Prólogo



Hermione corria. Seus pés doíam e sua respiração estava desregulada, mas ainda assim, ela corria. Ao seu redor, as árvores da floresta faziam sombras sinistras enquanto os galhos batiam em seu rosto, cortando-o. Às vezes, ela tropeçava em raízes e pedras e acabava caindo, por isso, seu jeans estava rasgado, seus joelhos estavam sangrando e suas mãos, machucadas. Mas mesmo assim, ela continuava correndo.


Não, Hermione não estava fugindo de ninguém, tinha certeza disso. Ela sabia o que precisava fazer, e não era fugir. Ela precisava correr. Ela precisava chegar. Era a única que podia.


Mas... Podia o quê?! Ela não sabia onde deveria estar, não sabia o que fazer e não sabia o que iria encontrar. Ela só sabia que se parasse de correr, algo terrível iria acontecer, então ela continuava correndo.


Contudo, aquilo começou a ficar ilógico demais e a confusão Começou a se formar em sua cabeça. Afinal, qual era o perigo?! Quem ela iria salvar?! Seus pés não estavam mais suportando, e cada vez mais Hermione se embrenhava dentro da floresta, que se tornava mais densa e escura e sons de passos correndo além dos dela podiam ser ouvidos não muito distantes. Assustada, ela parou. Sua respiração estava desregulada e todo seu corpo doía. Definitivamente, ela estava muito cansada.


Hermione fechou os olhos e deixou o vento tocar seu corpo. Seus cabelos ondularam e seus músculos relaxaram. Tudo que ela queria era descansar, deitar em sua cama e deixar o sono a consumir até que todas as suas energias fossem repostas. Talvez, quem sabe, ela pudesse voltar. Não sabia o que fazer e nem para quem e a idéia de continuar correndo não era muito convidativa. Sim, ela achou uma ótima idéia voltar, descansar e esquecer toda aquela correria.


Ela respirou fundo, abriu os olhos e começou a dar meia volta, mas foi nessa hora que o rosto dele surgiu. Em sua mente, Hermione pôde ver o sorriso e os olhos bondosos. Ela conseguiu até ouvir a risada contagiante e a voz suave. Ele estava dizendo o some dela. Ele a estava chamando. Com os olhos arregalados, ela entendeu. Então era isso, era tudo sobre ele. Agora ela compreendia, Hermione tinha que salvá-lo. Deveria tirá-lo de lá seguro. Tinha que fazê-lo. Renovada, ela voltou a correr.


Não demorou. Em questão de minutos, ela os encontrou.  No mesmo instante, seus pés pararam e, sem ser notada, ela olhou a cena a sua frente. Não estava frio, mas um arrepio percorreu a sua espinha e suas pernas tremeram. Por um momento, ela sentiu medo. Medo pela cena que estava vendo, medo por ela, mas principalmente medo por ele.


Seus olhos percorreram mais uma vez a cena. A clareira a sua frente abrigava um grande número de bruxos, todos vestindo negro e formando um círculo. No centro, estava ele. Ao olhá-lo, Hermione foi tomada de uma emoção muito grande. Em seus olhos, não havia medo ou pavor, apenas a coragem que ele sempre demonstrou ter e por um segundo, ela se permitiu admirar a coragem, a valentia e a bravura daquele que sempre tivera um espaço maior em seu coração.


No entanto, enquanto estava ali parada, o bruxo na frente dele, aquele cujo o nome não é pronunciado, levantou a varinha. Isso a fez sair de seu transe. “Não!”, ela pensou. Ela não deixaria aquilo acontecer, não permitiria que fizessem mal a ele. Entendia o que tinha que fazer e iria até o fim. Por isso, mais uma vez naquela noite, ela voltou a correr. Seu primeiro movimento quebrou um galho caído no chão, fazendo barulho e anunciando sua chegada, mas ela não ligou. Continuou correndo, empurrando quem estava na sua frente e antes que o feitiço o alcançasse, ela se pôs na frente do garoto. O feitiço lançado atingiu seu peito e a dor se espalhou pelo resto do corpo em questão de segundos. Ela sentia que a consciência se esvaía rapidamente, que era questão de milésimos de segundos até que todos os seus sentidos se desligassem, mas antes disso acontecer, algo naquele lugar atraiu sua atenção. Usando as últimas forças que podia reunir, os olhos de Hermione encontraram com um par de olhos azuis tão profundo quanto o oceano, que naquele instante, encontravam-se arregalados de medo. Aqueles olhos foram sua última visão antes de seu corpo encontrar o chão e por fim, ela descansar.


 


***


 


Hermione acordou assustada. O calor dentro do quarto era extremo e ela suava muito. Os lençóis da cama de dossel estavam todos enrolados em seu corpo, a imobilizando. Ela se mexeu freneticamente, tentado e se livrar deles e quando o fez, Hermione sentou na cama e olhou ao redor do quarto. As garotas continuavam dormindo, aparentemente em sono profundo, sem nenhuma preocupação e em sonhos tranqüilos.


Sonhos... Ela fechou os olhos e tentou se concentrar no que acabara de sonhar. As imagens, no entanto, iam desaparecendo mais rápido do que ela conseguia visualiza-las. Havia uma floresta. Ela corria. Parecia tão cansada... O que ela tinha mesmo que fazer? E os olhos, porque havia olhos, não havia...? De quem eram? Eram azuis, tão profundos quanto oceanos. E pareciam tão preocupados. Seria com ela? E por quê?! Porque alguém a olhava daquela maneira?


Deixa. Foi só um sonho.


A garota sacudiu a cabeça, afastando os pensamentos confusos, inspirou o ar a sua volta e, ainda sentada, fechou os olhos.


Não vou conseguiu dormir de novo, não instantaneamente.


E pensando nisso, ela levantou. Silenciosa e delicadamente, Hermione se moveu em direção a porta do quarto e saiu. O corredor do lado de fora, ao contrário do quarto, estava menos quente, e a corrente de ar que soprava somado com o fato dele ser feito de pedra deixava-o mais fresco.


Ela caminhou devagar, deixando que o vento ondulasse seus cabelos e a camisola, deixando que seus pés descalços a conduzissem.


Não demorou e a garota encontrou o cômodo que procurava. Entrou no banheiro e se dirigiu diretamente para a pia. Abriu a torneira e deixou que a água escorresse por entre seus dedos. Logo em seguida lavou o rosto e se olhou no espelho. Uma garota alta, de pele branca e longos cabelos cacheados e volumosos, de uma tonalidade castanha alourado e olhos amendoados retribuiu o olhar.


Seu rosto, antes calmo e centrado, agora parecia preocupado e exausto, ainda que aquele ar inteligente e seguro ainda estivesse lá estampado, como sempre estivera.


Sim, ela estava preocupada. Assim estivera desde o ano passado e agora, prestes a começar o sexto ano na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, suas preocupações estavam longe de se extinguir.


É fato que chegara ao seu sexto ano de maneira peculiar. Cada ano enfrentara um batalha, um obstáculo diferente e até provou a inocência de um homem acusado injustiçadamente. É claro que sempre ao lado de seus dois melhores amigos, Harry e Rony. Mas todo e cada ano suas “aventuras” estavam sempre ligadas, de uma maneira ou de outra, Àquele cujas pessoas não ousavam falar o nome, e seu maior medo era que esse ano não fosse diferente.


Ano passado tentaram negar, ignorar que ele havia voltado. Haviam, até mesmo, tentado pintar Harry de mentiroso e louco, mas no final, eles conseguiram provar a veracidade dos fatos. As provas eram evidentes, o retorno d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado era óbvio e estava estampado em cada notícia de morte, assassinato, tragédia ou desaparecimentos nos jornais.


Hermione apoiou as mãos na pia e deixou a cabeça perder para frente. Na mesma hora, os cachos caíram ao lado de seu rosto. O silêncio dentro do castelo era absoluto, quebrado apenas pelo som da água da pia caindo.  Talvez ela estivesse sendo boba e covarde, mas, se ela pudesse escolher, não haveria lutas nem mortes esse ano. Se ela pudesse fazer as coisas do jeito dela, Voldemort seria morto sem que Rony e Harry tivesse que se expor ao perigo e colocar sua vida em risco. Se ela pudesse, ela daria a vida para que nenhum dos dois sofresse...


Não!” Ela não podia ficar daquele jeito. Não podia deixar que os pensamentos ruins invadissem sua mente. Ela precisava estar sã e corajosa ao lado de Harry, porque algo lhe dizia que esse ano seria decisivo e ela, Hermione Jane Granger, estaria lá, para lutar, para destruir Voldemort, e principalmente,por Harry e Rony.


***


 


 Draco abriu os olhos e tentou focalizar o que estava acontecendo. A sensação era que ele tinha acabado de chegar ali e por isso nada estava fazendo sentido.  Ele balançou a cabeça, tentou por os pensamentos em ordem e olhou para a cena a sua frente. O garoto estava ali, encurralado pelo seu Senhor. Tudo aconteceria de acordo com os planos e então, a sociedade e o modo de vida que todos conheciam acabaria. Não haveria mais bem e mal. Não haveria mais certo e errado. Voldemort dominaria e o mundo enfim seria seu domínio único, seu reino; e ele, Draco, estaria ali ao lado de seu senhor.  Mas então porque esse pensamento parecia tão errado?


Ele olhou mais uma vez para o que estava acontecendo. Ambos conversavam e o garoto, embora aparentasse coragem, tinha uma expressão preocupada e séria, como se seus pensamentos não estivessem na clareira, mas sim em outro lugar.


Outro lugar... Sim, Draco também queria estar em outro lugar. Apesar de tudo que ele vivera, tudo que pensara por tantos e tantos anos, todo o ódio que sentira por aquele garoto que estava para ser morto, ele não se sentia mais parte daquela cena, não se sentia mais parte daquilo que estava acontecendo. Não desejava mais aquilo...


TEC.


Os pensamentos de Draco foram interrompidos por uma sucessão de barulhos. Primeiro, o som da voz do bruxo a sua frente lançando um feitiço direcionado ao garoto. Depois ele ouviu um galho sendo quebrado e sons de passos rápidos. Depois quando ele conseguiu focalizar tudo que estava acontecendo, a cena passou em questão de segundos, mas pareceu a Draco ter ocorrido em câmera lenta. Ele viu longos cabelos cacheados e castanhos, quase louros esvoaçando enquanto a garota corria desesperadamente. Seu coração disparou e por algum motivo que ele não entendeu, Draco sentiu medo. Ela não podia, não podia fazer o que estava prestes a fazer. Ele quis gritar, quis correr para impedi-la, quis abraçá-la e implorara para que ela parasse de correr, mas não teve tempo. A garota chegou a seu destino antes. Ela se prostrou na frente do garoto e o feitiço que Voldemort lançara a atingiu no peito. No instante seguinte, o mundo parou de girar. Os olhos amendoados dela encontraram com os azuis de Draco e na eternidade de um segundo, se olharam. Não durou. Os olhos dela estavam apagados antes dela atingir o chão.


 ***


Draco aordou assustado no dormitório masculino da Sonserina. Assim que abriu os olhos, sua cabeça explodiu de dor. Ele fechou os olhos e tentou afastar a dor, mas não conseguiu. Então, devagar ele levantou da cama. Os dormitórios da Sonserina, por ficarem nas masmorras, são frios e úmidos e logo que colocou os pés descalços no chão, um arrepio percorreu sua espinha. 


Ele saiu do quarto e andou pelo corredor. Sua cabeça ainda doía e, tentando esquecer a dor, ele começou a pensar no sonho que tivera, mas as imagens se esvaíam. Era como tentar segurar água com as mãos, e ela ir escorrendo por entre os dedos. Pelo que ele lembrava, havia uma floresta, comensais, Voldemort...


Ainda pensando no sonho, Draco continuou caminhando pelo corredor escuro até encontrar uma janela. Assim que a encontrou, ele parou e olhou para a noite lá fora. O ar estava frio e o vento soprava gelado e ele se sentiu ainda mais desprotegido ao pensar em Voldemort. Ele, Draco, sabia o que tinha de fazer, sabia sobre o plano, e sabia que sua parte nele era ínfima, mas crucial.


Ele admitia, estava assustado. Tinha medo de não conseguir executa-la direito e tudo ruir por sua culpa. Contudo o que mais o assustava era que, agora, na divisa entre planejar e executar, ele não tinha mais certeza. Não sabia como fazer e nem se deveria, só sabia que, se não fizesse, morreria.


Ele olhou mais uma vez para fora. Uma coruja piou no longe e Draco respirou fundo. Não deveria temer. As coisas ocorreriam conforme o planejado. Não porque era uma questão de certo ou errado, de bom ou mal, mas porque assim deveria ser. Porque Harry Potter era apenas um garoto e Voldemort... Bem, Voldemort era Voldemort, ele iria ganhar, iria vencer e iria dominar. Ele, Draco tinha de crer nisso, porque era o que ele deveria desejar, era o que ele deveria querer, e porque já era tarde demais para mudar de lado.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • meroku

    belo começo!!!!!!!!!!!!!!posta o resto logo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    2012-10-15
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.