A idéia de Gina



Harry estava sentado sozinho em uma cabine do Expresso de Hogwarts. Iria começar o quinto ano com Rony e Hermione, que haviam se tornado monitores. Estava completamente distraído olhando a paisagem que passava lá fora, quando ouviu a porta da cabine ser aberta com um estrondo. Harry olhou sobressaltado para a porta e viu Gina parada com uma cara de poucos amigos.
- Oi, Harry. – disse mal-humorada. – Posso me sentar aqui com você?
- Ahn...claro.
Gina entrou, fechou a porta e sentou na frente dele. Ela estava um pouco vermelha, mas não parecia ser de vergonha. Tinha os olhos cerrados, observando a paisagem passar lá fora como se quisesse queimar tudo somente com o olhar e estava segurando a varinha na mão direita.
- Gina... – chamou Harry hesitante.
- Hum? – resmungou ela sem olhar pra ele.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada. – respondeu cruzando os braços e fechando a cara.
- Tudo bem.
Harry voltou a olhar a paisagem. Gina suspirou e olhou para Harry.
- Desculpa, Harry. – pediu ela. Harry olhou confuso pra ela. Gina esclareceu. – Eu fui grossa com você. Você não tem culpa de nada.
- Tudo bem. – disse ele sorrindo. Gina também sorriu.
- Onde estão Rony e Hermione? – perguntou ela.
- Cabine dos monitores. – Gina fez uma careta fingindo indignação.
- Não acredito! Deixaram você aqui sozinho?
- Eu não estou sozinho, estou com você. – respondeu ele. Gina riu.
- Você me entendeu.- disse ela. – Talvez seja bem melhor você ficar sozinho do que ficar com eles dois e depois ficar surdo.
- O que? – perguntou confuso.
- Os dois só vivem gritando um com o outro, Harry. - explicou.
- Eu percebi. – concordou Harry.
- Todo mundo percebeu.
- Eles...
Harry foi interrompido pela porta que abriu mais uma vez com um baque. Rony e Hermione entraram furiosos, totalmente vermelhos, praticamente soltando fogo por todos os lugares.
- Isso é ridículo, Rony. – disse Hermione sentando ao lado de Harry e cruzando os braços.
- Não, não é. Isso é a verdade e só você não quer ver. – retrucou Rony.
- Vítor é meu amigo. Ele continua me escrevendo porque nós somos amigos. – berrou Hermione.
- Eu sei muito bem o tipo de amigo que o Krum quer ser! – berrou Rony de volta.
Hermione bufou se levantando.
- Você é um idiota, Ronald Weasley!
- Eu? Krum é um idiota, não eu! – disse também levantando.
- Dá pra vocês se acalmarem? – pediu Harry, mas foi totalmente ignorado.
- Harry também acha que o Krum não quer ser só seu amigo. – disse Rony.
- Hey! – indignou-se Harry. – Me deixa fora disso, Rony.
- Eu não ligo a mínima para o que você pensa! – gritou Hermione quase roxa. – Você é um cego que não ver as coisas que estão na sua frente!
- Você também não ver! – gritou Rony.
Ele saiu da cabine batendo os pés com força deixando Harry e Gina embasbacados e uma Hermione furiosa. Harry imaginou que talvez ela não tivesse entendido o que Rony quis dizer, mas pela cara de Gina, ela sim entendeu. Hermione voltou a se sentar cruzando braços e pernas com força e bufando de raiva.
- Hermione... – chamou Gina cautelosa. Hermione pareceu explodir.
- Qual é o problema dele? – sem esperar resposta continuou. – Ele não tem nada a ver com a minha vida, eu sou amiga de quem eu quiser e ele não vai impedir!
- Eu sei, Mione, mas... - tentou Gina, mas foi novamente cortada por Hermione que se voltou contra ela.
- E você Gina, nós ainda estamos no trem e você já pegou uma detenção! – exclamou ela. Harry olhou para Gina e ela parecia estar muito ofendida.
- Hey, você está com raiva do meu irmão. Não venha descontar a raiva que você tem dele em cima de mim, está bem? – defendeu-se ela.
Hermione bufou mais uma vez, levantou e saiu da cabine seguindo o caminho contrário ao de Rony. Harry e Gina trocaram olhares chocados e estavam com a boca levemente aberta.
- O que foi isso? – perguntou Harry.
- As brigas deles estão cada vez mais sérias. – disse Gina com pesar. – Vai chegar uma hora em que eles vão se magoar muito e não vai ter mais volta.
- É. – concordou Harry. – Mas não podemos fazer nada pra ajudar.
Harry presenciou Gina abrir um sorriso tão digno de Fred e Jorge, que ele se perguntou mentalmente se não era um deles que estava ali disfarçado.
- Quem disse que não podemos fazer nada? – perguntou ela com os olhos brilhando.
- O que você quer dizer? – perguntou confuso.
- Podemos sim, dar uma ajudinha. – respondeu ela. – Coisas simples, mas que com certeza farão diferença. Pelo menos fazer eles pararem de brigar tanto.
- Você está querendo dizer que vai juntar os dois?
- Não, eu estou querendo dizer que nós vamos ajudar os dois a se juntarem por si mesmos. – respondeu sorrindo marotamente.
- Não entendi. – disse Harry. – Eles praticamente se matam todas as vezes que se encontram. Como você acha que eles vão ficar juntos por vontade própria?
- É isso que eu estou dizendo. – disse ela levantando de onde estava e sentando-se ao seu lado. – Olha, nós temos que ajudá-los, mas sem eles ficarem sabendo. Eles não podem nem desconfiar.
- Você está querendo dizer que eles só tem que pensar que resolveram tudo sozinhos? – perguntou Harry começando a entender.
- Isso mesmo. – disse animada. – Nós só temos que dar um empurrãozinho. Quando estavam gritando aqui agora a pouco, eles praticamente se declararam um para o outro.
- Mas estavam com muita raiva para perceber. – concordou Harry. – Você acha que vai dar certo, Gina?
- Claro que vai. – disse ela. – Não pode ser tão difícil, não é?
Harry fez uma cara descrente. Gina sorriu.
- Tá bom, talvez seja um pouco difícil, mas nós temos que ser otimistas. – disse ela.
- E o que você está pensando em fazer?
- Como assim “o que eu estou pensando em fazer”? – perguntou ela. – O senhor vai me ajudar.
- Tá bom. – concordou Harry. – O que nós vamos fazer?
- Calma, Sr. Potter. Eu não sou uma máquina de idéias geniais, eu sou uma garota normal. – disse pomposamente. – Eu já tive essa idéia, não posso ter outra agora.
Harry riu.
- Tudo bem, “garota normal”. – disse ele, risonho. – Eu espero que eu não me arrependa disso.
- Você não vai se arrepender, pense na felicidade dos seus amigos. – disse ela sorrindo inocentemente.
- Sim, mas antes de você fazer qualquer coisa, eu quero saber.
- Ok. – disse ela voltando para o seu lugar.
Ficaram alguns minutos em silêncio até Harry se lembrar de algo que queria perguntar.
- Gina, você pegou uma detenção?
Gina fez uma careta e suspirou.
- Peguei, mas não foi culpa minha. – disse ela se defendendo.
- O que aconteceu?
- Nada muito importante. – disse dando de ombros. – Fiz uma coisinha de nada e aquela idiota me deu uma detenção.
- Quem? – perguntou Harry, curioso.
- A Chang. – respondeu ela com desdém.
Harry sentiu um frio na espinha, mas não falou mais nada. Gina voltou a olhar a paisagem lá fora e depois de alguns minutos falou com um sorriso enorme:
- Aqueles dois vão ficar juntos esse ano. Eles não perdem por esperar.

***

Depois da seleção dos alunos novos e do famoso discurso de Dumbledore, o banquete de início de ano foi servido. Harry estava sentado entre Rony e Hermione, que não estavam nem olhando na cara um do outro. Gina estava sentada um pouco distante deles com alguns colegas do quarto ano. Ele começou a observar as pessoas no salão, até que seu olhar encontrou uma garota na mesa da Corvinal. Cho estava conversando com algumas colegas e não parecia notar o olhar de Harry. Ele foi tirado dos seus pensamentos, ao escutar Dumbledore começar a falar.
- Eu queria dar um aviso a todos. Nesses tempos difíceis, todos têm que ficar mais unidos do que nunca. – algumas pessoas lançaram olhares a Harry, que continuou olhando para Dumbledore. – Para reforçar essa união, nós decidimos que nesse ano letivo vamos fazer dois bailes.
O salão se encheu de murmúrios de alunos empolgados, desanimados ou chocados. Harry ficou totalmente desanimado. Definitivamente, o baile de inverno já havia sido um verdadeiro desastre, ele não precisava de mais dois. Dumbledore continuou.
- O primeiro baile vai ocorrer no ano novo, depois das férias de natal. – informou ele. – O segundo vai ser no final do ano letivo. Nos dois bailes, todos terão que ir acompanhados e os trajes são a rigor. Todos os alunos a partir do quarto ano tem permissão para ir. Espero que tenham gostado da notícia e boa noite a todos.
Harry olhou para a mesa da Corvinal e viu que Cho estava olhando para ele sorrindo. Ele desviou rapidamente o olhar para seus amigos. Rony era, sem dúvida, a pessoa mais desesperada de todas. Ele olhava para algum lugar no teto e estava pálido. Hermione estava olhando para todos os lugares do salão, menos para ele.
Harry se permitiu olhar mais uma vez pelo salão e reparou em uma coisa que não tinha percebido ainda. Na mesa da Sonserina, Malfoy estava com o rosto... diferente. Na sua bochecha esquerda, estava a marca de uma perfeita mão, com cinco dedos e estava muito vermelho. Algumas pessoas olhavam com curiosidade pra ele e abafavam risadinhas.
- O que aconteceu com o Malfoy? – Harry perguntou a Rony, quando todos estavam se levantando para irem para o sala comunal da sua casa.
- O quê? – perguntou Rony, parecendo sair de um transe.
- O que aconteceu com o Malfoy? – repetiu.
- Ah! – ele sorriu. – Digamos que uma certa pessoa deu um belo tabefe nele.
- Quem? – perguntou Harry.
- Eu tenho que ir, Harry. – disse Rony e saiu com Hermione, sem olharem um para o outro, para guiar os alunos do primeiro ano.
Harry ficou parado no meio do salão observando seus amigos se afastarem, até que sentiu alguém segurar seu braço e viu Gina sorrindo.
- Virou estátua? – perguntou divertida.
Harry sorriu sem graça.
- Vamos. – ela começou a puxá-lo para fora do salão. Harry ainda viu Malfoy andando com a mão no rosto para esconder a marca vermelha.
- Gina, você sabe o que aconteceu com o Malfoy? – ele perguntou quando estavam andando em direção a sala comunal da Grifinória. Gina ainda o segurava pelo braço.
Gina bufou.
- Sei. E se a Chang não tivesse impedido, iria acontecer muito mais. – respondeu azeda.
Harry ergueu uma sobrancelha.
- Foi você?
- Bem... sim. – respondeu sorrindo.
- O que você fez?
- Só foi um tapinha de nada. – respondeu dando de ombros. – Eu iria fazer muito mais coisas com ele, mas a Chang chegou na hora e me deu uma detenção por atacar um aluno, ainda mais um monitor.
- Malfoy é o monitor da Sonserina? – perguntou com desprezo.
- É, e eu não me arrependo nem um pouco de ter metido a mão na cara dele.
- O que ele fez?
- Falou umas besteiras, mas isso não vem ao caso. – disse rapidamente ao perceber que ele iria perguntar alguma coisa. – Escuta, nós temos que dar um jeito de juntar Rony e Hermione antes desse baile de ano novo, eles tem que ir juntos.
- Acho que o Rony não gostou muito dessa idéia de baile. – comentou Harry.
- Claro que não. – disse Gina, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. – Ele não gostou do baile do ano passado porque não foi com a garota certa. Por isso, nesse baile ele tem que ir com a Hermione.
- E se ele quiser ir com outra garota? – perguntou inocentemente.
Gina o olhou como se ele tivesse dez cabeças.
- Você está louco? – perguntou descrente.
- Tá bom, ele vai querer ir com a Hermione, mas ele não vai ter coragem de convidá-la. – argumentou Harry.
- Nós temos até o ano novo para fazer os dois se acertarem. – disse Gina.
- Se tratando de Rony e Hermione se acertarem, é pouco tempo.
Quando chegaram ao sala comunal, alguns alunos subiram direto para o dormitório e outros sentaram e ficaram conversando. Muitas pessoas olhavam para Harry e Gina e cochichavam umas com as outras. Só então eles perceberam que ainda estavam de braços dados. Gina soltou o braço de Harry completamente sem graça e os dois se aproximaram de Rony e Hermione, que estavam sentados em poltronas na frente da lareira.
Os dois estavam calados e pareciam achar o tapete do chão muito interessante, pois estavam com os olhos pregados nele.
- Hum... oi. – disse Gina sentando no sofá, sendo seguida por Harry que sentou ao seu lado.
Os dois responderam com resmungos sem ao menos abrir a boca. Gina cutucou Harry nas costelas em um pedido silencioso para ele fazer alguma coisa. Harry trocou um olhar perdido com ela sem saber o que fazer. Gina suspirou:
- Bom, como o clima aqui está pior do que enterro... – ela ignorou o olhar mortal que a amiga e o irmão lhe lançaram. – eu vou dormir.
- Já? – perguntou Rony, finalmente abrindo a boca.
- Já, Roniquinho. – disse ela, zombeteira, no que Rony fez uma careta. – Eu estou cansada.
- Quando é sua detenção com a Chang? – perguntou Hermione levantando os olhos do tapete pela primeira vez.
- Amanhã às oito da noite. – respondeu ela. – Boa noite a todos.
- Boa noite, Gina. – disse Harry sorrindo.
A garota deu um sorriso e subiu as escadas do dormitório feminino. Harry voltou a olhar para seus amigos, e como o clima estava pior do que enterro, como Gina disse, ele também decidiu dormir, o que foi logo imitado pelos dois, que não queriam ficar sozinhos um com o outro.
Decididamente, aquele seria um ano difícil. Seria um ano muito difícil.

Continua...

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