Every man for himself




"Se você pudesse me dizer
Se você soubesse o que fazer
O que você faria
Aonde iria chegar?"


Capítulo 02 – Cada um por si


- O que diabos está fazendo aqui, Weasley? – Malfoy indagou.


A raiva inicial que havia sido aguçada pela presença da ruiva, deu lugar a um receito do quanto ela poderia ter escutado de sua conversa com Pansy. Tentou se manter calmo.


- Não sabia que a enfermaria era propriedade sua, Malfoy – Ginny respondeu tranqüila se aproximando da cama e sentando na mesma cadeira em que Parkinson estivera. O garoto riu.


- Finalmente te internaram para cuidar de seus problemas mentais? A Grifinória está progredindo. – falou com sarcasmo.


- Brigar com a namorada me parece uma péssima maneira de começar o dia – ela alfinetou.


- Não tenho namorada – sua voz saiu um pouco mais intensa do que gostaria, Ginny ergueu a cabeça o olhando astuta.


- Hogwarts inteira sabe que você e a Parkinson...


- Toda maioria é burra – ele a interrompeu impaciente. – Veio aqui para falar sobre minha relação com a Pansy? Se você resolveu se assumir comovoyeur, Weasley, creio que perdeu a viagem – ele concluiu encerrando o assunto e esperando que ela fosse embora dali o mais cedo possível.


Ginny suspirou olhando o rapaz confortavelmente sentado na cama. A faixa no peito, a palidez e os tantos frascos de poção deixados sobre a mesa-de-cabeceira era um indicativo de que o motivo de sua internação era sério. Malfoy era um Comesal da Morte, potencialmente perigoso e envolvido em coisas que a garota não conseguia nem imaginar.


Nem assim ela conseguia o imaginar chorando.


Se outra pessoa tivesse contado ela não acreditaria, não acharia provável, muito menos possível. Mas Harry dissera que viu. E mesmo internado na enfermaria, frágil, nem assim Ginny conseguia imaginar.


- Você quer parar de me encarar como tapada e sumir daqui? – falou tirando ela de seus devaneios.


A ruiva piscou duas vezes enquanto se dava conta que estivera olhando para Malfoy com um ar sonhador que o deixara desconfiado.


- Er... eu me distraí – respondeu encabulada. Ele arregalou os olhos assustado.


- Vocês Weasleys não são mentalmente normais – comentou, seu tom ligeiramente assustado.


- Já está com visita de novo Sr. Malfoy? – Madame Pronfrey saiu dos fundos da enfermaria trazendo um bloco de anotações e uma poção. – Onde está a Srta. Parkinson? Não combinei com o senhor de que ela ficaria responsável por assinar o relatório sobre as poções que o senhor precisa tomar depois que sair da enfermaria?


- Ela teve que sair – respondeu indiferente – me dê a poção e me libere de uma vez.


A enfermeira fechou a cara em sinal de desgosto, Ginny observava a cena atentamente.


- O senhor não vai sair daqui enquanto não houver alguém que assine se responsabilizando por seus medicamentos – sua voz suou inflexível. Malfoy não se abalou.


- Me dê a droga do formulário e eu mesmo assino...


- Continue educado assim e sairá da enfermaria direto para uma detenção – ela o interrompeu. Draco se calou, não esperava a resposta irritada da enfermeira. – O senhor foi atingido por Artes das Trevas, alguém tem que assinar garantindo que o senhor tomará a poção, já fui bondosa em deixar que o senhor escolhesse uma colega para o ajudar, mas se a Srta. Parkinson não aparecer até o anoitecer pedirei para o professor Snape assinar.


- Não! – Draco exclamou. Ginny e Madame Pronfrey o olharam com estranheza, só então ele se deu conta de que respondera rápido demais e tentou contornar a situação – Digo... tenho certeza que podemos resolver isso sem envolvermos o professor Snape, ele deve estar muito ocupado para perder tempo com alunos e formulários.


- Claro que podemos – a enfermeira franziu o cenho – mande um aviso a Srta. Parkinson para que venha.


- A Pansy não chega a ser uma opção – ele reclamou com desgosto. Maldita hora para acabar o namoro.


- Eu posso assinar pelo Malfoy – Ginny respondeu com um meio sorriso.


Draco se virou para encarar a ruiva tão rápido que seu corpo machucado doeu, fazendo-o soltar um leve gemido. A olhava com tanta surpresa que Ginny podia jurar que seus olhos sairiam do rosto a qualquer momento.


Aquilo a divertiu.


- Assinaria pelo rapaz, Srta. Weasley? – Madame Pronfrey perguntou com as sombracelhas erguidas em sinal de desconfiança.


- Claro, só tem que me dizer o que terei de fazer – ela respondeu rapidamente.


- Bom, é simples: duas vezes por dia tem que vir na enfermaria com o Sr. Malfoy e assinar como testemunha que ele realmente tenha tomado a poção anti-trevas. Uma vez depois do café e outra antes do jantar – explicou a enfermeira já separando os papéis que Ginny teria de assinar.


- Para mim parece simples – a menina respondeu sorrindo e pegando a pena começou a assinar. Draco a olhava sem acreditar no que estava vendo. – O que acontece se eu não vir com o Malfoy?


- Ele fica internado na enfermaria até que apareça – falou simplesmente enquanto recolhia os papéis já assinado e entregava o frasco a Malfoy.


- Problema resolvido então – Ginny comentou sorrindo abertamente enquanto via Malfoy beber a poção de uma vez só em goles grandes.


- Bom, pode ir agora Sr. Malfoy – a enfermeira deu as costas e os deixou sozinhos.


O olhar divertido de Ginny encontrou os olhos cinzas de Malfoy e a garota ficou apreensiva. Os olhos dele estavam astutos, como uma fera cercando sua presa.


-x-


- E o que você teria para falar comigo? – Harry perguntou na defensiva.


- Com certeza não é sobre seus belos olhos verdes – ela ironizou enquanto se aproximava do grifinório, parou apenas quando estava a dois passos do rapaz. – É sobre ontem, na enfermaria.


Harry a analisou com atenção. Pansy parecia um pouco mais pálida que o normal, seus olhos tinham olheiras discretamente disfarçados com maquiagem, os olhos negros brilhavam e os lábios carnudos eram ressaltados pelo batom vinho. Ok, o batom não tinha importância para a analise de Harry, então o garoto tratou de esquecer essa informação e se prender as outras: Parkinson parecia ter tido uma noite ruim.


- E daí? – falou fingindo indiferença. Pensava rápido tentando descobrir quais as intenções da sonserina em ir falar com ele.


Ela bufou.


- Olha, eu sei que você não dá a mínima para mim, nem deve me considerar um ser pensante. É recíproco, penso o mesmo de você. – Os olhos do moreno se arregalaram por trás dos óculos, ela falava rápido, despejando tudo de uma vez como se achasse que assim seria mais fácil. – Eu realmente não ligo se você me considera fútil, mas quero que saiba de uma coisa: eu me importo. Não com o mundo, ou com a guerra, ou se você vai morrer ou não no fim, não dou a mínima para sua vida e se eu tivesse que escolher entre quebrar uma unha e te entregar para o Lord das Trevas, te colocaria numa bandeja e servia a ele com vinho. Mas o fato é que eu me importo. Sim, me importo! Me importo comigo e me importo muito mais com Draco, e sinceramente, acho que ele está no caminho errado.


Pansy havia falado tudo isso em um fôlego só, quando terminou estava arfante. Harry abriu e fechou a boca pensando em responder, mas não fazia idéia do que falar. Não tinha certeza se o desabafo da garota havia sido bom, mas algo em sua mente achava que aquilo vindo da Parkinson era um avanço. Ou não.


- Bom... e daí? – Harry ainda não conseguia entender porque cargas d'água a garota havia ido falar com ele.


E daí? – a garota indagou indignada – Você é o herói dessa droga de história! Tem que me ajudar...


- Ajudar você? – ele a cortou – Porque eu ajudaria você? Pelo que me consta, você não está do meu lado.


- Claro que não estou do seu lado – ela respondeu com desprezo – Mas estou contra o Lord das Trevas. Inimigo do meu inimigo...


A garota deixou a frase morrer. Harry suspirou saindo um pouco de sua postura defensiva.


- É meu amigo – ele completou a frase em concordância.


- Claro que não! – ela revirou os olhos impaciente – Eu nunca seria amiga de um grifinório, Potter, vê se acorda. Centauros são contra o Lord, vou ser amiga de centauros nojentos? – ela falava tentando ser lógica enquanto movia um pouco a cabeça fazendo seus cabelos negros e curtos balançarem acima dos ombros prendendo as atenções de Harry.


- Tem razão – o garoto concordou – Seria esperar demais de alguém como você.


Sem se dar conta do que fazia, Harry deixou o olhar vagar dos cabelos cortados bem iguais para a gravata folgada, deixando entrever a pele pálida. O olhar insistente desceu vagarosamente pela curva dos seios e seguiu pela cintura fina. Acompanhou ainda a curva acentuada dos quadris e as pernas grossas e bem torneadas, indo até os sapatos de salto brilhantes. Quando seu olhar voltou ao rosto da garota, notou que ela parecia ligeiramente desconsertada e só então se deu conta do que havia acabado de fazer. Ele jurou para si mesmo que não iria corar, estava arrependido por ter sido indiscreto, abusivo e ter agido como um idiota em frente a Parkinson. Ela devia estar achando ele um escroto.


- Eu sei que... – ela começou um pouco inquieta e falando devagar dessa vez, olhava para o chão como se fosse difícil encará-lo – Eu sei que você deve me achar fútil, vulgar, sem um pingo de responsabilidade e bla bla bla. Sei que tenho fama de vadia, patricinha mimada, ninfomaníaca e que dizem que não consigo ter sentimento nem por mim. Mas eu não ligo para o que dizem de mim, Potter. Sabe porque?


Harry a olhou mais enternecido dessa vez. Conhecia a fama de Pansy e agora pela primeira vez a olhava de forma diferente. Via muito além da sonserina mimada e namorada do Malfoy, despida de máscaras, frágil.


- Por que eles não conhecem você para saberem quem você realmente é? – arriscou já imaginando se havia cometido esse erro também.


- Não! – ela respondeu como se essa possibilidade nem a tivesse ocorrido – Porque eles estão certos em 99% das afirmações – ela falou de forma lógica.


Harry abriu a boca, mas não encontrou uma resposta adequada então preferiu ficar calado.


- Nos vemos por aí, Potter – ela se despediu e se afastou deixando o sozinho.


Harry se manteve no corredor por um tempo, o olhar fixo no lugar por onde a Parkinson havia ido embora, sua mente curiosa tentando adivinhar qual era o 1% de mentira sobre o que diziam.


-x-


- Porque fez isso, Weasley? – Draco perguntou enquanto vestia a capa para sair da enfermaria. Ginny estava sentada na ponta de uma das camas olhando para ele.


- Alguém tem que fazer o trabalho sujo, Malfoy – ela respondeu levemente sombria o encarando.


- E suponho que de trabalho sujo vocês Weasleys entendam bastante, já que devem viver em um chiqueiro – desdenhou. – Porque me ajudaria depois de eu quase ter sido morto por seu namoradinho?


- Meu namoradinho é o Dino, Malfoy – ela respondeu indiferente – Está desinformado.


- Me desculpe por só lembrar que você namorava um fracassado – ele lamentou fingindo inocência.


- Deve estar me confundindo com a Pansy Parkinson, ouvi dizer que ela tem tara por homem fracassado, não ouviu falar? – ela retrucou no mesmo tom.


Ele riu arrumando a gravata.


- Quando resolver me contar porque resolveu bancar Madre Teresa, me fala – ele deu as costas, mas parou na metade da enfermaria e se virou para a ruiva – Ou melhor, não fala. Hoje já falei o bastante com uma Weasley para saturar minha vida inteira.


- Não me anime, Malfoy – a garota comentou divertida se aproximando dele. – Não se esquecer de vir tomar sua poção hoje a noite, antes do jantar. Estarei esperando por você – ela riu consigo ao ver a surpresa nos olhos dele – Nos vemos por aqui mesmo, Malfoy.


Sem dar tempo ao loiro responder, ela deu as costas e saiu da enfermaria.


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