O Encontro



O Encontro

De Luís Fernando Veríssimo
Fic Dramione




Ela o encontrou pensativo em frente aos vinhos importados. Quis virar, mas era tarde, o carrinho parou jun to ao pé dele. Ele a encarou; primeiro sem expressão, depois com surpresa, depois com embaraço, e ao fim, os dois sorriram. Tinham estado casados seis anos e separados, um. E aquela era a primeira vez que se encontravam depois da separação. Sorriram e ele falou antes dela; quase falaram ao memso tempo:
-Você está morando aqui?
-Na casa do papai.
Na casa do papai! Ele sacudi a cabeça, fingiu que arumava alguma coisa dentro de seu carrinho –enlatados, bolachas, muitas garrafas-, tudo pra ela não ver que ele estava muito emocionado.
Soubera da morte do ex-sogro, mas não se animara para ir ao enterro. Fora logo depois da separação, ele não tivera coragem de ir dar condolências formais à mulher que, uma semana antes, ele chamara de vaca. Como era mesmo que tinha dito? “tu és uma vaca sem coração!” ela não tinha nada de vaca, era uma mulher esbelta, mas não lhe ocorrera outro insulto. Fora a última palavra que lhe dissera. E ela o chamara d farsante. Achou melhor não perguntar pela mãe dela.
-E você? – perguntou ela ainda sorrindo.
Continuava bonita.
-Tenho um apartamento aqui perto.
Fizera bem em não ir ao enterro do velho. Melhor que o primeiro encontro fosse assim, informal, num supermercado, à noite. O que é que ela estaria fazendo ali àquela hora?
-Você sempre faz compras de madrugada?
Meu deus, pensou, será que ela vai tomar a pergunta como irônica?
Esse tinha sido um dos problemas do casamento, ele nunca sabia côo ela ia interpretar o que ele dizia. Por isso ele a chamou de vaca no fim. Vaca. Não restava dúvidas que ele a desprezava.
-Não, não. É que eu estou com uns amigos lá em casa, resolvemos fazer alguma coisa pra comer e não tinha nada em casa.
-Curioso, eu também tenho gente lá em casa e vim comprar bebidas, patê, essas coisas.
-Gozado.
Ela disse uns amigos. Seria alguém do seu tempo? A velha turma? Ele nunca mais vira os amigos do casal. Ela sempre fora mais social que ele. Quem sabe era um amigo? Ela era uma mulher bonita, esbelta, claro que podia ter namorados, a Vaca.


E ela estava pensando: ele odiava festas. Odiava ter gente em casa. Programa, pra ela, era ir pra casa do papai jogar buraco. Agora tem amigos em casa. Ou será uma amiga? Afinal, ele ainda era moço... Deixara a amiga no apartamento e viera fazer compras. E comprara vinhos importados, o Farsante.


Ele pensou: Ela não sente minha falta. Tem a casa cheia de amigos. E na certa viu que fiquei engasgado ao vê-la, pensa que eu sinto falta dela. Mas não vai ter essa satisfação, ao senhora.
-Meu estoque de bebidas não dura muito. Tem sempre gente lá em casa. – disse ele.
-Lá em casa também é uma festa atrás da outra.
-Você sempre gostou de festas.
-E você não.
-A gente muda, né? Muda de hábitos.
-Estou vendo.
-Você não me reconheceria se viesse viver comigo outra vez.
Ela responde ainda sorrindo:
-Deus me livre.
Os dois riram. Era um encontro informal.
Durante anos tinham se amado muito. Não podiam viver um sem o outro. Os amigos diziam: “ Esses dois, se um morresse, o outro se suicida.” Os amigos não sabiam que haviam sempre uma ameaça de mal entendido. Eles se amavam, mas não se entendiam. Era como se o amor fosse mais forte porque substituía o entendimento, tinha função acumulada. Ela interpretava o que ele dizia, ele não queria dizer nada.
Passaram juntos pelo caixa, ele não se ofereceu para apagar, afinal, era com a pensão que ele lhe pagava que ela dava festas para uns amigos. Ele pensou em perguntar pela mãe Del, ela pensou em perguntar sobre se ele estava bem, se aquele problema do ácido úrico não voltara; começaram os dois a falar ao mesmo tempo; riram; depois se despediram sem dizer mais nada.


Quando ela chegou a casa ainda ouviu a mãe resmungar, da cama, que ela precisava acabar com aquela história de fazer as compras de madrugada. Que ela precisava ter amigos, fazer alguma coisa, em vez de ficar lamentando o marido perdido. Ela não disse nada. Apenas guardou as compras antes de dormir.

Quando ele chegou ao apartamento, abriu a lata de patê, o pacote de bolacha, depois abriu o vinho português; ficou bebendo e comendo sozinho, até ter sono e aí foi dormir.


Aquele Farsante, pensou ela, antes de pegar no sono.

Aquela Vaca, ele murmurou antes de embarcar nos braços de Morfeu.

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n.a.:Oi, gente, tudo bom? Espero que sim! Bem, essa crônica de Fernando Veríssimo eu vi num livro de um amigo e acabei me apaixonando pela história. Então pensei em colocá-la aqui como Dramione. Quero dizer, para mim, ela é uma Dramione, mas como só há uso da terceira pessoa do singular, então não tem problema se você imaginar outro casal, certo??Heheheh, mas combina mais com eles, eu acho. Enfim... Espero que tenham gostado. Votem e comentem, por favor.

Um beijo, Leah.

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