<i>O Natal da Minha Vida</i>



Nunca gostei muito de Natal. Os meus eram sempre iguais, na Mansão do meu tio Órion. Uma noite fria, com muita neve, e tanto dentro quanto fora da mansão, tudo parecia congelado. Meus natais eram sem emoção, parados. Mas quem se preocupava com emoção e espírito natalino naquela casa? Pra começar, eu era quem menos me importava com esse tipo de coisa, Natal pra mim era um dia como outro qualquer.
Mas ninguém ajudava muito. Tia Walburga e minha mãe eram sempre desesperadas e preocupadas com a ceia que ofereciam todo ano para a comunidade bruxa, tudo deveria ser perfeito, e sempre acabava sendo mesmo. Meus tio Órion se juntava com papai e os dois acabavam com o estoque de vinho de tia Walburga. Meu primo Régulus realmente incorporava no Natal, e como era o mais jovem dos primos, sempre tentava alguma coisa que para ele parecia legal, como beber vinho e ficar bêbado escondido no seu quarto. Sirius, o primo mais velho que eu tinha, ficava na casa por pura obrigação, mas por que comentar sobre Sirius? Ele era a ovelha negra, apenas isso. Narcisa, minha irmã mais nova, ficava à um canto da sala, paralela à tudo, sua face sem emoção realmente mostrava o que ela estava sentindo: nada. Estava sempre absolutamente indiferente a esse tipo de coisa. Andrômeda, minha outra irmã, um pouco mais jovem do que eu, era a única que parecia dar um pouco de vida à Mansão Black, era realmente bondosa, tinha um espírito realmente natalino. Eu, bem, não vale a pena falar muito sobre isso.
Mas naquele Natal de 1976, eu senti que tudo seria diferente.

‘Estava nevando, e o cenário que eu via através das cortinas vermelhas do meu imenso quarto na Mansão Black não era muito acolhedor. Pus-me a pensar com qual dos dois vestidos iria brilhar naquela noite de Natal, se era com um vermelho que havia ganhado de meu noivo Rodolphus Lestrange, ou se era com um preto que fora presente do tio Órion no meu décimo nono aniversário. Mas eu não queria ficar bonita para os convidados. Eu queria ficar bonita para meu primo, meu primo mais querido, Sirius. Que era há algum tempo meu amante.
Era precisamente em Sirius que eu estava pensando quando mamãe bateu na porta do quarto e me disse para me apressar. Não demorei muito mais, optei pelo vestido preto, mais discreto, queria ser invisível esta noite, para poder aproveitar meu último encontro com meu primo antes de me casar.
Então eu desci. Modéstia à parte, todos os olhares voltaram-se para mim. Olhei ao meu redor. A pista de dança estava lotada. Mamãe, papai, tia Walburga e tio Órion conversavam com bruxos influentes do Ministério. Narcisa, minha irmã mais nova, conversava com Lucius Malfoy, seu suposto namorado. Régulus estava conversando com alguns amigos. Andrômeda conversava animadamente com Sirius. Não demorou muito e Rodolphus logo veio ao meu encontro. Conversamos um pouco, não me recordo sobre o quê, mas ele logo me deixou sozinha, no que Sirius despediu-se de Andy e veio falar comigo.
- Prima, me concede esta dança?
Sirius sorriu meio maroto pra mim, e percebi que Rodolphus sentiu-se extremamente perturbado, mas eu não podia decepcionar meu primo, afinal, o que é a vida sem risco?
- Claro Six.
Conduziu-me para o centro do salão, minha mãe olhando desconfiada. Narcisa parara imediatamente de conversar com Lucius, é claro que percebera as segundas intenções minhas para com Sirius e vice-versa.
Nossos movimentos eram perfeitos, alinhavamo-nos em perfeita sintonia, tudo entre mim e Sirius obrigatoriamente era sempre perfeito. E o salão inteiro nos olhava. Paramos de valsar e nos encaramos, e em qualquer filme de romance esse seria o momento de um beijo apaixonado, mas nunca fomos previsíveis assim. Ao invés disso, Sirius me girou gloriosamente, um giro abissalmente perfeito, e eu caí em seus braços, já louca de desejo. Percebi nos olhos de Sirius que ele pensava o mesmo que eu, mas com certeza todos sentiriam nossa falta. Assim a música terminou, e o salão inteiro nos aplaudiu. Menos minha mãe, tia Walburga, Rodolphus e Narcisa. Evitei olhar para esses, e olhei para meu primo, que despediu-se de mim com um singelo beijo na mão, deixando-me sozinha no centro da pista. Rodolphus rapidamente veio ao meu encontro, e discretamente agarrou meu braço por trás e me apertou fortemente, e fomos juntos até os jardins.
- Ficou maluco, Lestrange? Está me machucando, largue-me, já!
- Não largo enquanto não me explicar o que foi aquilo, agora há pouco! – os olhos dele estavam faiscando.
- Largue-me ou não explico nada, e não haverá casamento nenhum! VAMOS, LESTRANGE, ME SOLTE! – gritei com ele, pela primeira vez.
Relutante, ele me largou. Rodolphus sempre tentou fazer essa pose de marido exigente e imprevisível, mas essa foi a única vez que reuniu coragem suficiente para me tratar desse modo.
- Foi apenas uma dança, Rodolphus. Valsei com meu primo, por que, não posso? – ergui as sobrancelhas, é claro que Rodolphus deveria saber ou pelo menos desconfiar de alguma coisa, mas ele era burro demais para chegar a uma conclusão sobre tal.
Não esperei que ele me respondesse, voltei para o salão, onde fui recebida por uma Narcisa emburrada que passou por mim me dando uma trombada leve, mas significativa. Eu sabia que aquilo significava uma revanche, que ela provavelmente iria armar pra cima de mim, pois não era de hoje que ela disputava Sirius comigo. Na certa tentaria agarrá-lo a força dentro do quarto, ou passar suas pernas nas dele durante os jantares. Eu sabia que Sirius não perderia uma boa pinta como a minha irmã, mas também sabia que ele –ainda- preferia a mim.
Evitei passar perto de mamãe e de tia Walburga, não queria saber de sermões fora de hora. Resolvi então ir para a biblioteca da casa, era meu lugar preferido quando estava lá. Imaginem minha surpresa ao constatar que Sirius também se encontrava lá.
- Oi Bella. – ele dirigiu-se um sorriso singelo, mas muito bonito.
Caminhei na direção dele, e postei-me à sua frente.
- Oi Six. – dei um rápido selinho nele, e antes que ele pudesse me agarrar, saí correndo de sua frente.
Ele gargalhou. Olhou para mim.
- Por que faz isso, Bella? Quer me matar, não é?
Minha vez de gargalhar.
- Six, Six...você é muito previsível! Surpreenda-me, vamos, me casarei em breve!
Sirius sorriu, animador. Depois fez uma cara séria, e me encarou. Assentou-se na primeira cadeira à sua frente, e começou:
- Bella, essa é minha última noite aqui. – e antes que eu pudesse dizer ah, ele prosseguiu – eu vou morar na casa do James. Não tente me fazer mudar de idéia, mas sério, cansei deles, cansei daqui. Preciso seguir minha vida, Bella, você vai se casar, e já tem um futuro traçado. Tentei de fazer mudar de idéia, tentei mudar você. Mas você não fez a sua parte, nem quando eu disse que te amava. E eu te amo Bella, muito mais do que como minha prima, eu te amo como minha mulher. Mas já que isso é um sonho, uma realidade impossível, eu não posso fazer mais nada. Assim que terminarem a ceia, ou até mesmo antes, irei embora.
Fiquei chocada com as palavras que meu primo me disse, mas ele estava realmente decidido, embora não totalmente certo, porque sim, eu realmente o amava, mesmo que não admitisse; mesmo só eu própria tendo entendido isso anos depois.
Sirius dirigiu-se até mim e me deu um último beijo, cheio de significado, e depois me disse:
- Agora, prima, desça. Eu vou descer logo em seguida, e vou fazer o meu comunicado à todos. Mostre-se tão surpresa quanto eles.
Contra minha vontade prometi que faria isso à ele, e desci, despedindo-me para sempre do meu primo mais amado.
Chegando lá embaixo, assentei-me, não conseguindo conter as lágrimas, mas conseguindo, por pouco, escondê-las. Rodolphus veio assentar-se ao meu lado, e logo em seguida, poucos minutos depois, Sirius surge no alto da escada, pedindo a atenção de todos.
Tio Órion permitiu que Sirius dissesse o que queria, afinal. Ele mostrou suas malas, e jogou-as do alto da escadaria imensa, e Walburga olhou espantada para o filho.
- Todos aqui sabem que a Família Black é uma família muito tradicional e rica no mundo bruxo, mas poucos sabem o que realmente ela significa. Bem, a Família Black, minha família (e não me orgulho nem um pouco disso), é uma família que usa uma máscara tão grande, de elegância, beleza e admirável amizade, e que na verdade só é composta de pessoas frias, sem coração, que odeiam trouxas mais que tudo, e que preferem manter as aparências ao mostrar realmente a cara para o mundo bruxo. Mamãe, papai, acabaram os disfarces, tio Cygnus, tia Druella, a máscara caiu. Quanto a mim, tenho um futuro do qual correrei atrás, sem precisar do dinheiro de vocês, eu tenho a minha liberdade! Eu sou livre, eu vou dar a cara a tapas agora, eu vou provar da vida longe de todos vocês. Régulus, eu ainda tenho esperança de você, tente não me desapontar. – ele sorriu para o irmão.- Andy, eu sei que você ainda vai seguir meu exemplo. –ele sorriu abertamente.- Bella, EU TE AMO, e nunca vou desistir de você. – me mandou um beijo no ar, enquanto eu sorria e Rodolphus contorcia-se de ciúmes. – ADEUS.

Sirius saiu pela porta, foi-se embora, para sempre. Realmente, essa fora a última vez que eu o vi, e foi a vez em que ele estava mais radiante. Foi o melhor natal da minha vida, porque Sirius me mostrou, nos mostrou, muito mais do que uma rebeldia incontrolável contra os pais injustos; ele nos mostrou o que a liberdade e o amor, juntos, podem fazer na vida de uma pessoa que se deixa levar por eles.
Assim que Sirius saiu, naquela noite, eu escrevi uma carta para ele e mandei minha coruja entregar. Não me recordo do que estava escrito, mas sei que as últimas palavras eram:
‘Você me ensinou a ser feliz. Te amo. Feliz Natal. Bella.’

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