Assim como a fênix, renasci da
Não sabia que iria ser daquele jeito quando eu me tornei Comensal da Morte. Não sabia que teria que sacrificar muitas vidas de trouxas e sangues-ruins, nem que teria que ser plenamente fiel ao Lorde das Trevas. Mesmo assim, eu estava gostando. No começo eu me sentia mal por ser um Comensal, achava que tinha feito a decisão errada, e fazia tudo o que o Lorde me pedia por medo. Agora tudo tinha mudado. A sensação de matar um sangue-ruim era inexplicável. Pode parecer insano da minha parte, mas matar me dava poder, e eu achava graça quando via o medo estampado nos olhares deles quando eu os ameaçava. Matar me dava prazer, e a cada dia que passava a minha sede por matar esses seres inferiores aumentava cada vez mais. Minha tia Bellatrix estava orgulhosa, estava me tratando como se eu fosse o filho que ela nunca teve. Já a minha mãe, coitada. Vem tentado de tudo para me proteger, e insistido para que fugíssemos. Eu não queria. Eu já estava submisso a Voldemort, e fazer o que ele me pedia era uma honra para mim. Minha mãe chegou até a pensar que eu estava sob efeito da Maldição Imperius, mas foi pior quando ela descobriu que eu estava agindo naturalmente, sem nenhuma influência.
Eu não sabia o que me esperava em Liverpool. Voldemort tinha me enviado numa missão. Os Blackwater, juntamente com seus aliados, estavam montando uma espécie de armada para combater o Lorde e os Comensais. Eu teria que matar quantos eu conseguisse. Felizmente, eu não estava sozinho. Minha tia Bellatrix, Dolohov e Greyback foram comigo, e tínhamos permissão para chamar o Voldemort se as coisas ficassem difíceis.
Os Blackwater eram uma família mestiça. Pelo o que eu sabia, William e Rose Blackwater eram trouxas, e tiveram um filho bruxo, chamado Kyle. Também tiveram uma filha trouxa, a Crystal. O que fez com que eles formassem a armada foi o fato de Voldemort ter tentado matar Kyle por ele ser sangue-ruim. Todo mundo sabe que o nosso objetivo é acabar com os trouxas e sangues-ruins, gente que infecta o nosso mundo mágico.
Era uma noite fria de novembro, as casas estavam todas enfeitadas para o Natal, inclusive a casa dos Blackwater. A casa estava escura e silenciosa, o que indicava que todos estavam dormindo. O nosso plano era simples. Invadir a casa e matar. A casa estava protegida por um Feitiço Fidelius, mas graças a boas doses de Maldição Cruciatus, conseguimos arrancar a informação do fiel do segredo. Entramos na casa sem maiores dificuldades. O que eu não esperava era que Crystal estaria na cozinha, bebendo um copo de água. Ela olhou assustada para mim. Paralisei. Minha tia dizia para eu matá-la, mas eu não consegui. Senti-me hipnotizado por sua beleza, perdi-me em seus olhos azuis acinzentados, brilhantes como cristal. Ela derrubou o copo d’água, o que acordou o resto da família.
Naquele momento, Bellatrix apontou a varinha para Crystal, e, inconscientemente, lancei-me à frente da garota. Não sei porque eu a estava protegendo. Ela não era uma trouxa? Eu devia matá-la! A Maldição Cruciatus me atingiu em cheio, e eu não sentia mais nada além da dor em cada centímetro do meu corpo.
Quando a Maldição passou, eu estava desnorteado. O que havia feito com que eu protegesse Crystal? Não fazia o menor sentido! Eu não a conhecia, ela era sangue-ruim, os Blackwater eram nossos inimigos... Eu não tinha motivos para protegê-la de qualquer coisa que fosse! Os outros Comensais ainda tentavam enfeitiçá-la, mas Kyle já estava ali para proteger a irmã e lutar. Enquanto Bellatrix, Dolohov e Greyback estavam lutando, eu estava parado, sentado no mesmo lugar onde recebi a Maldição Cruciatus. Não conseguia deixar de olhar para Crystal, que, mesmo assustada, ainda era atraente. Vê-la ali, sentindo que poderia morrer a qualquer momento, me enlouqueceu. Subitamente, agarrei a cintura dela e aparatamos.
Chegamos aos arredores de Sheffield, onde minha mãe estava morando. Eu queria ajudar Crystal, apesar de tudo. Queria ajudá-la a escapar dos Comensais, mesmo eu sendo um deles. Àquela altura, já estava claro que eu sentia que nós estávamos ligados de alguma forma. Ela ainda estava assustada, e tentava desesperadamente fugir dos meus braços.
- Me solte, seu louco! Onde você me trouxe? Quer me matar aqui, é? Me mate então!
- Acalme-se! Eu só quero te ajudar! Te trouxe porque aqui é um lugar seguro, e os Comensais não te encontrarão.
- Mas você é um Comensal! Você não quer me ajudar!
- Sim, eu sou um Comensal. Eu não devia te ajudar, mas não sei o que me levou a fazer isso. Agora, vamos entrar. Você deve estar com frio. Andar com essa roupa curta nesse frio, não sei como você agüenta!
- E quanto a minha família?
- Prometo que te informarei sobre o que aconteceu com eles.
Crystal ainda não estava confiando nas minhas intenções, mas aos poucos ela foi percebendo que eu realmente queria ajudá-la, por mais estranho que parecia. Como prometido, a informei sobre o que tinha acontecido com sua família. Todos haviam morrido. Crystal chorou muito quando contei. Ela se aninhava em meus braços, e suas lágrimas molhavam minha roupa. Mas eu não ligava. Eu já sabia que o que eu sentia por Crystal era forte, e que ela estava precisando do apoio de alguém.
Seis meses depois, Crystal e eu já éramos melhores amigos. Eu não queria ser apenas o melhor amigo de Crystal, mas sabia que ela não iria se apaixonar por alguém que esteve a um passo de matá-la. E já faziam seis meses que eu não desempenhava mais minhas funções de Comensal da Morte. Matar trouxas tinha perdido a graça, e eu sentia nojo de mim mesmo por ter sido tão louco e inconseqüente. Minha mãe e Crystal estavam felizes por isso, mas eu sabia que eu poderia ser morto, pois eu tinha traído Voldemort.
Meu amor por Crystal me tornou uma pessoa melhor. Minha mãe já havia tentado, mas só a Crystal conseguiu me tirar dos túneis escuros onde eu me encontrava. Se acontecesse algo com ela, se eu a perdesse, eu não saberia o que fazer. Talvez eu morreria. Morreria por Crystal. Era capaz de tudo para protegê-la. Ela era a minha bonequinha de porcelana, frágil, delicada e bela.
E, depois vim a descobrir que Crystal também me amava. Passar o dia inteiro abraçado com ela era o suficiente para fazer de mim um homem completo. Ela era a minha criptonita, a única coisa que me deixava fraco. Mas, ao mesmo tempo, ela me fortalecia. Crystal fez com que eu renascesse, tal como uma fênix renascendo de suas cinzas.
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