Capitulo Único



No One’s Gonna Love You


 





And anything to make you smile
It is my better side of you to admire”


 


Sirius se pôs de pé ao vê-la entrar pela porta da igreja acompanhada de seu pai. Os demais convidados fizeram o mesmo, e, como ele, sorriram ao visualizar a noiva. Ele soube que dificilmente em outro momento da sua vida, seu coração bateria tão rapidamente como agora.




Marlene McKinnon era uma mulher de tirar o fôlego. Os cabelos castanho-escuros eram brilhantes e Sirius adorava quando a morena prendia-os em um rabo de cavalo desajeitado, deixando alguns fios soltos. Ele sentia-se indignado ao ouvi-la dizer que não se considerava uma mulher bonita. Como diabos Marlene podia achar isso? Sabia muito bem qual visão a mulher tinha de si mesma e garantia que não era boa. Sirius observou Lene caminhando lentamente em sua direção e não pôde evitar esboçar um sorriso.




Os dois se conheciam desde os seis anos quando a família McKinnon se mudara para a casa ao lado da mansão dos Black. Sirius lembrava-se com nitidez do dia em que ela o cumprimentara pela primeira vez. Desde então se tornaram amigos, brincavam juntos no quintal e iam à escola juntos. Quando foram para o colegial, tomaram caminhos totalmente diferentes, Marlene se dedicou às aulas de artes e Sirius aos esportes.




Ele era um rapaz bonito e encantador, sempre rodeado de garotas que se sentiam atraídas pelo seu porte atlético e olhos azuis penetrantes. Marlene, por sua vez, era desajeitada, porém divertida, sempre rindo quando na companhia de suas amigas. Isso o fascinava e aos poucos foi perdendo o interesse pelas garotas do colégio, agora tão imaturas aos seus olhos. O moreno nunca soube de verdade quando se apaixonou por Lene. Talvez tenha sido numa das horas vagas que partilhavam, quando ela o olhava com seus olhos verde-cinzentos, ou então, quando ria e suas covinhas apareciam, deixando-a terrivelmente adorável.




Dividiram um apartamento quando deixaram a casa dos pais, mas Sirius nunca esboçou nenhuma tentativa de transformar sua amizade com a Lene em algo mais.  – Você é o amigo gay dela, cara! Admita! – dizia James Potter, seu melhor amigo, apoiado em coro pelos outros colegas de classe.




- Não, eu não sou, James! – insistia Sirius, irritado. Odiava quando eles diziam isso. – Apenas não sei se ela sente o mesmo por mim. Não quero arriscar perder a nossa amizade.




 Alguns meses depois, sentiu-se encorajado em dizer a Lene que a amava. Ela havia terminado um namoro de três anos e ainda não conseguia determinar o porquê. Sirius arrumou o apartamento dos dois, comprou velas e algumas garrafas de vinho, e preparou um jantar, esforçando-se ao máximo para que tudo desse certo. Sua respiração começou a ficar ofegante quando a porta se abriu, e ele tratou de se acalmar. Afinal, sabia ser sedutor quando queria, apesar disso ser difícil quando estava na presença dela.




Escutou a porta batendo e sentiu o perfume de Lene quando a mesma entrou. Estava tão nervoso agora que admitiria que a amava e que precisava dela, não só como amiga, mas também como companheira. – Sirius? – a voz dela soou com receio.




- Estou aqui – gritou ele da cozinha, respirando fundo.




Os passos de Lene foram inicialmente cautelosos, ainda que seu coração batesse descompassado. O apartamento era modesto e tinha a cara dos dois. A mobília fora escolhida por Lene que tinha gostos extremamente finos e isso foi o bastante para Sirius. Sentia-se feliz por poder conviver com a garota com quem crescera junto e com quem dividira os melhores momentos de sua juventude.




- O que está... – ia dizendo, mas a visão com que deparou em seguida deixou-a sem fala. A mesa, coberta por uma toalha de linho, estava posta, com velas aromatizadas, duas taças e vinho tinto seco; o preferido de Lene. Olhou para cima e viu uma cena adorável, que guardaria por toda sua vida. Sirius vestia um avental e tirava do fogão uma travessa que Lene imaginou ser seu prato preferido: costeletas com batatas assadas. O aroma imediatamente despertou nela lembranças de casa, a cozinha aconchegante, seu pai cozinhando para a família toda sexta-feira à noite – isto antes da sua morte tão repentina.




Sirius olhou para Marlene e observou os olhos da jovem se encherem de lágrimas. – Achei que...




- Eu te odeio Sirius Black. – brincou Lene limpando as lágrimas. O moreno sorriu, colocou a travessa na mesa.




- Não sei por que anda tão sentimental, Lene. – disse e caminhou até ela, puxando a cadeira para ela sentar. – Afinal, é só um jantar... Achei que precisava de algo assim.




- De que? Velas e muito vinho?




  - Não. – respondeu com ar sério e seu olhar penetrante deixou-a sem fôlego - Um pouco de romantismo. – um sorriso brotou dos lábios rosados de Lene. Ela rezou para não estar corando. Os dois tiveram um jantar divertido e, como Sirius havia planejado, romântico. Relembraram a adolescência e riram dos tempos de criança. A risada de Marlene soava como música aos seus ouvidos e ele acreditou que não seria feliz com nenhuma outra mulher a não ser ela.




Durante todo o tempo que conversavam, Sirius não tirou os olhos de seu rosto. Marlene evitava olhá-lo diretamente. Havia bebido mais vinho que o recomendado e corria perigo de se perder nos olhos de seu melhor amigo. – Muito obrigada, por tudo... – agradeceu ela encarando o moreno.




- Não há de quê. – Sirius já não sabia como começar ou que atitude tomar. Era ridículo que ele estivesse agindo como um adolescente apaixonado. Mas vivia nesse torpor há mais de cinco anos e estava decidido a não permanecer nele.




- E-eu – gaguejou Lene levantando-se de maneira súbita – Eu vou para meu quarto.




Os braços firmes de Sirius enlaçaram sua cintura e ele a puxou para perto em um abraço forte. Marlene se sentiu protegida e isto a deixou emocionada. Riu baixinho enquanto se aconchegava nos braços de Sirius. Ele dissera a verdade, ela estava muito sentimental nos últimos dias.




- Boa noite, Sirius. – sussurrou em seu ouvido.




Entreolharam-se com desejo e ele soube naquele exato segundo que o que sentia era recíproco.  Então, Lene caminhou para seu quarto fechando a porta, abandonando-o ali com sua revelação.


 


“But they should never take so long
Just to be over then back to another one”


 


Sirius afastou as memórias daquele dia com extrema rapidez, voltando para a realidade ao seu redor. Marlene sorria com alegria ao encontrar seu olhar. De certa forma, pareceu para ele algo como um pedido de aprovação.  Não sabia se era indicado mas sorriu, seu sentimento de amor por ela transbordando de seus olhos. A cerimônia de casamento terminou e Sirius Black permaneceu ereto, encarando-a. Era como se não estivesse presente, sua mente voava em milhares de lembranças e ele sentia-se feliz por isso.




Ninguém nunca amaria Marlene como ele, jamais seria capaz de fazê-la feliz como ele o teria feito, por mais gentil que ele fosse. Sirius sabia disso, no entanto, apesar de sua certeza, seu torpor o obrigava a assistir tudo como mero espectador. Ainda quieto, observava a Marlene beijando de leve os lábios de seu marido. Deixou sua mente vagar por uma realidade de outra vida, na qual ele, Sirius, a beijava com vigor e prometia que daquele dia em diante, ia torná-la a mulher mais feliz do mundo.




As palmas e os gritos alegres pareciam distantes quando os olhos verde-cinzentos de Lene o olharam com angústia. Assim como ele, havia muito que Marlene desejasse que ele saísse de seu entorpecimento. Sentiu alguém puxando sua mão para sair da igreja e se deixou ser levada. Olhou para trás e viu Sirius parado no mesmo lugar perto do altar, com o olhar perdido.




Soube então que estava deixando para trás também toda uma vida que desejara ter com Sirius. Marlene não estava preparada para abandonar isso; mas, partiu sabendo que ela nunca seria inteiramente feliz, pois de uma forma inexplicável dependia do toque e dos olhos azuis de Sirius Black.




 


But no one is ever gonna love you more than I do
No one's gonna love you more than I do.”


 


 


 


 




 

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