem de casaco e chapéu. Tom percebeu sua presença e a cumprimentou com a cabeça. Ela retribuiu.


         - Não sabia que tinha uma namorada, senhor Potter – ele disse calmamente.


        - Não é minha namorada – ele disse com a voz baixa – é minha irmã, meia irmã.


          - Encantado, senhorita – ele disse dando um galante beijo no topo da mão dela – Me chamo Tom Riddle, e é um prazer conhecê-la.


          Marlene mirou os olhos castanhos dele que apareciam por baixo da aba do chapéu.


           - Marlene – James disse sério – você não tinha que sair?


             - Não, do que você está falando, James? – ele a encarou profundamente – Ah, é verdade, eu tinha que tirar umas fotos mesmo. – ela disse pegando sua câmera – Te vejo mais tarde, James. Adeus, – ela frisou - senhor Riddle.


          - Até breve, senhorita.


           Marlene disparou porta afora. Um calafrio percorreu sua espinha ao se lembrar dos olhos de Tom.


            - Eu... eu posso lhe oferecer alguma coisa? Uma água, um chá? – James disse sem tirar os olhos do chão.


           - Uma água seria ótimo – ele disse retirando o chapéu e o casaco e os pendurando no cabide ao lado da porta.


            - Claro – James murmurou.


               James entrou na cozinha. Suas mãos tremiam enquanto ele colocava a água no copo. Ele apoiou a taça na mesa e passou os dedos pelos cabelos e depois pressionou os olhos. Respirou pesadamente e encarou a parede, como se pudesse ver por ela e fitasse o convidado indesejado. 


            Ele tomou o caminho inverso ao da cozinha. Ao chegar à sala, estendeu o copo na direção de Tom, sem tirar os olhos do chão. O homem o segurou com um gesto cordial e o levou aos lábios. Fez um ruído de satisfação ao saciar sua sede.


            - Muito obrigado. – ele disse. Tinha os cabelos negros e a pele muito branca. Uma versão masculina e de lábios menos avermelhados da branca de neve – Eu realmente estava com sede.


           - Entendo – um silêncio incômodo se instalou depois das palavras de James. Tom o encarava profundamente, mas James fitava o chão.


            - Estou curioso, senhor Potter. – Tom disse por fim – Não tem nenhuma pergunta? – James o encarou – Não quer saber por que eu o ajudei? Não está curioso sobre a natureza da minha visita? Não tem nenhum tipo de questionamento?


            - Se o senhor veio até aqui com o intuito de me subornar ou chantagear, não irá adiantar – ele disse firmemente. Tom deu uma gargalhada profunda e austera.


            - Você realmente acha que foi por isso que eu vim, senhor Potter? – James o encarou significativamente – Não, não. Eu não tenho nenhuma intenção de revelar ao mundo seus atos de ontem à noite Potter, nenhuma.


             - Então por que...?


             - Eu vim até aqui? É muito simples, Potter. Eu acho que você tem um grande potencial. E o está desperdiçando naquela agência imunda.


        - A agência...


         - É um âmbito de corrupção! E não me venha dizer que estou mentindo só por que você é um diretor. Você não é nenhum tipo de entidade superior na policia que controla todas as suas ações. Dezenas de policiais se corrompem todos os dias, sem que você saiba disso, senhor Potter.


            - O que você quer aqui, Tom? – James o encarava com fúria.


            - Fico feliz que tenha perguntado. – ele disse com um sorriso viperino brincando em seus lábios - Eu quero lhe oferecer a oportunidade de ser bem melhor que isso, uma oportunidade de se livrar de toda essa escória de Londres. Ladrões, assassinos, corruptos. Imagine um mundo sem eles.


          - Um mundo sem criminosos? – ele disse pensativo – Aonde você quer chegar?


           - O que eu vi ontem... Potter, Potter, Potter. Você tem um dom! Um verdadeiro presente de Deus! Eu quero que você use isso! Esse... esse... esse poder que você possui! Você pode criar um mundo melhor com suas próprias mãos!


        - Com...minhas...mãos?


       - Imagine um mundo perfeito! E você seria o responsável por isso.


       - Um mundo perfeito?


       - E este mundo te idolatraria! Você seria uma espécie de Deus! O que me diz?


          - Um mundo perfeito? E eu como Deus desse novo mundo? Mas... para isso eu teria que matar mais pessoas?


          - Um preço insignificante e desprezível na construção desse mundo ideal.


         - Mas... matar pessoas? São vidas!


         - Você recebeu um poder de Deus! Ele quer que você puna os injustos e cruéis! Por isso você quis ser policial, por isso você penitenciou aquele assassino! Não vê que está tudo escrito desde o seu nascimento? O seu destino é punir os injustos!


        - Um poder de Deus?


         -Exatamente.


        -Sinto muito, Riddle, mas você não vai me corromper com essa história de dom divino! Vidas são vidas! E nada, absolutamente nada, que você disser vai me fazer mudar de idéia!


        -Isso é apenas uma questão de tempo, Potter, em breve até mesmo o senhor compartilhará da minha opinião. – ele responde polidamente.


        -Senhor Riddle, – disse James andando firmemente até a porta e a abrindo – sinto muito, mas eu vou pedir que se retire.


         Tom formou um sorriso calmo e confiante. Ele pegou calmamente seu casaco e chapéu e os vestiu elegantemente. Serenamente, andou até a porta que James segurava aberta. Tom olhava fixamente para James, que passou os dedos pelos cabelos negros e arrepiados, sem jeito.


          Antes de começar a descer as escadas da frente da casa de James e Marlene, Tom se virou parando na soleira. Ele colocou a mão dentro do casaco e tirou um pequeno cartão branco de papel.


        -Caso o senhor queira entrar em contato comigo, senhor Potter, pode me contatar por esse número. – Tom o lançou um sorriso.


        -Não se preocupe, senhor Riddle, eu não irei incomodá-lo. – respondeu fechando a porta.


         James se virou bruscamente para a sala e chutou um pequeno pufe que estava na sua frente. Uma expressão de desconcerto em seu rosto. Como, ele repetia em seu pensamento, como alguém poderia achar que ele tinha alguma habilidade como assassino? COMO? Era muita audácia dele ir dizer isso a James em sua cara, eu sua casa! Que tipo de pessoa ele pensava que James era?


       Ainda com raiva, James pegou o copo que Tom usara e o levou para a cozinha. Marlene abriu a porta decidida. Ela olhou em volta, procurando pelo meio irmão. Ao ouvir o barulho de água na cozinha, correu para lá. Ela irrompeu triunfalmente pela porta.


         -Quem era e o que queria, James? – ela disse com as mãos na cintura.


        -Não era ninguém e não queria nada – ele disse com raiva, passando a esponja no copo de vidro.


         -Não era ninguém? – ela disse zombeteira – Não queria nada? Não foi o que pareceu. Na verdade pareceu que era alguém muito importante que te deixou incrivelmente transtornado. E então vai ficar de pirraça ou vai me dizer quem, diabos, era aquele cara?


          -Eu já disse, Marlene, não é ninguém e não é da sua conta – ele disse alteando a voz.


          -James. Eu vou perguntar de novo, quem era e o que queria? – ela disse raivosa.


           -Não era ninguém, Marlene! – ele bateu o copo contra o mármore da pia, espatifando-o em dezenas de cacos e fazendo com que a palma de sua mão sangrasse.


        -James! – Marlene guinchou assustada.


         -Não é nada – ele disse baixo enrolando a mão no pano de prato e subindo para seu quarto.


         Marlene ficou parada no batente da porta com uma mão tampando sua boca e a outra segurando o estomago e os olhos baixos. James passou cabisbaixo por ela, sem encostá-la, e sumiu de vista escada acima. A morena secou uma lágrima solitária que caía e rumou para a pia, onde começou a recolher os cacos de vidro tingidos de vermelho.


        James bateu a porta do quarto com força. Ele entrou no banheiro e lavou a mão na água corrente. Depois de secar a mão, ele pegou o cartão de Riddle e o segurou contra a luz.


        -Que idiota – James murmurou.


        Ele se jogou na cama e ficou encarando o teto durante cerca de meia hora. Se Riddle sabia, provavelmente outras pessoas sabiam também. Talvez o melhor a fazer fosse realmente se entregar. Mas e quanto à Marlene? Ela ficaria desolada se James fosse para a cadeia. Os dois eram muito unidos. Não, se entregar só pioraria as coisas.


         No dia seguinte James se levantou pesadamente da cama às seis horas da manhã e se dirigiu ao trabalho. Como em todos os outros dias anteriores chagou lá pontualmente às seis e trinta. De modo surpreendente não foi o primeiro a chegar, praticamente todos os outros oficiais já estavam lá.


        Conforme James se dirigia para sua sala os policiais iam se levantando. Quando ele alcançou a porta todos estavam de pé. Mônica se aproximou dele e o entregou um jornal.


        -Meus parabéns, senhor Potter – ela disse com um sorriso no rosto.


        James sorriu de volta e abriu o jornal. Na primeira página havia uma foto dele, sorrindo e acenando em um uniforme de policial, era a foto do dia em que ele havia se formado, com a grande manchete:


                          “Cidade respira aliviada”


“Graças à ação do oficial James Potter, acaba o reinado de terror do assassino que assombrava a cidade”


           James levantou os olhos para os outros oficiais e nesse momento todos começaram a aplaudir. O moreno sorriu e acenou com a cabeça.


       -Discurso – gritou uma oficial loira no fundo da sala. James sorriu sem jeito e passou os dedos pelos cabelos.


        -Vocês querem mesmo isso? – ele perguntou esperançoso - Eu nunca fui muito bom com essas coisas - todos confirmaram. James passou novamente os dedos pelo cabelo ainda mais sem jeito – Você me paga, sargento Lidner! – ele disse apontando para ela que, em retribuição, lhe mandou um aceno com a mão – Muito bem, eu, er – ele pigarreou – droga, eu odeio discursos, nunca tive paciência pra escutá-los – muitos riram – Muito bem, então. Sejamos breves. Já são o que? Sete meses de procura certo? – alguns confirmaram – Sete meses de procura e investigação incansáveis em que todos vocês deram os seus melhores...


        -Mas foi o senhor que resolveu! – uma voz gritou rindo.


        -Oi? É – James riu sem jeito – Pois é com ajuda de vocês e, er, bem. Somos todos heróis. E eu realmente odeio discursos. De volta ao trabalho, seus preguiçosos!


       Todos aplaudiram e riram do discurso de James.


        Ele entrou em seu escritório e, como de praxe, jogou o casaco para o canto e se jogou na cadeira, depois esticou a mão para pegar algumas fichas, se bem se lembrava ainda tinha um relatório a fazer. Mônica bateu timidamente na porta e entrou.


       -Mônica, tudo bem? – James perguntou sem tirar os olhos do papel em que escrevia.


       -Tudo bem, senhor Potter – ela disse nervosa – é que, na verdade, nós, bem, eu, comprei algo para o senhor, bem, er, por causa do sucesso do senhor no caso – ela sorriu e estendeu uma caixinha embrulhada caprichosamente, sem tirar os olhos do chão. James levantou os olhos e a encarou. A verdade era que gostava muito de todos esses paparicos que estava recebendo. Toda essa atenção, todo esse crédito, todo esse tudo.


       - Puxa vida. – ele disse – Muito obrigado, Mônica, mas não precisava, mesmo!


      - Por nada – ela sorriu ainda mais – o senhor merece. Depois de todos esses meses trabalhando tanto pelo bem de todos nós.


       James abriu a caixa. Havia uma gravata preta de seda.


       - Nossa, Mônica, é muito bonita. Muito obrigado! – ela sorriu e se retirou.


        James ficou algumas horas escrevendo, fazendo o maldito relatório. Era realmente difícil escrever uma versão que agradasse a todos sem prejudicá-lo. Quando começou a se cansar, ele se levantou e começou a passear pela sala. Colocou a mão no bolso e encontrou o cartão de Riddle. E pensou novamente no que ele havia falado no dia anterior.


        Será que se ele fizesse isso mais vezes teria todo esse reconhecimento? Essa perspectiva era realmente encantadora.  Ele rapidamente pegou o casaco e saiu. Quando indagado para onde ia, ele apenas respondeu que tinha coisas a fazer.


       James entrou em uma tabacaria de onde só saiu meia hora depois. Ele foi até o parque mais próximo e ficou apoiado na beirada de uma ponte, olhando os peixes. O moreno pegou uma caixa de cigarros e acendeu um. Ficou olhando o palito queimar por uns instantes antes de colocá-lo na boca


       - Pensativo, senhor Potter? – James tomou um susto tão grande ao ver Riddle que quase engoliu o cigarro.


        - Riddle? O que você faz aqui?


         - Eu? – ele perguntou com um sorriso – Nada, só estava dando uma volta, quando encontrei o senhor.


         - Você está me seguindo, Riddle? – ele perguntou exasperado.


           - De maneira alguma, nós apenas temos caminhos coincidentes. O senhor parece ter tido um dia muito bom – ele disse displicentemente – e confuso.


            - Se você disser mais uma vez que eu sou um assassino, eu mando te prender por desacato a autoridade! – ele disse gesticulando com o cigarro.


        - Em nenhum momento eu disse isso, Potter! Eu apenas fiz uma observação. E a sua reação violenta me diz que seu dia foi mais confuso do que bom.  Você deve ter recebido os mais variados tipos de agradecimento e provavelmente se pergunta se merece. Mas no fundo você gostou muito, de todos eles, não?


           - Como... ?


          - Eu sou observador.  Você merece Potter, cada um dos agradecimentos, você fez por merecê-los e sabe como receber mais deles.


         James baixou os olhos e deu uma baforada. Riddle começou a andar na direção oposta a de James, mas se virou bruscamente.


        - Não sabia que fumava senhor Potter.


        - Nem eu.


       - O senhor sabe que isso pode matá-lo, não sabe?


       - Sei.


       - Então por que... ?


      - Eu tenho me perguntado todo dia por que a minha vida vale mais que a de John para que eu tivesse o direito de matá-lo.


       - Entendo. Isso não passa de uma forma de autopenitencia.


        James concordou e se retirou.


         Durante cinco dias James se perguntava se havia feito o certo. E durante esse tempo ele começou a fumar sempre que estava sozinho. Sempre só e pensativo. Ele lia e relia o cartão de Riddle repetidas vezes e sempre achava que qualquer mau elemento na rua era passível de punição. Estava sempre confuso e desatento. A noite tinha sempre o mesmo sonho.


         Sonhava com John e Natalie e, por algumas vezes, em seu sonho, Marlene descobria tudo. Esses eram os que mais assustavam James. 


        No sexto dia, durante a noite, James acordou assustado novamente. Os gritos apavorados de John o fizeram despertar. Ele se levantou da cama e andou até a escrivaninha. O cartão de Riddle jazia sobre ela. James o segurou.


        - Você tem razão, Riddle. Só tem jeito de acabar com isso


       James pegou o telefone e discou o número do cartão. Depois de dois toques alguém atendeu. Música e mulheres gritavam do outro lado da linha.


        - Alô – Riddle respondeu.


       - Riddle?


        - Potter? – ele respondeu – Eu sabia que ligaria! – James imaginou aquele sorriso frio e viperino se formando nos lábios de Tom. 


       - Sobre a sua proposta eu estive pensando...


        - E? – ele perguntou ávido.


       - Esses pensamentos e memórias me aterrorizam o tempo todo e eu já não sei mais o que fazer para que eles parem com isso.


         - É claro que sabe, Potter. A resposta está aí, basta procurá-la. Vamos, James, você é um homem inteligente.


         - O único modo de acabar com isso é abdicar da minha humanidade em nome de um bem maior!


          Riddle soltou uma gargalhada sombria do outro lado da linha.


          - Eu sabia que você era esperto, James! Esse é o seu destino!


         - Mas, julgar e punir criminosos desse modo seria preciso que minha psique atingisse proporções de um deus! 


       - E você tem potencial para isso, Potter!


        Por um momento ambos ficaram em silêncio. A música alta e os gritos femininos eram tudo o que se ouvia.  Com um sorriso James disse:


       - Você tem razão, Riddle. Essa noite James Potter morre. E das cinzas dessa morte nasce um novo deus que vai julgar e punir os criminosos!


        Do outro lado da linha Riddle soltou a gargalhada sombria e assustadora que lhe era característica. James desligou o telefone e olhou seu reflexo no espelho.


      - Um novo Deus – murmurou para si mesmo.

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