parte O1.






pt O1.



But you broke me, Now I can't feel anything


 


 Marlene olhou para o chão, e ele rodou. Era uma droga completa. O mundo não podia parar de girar nem um instantinho, só pra ela ficar nos eixos? Ah... só faltava essa. O lago também estava rodando. Woooa... segurou-se na coisa mais firme que estava a seu alcance. Um braço. Um braço forte. Lene ergueu os olhos para o dono daquele braço com um sorriso enviesado – estava dando o braço a torcer, e isso também era uma droga.


 - É, foi o que eu pensei. – uma voz masculina atingiu em cheio seus ouvidos. E mesmo que a voz não fosse a dele, ela quis afastá-la o máximo de si. – Você não está nada bem.


 E em segundos quis trazê-la para mais perto. Hm, o paradoxo. Aquela voz sempre vinha acompanhada de um sentimento de proteção.


 - Ah, Jay... – ela sentiu o mundo girar de novo, mas dentro do seu estômago. Sentiu as mãos dele em sua cintura e ouviu palavras de conforto enquanto despejava o que havia comido no café da manhã, pois esta havia sido a sua única refeição durante o dia todo. Depois vomitou apenas líquido, e depois sentiu as mãos de James guiando-a para ajoelhar-se na grama.


 Se ele não a estivesse segurando tão firmemente, seu corpo teria pendido para frente e teria caído no Lago. E então estaria completamente fodida, porque além de tudo não sabia nadar. Que bela merda.


 Ela não conseguia prestar atenção nas perguntas de James, embora soubesse que devia satisfações a ele. Mas é claro que ele devia saber. Ele sabia de tudo quando se tratava daquele assunto. Aquele... a ânsia voltou à sua garganta e ela tentou vomitar mais uma vez, mas não havia mais o que jogar fora, além da bile. Seus olhos arderam e ela sentiu lágrimas cortarem sua bochecha.


 Então estava novamente inclinada para trás, alguma coisa macia limpando sua boca. Um lenço. Encontrou os olhos preocupados de James muito perto e tentou sorrir, mas logo esse sorriso se transformou numa careta e ela soluçou, sentando-se encima dos próprios pés.


 - O que aconteceu, Lene? – dessa vez ela ouviu, bem perto do seu ombro. Os braços dele estavam envolta dela.


 O corpo inteiro dela estremeceu e pensar em como a sua maquiagem devia estar só a fez chorar mais ainda.


 - Você sabe o que aconteceu... de novo... – ela soluçou.


 - Você não pode se entregar dessa maneira – a voz dele estava mais firme, quase magoada pela fraqueza dela – Não pode, está me ouvindo? Qual é, Lene, você nunca foi assim.


 Marlene ergueu a cabeça para olhá-lo. Então aproximou a boca da dele e colou seus lábios rapidamente, para então jogar-se num abraço que quase o derrubou para trás.


 - Eu amo você – ela falou com aquela voz embriagada/embargada – Você é tão bom pra mim, James. Eu poderia ter morrido afogada sem voc-cê.


 Ela sentiu-se minimamente melhor por perceber que essa última frase o fez dar uma risadinha pelo nariz enquanto afagava suas costas.


 - Sim, você não sobreviveria um segundo sem mim, querida.


 - Você é o melhor... a-migo que alguém pode te-ter.


 


24 horas antes


It's the last chance to feel again


 


 Marlene deixou o corpo balançar ao som da música. Era a primeira festa do final de semana que com certeza marcaria Hogwarts por décadas – seriam quatro festas na Grifinória, todas planejadas pelos marotos. A festa da vitória do último jogo e conseqüentemente a da conquista da Taça, a pré-baile de formatura, o próprio baile de formatura (com seus professores espiões, bebidas sem álcool e comportamentos respeitáveis) e o pós-baile, que prometia ser a despedida mais badalada de todos os tempos. E era a sua música preferida que estava tocando, e seus melhores amigos estavam do seu lado, se divertindo também.


 Lílian estava rindo de alguma coisa que James acabava de dizer em seu ouvido, os olhos verdes brilhando de felicidade. Eles estavam planejando morar juntos. Eles tinham tudo para dar certo. Lene suspirou e foi parando de dançar lentamente. Olhou para Dorcas, conversando alto com Emmeline, e fazendo passos de dança engraçados. Ao lado delas estavam Remo e Pedro, o primeiro olhando para as duas e fazendo comentários sobre a conversa e o segundo com as mãos nos bolsos, as sobrancelhas franzidas, como se algo o preocupasse.


 Sirius não estava ali, como sempre. Ele só podia estar em algum canto tão agarrado à uma garota que provavelmente seria impossível distingui-los. E ele ainda nem sabia de nada. Deu de costas aos amigos com a intenção de ir buscar uma bebida e o viu.


 Ele estava lindo, pra variar. A pele pálida demais e em contraste as bochechas levemente avermelhadas, afogueadas, os cabelos negros desgrenhados, um sorriso torto e malicioso e aquele jeito de andar elegante e displicente que só ele tinha. Estava indo em sua direção, e seus olhos cinzas prenderam o seu de tal forma que a fez sorrir também.


 - Hei – ele chegou perto demais, puxando-a pela cintura contra seu corpo quente – Aí está você.


 - E você – Lene olhou rapidamente por cima do ombro dele.


 Ela sabia. Sabia o que estava acontecendo, e isso, mesmo depois de um ano inteiro, apertou seu coração de uma forma que a fez querer esbofetear aquele rosto perfeito que a encantava, como já havia feito tantas vezes. Ela sabia que Melissa Hodgins, a loira que lançava olhares curiosos na direção deles, estivera beijando-o minutos atrás. Não apenas porque seus lábios estavam inchados e vermelhos – mas ela simplesmente sabia, pela maneira como Sirius a abraçava. Como se fosse perdê-la.


 - Não está achando essa sua saia muito curta, não, querida? – ele perguntou perto do ouvido dela, fazendo sua pele se arrepiar. Uma mão quente subiu pelas suas costelas e ele a aproximou ainda mais para abraçá-la.


 - Estou achando muito apropriada – ela retornou a provocação, sentindo os olhos arderem.


 Tudo bem que estava com vontade de chorar e gritar com ele e passar por tudo de novo. Dessa vez era diferente. Dessa vez aquilo estava realmente próximo de acabar. Mesmo que ninguém ainda soubesse.


 - Ela vai ser muito apropriada se você me acompanhar para fora em alguma sala vazia. – ele mordeu o lóbulo de sua orelha, e então continuou: - ela é pequena, e eu posso arrancá-la com os dent...


 - Por que não se satisfaz em ficar na festa quietinho, apenas curtindo? – Lene afastou-se dele.


 Sustentou com firmeza aquele olhar curioso e receoso por uns trinta segundos e então se afastou, indo realmente buscar uma bebida. Desviou das pessoas sem dar atenção ao que diziam ou se a cumprimentavam. Ela sempre fora colega de quase todo mundo da Grifinória, mas no final do ano letivo as pessoas haviam realmente se aproximado mais. Devia ter sido por aquele sentimento de nostalgia que os atingia a cada dia que passava. Enfim, abriu uma garrafinha de cerveja amanteigada e percebeu que Sirius estava conversando furtivamente com James, gesticulando muito, e o outro parecia nervoso e apenas olhava fixamente o chão, uma mão na cintura de Lily, que estava virada para o outro lado falando com Dorcas.


 Ela ajeitou a blusa antes de desviar o olhar, sorrindo para Jasper Green, o batedor do time, parceiro de Sirius na posição. Ele acenou e começou a se aproximar, aqueles olhos verdes brilhantes de encantar qualquer garota sorrindo também, com seus dentes perfeitos. Ele coçou os cabelos castanhos, parecendo tímido, antes de falar:


 - Marlene McKinnon! – e então beijou sua bochecha – Você... sozinha. Isso é novidade!


 - Jasper Green! – ela riu, e ele fez o mesmo – Pois é, as pessoas tem seus momentos.


 - Estranho que Sirius tenha desviado os olhos de você. – falou, lisonjeiro – Eu no lugar dele não faria isso nem por um segundo.


 - Você sabe que ele desviou os olhos de mim – ela falou, amarga, e deu um gole antes de continuar – Mas, que seja, não temos que conversar sobre meus problemas agora. Quais são seus planos para quando sair?


 Jasper ergueu as sobrancelhas, e Lene pôde perceber que ele hesitava entre ignorar a pergunta e perguntar se Sirius era mesmo um problema para ela ou apenas responder. Mas bem, ele era um bom garoto.


 - Eu vou me juntar à minha família nas Empresas Green de construção. Sabe, toda aquela coisa de prédios e decoração... é do que eu gosto. – ele sorriu – E você?


 Marlene deu uma golada grande enquanto pensava em uma mentira. Nem seus amigos sabiam, porque alguém como o Green saberia?


 - Ainda não sei – disse – Acho que apenas estudar e procurar alguma profissão de que eu goste. Quer dizer, eu gosto de cuidar das pessoas. Talvez...


 - Você foi realmente boa em cuidar de mim – ele falou, e então suas bochechas adquiriram tons surpreendentes de vermelho quando percebeu como formulara a frase – Quer dizer... quando eu fui praticamente atacado por aquela planta estranha na aula de Herbologia.


 Lene riu e pousou uma mão no braço dele.


 - Eu sei, Jas, não precisa ficar vermelho.


 Ele riu pelo nariz e olhou ao redor. Se falasse aquilo para Sirius, receberia uma sonora gargalhada e uma frase tão egocêntrica que a sufocaria a ponto de provocar novamente, tentando mandar a auto-estima dele aos frangalhos, mas ele era firme. E sabia do jogo dela. E lá estava ela pensando em Sirius de novo e... hei. O que diabo Sirius estava fazendo ali?


 - Jasper, hei – ele deu batidinhas no ombro do outro – Que belo jogo hoje, hein. Hogwarts perderá uma bela dupla de batedores...


 Ele riu e disse: - Foi bom trabalhar nisso com você, Sirius. Eu vou sentir falta do time, e de qualquer maneira... acho que Wendel está me chamando. Vejo vocês depois?


 Não havia sido uma pergunta, porque ele já havia sumido entre as pessoas que dançavam. Sirius se virou para Marlene.


 - Será que ele vai sentir falta de dar em cima da minha garota também?


 - Qual é, Sirius. Cala essa boca. – Lene sentiu o sangue ferver e franziu as sobrancelhas, tentando não olhá-lo. Como é que ele podia...?


 - O quê?! Vai me dizer que o cara não estava deliberadamente te chamando para sair? Aposto que você iria sair com ele, não é? Pra mim, que, até onde eu me lembre, sou seu namorado, você nega, e pra um cara tão idiota como...


 - Ele não é idiota. Se tem alguém aqui que é assim, é você. Pare de fazer isso. – ela falou, séria – Eu vi o que você fez e francamente, não sei como meus nervos ainda não estão aflorando a ponto de que eu arme um barraco aqui então, por favor, Sirius, não tente me deixar mais nervosa porque se isso acontecer, a coisa vai ficar bem feia pro teu lado.


 Eu sou patética, era o que ela conseguia pensar quando saiu pelo quadro da Mulher-Gorda a procura de paz para refletir. Que auto-controle, Marlene, você conseguiu não destruir a festa pra você mesma – pelo menos não na frente de todo mundo e pela primeira vez sem envolver Lily, James e Dorcas.


 O corredor estava como seria de se pensar: cheio de casaizinhos que não sabiam como raios disfarçar que estava acontecendo uma festa bem ali pertinho, doidos para que Filch ou a professora Minerva os achasse e acabasse com tudo. Mas isso não ia acontecer. Era o último ano dos Marotos, e eles pareciam realmente mais benevolentes por causa deste fato...


 Pirraça passou voando por ela, cantando algumas frases repetitivas que ela não conseguiu entender, e Marlene virou o resto do conteúdo da garrafinha nos lábios. Droga, teria que voltar para buscar mais uma. Quando virou-se, tomou um susto: Sirius estava a poucos centímetros dela, com aquele sorriso torto nos lábios macios, a cabeça meio inclinada para o lado e os olhos estreitados.


 Ela levou a mão ao coração, sentindo-o bater desesperadamente, e ofegou.


 - Filha da mãe – xingou – Desgraçado, sabe que eu poderia morrer bem aqui na sua frente? Idiot... – mas ela não terminou.


 Porque Sirius agarrou sua cintura de uma maneira firme demais e a empurrou para a parede mais próxima, a cabeça já enterrada em seu pescoço, beijando ali. Marlene tentou resistir, colocando as mãos no peito dele toscamente para afastá-lo, mas quando ele subiu os beijos para sua orelha ela suspirou e suas mãos voaram para os cabelos, puxando-os levemente.


 - Tem razão, eu sou um idiota – ele murmurou com a voz rouca e apressada perto do seu ouvido – Você sempre tem razão, minha linda... me deixa redimir.


 É claro que ela deixava. Quer dizer, não era como se ela conseguisse não deixar. Era mais como se fosse automático e no fim era muito, muito bom. Sirius subiu os beijos suaves para o seu maxilar, e contornou toda a linha até chegar ao seu queixo, então subiu-os para o lábio inferior de Marlene, que mostrou-se forte com um último fio de resistência e...


 - Além disso, quando você fala brava comigo eu fico louco. – ele disse com os lábios bem colados aos dela.


 E lá se fora toda a porcaria da resistência.


 


Oh what are we doing?


 


 - Som. – Remo abaixou o lápis na lista mais uma vez, olhando questionador para Sirius e James.


 - O mesmo de ontem, checa. – respondeu o último.


 - Bebida – ele continuou.


 Dorcas revirou os olhos e fez uma imitação perfeita do garoto com sua prancheta e seu lápis, fazendo Lily e Lene se segurarem para não rir. Sirius sorriu para ela e fez uma expressão de quem concordava. Quando Remo ergueu os olhos para ver porque estavam demorando, James apressou-se:


 - Haam, checa, Remo. Você foi com a gente comprar agora há pouco.


 - Só pra ter certeza, Pontas! Espera aí... Aperitivo? Quem diabo mexeu nessa lista?


 Pedro deu uma risadinha furtiva.


 - Qual é, caras... só uma coisinha pra beliscar.


 - Ah, vá se ferrar, Rabicho – Sirius riu – Pra que gastar com aperitivo quando tem coisas muito mais importantes para...


 - É, tipo a decoração! – Dorcas falou, animada.


 Todos viraram o rosto para olhá-la, confusos.


 - Ok, era uma brincadeira. Mas bem que seria engraçado colocar umas fadinhas voadoras entre os convidados e...


 - Decoração? Por Deus, Dor – Lily riu – Você não quer contratar, não sei, um Buffet também? Combinaria.


 Marlene deitou-se no sofá em que estava sozinha, e jogou os cabelos para trás, deixando-os pendurados no braço do sofá como uma cortina negra. Fechou os olhos e apertou-os com a ponta dos dedos. Ver os amigos ali, conversando tão distraídos, lembrava que muito em breve, ela não estaria mais entre eles para compartilhar daquilo. E isso a deixava tão frustrada.


 - Hei, pequena – aquela voz aproximou-se dela, meio baixinha. Ele sentou-se no chão na frente do rosto dela e os outros continuaram a conversar, sem dar atenção – O que te preocupa?


 Lene sorriu com os lábios para ele.


 - Nada. Eu estou bem. – respondeu.


 Ele ficou com aquela expressão de quem não acreditava, os olhos cinzas lindos demais meio estreitados na direção dela. Então pegou uma mecha de cabelo dela e começou a enrolar entre os dedos. Por alguns minutos, tudo o que ela conseguiu fazer foi fechar os olhos e tentar aspirar aquele momento.


 


We are turning into dust


 


 - Vamos dar uma volta – ele convidou, levantando-se. Marlene sentou-se no sofá e aceitou a mão que Sirius estendera.


 - Nós vamos sair por aí – ela disse para as meninas – Alguém quer vir?


 A maioria revirou os olhos, mas Pedro ia abrir a boca para falar, parecendo meio ansioso, quando Remo bateu com a lista na cara dele e James falou:


 - De certo alguém vai querer ser vela de vocês.


 - Você faz cada pergunta engraçada, Marlene. – Lil ajudou, rindo.


 Ela deu de ombros e continuou com Sirius para fora do salão comunal, e então para os corredores. Andar com ele de mãos dadas quase a fazia flutuar, embora ela não se deixasse levar por isso. Nenhuma garota com quem ele havia saído tivera esse agrado – e as outras pareciam perceber isso, pela maneira como olhavam para ela, meio ameaçadoras, tristes ou esperançosas.


 - Vai ser estranho, não vai? – ele falou quando passaram pela porta principal que dava para os jardins – Deixar tudo isso pra trás.


 - Este lugar é incrível – Lene respondeu, sentindo um bolo na garganta – Hogwarts sempre vai ser...


 - O nosso verdadeiro lar. – Sirius completou, sorrindo para ela e apertando seus dedos entre os dele.


 Ela respondeu o sorriso. Quando estavam sozinhos, aquele tipo de conversa costumava surgir. Por isso ela insistia. Apesar de parecer fechado, Sirius sempre se abria com ela. Ele falava sobre sua família, sobre saudades e sobre a vida. Assim como ela. A sinceridade e confiança que eles depositavam entre si haviam construído um sentimento forte e indubitável.


 Sirius puxou-a para baixo de um carvalho na beira do lago, e ela sentou-se entre suas pernas, encaixando-se perfeitamente no abraço dele, que cheirou seu cabelo enquanto ela olhava para os lados. Os jardins não estavam exatamente cheios, mas muito mais do que costumavam ficar em tardes de sextas como aquela. Vários grupinhos se reuniam, tirando fotos, conversando alto, rindo, ou apenas os casais se enroscavam na orla da Floresta, meio escondidos entre as árvores, entre beijos quentes e despedidas e promessas. Ela não queria que isso acontecesse entre ela e Sirius. Quer dizer, ela sabia que não ia acontecer, de qualquer maneira. Não haveria despedida.


 Lene encostou-se no peito dele e suspirou, fitando o lago e enlaçando os dedos dele entre os seus, enquanto ele acariciava sua barriga com a outra mão. Aquele lugar era lindo. Diabo, como faria falta.


 - Uma moeda por seus pensamentos – Sirius sussurrou perto de seu ouvido com a voz rouca.


 - Apenas pensando no que você disse sobre este lugar.


 Ele assentiu e ficou em silêncio. Foi inevitável para Marlene não começar a se lembrar de tudo. Quando conheceu Dorcas, no trem, e elas brigaram o caminho todo porque ela achou a garota muito mimada – e depois quando prometeram nunca se separar, sob a neve do primeiro inverno na escola, se abraçando e cobertas de flocos por causa da guerra que haviam acabado de travar. E Lily, no terceiro ano, quando ficaram presas no banheiro feminino por causa de um feitiço de tranca que James estava testando sem saber que havia alguém lá dentro. Então quando Dorcas e Remo começaram a sair, e todos se aproximaram pela boa causa. Toda a insistência de Sirius, os carinhos, as provocações, as cantadas. Todos os olhares cúmplices. As detenções nas quais ela ia furiosa por ter se metido em algo que não fizera e saía desorientada, pelos beijos roubados de Sirius. Os grupos de estudo, sempre comandados pela ruiva. As fugas à noite para a cozinha, para o Lago, para Hogsmeade ou para a Floresta Negra. O dia em que elas descobriram o probleminha peludo de Remo e quiseram ajudá-lo. Marlene ainda se lembrava com uma clareza incrível a expressão furiosa de Sirius e os gritos dele ecoando pelo corredor, acompanhado pelos dela, quando havia os seguido furtivamente com a varinha em riste, cansada de recebê-los sempre tão machucados. Ela se lembrava ainda de ter perguntado porque diabos ele ficava tão preocupado, porque não a deixava fazer o que fosse porque ela queria arriscar se meter em problemas e até mesmo se machucar. Ele gritou de volta que não queria correr o risco de vê-la machucada, ou de perdê-la. Quando ela gritou novamente por quê disso, ele explodiu, dizendo que a amava. E todos os gritos cessaram quando ela pulou no colo dele, beijando-o urgentemente. E o desenrolar do romance de Lily e James, que com certeza daria um ótimo livro. Além das cantorias com Pirraça nos corredores vazios, as bombas de bostas explodidas em qualquer lugar considerado não agradável pelos marotos, das conversas com os fantasmas, com os professores, com Dumbledore, sua sabedoria imensa e seu sorrisinho de quem já sabia de tudo, como Dorcas costumava dizer.


 Eram tantas recordações. Havia crescido em Hogwarts e essa lembrança ficaria pra sempre dentro dela. Passasse o tempo que fosse.


 O abraço de Sirius ficou mais apertado e ela sentiu uma brisa gelada percorrer seu corpo. O sol estava indo embora na direção do lago, desaparecendo dentro da água. Ele suspirou devagar e beijou sua cabeça.


 - Vai ficar tudo bem. – murmurou com a voz rouca – Nós ainda seremos nós.


 Lene acariciou os nós dos dedos dele.


 - Eu espero que sim.


 Ela virou-se ali de modo que pudesse olhá-lo melhor. Deus, sob aquela luz do crepúsculo, a pele dele parecia veludo. Tanto sob seus dedos quanto sob o olhar. Os lábios entreabertos, perfeitos e macios, deixavam passar uma respiração leve. E aqueles olhos cinza, a fitavam com tanta profundidade que ela se perdia, sem resistência alguma, naquelas nuances incríveis. Então, foi como se tudo estivesse passando em sua mente novamente, tudo o que Sirius dissera ao longo dos anos, tudo o que ele fizera. E ela não conseguiu evitar a pergunta, que escapou entre seus lábios:


 - Por que você está sempre voltando, Sirius?


 Ele não pareceu surpreso. Seus olhos apenas piscaram lentamente algumas vezes, assimilando, e então a resposta veio, como ela imaginava. Exatamente à maneira dele.


 - Porque você faz parte de mim. – e ele não desviou os olhos nem uma só vez dos dela.


 Porque era exatamente a verdade. E mesmo assim, isso a machucava.




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n.a: é gente, era pra ser uma song bem curtinha, mas eu me exaltei e escrevi um trem de mais de 22 páginas, então vou dividir por paaartes :D acho que vão ser três ao toto. falem aí o que acharam da primeira e looogo eu posto a segunda! beijo beijo, Nah Black.

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