Visitante.



Era uma noite de outono. Duas crianças, aparentando ter em volta de oito anos, conversavam enquanto observavam as estrelas.
- Tá vendo aquela estrela ali? – o menino perguntou, apontando para a mais brilhante no horizonte.
- Sim – respondeu a menina, prestando atenção na estrela.
- Ela é como você, ela brilha de tal modo, que ofusca o brilho das outras estrelas. – ele disse, com um sorriso inocente nos lábios.
- E você? – quis saber ela – qual delas é você?
Ele apontou para uma estrela pequena, quase insignificante do outro lado do céu. Aquilo não teve significado naquele momento, mas anos depois, a menina – Já crescida - entendeu que as duas estrelas eram de mundos diferentes. Elas nunca iram se encontrar.
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Estava escuro. A única luz presente era a da lua, refletindo um pedaço do cômodo pela janela, deixando o local com um tom sombrio. Encolhida no canto tentei arranjar forças para me levantar, não encontrando nenhuma. Minutos depois, no entanto, fui obrigada a me levantar devido ao frio, que estava causando arrepios á minha pele. Suspirei, puxando um casaco mais fino do que o necessário, e acendendo a luz. 

Era irônico, mas eu não gostava do escuro. Medo era uma palavra forte para descrever o que eu sentia quando a escuridão estava presente, mas eu me sentia sozinha, e fazia com que eu refletisse muito, coisa que eu não gostava de fazer.

Eu não me importava com a solidão, no entanto. Era um hábito pra mim, uma coisa óbvia. Dormir, respirar, comer, me sentir sozinha. As lágrimas também já não me incomodavam mais. Eu as acolhia como uma boa amiga, porque eu sabia que elas sumiriam, como qualquer coisa, elas iriam embora.
 Nada durava tempo o bastante para mim. Tudo que importava na minha vida se fora – Á parte dos meus pais, mas esses moravam um pouco distante, e eram raros os momentos que nos encontrávamos. Mesmo assim, eles não me abandonaram. Eles estavam comigo, todo o tempo – E á parte da minha melhor – e única - amiga, que se importava comigo (embora eu ache que seja perca de tempo de sua parte).

Eu sempre fui extremamente independente. Talvez não sempre, mas o fato era que eu morava sozinha, e fazia tudo sozinha, não importava o que. Confiar nas pessoas pra mim,era uma coisa fora de alcance. A decepção já tinha estado presente em tantos momentos da minha vida, que não me abalava tanto, eu já me acostumara fazia tempo, de modo que não me afetava tanto.

Talvez eu esteja sendo um pouco dramática, mas não passa da verdade. O fato é que eu não tenho muitos motivos para sorrir. Não é como se eu fosse à pessoa mais infeliz no mundo. Longe disso. Eu estava bem, do jeito que era. Não me importava com a dor que sentia, porque eu sabia que já tinha sido feliz, tão feliz, que agora, as lembranças distantes chegam a doer, parecem inalcançáveis. 

Como já deixei claro, porém, não me incomodo. Sei que meus problemas não são nada comparados com o de tantas outras pessoas no mundo. Sei bem disso, não sou egoísta. Talvez um pouco fria, e vazia, mas eu me apagava as pessoas demais, e esse era um – de tantos – dos meus defeitos. Cheguei à conclusão, ao olhar para o espelho próximo á minha cama, que eu precisava de um banho.uma toalha limpa do armário no corredor que levava ao banheiro, e entrei, deixando a água gelada bater na minha pele. Eu não gostava de tomar banho quente, mesmo no inverno. Eu gostava do frio, gostava muito, de modo que estava sempre gripada, porque eu nunca me vestia apropriadamente, - Á maioria das vezes, optava por uma camiseta de verão, e um casaco fino, mesmo que tivesse fazendo em torno de três graus – Eu tinha poucos casacos grossos, e eu só os usava para sair na neve – Porque eu podia amar o frio e a neve, mas sair sem um casaco descente era suicídio. 

Cessei meu banho me enxugando e colocando minhas roupas bem rápido, antes que congelasse, e desci as escadas com cuidado, ligando todas as luzes ao meu alcance, só parando ao chegar até a cozinha. Preparei um chá, e me sentei na bancada. O relógio á cima do fogão marcava um pouco mais de cinco horas. Era sempre assim, no inverno. Os dias eram tão curtos, que passavam rápidos demais. Em torno de quatro horas (no auge do inverno, claro) Já estava tudo escuro. E quando clareava, era só uma massa cinza no céu, os momentos que o sol aparecia eram raros, coisa que me deixava meio claustrofóbica.

Senti alguma coisa peluda se aninhando em minha perna, e ri, puxando meu gato até meu colo. Ele passava o dia todo dormindo, de baixo da cama, ou brincando com alguma coisa. Só fazia, porém, três dias que eu tinha me instalado na casa – do lado da de Luna, minha melhor amiga – e ele estava estranhando tudo, O espaço – A casa era bem maior que meu pequeno apartamento – As escadas, alguns dos novos móveis... Por isso, ele passava o dia todo na cozinha, deitado na pia, ou no balcão, esperando que eu lhe dessa comida, ou até mesmo tentando arranjar um jeito de pegar a comida.Levantei-me, e coloquei um pouco de ração em seu pote amarelo. Ele pulou para comer, como se estivesse faminto – embora não fizesse muito tempo que havia comido. A campainha tocou, e eu sorri para bichento, como se quisesse compartilhar o som da campainha sendo tocada pela primeira vez (A Luna pulava a janela do meu quarto, sempre) me caminhei a porta lentamente, pensando em quem poderia ser. Abri uma brecha da porta, espiando entre a mesma. Demorei alguns segundos para reagir. Minha mão parecia ter congelado na madeira, e a minha voz estava bloqueada pelas lágrimas que teimavam em se formar em meus olhos. Deixei meus braços o apertarem com força, num gesto automático, assim que ele entrou na casa. Ele fechou a porta com o pé, enquanto me abraçava de volta.

- Senti a sua falta – falei, assim que minha garganta permitiu tal ato. Ele sorriu de lado, e me disse que sentia minha falta também. Duvidei um pouco, no entanto, mas não disse nada, não me importando com o fato.

- Você sabe, ando um pouco ocupado – ele disse, um pouco envergonhado por conta do que acabara de admitir – Voltei para cidade faz poucas horas, na verdade. Vou acabar meus estudos aqui em Londres, e só então voltarei para os Estados Unidos. Vim do aeroporto direto Pra cá.Pelo jeito que suas sobrancelhas estavam juntas, quase numa linha reta, percebi que não era só a saudade que o trazia em minha casa. Ele queria me contar alguma coisa. Permaneci em silencio, esperando que ele recomeçasse a falar. Quando eu vi que ele não o fez, resolvi dar-lhe algum espaço, de modo que eu mesma puxei o assunto.

- Como soube que eu estaria morando aqui? – perguntei, curiosa. Ele pareceu aliviado com o fato de que eu havia quebrado o silêncio.

- Como você acha? – ele riu, e eu compreendi na mesma hora – A Luna me contou. Mandou-me um e-mail, onde descrevia animadamente sua nova vizinha. – Ele riu de sua própria piada, e eu comecei a reparar seu rosto enquanto ele fazia tal ato. Ele tinha uma expressão cansada, preocupada, e algumas olheiras eram visíveis por baixo de seus pequenos olhos. Continuava, contudo, com um ar divertido, bonito. Aquele rosto me lembrava do 
Harry. 

Só a simples menção do nome, fez com que meu coração batesse acelerado, e as lágrimas voltassem para meus olhos. Dessa vez, no entanto, me controlei, tendo a cautela de não as deixar cair. Rony agora estava sem alternativa, e eu sabia disso. Esperei, tentando acalmar meu coração que parecia querer saltar do meu peito.Vi depois de um tempo, que ele não iria se entregar. E eu podia perceber que ele estava num conflito interno sobre me contar logo, ou esperar. Eu estava muito ansiosa, e honestamente esperava que ele falasse logo, seja lá o que fosse. Eu sabia como lidar com qualquer tipo de notícias. Poucas coisas me abalavam desde que... Bom, desde que 
ele partiu.

- O que está escondendo de mim, Weasley? – perguntei. O uso de seu sobrenome – devido ao fato de que eu geralmente o chamava pelo apelido – e o jeito direto que eu fizera a pergunta, deixou-o assustado. Ele ficou quieto por alguns instantes, e o único som que eu ouvia, era do Bichento, arranhando suas unhas no sofá. Em uma ocasião normal, eu reclamaria com ele, e o tiraria dali. Ele já tinha destruído móveis suficientes. Não era, porém, uma ocasião normal, e a última coisa que me preocupava era meu sofá.

Ele voltou. Ele está aqui em Londres, nesse momento. Na casa ao lado, para ser mais exato.
Ele esperou minha reação por um momento, e eu comecei a pensar o quão irônico aquela situação era. Três anos atrás, ele estava parado na porta do meu antigo apartamento, trazendo a notícia de que ele tinha partido. Agora, ele me trazia a notícia de que ele voltara.


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