Clichê.




Clichê.



- Então, o que você achou da minha roupa? Sabe, eu paguei cento e vinte galeões por esse smoking.

Juliet Hawthorne desviou o olhar de Aidan Geller e se concentrou em descer as escadas sem tropeçar na barra do vestido. Ao pisar no ultimo degrau, ela encarou o menino bonito que se encontrava ao seu lado, e disse:

- Aidan, por favor, eu não tenho o menor interesse em saber quanto tempo você levou para arrumar o cabelo, então, será que dá pra você ficar quieto?

Aidan lançou um olhar ofendido a ela, mas parou de falar. Ao chegar na porta do Salão Principal, ele entrelaçou seu braço no dela, e os dois adentraram o cômodo decorado com veludo preto e vinho. Juliet deixou Aidan a guiar até uma mesa bem localizada, suspirando quando ele nem ao menos puxou a cadeira para que ela se sentasse.

- Quer dançar? – Aidan perguntou, tirando um mini-espelho de seu bolso e ajeitando os fios loiros.

- Não, obrigada – respondeu Juliet, educadamente.

- Hm, então tá – disse ele, cruzando os braços. Poucos segundos depois, Hannah Saunders – usando um vestido curto que não combinava em nada com sua maquiagem, percebeu Juliet -, apareceu, sorrindo.

- Aidan, dança comigo? – perguntou ela, acariciando o rosto dele e ignorando totalmente a presença de Juliet naquela mesa.

- ‘Bora! – falou Aidan, ficando de pé em um pulo e sumindo no meio da pista da multidão com Hannah.

Juliet rolou os olhos, refletindo se seria melhor voltar de fininho ao seu quarto e passar o resto da noite ouvindo música, ou se deveria continuar ali naquele baile de máscaras, parecendo uma coitada abandonada por seu par e solitariamente assistindo de sua mesa os outros casais exibindo sua felicidade fingida.

Todos esses pensamentos a levaram a lembrar o motivo de ter aceitado vir ao baile com Aidan. Os dois já haviam saído por alguns meses quando ela tinha dezesseis anos, mas a personalidade narcisista e o ego gigante do garoto a fizeram terminar o namoro. Juliet sabia que Aidan só havia a convidado porque os dois pareciam bonitos juntos e ir com ela aumentaria a já exageradamente grande popularidade dele. Agora, o porquê de ela ter dito sim, era outra historia.

Juliet sabia, lá no fundo, que a pessoa com quem ela realmente gostaria de passar a noite nunca olharia mais do que uma vez para ela. Jim Morrison, o garoto por quem era apaixonada, não era popular, nem musculoso, muito menos extremamente bonito. Ele era apenas... Diferente. E a diferença que ela conseguia enxergar nele era tudo menos ruim.

- Com licença – alguém disse, a acordando de seus devaneios ao tocar seu ombro com as pontas dos dedos. – Será que poderíamos conversar em, hm, particular?

Juliet olhou em volta mais uma vez, só para se certificar que Jim não estava mesmo lá, e respondeu:

- Claro.

Ela pegou o estranho pela mão, notando a peruca branca e engraçada que ele usava na cabeça, e o guiou até a porta que dava para os jardins. Em circunstâncias normais ela nunca teria feito isso, mas o menino parecia simpático e ela havia percebido algo de familiar em sua voz.

- Pode falar. – Juliet sorriu. Ela percebeu que ele estava nervoso, já que suas mãos estavam suadas. Ela não entendia esse receio que algumas pessoas sentiam ao falar com ela. Era como se eles tivessem medo que ela fosse azará-los ou algo do tipo.

- Se importa em,hm, dar uma volta? – o estranho perguntou, estendendo o braço. Juliet assentiu, ainda sorrindo e colocando seu braço junto ao dele.

Os dois começaram a caminhar devagar. A grama estava molhada - resultado da chuva daquela tarde - e molhou seus pés, porém ela tentou ignorar a sensação desconfortável de dedos encharcados. Juliet viu muitos casais se atracando, escondidos por árvores e afins.

Ela se sentiu um pouco intimidada pelo silêncio, mas tentou ignorá-lo por falta de assunto.

- Noite bonita, não? – comentou o menino, numa clara tentativa de iniciar uma conversa. Juliet levantou uma sobrancelha ao olhá-lo, subitamente sentindo simpatia por ele, que parecia bastante envergonhado.

- Sim, muito – ela disse, olhando para o céu pela primeira vez e vendo a lua, grande e cercada de estrelas brilhantes.

Todo aquele cenário trouxe inspiração a ela. Parando de andar e sentando-se no chão, Juliet tirou as sandálias de salto alto e as jogou longe, sorrindo ao realizar o ato. Sua mãe havia as comprado alguns dias atrás e as mandado via coruja. Elas eram um número abaixo do tamanho certo, para fazer os pés de Juliet parecerem “mais delicados e femininos”, nas palavras de sua mãe.

Ela fechou os olhos ao sentir a água gelada cobrindo seus pés.

- O que você está fazendo? – perguntou o garoto.

- Algo que sempre faço à noite – Juliet respondeu. Não era exatamente verdade, já que essa era apenas a terceira vez que o fazia, mas ela não viu mal nenhum em aumentar um pouquinho – ou muito – o número de dias. – É relaxante. Por que não experimenta?

Juliet achava que ele não fosse aceitar, por medo de sujar o smoking, mas, para sua surpresa, o menino sentou-se ao seu lado, cruzando as pernas em uma posição de índio.

- Posso... Posso te falar uma coisa? – ele perguntou, depois de alguns minutos de silêncio.

- Estou ouvindo. – falou ela, virando seu rosto para ele e colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha.

- Eu... Você... Hã, deixa pra lá.

Juliet o encarou nos olhos, reparando no castanho profundo deles, e começou a rir. Pelos olhos semicerrados, ela viu o garoto sorrir e mostrar covinhas nas bochechas.

- Você é engraçado – ela disse, tacando um pouquinho da água fria nele.

- E você é linda.

Ela parou de brincar na hora. Mirando os olhos nos babados de seu vestido prateado, Juliet engoliu um seco e fechou os olhos, desejando que ele não tivesse realmente dito aquilo. Sua noite estava finalmente começando a melhorar até o momento em que ele proferira aquela frase, tornando tudo pior.

- Olha, eu posso ser loira, mas não sou burra – ela disse, suspirando e balançando a cabeça negativamente. – Sei o que você quer comigo. Mas, sinto dizer, não vai conseguir nada. Apesar de você parecer um garoto legal e tudo mais, meu coração... Bem, ele já pertence a outro.

Juliet disse aquilo se sentindo mal pelo menino. Ele parecia ser tão legal, e aqui estava ela, acabando com as esperanças dele. Por um momento ela cogitara apenas sorrir e agradecer o elogio, porém não seria justo com ele. Ele merecia, ao menos, saber o motivo da rejeição.

- Já que eu não tenho nenhuma, hm, chance – o estranho disse, sua voz um pouco rouca. – Posso então perguntar quem é ele? Eu sei que não é, bem, da minha conta, mas...

Ponderando por um instante, Juliet resolveu enxergar aquele momento como o perfeito para revelar seu menino especial pela primeira vez.

- Tudo bem. Eu gosto de falar dele mesmo – disse, sorrindo. “Vamos tornar isso um pouco mais interessante”, ela pensou. – Mas por que você não tenta adivinhar primeiro?

Como Juliet previra, ele falou o nome do menino mais popular de Hogwarts.

- Aidan Geller?

Ela fez uma careta de dor, e suspirou aliviada ao ouvir o menino rir.

- Ele é um idiota sem cérebro que só se importa com o próprio umbigo. E, além do mais, nem beija tão bem assim. – ela admitiu.

- Vocês já, hm, saíram? – perguntou o garoto. Virando seu corpo para ele em surpresa, Juliet disse:

- Achei que todos soubessem. Algumas pessoas ainda acham que estamos saindo até hoje. De qualquer forma, você errou – Ela piscou o olho. – Tenta de novo, vai.

Segundos depois, ele apareceu com uma resposta que não a surpreendeu em nada.

- Steve Greene? Will Avery? Jordan Mason? Ben Whitlaw? Travis Jackson?

- Esqueça o estereótipo de menino popular e burro – Juliet disse, rolando os olhos. Ela olhou para suas unhas, pensando se as pessoas a viam assim de verdade, como alguém que só sairia com um garoto se ele fosse musculoso e idiota.

- Mas é que, bem, quando eu olho pra você são eles que, hm, vêm à minha cabeça.

Apesar de admirar a franqueza e a coragem do menino, aquilo meio que doeu.

- Eu sabia – falou ela, sorrindo sem-graça. – Você me vê exatamente como todos me vêem. Mas, já vou te avisando, se você acha que eu sou apenas mais uma menina fútil que tem como prioridade na vida manter a maquiagem perfeita e aumentar a popularidade namorando todos os garotos do time de quadribol, você está muito enganado.

Não demorou muito para ela se arrepender de ter deixado a raiva tomar conta dela. Ele não tinha culpa de nada, era apenas mais um ser que vivia pressionado pela sociedade a ser alguém que ele não era – um ser, ela percebeu, exatamente como ela.

Às vezes, Juliet se via como uma celebridade, daquelas que vemos nas revistas envolvidas em barracos e fofocas, e que admiramos de longe e falamos mal pelas costas. Todos sempre esperam que elas sejam as melhores, as pressionam para serem as mais bonitas, as mais ricas. Em Hogwarts não era tão diferente, e por vezes ela sofria com a pressão de ser cada vez mais perfeita. Quer dizer que ela não poderia chorar se estivesse triste? Gritar e espernear se estivesse com raiva? Juliet conseguia enxergar inúmeras semelhanças entre a sociedade daquela escola e a da vida real lá fora.

Se alguém fosse diferente, exótico, excêntrico, ou o que quer que seja, seria taxado como uma pessoa “esquisita”. Em outras palavras, um loser. A maioria dos estudantes, mesmo que inconscientemente, rejeitava quem não fosse como eles. Porque a pessoa diferente, aos olhos dos alunos de Hogwarts, não era normal. Afinal, o que é normal? Juliet tinha uma teoria – que guardava bem no fundo de sua cabeça e não contava a ninguém – de que o normal não existe. Se eles considerassem ter olhos azuis “normal”, o que seria das pessoas de olhos castanhos? Ou se ser magro que nem um cabo de vassoura fosse “normal”, o que seria das pessoas acima do peso? Se todos fossem exatamente iguais na aparência, o mundo seria o lugar mais chato do mundo.

Juliet sabia que se encontrava no topo da pirâmide social. Ela era popular – muito, muito popular – e tinha conhecimento disso. Embora não ligasse nem um pouco para essas coisas, lhe faltava coragem para admitir a si mesma que preferiria ser uma loser realmente feliz a uma popular que apenas fingia sentir felicidade.

Talvez fosse por isso que ela admirava tanto Jim Morrison. Ele fugia de todos os estereótipos impostos pela população de Hogwarts, e não parecia se importar nem um pouco com popularidade e afins. Quando os meninos corriam para o campo de quadribol, Jim corria para a biblioteca. Ele ajudava os outros sem nenhum interesse pessoal. Ele apenas tinha uma boa alma, e aquela bondade nele havia a conquistado.

Porém, em seu coração, Juliet sentia que eles eram de mundos diferentes, e isso doía.

- Me desculpe.

- Não precisa se desculpar, não é sua culpa. – ela disse, trazendo os joelhos para perto e os abraçando. Pelo menos ele fora educado e pedira desculpas. – Enfim, você ainda não descobriu o nome do garoto que eu gosto.

Ela sorriu, mudando de assunto.

- Seria mais fácil se você me desse algumas dicas – falou ele, o alívio tomando conta de sua voz.

- Hm... Certo – Juliet concordou, colocando a mão no queixo e pensando. – Ele é do Sétimo Ano, assim como eu. Ele tem cabelos castanhos e cacheados, e olhos da mesma cor.

- Qual é a Casa dele? – perguntou o menino. Ela conseguiu perceber que ele queria mesmo descobrir quem era o “amor” dela.

- Corvinal. O que não me surpreende em nada, já que ele é muito inteligente e só tira notas boas. – Era verdade. Jim era considerado um dos meninos mais inteligentes de toda a escola. – Ele também sempre ajuda os outros, e isso é uma das coisas que mais admiro nele. Não importa a Casa, não importa o Ano, ele dá uma mão a qualquer um que precise. E sempre, sempre mesmo, faz isso sorrindo. É algo que sempre desejei e nunca tive, essa bondade, esse jeito de encarar a vida de uma maneira otimista. São qualidades que nunca consegui achar em nenhuma outra pessoa.

Ela sorriu ao falar aquilo. Tudo relacionado a Jim a intrigava, cativava e a fazia ficar cada vez mais apaixonada. Antes de conhecê-lo – em um dia frio de outono cinco meses atrás, quando havia trombado com ele em um corredor -, Juliet nunca imaginara que poderia amar tanto uma pessoa sem sequer ter conversado com ela antes. Mas era assim que se sentia em relação a ele: totalmente e indescritivelmente encantada por aqueles cabelos cacheados e o bom caráter do garoto.

- Não sei. Desisto – falou o estranho, balançando os ombros. – Quem é ele?

- Ah, assim perde a graça! – Juliet exclamou, tornando novamente seu corpo para ele. – Espera, eu vou te dar mais uma dica. Se você não acertar, prometo que revelo a identidade dele – O menino assentiu, então ela continuou. – Eu sei que isso pode soar um pouco assustador, mas eu costumo ir até a biblioteca apenas pra passar horas o assistindo ler na seção de Leis Bruxas. É, eu sei, o lugar mais chato do mundo, e ele é sempre o único lá, mas eu acho que... Que estou tão apaixonada que faria qualquer coisa só para ficar perto dele.

Com as bochechas um pouco vermelhas, Juliet voltou seu olhar para o lago, acariciando algumas folhinhas de grama distraidamente com as pontas dos dedos.

Há cinco meses, quando conheceu Jim Morrison, ela passou a se dirigir à biblioteca todos os dias – até mesmo fins-de-semana – só para poder observar a pessoa que amava ler livros tão ou mais grossos que seu braço. Sempre que seus amigos perguntavam qual era a razão dos sumiços, ela inventava alguma mentira. Isso ocorrera tantas vezes que agora eles nem perguntavam mais.

Enquanto pensava em Jim, Juliet percebeu que o olhar do menino que se encontrava ao seu lado não saía de cima dela. Ruborizando um pouco mais, ela retribuiu o olhar dele. “Não é feio”, pensou ela. “Ele tem... Olhos bem bonitos...”

Tum-tum. Tum-tum. Tum-tum.

Arregalando os olhos, Juliet ouviu as batidas de seu coração tornarem-se cada vez mais fortes. Ao colocar a mão discretamente sobre o peito, ela sentiu as batidas tão fortes como marteladas. Era uma coisa incrível suas costelas continuarem intactas.

Para tentar acabar com as sensações estranhas que tomavam conta de seu corpo e também porque o olhar penetrante dele sobre ela já estava se tornando desconfortável, ela perguntou ao menino:

- Você está bem? – Juliet o chacoalhou com força. “Na verdade, acho que preciso mais de uma chacoalhada que ele”, ela refletiu.

- Hã... Sim, eu acho – respondeu ele. Suas mãos tremiam um pouco, como Juliet pode perceber.

- Você descobriu? – Ela sorriu, apesar do “Tum-tum” que ocorria dentro de seu corpo.

- Hm, é.

- Então... ? – Juliet ergueu uma sobrancelha.

- Jim – falou o menino. Sua voz estava um pouco diferente, meio rouca. – Jim Morrison.

Antes que ela pudesse ter qualquer reação decente, Juliet viu as mãos dele se dirigirem aos seus próprios olhos e arrancarem a máscara preta e a peruca branca que ele usava, jogando-as longe em seguida.

- Ou, em outras palavras, eu.

Juliet abafou um grito ao colocar as duas mãos em volta da boca. Ela sentiu lágrimas vindo aos seus olhos e agradeceu os céus por ter lembrado de usar maquiagem a prova d’água.

“Não... Ai, meu Merlin, não!”, ela gritou em pensamento. Imagens da conversa que tivera com ele repetiam-se em sua mente, como um filme, a fazendo sentir-se pior e pior a cada segundo. Como assim ela havia contado tudo sobre sua obsessão por Jim Morrison quando o próprio estava bem ali, do seu lado? Ouvindo tudo, e provavelmente rindo internamente da cara dela, enquanto a mesma relatava os seus sentimentos mais íntimos para ele.

Quando ia levantar a mão e acertar um tapa bem dado na cara dele, o menino inclinou-se para frente e tirou a máscara de Juliet, a colocando na grama ao lado deles. Ela sentiu um arrepio subir-lhe a espinha quando os dedos de Jim roçaram em seu rosto.

Ela imaginava como suas bochechas deveriam estar mais vermelhas que seu esmalte.

- É você – sussurrou Juliet, fazendo força pras palavras saírem. De repente seu corpo parecia recusar-se a obedecer a seus comandos. – Ai, meu Merlin.

Jim sorriu; o sorriso mais bonito do mundo. Suas covinhas acentuaram-se, fazendo Juliet perceber como seu próprio sorriso parecia sem-graça perto do dele.

Ela agora via a razão de seu coração ter disparado. Era porque ele havia descoberto antes mesmo da dona a identidade do menino dos olhos bonitos e peruca ridícula. Toda sua raiva sumira e Juliet passou a se perguntar como não havia enxergado a verdade antes, na hora em que ele veio a seu encontro no Salão Principal para pedir uma conversa em particular.

Parte de seu corpo queria pular para cima e para baixo, mexendo as mãos e gritando um desafinado “Yeeeeees!” bem alto. Outra parte queria jogar-se sobre Jim e abraçá-lo de um jeito que demonstrasse tudo que ela estava sentindo naquele momento.

Ela não sabia o que fazer, então escolheu não fazer nada.

Os dois ficaram se encarando por algum tempo, a vergonha e a felicidade exposta nos olhos de ambos. Juliet sorriu ao perceber que Jim parecia tão atônito quanto ela.

- Juliet, eu te amo.

Aquela frase não passou de um murmúrio baixo, mas os ouvidos aguçados dela conseguiram escutar.

Tum-tum-tum. Tum-tum-tum. Tum-tum-tum.

Ela prendeu a respiração. As batidas de seu coração tornaram-se ainda mais rápidas. Tudo que Juliet queria ouvir, a coisa que a faria mais feliz no mundo todo, fora expressada em uma simples frase. Sua boca contorceu-se no maior sorriso que já dera, suas mãos começaram e formigar, os olhos arregalaram-se, e ela ouvia um barulho como o de uma bateria tornar-se cada vez mais alto em seus ouvidos.

As lágrimas finalmente caíram, escorrendo livremente por seu rosto.

Jim desviou o olhar para o lago por alguns segundos. Então, subitamente, ele virou-se e a envolveu com seus braços, tão forte que parecia que nunca mais fosse soltar. E os dois não se importariam nem um pouco de continuar naquela posição pela eternidade.

Juliet retribuiu o abraço com a mesma intensidade. Ela sorriu contra o pescoço de Jim ao sentir como o corpo dela e o dele encaixavam-se perfeitamente.

- Eu também... – falou ela, respirando fundo e sentindo o cheiro bom dele, uma mistura de morango e baunilha. – Eu também te amo...

Os dois se afastaram um pouco. Juliet olhou no fundo dos olhos castanhos e penetrantes de Jim, e ele fez o mesmo com os olhos azuis dela.

E então eles se beijaram.

Tudo sumiu. Seus arredores, a lua, o lago... Tudo. De olhos fechados, Juliet viu um redemoinho de cores começarem a dançar dentro de suas pálpebras. Tudo que ela ouvia era o “Tum-tum” incessante e a respiração curta de ambos. Ela sentia um frio imenso na barriga e estava nervosa, como se aquele fosse seu primeiro beijo. Jim a segurava com carinho e ternura, algo que nenhum outro garoto jamais havia feito antes, retribuindo seu entusiasmo. Ela colocou as mãos na nuca dele, o abraçando sem-jeito. A posição era péssima, mas o momento era perfeito.

Com um turbilhão de emoções acontecendo dentro de si, Juliet soube que aquele beijo era algo especial, era o primeiro beijo com o menino que amava. As sensações que sentia com Jim e a segurança que ele a passava eram algo que ela tinha certeza que gostaria de experimentar novamente.

Eles partiram o beijo, um tanto ofegantes e corados, é verdade, mas sorrindo.

- Desculpe por ter, bem, te julgado de forma errada – ele disse, seus lábios vermelhos e seus cabelos bagunçados.

- Tudo bem – Juliet falou. Ela não deveria estar muito diferente. – Eu estou disposta a te mostrar como eu sou de verdade, de qualquer forma.

- Isso é uma promessa para um novo encontro? – Jim perguntou, afastando o cabelo dos olhos. “Como ele fica fofo quando faz isso!”, pensou ela.

- Hm... Talvez – Juliet sorriu. – Você quer que seja?

- Me deixa pensar... – Ele colocou a mão no queixo. - Hm, é, quero.

Ela depositou um singelo beijo nos lábios de ele.

- Essa é uma das melhores noites da minha vida – admitiu Juliet, tornando seu olhar para a lua.

Pelo canto do olho, ela viu Jim assentir com a cabeça. Ao olhar para ele novamente, ela corou ao perceber que ele a observava. Juliet pegou a mão de Jim e entrelaçou seus dedos nos dele.

- Você realmente fica me observando na biblioteca? – ele perguntou, sorrindo de lado.

- Às vezes – ela respondeu, ruborizando. – Você fica extremamente fofo quando lê, franzindo a testa e batucando os pés no chão.

- Da próxima vez você pode se juntar a mim. Traz uma revista, ou algo do tipo.

- Que romântico, encontros na biblioteca – Ela girou os olhos, rindo ao pensar no que Madame Pince diria se os visse aos beijos lá. – E eu não leio só revistas não, tá? Gosto de livros também, mas só quando eles não têm mais que quarenta páginas.

Jim riu alto e passou a mão pelo rosto de Juliet. Ela sentiu o lugar onde as mãos dele haviam passado queimarem de uma forma boa.

- Você não precisa ler, pode apenas ficar me observando, como sempre faz, sua perseguidora.

- Assim você me magoa, Jim – Ela riu, sentindo-se verdadeiramente feliz.

Juliet tentou estapeá-lo de brincadeira, porém perdeu o equilíbrio e caiu para frente, no colo dele. Os dois aproximaram os rosto e beijaram-se nova e longamente, trazendo todas aquelas sensações de volta.

- Você já percebeu como isso é clichê? – perguntou ela, ao se separarem.

- O que é?

- Essa situação. A nossa situação. Parece um filme para mim; o baile de máscaras, o cenário, o amor correspondido, o final feliz. Totalmente clichê.

- Hm, tem razão – Jim concordou. – Mas, olha, independente de ser clichê ou não, eu estou feliz que as coisas acabaram desse jeito.

- Eu também, Jim.

Eles sorriram um para o outro.

- Vamos voltar pra dentro? Está começando a esfriar e o baile já deve estar acabando – sugeriu Juliet, levantando-se e esfregando as mãos nos braços nus.

- Quer o meu casaco? – Jim perguntou, ficando de pé e tirando o blazer. Ela notou que sua camisa de botões branca e a gravata borboleta o deixavam com um ar sério e mais velho.

- Ah, não, assim tudo vai ficar mais clichê ainda! – Juliet riu, mas aceitou a oferta dele. Ela vestiu o blazer de Jim, abraçando a si mesma e sentindo novamente o cheiro dele, um cheiro que já estava se tornando familiar.

Quando voltaram ao Salão Principal, poucas pessoas continuavam lá. Muitos já haviam se dirigido aos dormitórios, a maioria provavelmente bêbada.

Juliet viu um menino sorrir para Jim do outro lado do salão. Ele estava amparando uma garota chamada Helen. Bêbada. Aidan estava quase fazendo um filho com Hannah, mas parecia que ela comandava a situação, o beijando com ardor.

- Jim, vamos tomar um pouco de ponche? – perguntou Juliet, o guiando até a mesa das bebidas.

- Eu já experimentei. Não é muito bom, não – falou ele. Ela deu de ombros e se serviu.

- Eca, doce demais – disse, fazendo uma careta ao dar o primeiro gole.

- Eu te avisei – Jim sorriu de lado. Ele pareceu prestar atenção em algo por um momento, então, corado e com as mãos no bolso da calca, perguntou: - Você, hm, quer dançar?

Imediatamente Juliet esqueceu o ponche e sorriu abertamente.

- Seria uma honra.

Juliet o guiou até a pista de dança. Jim colocou uma mão em volta da cintura dela, e entrelaçou os dedos da mão livre nos dela, que sorriu. Juliet passou uma mão pelo seu pescoço e os dois começaram a dançar abraçados.

Ele fechou os olhos, e ela o imitou. Juliet sentia-se tão protegida ali nos braços dele, tão... Amada. Era como se ela finalmente houvesse descoberto seu lugar no mundo, seu destino. Pela primeira vez em toda sua vida, ela estava se sentindo completa.

- Você sabe que a gente está dançando uma música rápida como se fosse lenta, não sabe? – ela falou, rindo um pouco.

- É, eu percebi – Riu Jim. Juliet escutou a batida de “Cadê meu Hipogrifo?”, uma canção muito famosa d’As Esquisitonas, chegar aos batuques finais. Então “Coração de Trasgo” começou a tocar. – Ah, uma música lenta agora.

- Eu gosto dessa – falou Juliet, abraçando Jim com mais força. – “Pode não parecer, mas eu também possuo sentimentos. Eu daria o mundo por você, então acredite em mim. Sei que sou um trasgo, mas bate um coração aqui dentro.”

Ela estava cantando baixinho. “Essa é a nossa música, Jim”, ela pensou, fechando os olhos e deixando a voz dele invadir seus ouvidos.

- “Vou te abraçar com todo o meu amor, e juntos dançaremos até as estrelas. Elas irão sussurrar em seu ouvido e te contar a verdade. Porém, antes de tudo, você precisa entender que, apesar de ser um trasgo, bate um coração aqui dentro.”

Os acordes finais de “Coração de Trasgo” foram tocados, e o Salão Principal se calou. Jim olhou em volta, e Juliet também o fez. Eles estavam sozinhos.

Desviando o olhar do lugar, ela passou a observar as feições dele. Os olhos apaixonantes, os cabelos rebeldes, cacheados e castanhos, a boca grossa, o nariz ligeiramente adunco... Uma combinação única. Uma combinação perfeita, tão mais bonita que a beleza genérica dela.

Ao perceber que ela o observava, as bochechas de Jim adquiriram um fofo tom vermelho, e ele a beijou levemente nos lábios.

- Eu te amo, Jim Morrison. – Juliet sussurrou com a testa colada na dele, sentindo o hálito quente de Jim chocar-se contra seu rosto.

- Eu também te amo, Juliet Hawthorne. – ele respondeu.

Até o amanhecer os dois ficaram ali, abraçados, apenas aproveitando a companhia um do outro...

... E, com certeza, teriam ficado muito mais se não fosse por Filch, que chegou mancando com a gata imprestável dele ao lado. Ele enxotou o casal do salão e pôs-se a resmungar que ainda tinha correntes em sua sala, e adoraria prender aqueles adolescentes sem-vergonha pelos tornozelos.

Rindo, Juliet e Jim correram do zelador, dirigindo-se aos jardins.

O céu possuía uma cor azulada que clareava mais a cada segundo, e os girassóis que estavam plantados nas margens do lago começavam a virar-se lentamente para o oeste. Juliet viu a peruca branca e os sapatos dela jogados em um canto, na grama. Ela riu, ignorando as sandálias caras e prestando atenção no menino a sua frente.

- Olha, o sol está nascendo! – exclamou Juliet, apontando com animação para um pontinho no horizonte. – Eu nunca vi o nascer-do-sol antes, Jim.

- Então aproveita essa chance, Juliet – Jim disse, sorrindo e passando um braço pelos ombros dela, em um gesto possessivo. Juliet aninhou-se contra o peito dele e sorriu. – Não parece uma cena de filme?

- É, assim como o que aconteceu ontem à noite. Clichê.

- Sabe como a gente pode deixar tudo mais brega ainda? – Jim perguntou, a fazendo erguer a cabeça.

- Como? – Juliet levantou uma sobrancelha e encarou os olhos que tanto gostava.

- Assim.

Ele colou seus lábios nos dela, e os dois fecharam os olhos, beijando-se com amor. O sol terminou de nascer, porém os dois continuaram lá, notando apenas um ao outro.

Absurdamente clichê, mas eternamente feliz.




N/A: sim, eu sei. podem me matar. eu deveria estar concentrando minhas poucas horas no laptop pre-historico da minha mae em escrever "Hm.", mas nao deu pra resistir. eu apenas tirei as partes do Jim da fic e coloquei as da Juliet. os dialogos continuam os mesmos. espero que gostem, e eu prometo que posto em "Hm." o mais rapido possivel. ja ate comecei a escrever o cap. novo, olha so! :D (...) e é isso. desculpa pelo N/A corrido, mas eu tenho que ir mesmo agora. vou na livraria grandona aqui do lado de casa \o/ 'Brigada a todo mundo que vai passar e comentar aqui no futuro. Beeijo !

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