Capítulo único.

Capítulo único.



Haviam-se passado dezenove anos desde o fim da grande guerra que resultou na morte de Lord Voldemort, o bruxo das trevas mais temido do último século.


O mundo bruxo nunca havia comemorado uma vitória inestimável como a que ocorrera. Mais uma vez, ele, o Menino-Que-Sobreviveu havia triunfado, trazendo a tão esperada paz e tranqüilidade de todos.


Alguns anos depois, não muitos para falar a verdade, o nome de Harry Potter já caíra no esquecimento. De fato ele até agradecia por isso. Tinha esperança de viver uma vida normal, distante da repercussão e assédio diário das manchetes dos jornais.


Nem tudo estava bem. Quando tudo começou seu filho Tiago já havia voltado para Hogwarts, Alvo tinha ido para seu primeiro ano. Lílian ainda passaria dois anos em casa aguardando completar seus onze anos para também ingressar na escola.


De fato não sabia como aquilo havia acontecido, mas não era daqueles tempos que algo nela o atraia. O corpo sensual e ousado se destacava no belo vestido preto que usava. Na altura dos seios o cabelo de um louro radiante lhe atribuía elegância e a doçura dos seus brilhantes olhos azuis.


Os momentos que estiveram juntos eram garantia de minutos de risos e alegrias, onde os problemas e dificuldades caiam facilmente no esquecimento, transformando-as em meras pedrinhas no meio do caminho.


Sua forma engraçada e desligada de falar e lidar com os amigos, fazia com que fosse uma pessoa simpática e interessante, mas era vista como estranha por alguns. Mudara bastante, e isso era incontestável. Mais bonita e atraente, nem parecia a mesma.


Haviam se encontrado na Sorveteria Fortscue do Beco Diagonal, os olhos azuis da moça brilharam ao ver o sorriso amistoso do rapaz. Gina não estava presente, reencontrou uma velha amiga na Floreios e Borrões. Disse ao marido que podia ir tomando seu sorvete e que logo em seguida iria para lá.


Harry e Luna sentaram em uma pequena mesa, radiantes uns para os outros, como se estivessem descoberto algo perfeito, infinito. Harry não entendia como tudo acontecia, mas tinha plena certeza de que estava gostando daquilo.


Conversaram por muito tempo. Luna Lovegood lhe contara que havia se casado há alguns anos atrás, mas que o relacionamento não durou mais do que dois anos. Harry não sabia realmente quanto tempo já havia se passado, era envolvido pela voz suave da moça e não tinha a mínima preocupação com a efemeridade do tempo.


Imutáveis, os olhares não tinham outra direção. Sensuais e envolventes supriam todo o tempo que aquilo levou para acontecer. Como podia ver a retina da loura com tamanha perfeição? Estariam perto demais uns dos outros? Os rostos se aproximavam em uma lentidão impertinente. Harry tomou-se de uma euforia, ao passo que uma mão suave tocava sua nuca com provocação puxando-a para si.


Os arrepios e a sensação de descontrole o impulsionava a fazer o não-pensável, o irracional. Não via nem ouvia mais nada, parecia ter perdido os sentidos, mas sentiu uma outra coisa. Os lábios se tocaram lentamente e em pouco tempo perdiam a inibição e brandura que inicialmente existira. Outrora um beijo polêmico e hoje, ali, naquele momento, indomável.


Antes de retornar a casa, apenas recordou-se de um grito. Exteriorizado com abundância de dor, indignação e sofrimento. O susto o invadiu com uma vastidão feroz quando ao olhar para trás, sobre o seu ombro, pode ver uma Gina Weasley entregue a um imorredouro mar de lágrimas.


Em casa não houve meios de explicar o ocorrido. Os berros da mulher se misturavam as lágrimas e soluços intermináveis. Dissera-lhe que iria embora, pelas veredas do mundo, buscar uma forma de esquecer tudo aquilo. Gina tinha certeza que não seria capaz de ficar imune à ferida da infidelidade, traição. Os filhos? Decidiriam com qual dos dois iriam ficar.


Harry buscou em meio ao impossível uma forma de contornar a decisão. Ele a amava e ela também. Era a mãe de seus filhos e haviam tanto tempo juntos. Um amor que se completava pelo desejo de ambos. Como seria dali em diante? Certamente que não seria possível ficar sem ela. Separados? Nunca iria pensar que fosse possível. E de fato não era, pelo menos em seu estado normal.


“I’m gonna, I’m gonna lose my baby.”


As primeiras semanas separados por mais alheio que fosse não foram tão difíceis. Buscou ao máximo meios de distração para que a angústia e a tristeza desabitassem seu coração arrependido. O auxilio de sua amiga Hermione fora indispensável, embora tenha tido questão de frisar sua desaprovação e descontentamento com os fatos recentes.


“I just, ooh, I just need a friend.


Os meses se passavam e o equilíbrio mental se degradava, fragmentava-se no ar como poeira. Daria tudo por um vira-tempo. Esse pequeno objeto mágico, porém complexo, resolveria toda aquela situação de desconforto.


A indiferença dos filhos ao tomarem conhecimento da deplorável atitude do pai contribuiu em sua entrada a um estado depressivo. Era o início do fim?


“He said: I just think you’re depressed.”


Não havia mais refúgios e o desespero tomava-lhe conta. O suceder dos dias eram marcados pela insistência de suas novas decisões. No sexto dia mal encontrou a maçaneta enferrujada da porta. Tropeçou no pequeno batente de mármore e caiu batendo a boca no chão. Quase que automaticamente o sangue quente escorria por toda boca. A tontura lhe incapacitava de ter controle sob seu corpo e mente. Logo, qualquer tipo de coisa.


Grandes quantidades de álcool já não eram desconhecidas pelo seu sangue, tampouco o cigarro para os seus pulmões. O corpo acompanhava a auto-destruição ou divertimento dando mostras de uma velhice precoce e macabra. Era estranho para os que lhe viam nas ruas, já que outrora um garoto vivo e sadio e hoje um adulto displicente e psicologicamente debilitado.


“So I always keep a bottle near.”


Tudo piorava.


“Yes, I’ve been black.”


Os dentes amarelados pela nicotina eram vistos por olhares de incredulidade e pena. Hermione lhe insistia para que repensasse suas atitudes e procurasse ajuda no St. Mungus. Não iria perder seu tempo em uma cama de hospital para que os jornais acreditassem que estava se recuperando. Era assim que pensava. Aliás, os jornais já voltavam a noticiá-lo. Diziam que assim fazia já que era sedento da atenção dos holofotes, perdidos um pouco depois da derrota de Voldemort.


“I ain’t got seventy days.”


Tonturas e vômitos cada vez mais freqüentes.


Ouça-me – dizia Hermione – Vá se cuidar!


“I ain’t got the time.”


“They tried to make me go to rehab.”


“But I said…”


Os conselhos eram jogados fora e os feitos fortificavam-se. O céu escurecia e tudo parecia ter ficado em preto e branco. Um pequeno grupo vestido de preto e ajoelhados ao redor de um pequeno buraco ainda vazio choravam em tom de lamentação e murmuravam palavras de despedida.


Nunca mais aquele sorriso branco e contagiante seria dado por aquele da famosa cicatriz em forma de raio. Saudades seriam deixadas, bem como dias de sofrimento. Talvez, em outro plano, um grande lugar sob a luz do sol o aguardasse.


“... no, no, no.”


Tudo escureceu.


FIM



N/A: Bom, essa é a minha primeira short que escrevo e espero que tenha ficado legal. Para os que não conhecem Rehab é uma música da Amy Winehouse. Uma música que virou sucesso e concorre ao Grammy. Amy é uma cantora que admiro muito e achei interessante unir seu trabalho ao mundo encantador de Harry Potter.


Foi uma fic muito difícil de escrever já que tem muito de sentimento e momentos ruins. Posso garantir que em vários momentos me coloquei no lugar do Harry para que pudesse escrever e transmitir aquilo que de fato imaginei. Espero que tenham gostado!


Grande abraço.


Pedro.

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