Único.



Marlene andava de um lado para o outro na igreja. O esmalte branco que a manicure havia passado há poucas horas atrás já estava todo roído, e a garota suava de nervosismo, mas não chorava porque não podia borrar a maquiagem. Ela sentou-se, apoiou as mãos no joelho e fechou os olhos. A conversa que tivera no dia anterior com ele não saia de sua cabeça. A voz dele não saia de sua cabeça. Ele não saia de sua cabeça... Nunca! Ela suspirou e olhou no relógio. Faltavam cinco minutos para ela entrar e encarar a realidade. Ela não poderia ficar com ele e além do mais, estava prestes a se casar com outro. Outro que ela não amava. Ela fechou os olhos novamente e lembrou-se de tudo. Tudo.

Fazia dois dias que Sirius havia desaparecido. O casamento seria no dia seguinte e todos estavam à procura dele, porque Jesse havia pedido para ele ser o padrinho e o padrinho não podia faltar no casamento. Lene estava realmente preocupada, preocupada mesmo. Ela estava em um quarto sozinha e tentava fazer de tudo para tentar tirar ele um pouco da cabeça. Não era certo pensar em outro homem nas vésperas de seu casamento, mas era impossível não pensar nele. A história que eles haviam tido no passado tinha sido marcante e ambos não haviam conseguido esquecer um ao outro e pelo jeito não esqueceriam tão cedo. Ela se lembrava de todas as coisas que ele já havia feito por ela. Todas as músicas, declarações, os presentes, as histórias que ele inventava para deixá-la feliz, as piadas que ele contava para fazê-la rir... Lembrava do primeiro, do segundo, do terceiro beijo... De quando ele pediu-a em namoro e da primeira vez deles. Lembrava de tudo claramente, sentia seu coração doer e as lagrimas que escorriam pelo seu rosto saiam cada vez em maior quantidade. Ela suspirou e tentou voltar à realidade.
- Aonde foi que você se meteu Black? – ela fechou os olhos, quando o telefone tocou logo em seguida. Deveria ser Jesse. Ele falou que ia ligar para ela aquela noite – Alô?
- Lene? – aquela voz só podia ser dele.
- Sirius? – ela gaguejou e sentiu um alivio em seu coração.
- É...
- Aonde você se meteu? Você sumiu faz dois dias sem dar explicações para ninguém, sem avisar pra onde ia... Você não sabe o quanto deixou todo mundo preocupado e... Eu estava preocupada – as lagrimas voltaram a descer de seus olhos, e um silencio prevaleceu – Sirius, você esta bem? – ela perguntou preocupada.
- Estou... Quer dizer, não. Não estou. Estou péssimo. Não acredito que tudo vai acabar assim! – ele suspirou no outro lado da linha, e a garota percebeu que a voz dele estava embaçada, como se ele tivesse chorado.
- Sirius, eu... – ela não poderia falar que era pra ele superar e seguir em frente, que agora a história dos dois havia definitivamente acabado – Eu também não acredito! – ela disse e o silencio prevaleceu de novo.
-Lene, você lembra quando a gente estava voltando da festa do Tiago...
- E o carro quebrou...
- A gente nem namorava ainda...
- Mas eu já gostava de você...
- E eu era louco por você, mas você não me dava bola.
- Não, imagina... Você que era lerdo e não percebia... - os dois riram lembrando-se daquele dia.
- Eu lembro que estava chovendo muito forte e você estava morrendo de frio.
- E você me deu a sua jaqueta, e eu lembro que eu não queria colocar ela...
- Ai eu obriguei você a colocar, só que fiquei com frio logo em seguida...
- E ai eu te abracei...
- E ai aconteceu nosso primeiro beijo... E a primeira vez... – ele disse rindo, e lembrava-se perfeitamente daquela noite. Fora a melhor de sua vida.
- É... Parece que foi ontem isso... – ela disse baixinho, e sentou-se no chão.
- É, parece que foi ontem que a gente estava comendo pizza e vendo Titanic...
- Pela milésima nona vez! – e os dois riram.
- Sinto falta dos dias que a gente dormia o dia inteiro...
- Também sinto... Mas sinto mais falta dos dias em que você acordava de bom humor e levava o café da manha pra mim na cama...
- Eu lembro que você amava quando eu fazia isso...
- Você sempre pagava uma flor do vaso e me dava...
- E você sempre a colocava atrás da orelha e me dava um beijo...
- É... – e os dois ficaram em silencio novamente. O coração dele estava disparado. Não acreditava que ele ia perder a mulher que amava. E ela estava desesperada. Aquela conversa só estava provando que aquele casamento todo ia ser um erro.
- Posso te perguntar uma coisa? – ele perguntou receoso. A resposta da garota poderia mudar tudo. Tudo.
- Pode... - e ele demorou uns minutos para conseguir criar coragem, e perguntar o que queria.
- Você o ama? – a pergunta fez à morena assustar-se, pois ela não queria admitir que não amava o seu futuro marido, não queria falar que nunca havia esquecido ele... Mas às vezes o coração fala mais alto que a razão, por isso ela suspirou e disse:
- Você sabe que eu não amo ele... Tipo, não amo de verdade... – e Sirius deu um sorriso do outro lado da linha. Aquilo era o que ele precisava ouvir.
- Mas se você não o ama...
- Sirius, eu preciso me casar com ele. Eu preciso mesmo! Não amo ele como te amei... Amo. Não. É impossível isso. O amor que sinto por você ainda é enorme, inacabável, mas eu preciso provar a mim mesma que consigo te esquecer! Tudo o que a gente viveu foi maravilhoso, perfeito. Os dias que passei do seu lado foram os melhores da minha vida... Mas nós dois somos muito orgulhosos Sirius... A gente sempre brigava por causa de ciúmes e eu sempre sofria muito. Todo mundo pensava que nós éramos o casal perfeito, mas você sabe que a gente não era! No começo foi tudo perfeito, sem brigas, nem nada... Mas depois os ciúmes começaram a aparecer e a nossa relação ficou a base de brigas e sofrimento. Eu queria muito, muito mesmo poder voltar a trás e tentar fazer a gente dar certo, mas você sabe que não dá mais! Eu te amo muito, de verdade... Mas não quero voltar com você sabendo que vou te perder novamente, porque eu nunca sofri tanto quando a gente terminou pela ultima vez! Aquele dia eu senti que havia morrido e pensei que nunca mais ia ser feliz como eu era quando eu estava do seu lado, e eu estava certa! Nunca fui feliz do lado do Aaron como fui do seu, mas eu vou ter que aprender a amar ele... Eu tenho] que aprender a amar ele! – ela chorava e ele também. Os dois sabiam que aquela poderia ser a ultima vez que se falariam daquele jeito, porque no dia seguinte ele ia perdê-la completamente – Vou ter que aprender, e não sei se vou conseguir... Porque te esquecer... Esquecê-lo será impossível Sirius! – ela dizia baixinho, enquanto soluçava e limpava as lagrimas. Sirius sentia que seu coração havia sido jogado fora. Não conseguia aceitar que a única garota que já havia amado e continuava amando, ia ser de outro e não dele.
- Você sabe que eu vou continuar te amando não é Lene? Você sabe que eu vou me lamentar todo dia por não ter sido eu a subir no altar com você. Você sabe que todo dia eu vou me pegar pensando nos momentos que nós tivemos. Você sabe que eu nunca irei amar outra mulher, a ponto de levar um café na cama para ela. Você sabe que eu continuarei invejando o Jesse por ter conseguido ficar com você e você sabe que eu sempre vou me arrepender de ter brigado tantas vezes com você, sentido tantos ciúmes e por fim, te perdido pra sempre. Nunca vou conseguir me perdoar por isso! Nunca vou conseguir me perdoar por perder a pessoa que eu mais amo... Nunca!
- Te amo Sirius... Não se esqueça disso! Eu amo você e amei como nunca amei ninguém, e se um dia eu conseguir me apaixonar pelo Jesse, fique sabendo que o meu amor por ele nunca vai ser tão grande quanto o meu amor por você... – os dois ficaram quietos por mais algum tempo. Não havia o que falar.Lene olhou no relógio e viu que já eram quase uma hora da madrugada e ela disse – Vou ter que desligar Sirius... Tenho que ir dormir – e ele suspirou, e não disse nada – Te vejo amanha? – ela perguntou com o coração na mão.
- Infelizmente... – silêncio – Te amo Lene. Te amo e diferente de você, eu não vou tentar te esquecer. Eu vou lutar por você, vou lutar pelo nosso amor...
Lene não entendeu o que ele queria dizer com aquilo e quando perguntou para ele o significado de tudo aquilo, ela percebeu que ele já havia desligado.

- Ai meu santinho, por favor, faça com que eu esteja fazendo a coisa certa! A coisa certa! – Lene repetia o pedido milhares de vezes, esperando não se arrepender depois pela aquela escolha, quando alguém entrou e avisou que já estava na hora – Por favor, que eu não me arrependa mais ainda... – e as portas se abriram, a música começou e todos ficaram de pé – Por favor... – ela fechou os olhos e quando os abriu, viu que Jesse sorria no altar para ela. Um sorriso puro, sincero... Um sorriso bonito, mas aquele gesto não a fazia sentir nada. Nada. Enquanto o sorriso de Sirius... Deus, como aquele sorriso a deixava louca. Ao pensar no garoto, ela girou a cabeça, procurou-o, mas ele não estava ali.

Ela não pode evitar que as lagrimas brotassem em seus olhos, mas todos ali pensavam que ela chorava de felicidade, mas estavam muito enganados. Só agora ela havia se tocado de que ela estava realmente se casando. Dentre alguns minutos era seria de outro. Estaria prometida a outro. Outro que não era ele. Ela piscou inúmeras vezes, tentando fazer com que Sirius aparecesse ali no lugar de Jesse, mas a cada passo que ela dava, ela percebia que era impossível. Ela estava ali, ela ia se casar e Sirius ia virar seu passado. Somente seu passado. Por Deus, quem ela estava enganando? Passado uma ova, ela queria Sirius em seu passado, em seu presente, em seu futuro! Ela deu mais um passo e parou. Todos a encararam, mas ela não se importou. O que significava aqueles olhares apreensivos, sendo que ela não estava nem prestando atenção? Como ela tinha sido burra, como ela tinha sido tola! Como ela havia deixado o único amor da vida dela para trás, como se ele fosse qualquer outro? Como ela havia dito ‘sim’ quando outro havia lhe pedido em casamento, sendo que o único que a faria feliz até a morte não era aquele outro? Como a idéia idiota de que ela conseguiria esquecer Sirius havia passado por sua cabeça? Ela não conseguiria, então por que tentar? Porque não deixar tudo para trás? Deixar aquelas pessoas fúteis cujos nomes ela nem sabia para trás e correr atrás dele? Deixar uma vida do lado de um homem que nunca causaria sensações nela somente com um sorriso? Pronto, ela estava decidida. Ela iria jogar o buquê no chão, depois sairia correndo e iria atrás de Sirius. Ela iria fazer aquilo e ia ser naquele momento.
- Queridos amigos e irmãos, estamos aqui hoje para celebrar a união de Jesse Diaz com Marlene McKinnon...

Lene olhou frustrada para o padre. Ele não havia percebido que ela não estava ainda em cima do altar? A morena olhou para o lado, onde as damas de honra olhavam assustadas para ela. Anahí e Maite estavam tentando chama-la, mas ela não conseguia mover seus pés. Já Tiago e Remus olhavam para ela tentando perguntar onde Sirius estava, mas naquele minuto, ela só gostaria de mandar todo mundo ir se danar. Ela subiu no altar e enquanto o padre falava algumas coisas que ela já não escutava, ela aproximou-se de Jesse que já estava entendendo mais ou menos o que tudo aquilo significava, e quando ela deu um beijo na mão dele e outro em seguida em sua bochecha, ele entendeu.
- Desculpa, não posso me enganar nem te enganar. Desculpa ter feito você perder todo esse tempo ao meu lado e desculpa por ter tentado acreditar que nós dois teríamos um futuro juntos. Eu não seria feliz casada com você e você não seria feliz casado comigo. Levamos isso tudo muito longe, mas agradeço de coração a você por ter me agüentado e me protegido. Obrigada por tudo Jesse e me desculpe por ser uma idiota...
- Você não é idiota Lene... Só é um pouco espontânea! – ele deu um pequeno sorriso, mas deu um beijo na testa dela – Eu te desculpo. Eu meio que já sabia que isso tudo ia acontecer. Nós estávamos mesmo nos enganando, mas tudo o que vivi ao seu lado foi ótimo. Também tenho que te agradecer, mas agora pare de perder seu tempo aqui e corre atrás dele... Eu sabia que o Sirius ia vencer no final, ele sempre vence! Maldito sortudo! – Jesse disse em tom de brincadeira, ela sorriu e recebeu um sorriso em troca.
- Obrigada...

Agora nada mais importava. Que as pessoas ali presentes se danassem. Que as autoridades de Deus se danassem. Que o mundo se danasse! Ela só queria estar nos braços de Sirius, e queria estar nos braços dele naquele minuto! Ela virou-se e saiu correndo, fazendo todos ali levantarem-se e olharem-na perplexos. Lene empurrou a porta da Igreja e suspirou aliviada, mas em questão de segundos, todo aquele alivio sumiu. E agora, onde Sirius estaria? Ela olhou para os lados e viu as árvores e as flores que haviam sido podadas e plantadas especialmente para aquela data. O Sol estava prestes a se por, e não havia ninguém ali... Por Deus, havia sim! Quando Dulce viu um homem virado de costas, com a cabeça baixa e trajando ternos, ela teve certeza que era ele. Sirius estava ali, a poucos metros de distancia dela, e finalmente ela poderia dizer que o único que ela queria subir junto ao altar era ele.
- Sirius? – ela chamou o homem para ter certeza de que era ele, e quando o homem virou o rosto para ver quem lhe chamava e viu Lene, parada diante dele, com o vestido de noiva e com um sorriso em seu rosto, ele estremeceu.
- A... A... A cerimônia já acabou? – ele perguntou, tentando parecer imune ao fato de que queria pega-la em seus braços e prova-la que ninguém conseguiria um dia ama-la mais do que ele.
- Já deveria ter acabado faz tempo! Deixe de ser bobo, homem! Eu fugi! Fugi para me jogar em seus braços e dizer que te amo... Claro que só me jogarei aos seus braços se você estiver disposto a me aceitar de voltar e me perdoar por todas as besteiras que disse ontem. Não conseguirei te substituir Sirius, nem hoje, nem amanha, nem nunca. Eu te amo e esse sentimento eu vou levar comigo até que a morte me separe...

Ele fraquejou. Há dois minutos atrás ele estava respirando fundo e criando coragem para entrar na igreja para impedir o casamento, estava até com um discurso pronto, só que ver a garota ali, em sua frente, falando que o amava, era muito melhor do que ele havia pensado. Ela havia desistido de se casar por ele! Ela estava falando que nunca conseguiria substituí-lo! Ela estava falando tudo que ele queria ouvir e mais do que ele esperaria ouvir.
- Por Deus Sirius, me diga que você me desculpa, por favor! – Lene estava frustrada com a demora da resposta dele, mas ele não falou nada, somente a envolveu em seus braços e roçou seus narizes. Quando ela já havia fechado os olhos, ansiando o encontro dos lábios dele, ouviu-o dizer:
- Não tem o que te desculpar Lene. Eu estava esperando a hora certa para entrar na Igreja e impedir aquela palhaçada toda de acontecer. Eu disse que iria lutar por você e iria até enfrentar todos os seus dragões para te mostrar isso. Você é a única com quem eu quero passar o resto de minha vida, e não lhe deixarei subir no altar mais com ninguém, somente comigo, porque você vai ser a única que eu irei amar, na saúde na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na...
- Nós já sabemos como termina os votos Sirius, no ‘até que o a morte os separe’ e nem a morte vai nos separar, então faz o favor de me beijar logo?! – ela pediu sorrindo carinhosamente para ele. Ele riu e assim o fez. Juntou seus lábios aos dela e provou a ela que as razões do coração sempre são as escolhas certas...

FIM.

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