capítulo único






Capítulo Único


 


Se você quer saber, a minha história é uma merda. Aliás, eu estou na merda. Quer o perfil completo? Bom, meu nome é Dorcas Meadowes, e não sinta como se tivesse prazer em me conhecer, porque eu não tenho nada demais para lhe dar em troca. Tenho 23 anos, todos eles desperdiçados infamemente. Moro num apartamento de 3 cômodos em Binghamton, mas tenho como cidade natal City Of Durham, na Inglaterra. E não tenho nenhum namorado.


Na verdade, eu costumava ter, até dois anos atrás, quando eu, burra, surtei disse que não suportava mais dormir com ele naquela mesma cama ridiculamente pequena, dentro de um apartamento de cozinha-quarto-sala (banheiro não conta como cômodo, conta?). Foi aí que ele arrumou as trouxas dele e foi embora. Desde então eu estou na merda, porque, o que eu não sabia, é que eu não podia mais viver sem ele.


Remus Lupin, ironicamente, meu primeiro amor. O único cara capaz e fazer tudo por mim e ainda mais aquilo que não estava a seu alcance. E o incrível, e mais estúpido, em toda essa história, é que desde então, faz três anos (contando com esse ano infeliz, já que estamos no Natal, como se algum natal realmente fosse um natal sem ele por perto) que outra pessoa tricota toucas para ele.


Eu sei, deprimente, mas eu costumava me considerar uma ótimo tricoteira. Minha avó tinha me ensinado a fazer tricô, enquanto passava o feriado de natal em Durham, aos meus 15, quando eu já namorava Remus. Eu estava tão, mas tão empolgada com a história de ter aprendido a fazer tricô e tal, que eu tinha que mostrar meus dotes maravilhosos para o Remus, e quem sabe assim ele não casava comigo. Doce ilusão... Continuando a história do chapéu, eu peguei uma lã linda, era azul e dourada e eu disse que iria fazer um gorro para ele assim que chegasse em Binghamton, e, convenhamos que, seria bem útil já que o frio de Binghamton era de arrancar o couro.


Eu fiz o gorro. Ficou super fofo, azul e dourado como eu queria (óbvio) e tinha “abafadores” de orelha e um pompom bem no topo. O que eu não sabia é que tinha ficado pequeno.


Eu fui lá colocar o gorro na cabeça dele, mas estava definitivamente apertado, e para não me decepcionar ele pegou o gorro do mesmo jeito, dizendo que tinha adorado, na verdade, amado e que usaria para sair por aí. Remus era a criatura mais doce e ridiculamente linda que eu já tinha visto em toda a minha vida, e não era pouco, já que eu sentia meu ego totalmente inflado quando minhas amigas me invejavam por eu ter um namorado tão lindo daquela forma.


Remus era o meu companheiro de todas as horas, meu namorado e, acima de tudo, o meu melhor amigo. Minha vida não tinha como ficar melhor, eu estava feliz, feliz por tê-lo do meu lado desde que éramos crianças. Mais precisamente aos quatro anos, quando eu me mudei para a casa do lado dele e, foi estranho, porque desde o primeiro momento, eu sabia que não seríamos só amigos.


Eu me lembro da primeira vez que fomos brincar na neve, aos seis anos (minha mãe era totalmente contra eu brincar na neve antes disso... dizia que eu era muito frágil, podia pegar uma pneumonia ou algo do tipo). Lembro perfeitamente. Nós cavávamos tuneis pela neve e engatinhávamos dentro deles como formigas num formigueiro.


Eu me sentia bem ao lado dele, sobretudo.


Lembro-me também da primeira vez em que dançamos e foi tão mágico. Todas aquelas luzes perfeitas, a música perfeita. Dançamos Ironic da Alanis, na primeira festa que eu fui. Eu tinha 13 e ele me conduziu perfeitamente. Ele era apenas um ano mais velho, mas, de alguma forma, eu sentia que ele tinha uma mente bem avançada para a idade.


Eu tenho inúmeras, inúmeras lembranças das coisas mais ridículas e minúsculas pelas quais passamos, mas a única coisa que eu realmente não consigo me lembrar é o porquê de eu ter sido tão BURRA a ponto de dizer que eu não queria mais dormir naquela cama minúscula com ele, já que morávamos juntos desde os meus 20. Levávamos uma vida simples, mas nunca tinha nos faltado nada, e estávamos prestes a mudar de apartamento, para um maior, já que estávamos trabalhando como loucos. Ele como jornalista e eu como fotógrafa (e tricoteira nas horas vagas). Éramos uma dupla e tanto, trabalhávamos na mesma revista.


Na verdade, trabalhamos na mesma revista, mas isso realmente não conta, porque quando nos cruzamos ele não olha nem na minha cara e eu não posso reclamar disso, eu fiz por merecer, e sabe do que mais? Eu mereço que todos vocês me julguem, me joguem tomates e ovos porque eu sou uma criatura miserável e mereço até que vocês me joguem melancias se vocês quiserem.


Mas tanto faz, porque o castigo virá de cima. Aliás, já veio.


Olhei para o lado e dei de cara com a falsa, vadia e pirigetchen da Emmeline. Emmeline Vance, editora-chefe da revista meia boca em que eu trabalho. É o fim? Sim é o fim. Principalmente quando ela vem com essa voz de vadia arrependida para o meu lado depois de ter roubado o MEU namorado. Ok, eu não tinha mais nenhum direito sobre ele, mas ela precisava ser tão rápida assim?


Ela tinha inveja de mim. Sempre teve. Ela era a vadia do fim da rua, aquela que pegava todos, mas sempre invejava o dos outros. Até o dia em que a Marlene se encheu e enfiou a mão na cara dela, depois disso ela nunca mais deu em cima do Sirius. Eu deveria fazer o mesmo, mas eu tinha dó de estragar o botox que ela tinha acabado de por...


 


- Dorcas, como vai? Vai passar o Natal com a sua família? Eu estava pensando em fazer uma reuniãozinha lá em casa, sabe como é... – ótimo, ela queria mesmo esfregar na minha cara que ela tinha o meu namorado. O namorado que eu tinha perdido. Vadia sem escrúpulos! Maldita, eu vou te matar!


- Hum, entendo. Não sei não. Eu posso pensar? Quem é que vai? – perguntei com a minha voz mais inocente, tentando ocultar os meus pensamentos sinistros que insistiam em querer sair pela minha boca.


- Chamei todo o pessoal da nossa época. A Marlene, Lily, Sirius, James, meu namorado... – preciso dizer que ela enfatizou o “meu namorado”? – e você. É uma reuniãozinha pequena, nada demais, acho que uns dois perus dá, não dá?


Estou vendo, deve ser super pequena. Se ela tiver mesmo chamado toda a galera da nossa época, não vai ter espaço em nenhuma casa. Com a trajetória que ela tem... não sei não.


- Hum, vou pensar.


- Ok, mas me responda até hoje a tarde, sabe como é, véspera e tal. Pode levar um amigo se quiser... – ela disse maldosa. Vadia sem escrúpulos!²


Dei de ombro e ela foi embora.


Peguei o telefone e disquei o numero de Marlene, duvido que ela iria. Estou disposta a apostar qualquer coisa que ela não vai.


- Alô? Marlene?


- Dorcas?


- Aham. Tudo bom?


- Tudo e você?


- Tudo. Então, eu queria saber que você vai na ceia da Emmeline, acredita que ela veio me chamar?


- Sério? Anyway, eu vou. O Remus está insistindo para o Sirius e o James irem e eu não vou deixar o Sirius sozinho com aquela vadia mas é NUNCA! Estou sendo obrigada. Mas eu acho que os rapazes não vão. James está querendo passar com a família dele, e Sirius quer ir junto então... não sei. Provavelmente eu dê uma passada depois.


- Ugh. Não acredito.


- Você vai, não vai?


- Eu não sei, sabe como é, o Remus vai estar l—


- Você para com isso agora se não eu vou aí te bater, Dorcas! Pelo amor de Deus! Além do que essa pode— - então eu senti um toque no meu ombro e pulei na cadeira, assustada, fazendo todos olharem para mim. Marlene continuava falando quando eu olhei para cima e vi quem? QUEM? Não, não vi a Emmeline. Foi Remus, o próprio Remus, em carne e osso.


- Quando foi que você voltou a falar comigo? – eu pensei alto demais e ele tentou esconder um sorriso. – Desculpe por isso, foi grosseiro. Só um segundo. – eu falei, quando eu ouvi Marlene tagarelando no telefone. – Lene, já te ligo de novo, beijo.


Ele esperou me olhando curiosamente.


- Ahm, eu estava falando com Marlene. – falei e ele sorriu aquele sorriso maravilhoso que me deixava tonta desde os cinco anos. Eu olhei para ele e esperei qual seria o assunto que o traria aqui.


Provavelmente um avião teria caído, ou teria havido mais um tsunami ou algo no gênero para ele vir aqui falar comigo.


- Certo, er, eu queria saber se você... você vai na ceia de Emmeline... – ela falou nervosamente.


- Eu estava discutindo sobre isso com Marlene um segundo antes de você chegar. – eu falei e ele se sentou na minha mesa e esperou pela conclusão. – Eu... talvez. Digo, sabe como é, muitos convites, difícil escolher em qual ir e tudo mais.


- Entendi. Mas se você resolver aparecer... uh, deixa para lá.


- Não, o que você ia dizer? – eu perguntei já pensando em inúmeras possíveis respostas. Não me iludir seria pedir muito em uma situação como essa, quando ele supôs algo que provavelmente irá acontecer e... bem, eu quero saber o que ele supôs.


- Nada demais. Só ia pedir para você fazer o molho tártaro que só você sabe fazer. – meu sorriso se desfez e minha expressão se tornou uma carranca quando eu olhei para baixo.


- Ok, vou me lembrar. Preciso trabalhar. – falei tentando esconder o ódio que transbordava o meu tom de voz.


Ótimo, ele estava mesmo pedindo para eu fazer um molho? Ah, qual é! Não é como se eu tivesse o conquistado pelo estômago, claro que eu não sou um desastre na cozinha, eu cozinha muito bem por sinal, mas porque ele não podia simplesmente pedir para a namorada piri-pi-piri-piriguete dele fazer? Estou falando na Emmeline, porque eu não sou mais a namorada dele, posso chorar já?


Ele hesitou e eu percebi que me olhava enquanto eu entrava no twitter, porque eu sou uma pessoa muito útil e tenho twitter.


- E... ok, eu estou com um material novo eu queria que você desse uma olhada. – ele disse tocando meu ombro e eu senti um arrepio nas minhas costas e percebi que ele sentiu quando eu estremeci, por isso o sorriso torto maravilhoso que eu tanto amava surgiu no canto da boca dele.


Eu dei de ombros, disfarçando a minha reação e olhei para ele.


- Eu realmente preciso da sua opinião. Digo, a opinião de Emmy não contaria muito, porque ela é minha namorada... – ele disse enfatizando a ultima palavra.


Legal, ele estava realmente decidido a me torturar e me provocar. Se ele quer saber, eu sou bem capaz de me levantar e dar um murro no meio da cara dele nesse momento. Como ele consegue ser tão... tão... perfeito?


UGH! Como eu consigo ser tão idiota e simplesmente ter expulsado o cara de casa, quero dizer, essa situação é completamente culpa minha e eu estou me sentindo a criatura mais miserável de todas as criaturas.


- Faça como quiser.


- Será ótimo se você for. – ele disse virando as costas e eu levantei.


- O que você quer? – eu sussurrei olhando dos lados para ver se ninguém estava olhando. – Jogar na minha cara que eu sou uma idiota e que eu mereço sofrer por isso? Muito obrigada, mas eu tive dois anos para perceber e me punir por isso. Se me dá licença. – peguei minha bolsa e fui até a porta. O horário do almoço tinha dado e eu agradeci profundamente por isso.


Ele me seguiu e segurou meu ombro me impedindo de continuar meu caminho.


- Não podemos virar a página, seguir em frente, como bons amigos?


- Não. Pelo menos não dessa maneira.


- Pensei que você tivesse dito que simplesmente não poderia dormir mais na mesma cama que eu. – ele disse, cruzando os braços e eu senti meu sangue borbulhar no meu rosto.


- Pensei que você fosse inteligente o suficiente para entender que eu me arrependi. Mas não me importa, não é da minha conta se você já está com outra e parece ter virado essa página. – eu disse ainda lívida de ódio de mim mesma. O que eu tinha? Diarréia oral?


Virei-me e ele me segurou mais uma vez.


- Pelo menos você vai à ceia?


- Eu não sei, com licença. – falei me virando e dessa vez ele não me segurou.


Esse diálogo conturbado tinha mesmo acontecido ou foi só fruto da minha imaginação nada fértil que está me pregando uma peça para que eu perca o pouco de autocontrole que ainda me restou? O que foi? Ahn?


Senti meu celular vibrar. Peguei o meu iPhone e vi que tinha uma nova mensagem da Lily.


Alerta vermelho! Parece que a cobra da edição resolveu dar seu bote e convidar todas as pessoas das antigas para a ceia de Natal. Inclusive você, D. Aliás, o que foi o Remus conversando com você? Achei que ele tinha jurado nunca mais olhar na sua cara e tudo  mais... O que ele queria, hein? Ah, e eu passo na sua casa às oito, falou?


Lily


às 13:14


Pelo que eu entendi, o negócio é que ela me comunicou, apenas comunicou que vai passar lá em casa para me pegar, super legal. O melhor de tudo é que eu realmente tenho opção, não é? Além de ter sido massacrada pelo meu ex, e ainda ter dito que eu me arrependi de tê-lo mandado ir embora de casa, agora isso. Eu vou ter que ir a ceia da pirigetchen da Emmy, também conhecida como cobra da edição ou vadia do 45.


Afinal, o que diabos o Remus viu na Emmeline? Nem peito ela tem... eu sinceramente não sei o que os caras vêm nela além de ela ser um vadia oferecida de sai por aí oferecendo os peitos para qualquer um. E sim, é muito ódio para só um pequeno e indefeso coração.


Você deve estar argumentando que o Natal é época de perdoar e que é o início de uma nova jornada e tudo mais a que essa data remete... como se eu realmente me importasse. Não há perdão para a Emmeline Jararaca Vance. O que ela acha? Que a vida é fácil? Apesar de que para ela da meia-noite às seis deve ser. Enfim, ela acha que pode roubar o meu ex (?) e sair dessa ilesa? Haha, se ela acha ela pode tirar o jegue dela da chuva que aqui não o negócio não é bem assim que acontece, sacou?


Olhei para o lado e vi a Jararaca agarrada no braço do meu ex lindo e ele estava com um gorro. Igual ao que eu tinha feito para ele anos atrás, mas esse era cinza e ela brincava com os pom-pons como se dissesse “não ficou perfeito? Eu que fiz, morra de inveja, porque seu ex é meu agora”.


Eu juro que se um dia eu pegar ela eu mato, ou pelo menos arranco mais da metade daqueles cabelos loiros e sedosos que ela tanto ama. Rum.


Olhei para o outro lado da rua e meu olhar cruzou com o dele e ele sorriu mais ainda, me provocando. Qual era o problema dele? Why the hell ele estava fazendo isso agora? Ele queria o que? Que eu ficasse louca e fosse internada num sanatório. Eu sei que a culpa foi minha e se arrependimento matasse eu estaria morta, seca e esturricada, mas já deu né? A seção tortura já pode terminar.


Esse é, de longe, o pior natal na minha vida, isso porque ele nem começou. A minha cólica anti-eventos-chatos-e-torturantes já estava começando a dar sinais de existência quando eu entrei no restaurante japonês onde eu me entupiria de salmão e onde, com sorte, eu ingeriria um bom punhado de aspargos e passaria a noite empolada e incapaz de aparecer em publico.


Claro que eu não seria esse tipo de suicida, mas essa era a minha vontade. Passar a noite de natal enfiada em casa com uma boa desculpa para não ir a essa maldita ceia de natal na casa de Emmy Jararaca. O problema é que eu não podia passar a ceia com meus pais porque eles foram para Durham, já que meu pai finalmente tirou férias na empresa e eles não podiam desperdiçar a oportunidade de ver a família, o que eu não podia fazer... digo, tirar férias da revista.


Então comer aspargo não seria uma má ideia.


Pedi a meu habitual e básico sushi e uma Diet Coke. Combinação perfeita, não? Eu não tenho culpa que eu sou filha da minha que come abacaxi com queijo e presunto...


O tempo do meu horário de almoço estava passando rápido demais para o meu gosto e quando eu me dei conta eu tinha 2 chamadas não atendidas da Emmy Jararaca e estava indo para a terceira.


Peguei o meu cartão do banco e fui pagar com o telefone na orelha.


- Alô. – falei grossamente.


- Dorc? Finalmente! – falsidade tem limite, ok? – Então, eu precisava da sua confirmação.


Eu suspirei e disse:


- Ok, eu vou. Você precisa que eu leve algo?


- Certo. Acho que não... Bom, Remus comentou sobre seu molho tártaro, se você quiser...


- Ok. Tchau.


- Ah, eu estava pensando. Acho que vou dispensá-los por hoje. Acho que não haverá mais nenhuma bomba par estourar. Além do mais, somos uma revista. Adeusinho. Te vejo mais tarde.


Ótimo, pelo menos uma vez na vida dela ela tem de fazer algo útil, não?


Tudo bem, agora o que eu tinha de fazer era passar no mercadinho da esquina e pegar mostarda e picles, só, já que eu tinha o meu ingrediente super secreto em casa. E se ele é secreto eu não vou falar, dã.


x


Eram 6 horas, Lily passaria aqui daqui duas horas, eu já estava de banho tomado e estava no sofá, sentada com a cabeça apoiada nas mãos sem saber o que vestir. Eu estava em pânico. Eu sentia palpitações, eu não tinha nada para vestir. Nada que todo mundo já não tivesse visto.


Ouvi a campainha tocar e entrei num desespero maior ainda. Como eu ia atender a porta enrolada numa toalha? Eu era o maior e melhor tipo de idiota que existia na face da terra.


- Vai, bee! Abre a porta! – ouvi a voz de Nigel do lado de fora. Suspirei de alivio e fui atender. Abri a porta e ele arregalou os olhos – Que estado é esse, sua coisa purpurinada? Que eu saiba temos uma ceia de Natal dentro de deus horas!


- Eu não tenho nada para vestir, Nigel! – eu falei me jogando no sofá novamente.


- Ah, cala boca, criatura! Seu closet é um dos melhores que eu já vi na vida, tá certo. Venha aqui já, bee. – ele falou me puxando pela mão até meu quarto e abrindo a porta no armário, que era impecavelmente arrumado. Eu tinha mania de arrumação, eu diria que era quase um transtorno obsessivo. – Ahmmmmmm, vejamos. BEE! Onde é que você arrumou esse vestido perfeito?


Ele gritou arrancando o meu vestido preto estruturado todo cheio de renda por cima do forro preto.


- Hehe, eu tinha me esquecido dele. Eu comprei no brechó.


- Como é?


- É, sei lá, entrei no brechó, o vi, me apaixonei e comprei. Tive que fazer alguns reparos, mas ficou lindo.


- Então, pronto, gata! Esse vestido, - ele abriu a porta da sapateira – esse scarpin – Nigel pegou meu scarpin preto de cetim – e aquela carte— – ele disse se esticando para pegar a minha clutch na prateleira mais alta quando uma sacola caiu em sua cabeça – Para uma pessoa que tem mania de arrumação, isso não é normal, uh.


Eu olhei confusa para ele e peguei a sacola.


- Não faço idéia do que—


Então eu me deparei com um gorro. Um gorro azul, azul escuro e um tom de bege que mais parecia com dourado. Eu o encarei e sorri não conseguindo evitar flashbacks de quando ele morava aqui e minha vida era perfeita. É, minha vida era boa e eu não sabia.


- O que é isso? – Nigel perguntou analisando o gorro em minha mão. – Você que fez? Uau, melhorou muito desde o primeiro. Não me diga que—


- Sim.


- Não acredito! Era para... ELE? – eu assenti com a cabeça. – Você o fez antes de ele ir embora, certo?


- Tecnicamente, ele não foi embora. Eu o mandei embora. E sim, fiz antes de mandá-lo embora. – eu falei suspirando.


Eu sorri e olhei para Nigel assim que uma ideia passou pela minha cabeça. Ele esbugalhou os olhos como se acabasse de ter lido a minha mente e ter visto o que eu iria fazer.


- Não, não! Dorcas Marie Meadowes! Você nem pense em fazer isso, você está entendendo? Ele seguiu em frente está na hora de você fazê-lo.


- Ah, qual é o problema em levar um presentinho para o meu namor—


- EX namorado, Dorcas.


- Que seja! – me levantei e fui até o armário, pegar uma sacola de presente que eu tinha.


Coloquei o gorro lá dentro e sorri safadamente para Nigel, que ainda me olhava assustado, como se eu fosse o fantasma do Natal passado ou algo do tipo. E bem, na verdade, no Natal passado eu realmente parecia um fantasma, jogada na sala, com uma garrafa de vodka na mão, totalmente bêbada e imprestável.


Vesti a roupa que Nigel tinha separado para mim, e o chamei para fazer minha maquiagem. Nigel era meu maquiador pessoal, haha. Ele fez uma maquiagem preta simples, que eu achei maravilhosa. Não tem como não gostar da maquiagem do Nigel, naturalmente.


Nigel também era um dos amigos da Emmeline, e era isso que ela mais gostava de fazer me copiar, roubar meu namorado, meus amigos, e ainda por cima, mandar em mim. ARGH QUE ÓDIO! Enfim, Lily chegou, eu peguei o meu molho e o ‘presente’ e nós fomos até o carro.


- Ah, que bom. Pelo menos eu não vou ficar sozinha lá enquanto Marlene não chega. James e Sirius foram passar com a família de James, e Marlene foi passar um tempo lá. Então eu ia ficar sozinha lá, e você sabe, eu tenho medo da Emmeline. Quero dizer, eu tenho ao máximo privá-la de James. Se ela já roubou Remus, roubar James não seria difícil, não é?


- Tudo bem, Lily. – eu falei e suspirei.


- Ah meu Deus, que insensível! Você está bem? Quero dizer, indo passar o Natal com o—


- Remus? É, não perfeitamente a vontade, mas dá para aguentar até a meia noite.


- Ai, bee! Parem com isso! Chega desse assunto! É Natal, vamos encher a cara e estragar a ceia perfeita dela       . – ele falou soltando uma gargalhada logo em seguida.


Eu ri de Nigel e Lily balançou a cabeça. Ela não estava acostumada a passar o Natal longe de James, então era compreensível essa cara de bunda dela.


Chegamos no apartamento de Emmeline e saí do carro, não muito disposta.


- Vamos. – Lily disse me puxando.


Subimos as escadas, porque não tinha elevador no pequeno prédio, e tocamos a campainha do 6º apartamento. O barulho lá dentro já estava alto, o que significava que Emmeline tinha convidado a redação toda para ver a minha humilhação. Merda, merda, merda! Eu vou matar essa vadia!


Tudo bem, se acalma Dorcas. Você entra, entrega o molho, dá o presente, e vai para casa. Pronto.


Eu fechei os olhos e suspirei, quando ouvi um barulho na porta, que indicava que Emmeline estava abrindo a porta. Ou era o que eu achava, quando a porta se abriu e eu me deparei com Remus, em sua imagem e perfeição, na minha frente, com um gorro que não era eu quem havia feito.


Ele sorriu aquele sorriso lindo e maravilhoso que antes era meu, e agora era da vadia da Emmeline. UGH! Estou vendo que o Natal vai ser ótimo. Talvez eu devesse ter ficado em casa me entupindo de frisante. É, eu deveria sim. Mas não, eu estava aqui e iria ter que passar a noite ao lado do cara que... OMG, eu ainda amo, mas que eu mandei embora de casa. Inferno.


Ele fez um sinal para que entrássemos e nos cumprimentou. Emmeline me viu e deu o sorriso mais safado que eu já vi na vida. Ah, ela me paga. Ela veio até nós e eu lhe entreguei o meu molho especial que só eu sabia fazer, e que seria a única coisa que ela jamais poderia me roubar. Maldita.


- Não, não precisa mais, querida! Remus já me ensinou como você fazia e me deu o ingrediente secreto. – ótimo, porque o ingrediente era mesmo secreto, sua vadia, poker face do capeta!


- Ah. – eu disse tentando me segurar para não voar no pescoço dela e arrancar tufos e tufos daquele cabelo loiro nojento dela. – Fique, de qualquer forma.


Fui me sentar ao lado de Lily e Nigel. Peguei uma taça de espumante para ver se eu me acalmava. Sabe, a única solução quando você está com os nervos a flor da pele é: beba. Beba para esquecer.


x


Eu não parecia ser capaz nem ao menos de me embebedar essa noite. Talvez porque Remus não parava de me olhar, mesmo com Emmeline ao seu lado, ele parecia que ia me despir com o olhar, ou algo assim. E eu nem ao menos estava vestida como uma sexy girl para ele me encarar dessa forma. Olha só para Emmeline. Se bem que ela está mais para sexy bitch, isso sim.


OMG, eu não acredito que isso está virando uma competição: para quem ele olha mais. Emmeline me encarava como se fosse me matar e Remus, como se fosse me despir. Eu já estava com o saco cheio dessa parada. Eu ia acabar explodindo, isso sim. Rum.


- Dorcas, dá para você prestar atenção? Que inferno! – Lily falou e eu a encarei.


Sorri e Nigel percebeu que já era a hora.


- Eu não aguento mais. Preciso ir embora.


- O que? Você vai passar o Natal sozinha?


- Nigel, não é como se isso não tivesse acontecido nos últimos dois anos, é? Juro que não vou ficar bêbada. – eu disse. – Whatever. Amanhã vejo vocês. – sorri e me levantei, decidida.


Enfim, cruzei a sala e fui em direção a ele, quando Remus desviou o olhar e se virou para a janela. Joguei meu cabelo para trás e coloquei a minha mão vazia em deu ombro. Ele suspirou e se virou para mim. Eu pisquei algumas vezes e ele sorriu para mim.


- Acho que eu estava errada com relação a tudo que eu disse e acho que... bom, eu deveria ter dito que você foi o meu primeiro amor, e deles a gente nunca se esquece. Então, tome. – eu lhe entreguei o presente e ele me olhou confuso. – Estou indo.


O olhei abrindo o presente e me virei, indo em direção a porta, lentamente.


- Dorcas, espera eu... – ele começou e tocou o meu ombro, quando eu estava saindo pela porta.


Olhei para ele e ele estava com o gorro nas mãos. Ele era exatamente igual ao primeiro. Azul e dourado.


Olhei para trás dele e Emmeline pegou seu braço.


- Emmeline, espera um pouco. – ele disse e eu ri.


- Remus, esquece isso, ok? – eu disse e me virei novamente, quando ele me segurou pelo braço, dando dois passos para frente e Emmeline apertou mais seu braço.


- Escuta aqui, Lupin. Não se atreva.


- Faz o que ela está dizendo. – eu disse, me desvencilhando de sua mão e descendo as escadas.


Olhei para trás uma última vez e o vi entre mim, o chapéu e Emmeline. Mas eu sabia que no fundo no fundo, eu sempre seria a escolhida. Eu torcia para isso.


Ele tirou o gorro que Emmeline tinha feito para ele e colocou o meu, que dessa vez lhe vestiu perfeitamente. Sorriu para mim e entrou junto com Emmeline.


Eu estava certa sobre as escolhas. Eu seria a escolhida no fim.


 

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