Outono




Não voltou a ver o menino de cabelos espetados naquele verão, nem no próximo verão, muito menos no outro. Os anos se passaram junto com o vento, rápidos e fazendo mudanças inacreditáveis.

Nesse caso, nem tão inacreditáveis para Draco Lucius Malfoy.

E a genética cumpriu com seu papel, depois de completarem sete verões sem ter um vislumbre daqueles cabelos espetados, Draco estava ainda mais bonito, alto, e loiro.

Provavelmente, ele seria considerado por mais um ano o garoto mais ‘casável’ da universidade, seus cabelos claros picotados desciam conforme o comprimento, na altura do queixo nos lados e até o fim da nuca atrás, uma vasta franja platinada as vezes cobria olhos de mercúrio fundido, com um leve quê de azul celeste no fundo; e pra afastar essa franja do lugar, ele usava finos lábios beges, soprando-as e soltando um ‘unf’ aristocrático. Que algo mais casável?

Pansy Parkinson, Daphne Greengrass e sua irmã mais nova, Astoria, não deixavam um movimento dele ser despercebido, tendo até contado quantas vezes ele soprava seu glorioso cabelo durante o dia, e sendo chefes do comitê Malfoy do campus, não era nada mais que a função delas.

Se Draco seria o cara mais ‘casável’, então, naturalmente, ele iria dançar no baile de inverno com a mulher mais ‘casável’, mas a gigantesca e opressora Antoine Lefreve, dona de padrões e exigências tão esquisitas quanto esta fazer um concurso anual como esse, não tinha poucas candidatas a esse posto.

As próprias Pansy, Daphne e Astoria competiam arduamente pelo primeiro lugar, ambas de famílias antigas e poderosas, tinham sido educadas com o maior requinte e eram donas das melhores aparências, com elas, a genética também havia sido enormemente gentil.

Parkinson sempre fora a princesa de todos os lugares onde estivera, a tez pálida, os olhos cruéis de tão escuros e as pernas longilíneas faziam com que ela parecesse tirada de um filme de época, a moça também tratava de sempre manter o cabelo loiro* escovado e brilhoso, e as unhas da mão perfeitamente manicuradas na sua cor favorita, preto.

Mas as irmãs Greengrass também tinham seus encantos, enormes olhos verdes faiscantes, um verde claro, levemente amarelado, que se assemelhava em grande parte aos olhos de uma serpente. Extensas madeixas negras, que desciam em cachos harmônicos até a cintura, no caso de Daphne, enquanto Astoria cortava o cabelo curtíssimo, dando ênfase a um rosto em forma de coração com sardas adoráveis.

Existiam também outras de beleza estonteante, mas nenhuma perfeita como aquelas três, Hermione Granger, por exemplo, era dona de um corpo esbelto e feições doces, mas não fazia parte de família de ‘puro-sangue’; tinha entrado na universidade com uma bolsa de estudos, e passava mais tempo na biblioteca do que em qualquer outro lugar.

Lavender Brown, lindos cabelos loiros, pouca inteligência; Ginevra Weasley, corpo bonito, habilidade como ginasta, falta completa de modos; Milicent Bulstrode, maneiras dignas de uma princesa, rosto digno de um ogro.

Eram poucas as que afrontavam o império do mal da competição feminina de ‘mais casável’ desse ano.

Mas não eram elas que deviam ficar com medo, e sim o loiro mais invicto da história dos testes de ‘casabilidade’.

- Porcaria de Outono! - Draco praguejou, alto o suficiente pra assustar uma criança melequenta que andava por perto, provavelmente indo pra casa pra limpar os joelhos esfolados.


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Outono, na opinião de Draco, era uma maldita desculpa divina pra acabar com seu humor por longos três meses, aliás, por que achavam que ele merecia sofrer? Draco fazia tudo certo, tirava boas notas, beijava boas garotas, ok, as garotas com as quais ele transava não eram tão boas garotas assim, mas, de qualquer jeito, ele era impecável! Com que finalidade o senhor todo poderoso precisava causar-lhe tanta irritação?

- Isso, isso, não tem nada pra fazer no céu, e aí diz ‘Oh, vamos jogar folhas marrons no cabelo do Draco’ – Imitou numa vozinha fina, irritado – ‘Vamos fazer blusas masculinas de decote voltarem à moda’, ou pior, sim, Deus, você sabe como me castigar. ‘Vamos fazer bege ser a tendência’ Bege?! Eu odeio bege!

Embora o loiro tentasse parar de pensar naquela estação infernal, estava tudo ali, lembrando-o insistentemente que ela já se alojara no clima londrino, seus Adidas brancos amassavam folhas secas, craqueando-as a cada passo, toda a atmosfera parecia ter adotado o marrom/bege/laranja da estação.

- E antes que você me culpe por essa coisa de bege – Draco continuou, chutando o caminho para tentar evitar o barulho – Todo o outono eu tento bege, e nunca dá certo, eu não fui feito pra usar bege.

No final de sua frase, ele ouviu um riso, como sua atenção estava direcionada aos chutes, e sua cabeça inclinada contra o chão, observando as folhas planarem no ar, seus reflexos não foram rápidos o suficiente para identificar quem.

Mas ele sabia como, e o som ficou gravado em sua mente, uma risada longa, tirada do fundo do peito de alguém que parecia realmente ter achado graça em alguma coisa.

E mesmo que não gostasse de saber que alguém estava rindo a suas custas, pareceu se esquecer disso por alguns segundos, virando sua cabeça pra todos os lados e dando olhares aguçados às calçadas, o mesmo moleque melequento agora cheio de curativos voltando pra fazer mais merda, um casal de idosos (erght! Amor de velho!), moças de meia idade correndo pra se manter em forma, e... Ah sim, isso chamou a atenção de Draco.

Cabelos Espetados.

Familiares cabelos negros espetados, e mesmo que já fizessem sete anos, tinha certeza que era a mesma pessoa, e não sabia se fora isso, ou sua falta de razão momentânea (talvez causada pelo tremendo ódio ao Outono) que o fizera começar a correr atrás do menino logo depois.

Correu como não se lembrava de ter corrido nem na sua infância, seu cabelo antes tão arrumado estava abandonando qualquer forma ordenada que pudesse ter um dia tido, Draco nem sabia o que estava fazendo-o correr, já que não tinha tomado nem café-da-manhã pra ir pra universidade, primeiro dia de aula era uma loucura.

Mas nenhum até hoje estava sendo tão louco quanto esse.

- Ei! – Gritou, mas para o seu desespero, o menino nem virou, só começou a andar mais rápido, e só então que Draco percebeu o que o corpo alto e esguio do garoto vestia, e parou, estático.

Ele estava usando o ‘Uniforme’ da universidade Antoine Lefreve.

Só os alunos da universidade Antoine Lefreve ganhavam esse uniforme para vesti-lo somente no primeiro dia de aula, como uma convenção respeitosa

Então...O menino de cabelos espetados tinha que estar na Antoine Lefreve pra ganhar essa roupa.

Ele estava?

Oh, merda...

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