Sina Negra



Seu nascimento foi motivo de grande comemoração para toda a família, afinal, aquele não era apenas um bebê recém–nascido. Era o primeiro descendente de uma nova geração que traria, segundo as afirmações de todo o clã, poder e honra a toda casa.


Tudo do melhor lhe foi dado. Recebeu toda a educação adequada. Todos os seus desejos e caprichos foram satisfeitos. Afinal, ela não era uma criança comum. Era a responsável por manter toda a tradição, costume e valores de seus antepassados vivos, mesmo que ainda não compreendesse realmente o que isso significava. Mas, descobrir o que os outros esperavam que ela fizesse não foi problema algum.


Desde pequena, lhe ensinaram que o sangue que corria em suas veias era puro, o que a tornava superior aos outros, e assim sendo, ela deveria ter um comportamento à altura de suas origens. Se humilhar, se deixar abater, se misturar, se rebaixar, eram apenas algumas das inúmeras coisas que ela jamais deveria fazer. Carregava um nome nobre, importante e pesado demais, que não permitia qualquer deslize que pudesse manchar sua reputação. Porém seus familiares não precisaram se preocupar com a primogênita. Desde que seus tão valiosos princípios lhe foram apresentados, ela não se desviou deles. Segui-os a risca. Uma verdadeira prova de que a semente que fora plantada em seu coração, desde seu nascimento tinha criado raiz, desabrochado, dado frutos...


Contudo, ela realmente era superior. Os maiores devaneios de seus parentes não chegarem nem próximos do que ela se tornou: extremamente poderosa, impetuosa, decidida, destemida, fiel as suas próprias causas, ambiciosa, má.


Mas não eram isso que esperavam dela?


Não, claro que não!


Ainda não era o suficiente. Não para eles, mas para ela. Para ela era preciso mais.


Com os valores de sua família, criou bases para seus próprios conceitos. E os seus ensinamentos de quando criança ganharam ainda mais força com os que sobrevieram. Logo, xingar nascidos trouxas de sangues – ruim perdera a graça. Amedrontar os primeiroanistas deixou de ser divertido. Era preciso muito mais. Sua fama de menina má era algo que não podia se limitar às paredes de escola ou as dependências de sua própria casa. Era algo que tinha necessidade de conhecer e ganhar o mundo.


Sua sede de poder a levou aos lugares certos. Ou aos lugares errados?


Ela foi a primeira da família a se alistar no exército dos comensais da morte, chocando a todos. Aquilo era muito mais que desejavam que ela fizesse. Todos os ensinamentos passados aquela jovem eram de como se portar diante a alta sociedade bruxa, de como honrar sua família e de arranjar um casamento digno.Como manusear pessoas, como utiliza-las para satisfazer seus próprios interesses, como mentir e enganar são artes que ela aprendeu sozinha.


Logo, seus feitos como comensal foram reconhecidos.


Logo ela estava sendo tratada como a mais digna de confiança do Lord. Porque ela era realmente mais do que todos os outros. Mais do que seus próprios parentes. Mais do que suas próprias irmãs. Mais do que seus primos.


Ela era Bellatrix Black.


A mulher que jamais ousou em desobedecer a uma ordem de seu mestre, que nunca pensou em voltar atrás, que lutou até o fim por sua causa, por um mundo bruxo “mais limpo”. Uma bruxa que conseguiu tudo: poder, glória, riquezas...


E que ao mesmo tempo não conseguiu nada.


Ao seu redor só existia inveja, cobiça, ódio, trapaças...


Ela nunca chegou a saber o verdadeiro significado da amizade. Muito menos, do amor. Ainda assim, foi capaz de se casar. Todavia, na sua relação conjugal, era difícil saber quem tinha mais interesses em jogo, se ela ou Rodolfo. Mas quem se importava com isso? Ela só estava cumprindo o seu papel.


Muito bem por sinal.


Quantas foram suas vítimas?


Quantos caíram em suas artimanhas?


Quantos foram presos em suas emboscadas?


Muitos. Afinal, ela era Bellatrix Lestrange, a garota que tinha nascido para que os outros morressem. A jovem que tinha sido predestinada a honrar sua família a qualquer custo, e já que não poderia ser com descendentes como sua irmã Narcisa, que fosse então com atitudes e feitos que impressionassem e honrassem todos os Black.


E foi isso que ela fez.


Sem se arrepender, sem se importar, sem se perguntar o que estaria perdendo...porque sempre se perde alguma coisa.


Fazer escolhas é fazer renuncias.


E ao escolher seguir o Lord das Trevas, ela renunciou a coisas simples, mas total importância e significado, para todas as pessoas, sendo bruxas, ou não.


 


Ela não viu o por – do –sol, não sentiu o cheiro das flores, não riu de uma piada sem graça contada por algum amigo, e não gargalhou alegremente quando um colega levou um escorregão, porque ela simplesmente, não provou da amizade. Não passou horas pensando no que a pessoa amada estaria fazendo, nem planejou surpresas para alegrar o outro, porque ela decididamente abdicou do amor. Não soube o que era sair apenas pra se divertir, não soube como aproveitar os momentos de paz, não teve motivos para compartilhar segredos com as irmãs, não comemorou aniversários, nem qualquer data dita especial, não recebeu corujas com notícias de ninguém durante as férias escolares...


Não foi amada.


Nem querida.


Só temida.


Simplesmente, cumpriu sua sina.

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