único.

Eu fui ensinada desde cedo a evitar qualquer contato com ele. Tudo bem, ensinada parece um pouco radical, aconselhada seria a palavra certa. Logicamente, o que meu pai dizia era o correto então, eu segui seu conselho. Por um bom tempo eu não olhei para ele, não conversei com ele ou briguei com ele.

Ele só era... invisível. Apenas isso.

Era 31 de dezembro e o castelo estava em polvorosa, como é de se esperar. Ah, nada como a atmosfera alegre que um novo ano traz. É engraçado como ficamos ansiosos para a meia-noite e esperamos que tudo mude de repente, como num passe de mágica.

Bom, a mágica existe para isso, concorda? Experiência própria.

Haveria uma festa, um baile comemorativo. Imagine como eu e todos os alunos estávamos. Completamente entusiasmados. Toda aquela felicidade boba costumeira dos adolescentes que esperam algo de um baile rondava cada um de nós. Menos uma pessoa.

Eu trombei com ele num dos corredores que davam para a biblioteca e acabei derrubando meus livros. Eu não havia visto em quem tinha esbarrado até me abaixar para pegar meus materiais caídos.

Sete anos de sucesso na missão de evitá-lo. Sete anos arruinados por causa de um esbarrão. Mas o que eu posso fazer se ele tem olhos lindo? Como resistir a tal coisa? Pois é, sou fraca. Viva com isso.

- Desculpe por isso. Aqui estão seus livros. – ele era tão sério que eu emudeci. Entregou-me os livros e virou as costas antes que eu pudesse agradecer.

A imagem dos olhos dele não saiu da minha cabeça o resto do dia. Eram acinzentados e opacos. E pareciam tão... tristes.

Sete anos e longos conselhos jogados no lixo, com certeza. Ah, o que papai diria se me visse deslumbrada pelos olhos de um menino? Pelos olhos dele, mais especificamente. Que eu estava louca, era o que diria.

A tal felicidade boba costumeira que atinge os adolescentes que esperam algo de um baile havia me atingido também. Eu definitivamente esperava que algo acontecesse, mas não sabia ainda o que poderia ser. Ah, que ingenuidade.

Quando pronta, reuni-me aos meus colegas no Salão Principal. O lugar estava tão bonito que me tirava o fôlego. A decoração era toda em branco, suave, simples e envolvente. Parecia um grande jardim num dia de nevasca. Uma pena que não havia nevado ainda naquele dezembro.

Pouco a pouco a meia-noite se aproximava. Eu dancei, brinquei e sorri, como todas as outras pessoas do castelo. Menos uma.

Algo me fez segui-lo quando ele caminhou até o jardim e sentou sobre a grama dura. Antes que pudesse me refrear, eu me larguei ao seu lado.

- O que faz aqui? – perguntou sem me lançar um mísero olhar. Fiz seu jogo e também olhei para o nada.

- Não faço idéia. – respondi suspirando. Eu não sabia mesmo o que estava fazendo sentada ali ao lado do rapaz que eu evitei por sete anos enquanto uma festa gigantesca acontecia. – Por que não está lá dentro?

- Eu não curto festas.

- E seus amigos? - uma risadinha sarcástica foi tudo o que eu obtive como resposta. – Ah, você é do tipo solitário.

- Gostaria de ser, Weasley.

- Como assim?

- Sabe, carregar sobrenomes como os nossos não é fácil. Mas pelo menos você fica com a parte boa. E eu, com a parte ruim. – ele arrancou um punhado de grama, como se estivesse sentido com alguma coisa. – Eu não sou do tipo solitário, mas é difícil ter amigos quando se é neto de um dos maiores comensais da história. Espera-se que você seja como ele.

- Não acho que você seja assim. – ele olhou para mim e pela primeira vez não vi apenas tristeza em seus olhos. Havia um brilho diferente.

Já mencionei que seus olhos são inacreditavelmente lindos?

- Weasley, o que fez você esquecer sete anos de total silêncio e vir falar comigo? – minha vez de soltar uma risada.

- Seus olhos. – não pude mentir, não sentindo o seu olhar avaliador queimar sobre os meus olhos. Por incrível que pareça, ele não fez nenhum comentário, mas eu percebi um sorriso tímido tomar seu rosto.

Por Mérlin, ele é tão lindo.

Foi quando eu percebi uma garrafa presa em sua mão esquerda.

- O que é isso?

- Vinho dos elfos. – eu sorri e conjurei uma taça para mim. – Não vá se embebedar, Weasley.

- Não se preocupe. – foi a vez de ele rir e servir um pouco de vinho para nós dois.

Permanecemos em silêncio por alguns minutos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Devia ser difícil para ele, eu pensei, ser rejeitado. Eu nunca havia imaginado tal coisa, mas como poderia? Ele sempre andava com o seu aristocrático nariz em pé e eu jamais imaginaria que era apenas pose. Carregar um sobrenome como o dele era um fardo, com certeza. Ele era tão sozinho, e eu não podia evitar a vontade louca que me tomou de colocá-lo no meu colo e dizer que ia ficar tudo bem.

Papai entenderia, certo? Era mais forte do que eu.

- Weasley. – olhei para ele, mas ele continuava olhando o lago congelado. – Obrigado por estar aqui. – eu não respondi, apenas busquei a mão dele e a apertei. Sem que eu esperasse, senti algo gelado na minha cabeça e olhei para cima.

Estava nevando.

Sorrindo, estiquei as mãos e esperei os flocos de neve caírem nas palmas abertas. Não pude conter um suspiro quando senti o gelo derreter na minha pele. Eu sentia falta da brancura gelada da neve e me senti realmente feliz de presenciar a primeira nevasca daquele dezembro. Com ele. Eu percebi que ele me olhava sorrindo. Sorrindo de verdade, aquele sorriso que chega aos olhos. Ah, ele conseguira me cativar.

Rindo um para o outro, nós nos sobressaltamos quando os primeiros fogos começaram a explodir. Era meia-noite e um novo ano começava. Erguemos as taças e fizemos um brinde mudo. Algo definitivamente havia mudado. Como num passe de mágica.

- Feliz Ano Novo, Malfoy.

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N/A: oi, gente! isso foi um surto, sei lá. espero que gostem, ok? e comentem, lógico! hahahahaha.
beijos,
Liv

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