Capítulo I



Capítulo I

Meu nome é Labelle Gauthier e tenho 16 anos. Não tenho irmãos e nenhum outro parente. Durante toda a minha vida eu vivi numa pequena cidade no interior da França com meus pais e meu pequenoYorkshire, o Leon. Meu grande sonho sempre foi me tornar uma musicista famosa, assim como meu pai, mas ultimamente a vida tem me mostrado que esse não é a melhor escolha. Não que me faltasse jeito ou ânimo para praticar, mas é que a carreira de um músico é mais arriscada que as demais profissões, além de ser mal-remunerada.
Nunca passei por dificuldades financeiras, mas também nunca tive muito dinheiro. Minha mãe era diretora de uma empresa de congelados e meu pai dava aulas particulares de piano, o que complementava nossa renda. Tecnicamente, éramos o que se chamava de uma família feliz. Tecnicamente.
Minha história começa a partir do momento que a companhia em que minha mãe trabalhava resolveu construir uma filial nas Américas. E adivinha quem eles escolheram para presidente?
A princípio eu recusei a idéia, meu pai mais ainda. Eu não sabia falar direito o idioma dos americanos, não conhecia muita coisa de sua cultura e não estava acostumada a uma grande capital como Nova York, onde a filial seria construída. Já meu pai, como sempre, iniciou uma nova discussão que eu preferi não ficar para assistir o resultado. Isso, aliado ao fato de que minha mãe iria ganhar um grande aumento em seu salário, foi apenas mais um motivo para aumentar quantidade de brigas que ele tinha em casa com minha mãe.
Meu pai era um pianista de talento nato, tendo por sua paixão a música. Vivendo no interior, ele não encontrava espaço para sua arte e era muito mal remunerado. Ele não suportava o fato de minha mãe ter que trabalhar para sustentar a casa e ganhar mais que ele, o que o fazia se sentir culpado por não poder dar uma vida boa à esposa. O problema é que todo esse sentimento de culpa era canalizado em seus nervos, que sempre criavam um clima de tensão não muito pacífico em nossa casa. Após a discussão de meus pais, logo depois fui informada de seu resultado: nós não iríamos nos mudar mais para os Estados Unidos.
É claro que eu fiquei aliviada com a idéia, mas a sensação de alívio veio tão rápido quanto passou. Assim que minha mãe avisou ao pessoal da empresa que não iria se mudar, eles se rebaixaram ao nível mais baixo que uma empresa chega para fazer com que um empregado aceite um novo cargo: ameaça de demissão.
Minha mãe ficar sem o emprego era o mesmo que ficarmos todos sem comida, sem moradia e com muitas dívidas. Sem opções, fomos obrigados a aceitar a proposta e aqui estou eu, em Nova York.
Pra falar a verdade, esse é só o aeroporto. Em Nova York mesmo eu ainda nem coloquei os pés. Bem, terei várias oportunidades para fazer isso daqui para frente. Hum, vejamos... O que eu tenho que fazer primeiro?
- Mãe, onde está o Leon? – perguntei, procurando algum formulário na bolsa que pudesse me ajudar a encontrar o lugar onde eu pudesse “recuperar” meu melhor amigo.
- Espere, filha. Estou no telefone com a moça da empresa. – e acrescentou ao ver meu olhar de surpresa. – É ela quem escolheu nossa nova casa, seu colégio e tudo mais. Preciso avisar à ela que já chegamos para vir nos buscar e nos levar até a nossa nova casa.
“Nossa nova casa” pensei. Mesmo depois do que minha mãe me falara a respeito da nossa nova casa eu ainda não conseguia me animar com a idéia. Segundo ela, a casa ficava no melhor ponto da cidade, à apenas cinco quarteirões do meu novo colégio, era muito maior do que a que morávamos na França e tinha um imenso quintal. Bem, acho que isso foi o que essa tal moça da empresa disse à ela, porque eu duvido que ela tenha visto alguma vez a casa.
- Minha filha, você sabe onde está o Leon? – perguntou meu pai, totalmente alienado e sem saber o que fazer direito em meio à multidão de pessoas que nos cercava.
- Era isso que eu estava perguntando à mamãe e, bem... – fiz uma pausa quando ele e eu demos uma olhada para ela, que andava de um lado para o outro tagarelando no celular.
- Já entendi. Acho que se nós quisermos rever nosso amigão vamos ter que procurá-los sozinhos. – concluiu ele. Apenas concordei com a cabeça.
Eu nunca havia entrado em um lugar tão cheio como aquele, nem nos festivais de verão que a cidade toda ia havia tanta gente. Agradeci aos céus por não ter Claustrofobia e continuei andando.
Meu corpo todo estava dolorido e eu estava exausta após uma noite inteira de viagem. Meu pai parecia sentir o mesmo, pois caminhava com dificuldades e arrastando os pés, assim como eu. Ao passarmos em frente à uma cafeteria, ele se separou de mim.
- Hey pai, aonde você vai?
- Vou tomar um café querida, senão eu vou dormir em pé aqui. Quer um? – perguntou ele, se espremo na fila de pessoas para tomar café da manhã.
Café? Argh, odeio café.
- Não, obrigada.
- Tem certeza?
- Tenho sim, pai. – e acrescentei antes que ele me obrigasse a sentar com ele no meio do tumulto na pequena cafeteria e dividir um prato de rosquinhas – Acho que vou continuar procurando pelo Leon.
- Ah, sim. Tome cuidado e não se afaste muito daqui, para não se perder. Daqui meia hora estaremos saindo daqui, portanto esteja de volta ao local onde deixamos sua mãe, ok?
- Combinado. – respondi sorrindo, abrindo espaço por entre as pessoas com seus carrinhos cheios de malas e sumindo de sua vista.
O aeroporto parecia uma selva para mim. Eu não tinha nenhum conhecimento sobre qual direção tomar e as placas com os mapas eram todos em inglês ou espanhol, os quais eu só conseguia entender algumas palavras. Sem opções, resolvi seguir meus instintos e ver onde eu iria parar.
Caminhei mais um pouco e não consegui chegar a lugar algum que tivesse a ver com animais. Temendo me perder de vez e não encontrar meus pais à tempo, resolvi perguntar a alguém.
Eu sabia que não era uma boa idéia. Aliás, nem um pouco boa. Meu inglês era péssimo e eu sabia que todos os americanos achavam o sotaque francês muito pomposo e chato, com certeza iriam ser mal educados e não responder se eu perguntasse algo. Resolvi dar meia volta, mas parei ao sentir uma dor no estômago.
- Ai! Que fome! – deixei escapar.
Eu não havia comido nada durante a viagem com medo de passar mal no avião, o que não aconteceu, e agora meu estômago resolvera acatar uma tática mais avançada do que emitir apenas alguns sons enjoativos, dando pontadas e mais pontadas de dor em meu abdômen.
Eu queria voltar para a cafeteria onde meu pai estava e comer todas as rosquinhas que eu havia recusado, mas pensei em Leon. Ele também não havia comido absolutamente nada durante a viagem, nem bebido uma gota d’água. Nesse momento ele devia estar morto de sede, com fome, cansado e desesperado dentro de sua pequena jaulinha de viagem. Com a consciência pesada, resolvi ir atrás dele novamente.
Para encontrá-lo eu devia perguntar a alguém, o que nos leva de volta à estaca zero. À quem eu iria perguntar? Quem estaria disposto a me ajudar passando uma informação à uma garota estrangeira que não sabia falar inglês direito cheia de olheiras horríveis por não ter dormido direito à essa hora da manhã?
Vi um homem encostado num carrinho de bagagens observando uma das placas com mapas. Era para ele mesmo que eu iria perguntar.
- Hum, Você poderia me dizer onde ficam os animais?– disse meio sem jeito. Meu vocabulário em inglês não era muito extenso, então eu precisaria economizar as palavras.
- Ah, olá! – respondeu ele, sorrindo. Quase caí dura quando vi que não se tratava de um homem, mas de um garoto da minha idade. E lindo! – Os animais que vem nos aviões com os passageiros?
- Sim, sim. – respondi nervosa, conseguindo entender apenas as palavras animais e aviões.
- Bem... – ele alargou o sorriso ainda mais ao ver que me deixara nervosa. - Eles normalmente são entregues junto com as bagagens a cada passageiro. Porque não tenta procurá-lo quando você for pegar suas malas?
Apenas o olhei de esguelha e abaixei a cabeça. Eu não havia entendido nem metade do que ele dissera. Como eu esperava morar num país daqueles assim?
- Você não me entendeu, não é? – perguntou ele. Acenei com a cabeça ainda baixa. – Ah... Você é da França?
- Sim, eu sou. – sempre descobrem um francês pelo sotaque, eu já devia saber disso.
- Bom... – começara ele, analisando as palavras. Assim que ele dissera “bom” eu quase pulara de susto. Ele me encara com seus grandes olhos azuis e confidenciara – Meu francês não é muito bom, mas acho que dá para entender algo.
Ele estava falando em francês ou eu estava sonhando? Um americano falando francês?
- Eu estou entendendo perfeitamente. – mesmo que o sotaque dele também pesasse, as palavras em francês era mais fáceis de compreender. – Pode dizer, mesmo que tenha que misturar os dois idiomas.
Ele sorriu ao ver que eu o entendera. Quase desfalesci vidrada em seu sorriso. Depois de uma situação constrangedora dessas eu iria escolher melhor a quem pedir informações num aeroporto, se bem que dessa vez valera à pe...
- Os animas ficam junto com as malas. – disse ele, analisando-me depois de ter falado.
- Muito obrigada. – respondi sorrindo.
- Eu consegui? – perguntou ele radiante. – Quer dizer, você conseguiu entender?
- Claro! – sorri de volta e agradeci de todo o coração. – Muito obrigada!
- Obrigado digo eu! À tempos eu venho tentando provar a alguém que eu não sou tão ruim em francês quanto parece e não tenho tido nenhuma oportunidade. Agora que consegui, o Remus vai ver só...
Eu não havia entendido nada do que ele havia dito. Nem pelo nome estranho e nem pelo idioma, pois agora ele já voltara a falar inglês. Apenas acenei para ele, sem nem ter certeza se ele tinha me visto e mergulhei novamente no meio da multidão.
Olhei a hora num relógio próximo. Marcava dez minutos a mais do prazo que meu pai me dera para voltar. Apertei o passo no meio da multidão, mas fui detida por um par de mãos me puxando.
- Hey...
- Onde você pensa que vai? – era meu pai. – Por que você demorou desse jeito? Assim você me mata de preocupação!
- Eu estava procurando o... – mas parei ao ver Leon aninhado alegre no colo de minha mãe.
- Vamos logo Belle, senão a Florence nos deixa para trás.
- Florence é a moça da empresa de sua mãe. – cochichou meu pai carrancudo ao ver minha expressão de “quem é Florence?”.
Já dava pra ver o que iria se suceder quando chegássemos em casa com o humor de meu pai. Tratei logo de bolar um dos meus planos de fuga de suas discussões.
Chegamos à porta do aeroporto, onde um táxi já nos esperava. Colocamos as malas às pressas e entramos. O taxista não pareceu muito feliz pela presença de Leon em seu estofado, mas começou a dirigir. Não havia nenhum sinal da tal Florence dentro do carro.
- Hey, mãe, e a tal Florence?
- Acho que ela não vem. Ela deve ter dito o endereço para o motorista e pedido para ele nos levar ate em casa, só isso.
- Ah...
O trânsito de Nova York não era nada do que e havia imaginado. Não havia nenhum daqueles congestionamentos imensos que a gente vê na TV ou coisa parecida. “Deve ser pelo fato de hoje ser domingo” pensei. É, ainda acho que era por isso mesmo. Bem, não muito tempo depois o táxi parou na porta de uma velha casa e descemos.
- Querida, será que ele não parou no lugar errado não? – perguntou meu pai, olhando para a velha mansão à nossa frente.
- É, eu também acho. É melhor perguntar. – concluiu minha mãe. Ela, que falava um inglês de longe mais fluente que o meu, não teve dificuldades em entender o que o motorista dissera, voltando com uma cara não muito boa. – É aqui sim.
- Como assim? Você não ta dizendo que é AQUI que vamos morar, né? – perguntou meu pai, já um pouco alterado.
- Querido, não vamos começar. Não aqui, no meio da rua... – disse ela, sumindo por detrás do porta-malas e já descarregando o carro.
- Eu não vou entrar numa casa dessas. – disse ele, carrancudo. – Agora eu sei porque a tal Florence não veio junto. E você, que nunca me ouviu quando eu falei pra você olhar direito onde íamos morar...
- Aqui moço. Pode ficar com o troco. – disse ela, pagando o motorista.
- HEY, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?
- ESTOU! QUER POR FAVOR PARAR DE GRITAR? – disse ela, já alterada, jogando as malas e a bolsa no passeio com raiva, em vez de carregá-las para mais perto do portão.
O caos já estava instalado. Como sempre, eu fugiria dali. Enquanto os dois se atacavam verbalmente, peguei sorrateiramente as chaves em cima da bolsa de minha mãe com uma das mãos e Leon e abri o cadeado do portão, entrando na velha mansão.
Enquanto eu caminhava, o som dos gritos de minha mãe ficava mais baixo. Eu comecei a avaliar direitinho o local, enquanto Leon em meu braço dava pulos para descer no chão e ir correr pela terra.
A casa até que tinha um certo charme, apesar da tinta descascada e do jardim completamente morto. Dava para se ver os detalhes de sua decoração, mesmo que velhos. No passado ela devia ter sido uma bela casa e, com alguma reforma e um pouco de sorte, conseguiríamos essa proeza novamente.
Cansada de refrear os pinotes de Leon, abri a grande porta de madeira e entrei, soltando-o no chão e fechando a porta. Ele não pareceu muito feliz por ter que se contentar em correr apenas no piso de madeira, mas com certeza eu fiquei, pois não teria que tirar nenhum carrapato que por ventura grudasse em seu pêlo.
Enquanto ele corria por todos os cômodos, procurei por um interruptor, lamparina ou algo que pudesse iluminar a sala escura onde eu estava. Como não achei nenhum, tateei a procura de algum ponto de referência para me locomover, encontrando uma escada.
Subi lenta e cuidadosamente cada degrau para não tropeçar e cheguei ao andar de cima, aliviada ao constatar que esse possuía pelo menos uma fresta de luz, que vinha de um dos quartos. Caminhei em direção à ele e parei em sua porta.
Lá dentro havia uma cama velha com um colchão de molas soltas, uma velha escrivaninha, um guarda-roupas roído por cupins e uma cadeira de balanço. Sentei-me numa das pontas onde não haviam molas da cama e me direcionei à janela, objeto de minha curiosidade.
Puxei as cortinas roídas por traças e destravei a tranca de madeira, empurrando com um ruído surdo as placas de madeira que a vedavam.
Soltei um longo suspiro quando vi o que as placas de madeira escondiam. A janela dava de frente para um lindo parque, que ao que tudo indicava, ficava aos fundos de minha “nova” casa. Árvores de todas as cores, carregadas de flores que exalavam todo tipo de perfume, que era capaz até de amenizar o cheiro de mofo do ambiente, um lago muito azul, grama verdinha, crianças sorrindo, pessoas conversando alegres...
Que espécie de lugar era aquele? Um parque daquele tamanho, aqui, em Nova York? Não interessa... A única coisa que importa agora é que...
- Mãaaaaaaaae! – gritei, correndo para o andar de baixo ao ouvir o ruído da porta se abrindo.
Minha mãe me olhou assustada, achando que eu tivesse caído da escada ou coisa parecida. Ao vê-la, sorri e disse:
- Já escolhi o meu quarto, ok?
- Está bem. Mas agora, vá arrumar suas malas e as coisas para a aula amanhã, ok? – disse ela. Ao que tudo indicava a tempestade que se abatera sobre ela e meu pai cessara, mas uma nuvem carregada de raios, trovões, água e muito granizo pairava sobre minha cabeça.
Subi as escadas de volta para meu novo quarto devagar. Como eu poderia haver me esquecido de algo assim?
“A escola...”

N/A: E aí, gostaram? Eu sei que eu sou uma vaca por ter demorado todo esse tempo para postar, mas é que eu tenho outras fanfics num outro site, escola, ballet, academia, piano (e blábláblá) ¬¬' que nunca me dão tempo pra nada :'( Vou tentar postar RELIGIOSAMENTE todo sábado à tarde, e, se eu não postar, me matem :) SHUAHSUAHSUAHSUAHUSH' bom, beijos e até o próximo Cap!









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