Almas



Uma caligrafia fina e inclinada num pergaminho um pouco velho:


Só os que já passaram por isso sabem como é doloroso.
Um amor não correspondido

torna as pessoas amargas, sem vida, sem esperanças. Pode fazer com que se afoguem irreversivelmente em seus pensamentos, transformando-se gradativamente em seres pouco racionais.
Havendo lapsos de momentos eufóricos, causados por fantasias, e momentos de profunda depressão, causados pela realidade.
Isso destrói vidas, destrói corações.
Inspira sentimentos inexistentes em outro contexto.
Não há exatamente uma definição, mas doloroso é o mais próximo da descrição que podemos chegar.
A alma torna-se seca, incapaz de amar novamente, por isso quando digo recomeço, digo literalmente.


Alvo Dumbledore

Logo abaixo da assinatura, uma caligrafia diferente:


“Dumbledore pediu que eu enviasse a você antes do ano acabar. Feliz Natal.”

A carta de Dumbledore reforçou as especulações de Morgan, algo estava errado e estava em suas mãos consertar.

- Quem bom que veio. - disse McGonnagal ao abrir a porta de sua sala para a bruxa.
- Preciso falar com Dumbledore. - disse Morgan ignorando-a - Onde está Trenwanley?
- Entre... - convidou ela divertida.
- Recebi a carta. Acredito já ter entendido tudo, bem, quase tudo, mas preciso falar com o Dumbledore.
Ao adentrar a sala, Morgan notou uma pequena figura junto a lareira. A profª de adivinhação a encarava curiosa por trás das lentes de fundo de garrafa, como sempre fazia. Ato que incomodava Morgan profundamente.
- Olá. - Cumprimentou sentando-se logo a frente da vidente.
Ela nada respondeu. Morgan lançou um rápido olhar a Minerva, como se pedisse ajuda.
- Sibila... podemos começar?
Ela respondeu com um aceno sem desgrudar os olhos de Morgan. Que pela segunda vez aquele dia viajou por uma mente além da sua.

Dumbledore a esperava, estava sentado a sua esquerda na mesma sala de Minerva. Estivera ali o tempo todo, mas só podia vê-lo com os olhos de uma vidente, no caso Trenwanley.
- Feliz Natal! - antes que Morgan pudesse responder, Dumbledore prosseguiu: - Harry não o compreendeu. Mas Severo te mostrou.

Morgan demorou um pouco para assimilar as coisas, porém, logo, fazia sentido; o que faltava na mente do Potter era o que Snape tentara lhe falar. Harry não o ouvira, por isso faltava algo ali, o fragmento de memória que Potter não tinha.
- O que exatamente espera que eu faça? - indagou Morgan sentindo uma leve falta de ar.
Dumbledore sorriu.
- Detalhes, frases que parecem não fazer sentido em determinados contextos. Como enigmas que depois de descobertos, parecem óbvios. Encontre a chave, saberá quando deve fazer.
- E onde ela está? - sua respiração tornava-se gradativamente mais pesada.
O sorriso de Dumbledore desapareceu.
- Sempre fui superestimado, mas sempre fiz meu melhor. É doloroso saber que falhei com Severo. Pode-se dizer que ele amou Lílian de uma forma possessiva, doentia, talvez - Morgan baixou a cabeça e enrubesceu -, mas o fato é que ele a amava sinceramente, e a amou até seu último minuto. Não acredito que a alma de Severo possa ser salva se Lílian não for apagada de sua mente, se ela não deixar de ser o objetivo e o remorso de sua vida.
- Por que eu? - os olhos de Morgan pareciam querer se fechar, suas pálpebras pesavam.
- Porque ambos tiveram o mesmo peso. Em sua morte, Severo está preso. Liberte-o, e liberte-se também.

- Salvar a alma dele... até parece que Snape vendeu sua alma.

- Talvez até pior, ele a corrompeu.
Depois de uma piscada um pouco mais longa, Morgan notou que Dumbledore desaparecera. E na sala estavam novamente Trenwanley e McGonagal.

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