Palavras entaladas.



Ela estava linda. Usava um vestido de baile azul claro e os cabelos presos em um coque que deixava apenas algumas mechas soltas. Caminhava em sua direção, seu sorriso iluminando todo o salão ao redor. Ficaram parados se encarando durante algum tempo, ela ainda sorrindo. Então ela começou a se aproximar cada vez mais e mais. Já estava tão perto que ele podia ouvir sua respiração. Fechou os olhos e esperou pelo que viria.

Sentiu alguma coisa batendo com muita força em seu abdômen. Abriu os olhos. Estava no dormitório do sétimo ano da grifinória. Fora apenas um sonho. Ele iria matar o desgraçado que o havia acordado. Olhou ao redor. Todos os garotos pareciam ter caído em uma repentina maré idiota de bom humor.

Levantou da cama ainda sonolento e saiu pisando duro em direção ao banheiro. Ele percebeu que, à medida que ia atravessando o quarto, seus colegas pareciam se calar e parar para observa-lo, ele podia sentir os olhares pesando sobre ele. Entrou no banheiro e bateu a porta. Logo em seguida pode ouvir os colegas recomeçarem com suas danças de trasgos. Bufou e entrou debaixo do chuveiro.

O tempo estava nublado e um vento frio assolava as paredes do imponente castelo, mas ele não se importava. Abriu o chuveiro e deixou a água gelada cair sobre seu corpo. Ainda estava de pijamas, resolvera tomar banho vestido para não sentir muito frio, mas não estava dando muito certo. Despiu-se e continuou ali, de pé, esperando que a água pudesse lavar sua alma e levar embora suas dúvidas.

Meia hora depois, quando saiu do banho, não havia mais ninguém no dormitório. Provavelmente haviam se cansado de esperar e descido para tomar café. “Melhor assim, ao menos posso ouvir meus pensamentos em paz”, pensou. Foi então que percebeu que não queria ficar sozinho, por que não queria pensar. Trocou-se rapidamente e desceu para tomar café junto com os outros.

Era o último dia que passaria naquele castelo. Talvez o último dia que veria muitos de seus amigos. Sua última chance de falar com ela.



Rony Weasley não era bonito, mas também não era feio. Tinha um charme natural que, junto com seu bom humor, conquistava muitas garotas. Ele não sentiria nem um pouco de falta daquele castelo. Sentiria falta sim, de seus amigos e da comida dos elfos de Hogwarts. Mas decididamente não sentiria falta do castelo. “Tem muitas aranhas”, pesou consigo.



Mas agora todo o bom humor havia se esvaído. Entrou no salão principal e correu os olhos pela mesa da grifinória, ela já estava lá. Estava sentada ao lado de Harry, como sempre. Por que ela nunca se sentava ao seu lado? Permaneceu observando-a enquanto caminhava em direção ao seu lugar. Viu-a dizendo a um terceiroanista para não se sentar ali, de frente para ela. Isso fez seu humor melhorar um pouco.

Sentou-se e fez sua refeição em silêncio. Na verdade não se poderia chamar aquilo de refeição, pois ele passou o café da manhã inteiro mastigando o mesmo pedaço de torrada para simplesmente cuspi-lo todo ao ver Harry dar um beijo em Gina, bem diante de seus olhos.

Ele andara pensando seriamente e havia se decidido. Tinha que falar com ela. Ou então, mais tarde, se arrependeria profundamente por não ter corrido o risco. Mas não sabia o que dizer, não sabia ao menos por onde começar.

Dirigiu-se as portas do salão da mesma forma como havia se dirigido à porta do banheiro mais cedo, seu mau humor no mesmo estágio de antes graças à notícia do namoro de Harry e Gina, que lhe fora dada com tanta sensatez.
Foi direto para o dormitório, pois era o único que ainda não havia arrumado o malão. O trem sairia às onze horas, como de costume, e ele precisava falar com ela antes disso, pois não sabia se teria uma boa oportunidade depois que embarcassem.”Ora, crie uma!”, falou para si mesmo.



Já eram dez e meia quanto terminou de arrumar o malão. Desceu as escadas e sentou-se na sua poltrona favorita, de frente para a lareira. Permaneceu ali, sentado, observando o nada, durante tanto tempo que nem se deu conta que já passava das onze e o salão estava vazio. Apenas acordou para a realidade quando sentiu um toque delicado sobre seu ombro. Sabia quem era. Fechou os olhos e respirou fundo uma vez, teria de ser ali, naquele momento. Virou-se para encara-la.



-Mione... Eu tenho que te falar uma coisa.

-Agora não Ron. Você está atrasado. Já arrumou suas malas? Você quase perdeu o expresso, já tínhamos saído quando eu dei por sua falta. Anda, vai pegar sua mala, eu te espero aqui. – A voz dela era ao mesmo tempo preocupada e relaxada.

-Não quero pegar minha mala, estou com preguiça. Tive uma idéia melhor. Accio...

-Ron, eu realmente acho que isso não é... – mas ela não teve tempo de dizer o que ela realmente achava que aquilo não era.

-...Malão. – mas ele se arrependeu dessas palavras um segundo depois de pronunciá-las. O malão veio flutuando acida dos degraus das escadas do dormitório masculino do sétimo ano a uma velocidade incrível. Exatamente na sua direção. Dois segundos após ele ter se arrependido de pronunciar suas últimas palavras foi atingido em cheio no estômago, pela segunda vez naquele mesmo dia, e empurrado para dentro da lareira.

-Ai Rony! Só você mesmo pra me aprontar uma dessas. E não adianta nem pensar que eu vou esperar que você tome banho, você vai tomar o expresso sujo de cinzas como está e tomará banho apenas quando chegar á toca. Anda logo. – Ela praticamente gritava enquanto ajudava-o a sair da lareira.



Caminharam em silêncio absoluto até a carruagem parada à frente do castelo, que trouxera Mione e agora esperava para leva-los de volta a Hogsmead para que pudessem embarcar.

Ele não falou nada tão pouco quando embarcaram, vários alunos olhando-o de cara feia.

Passou a viagem inteira sentado na mesma posição, olhando para fora da janela. Levantando-se apenas uma vez para cumprir sua última tarefa como monitor-chefe e patrulhar os corredores.

Aquela foi à viagem de volta mais curta que ele já sofrera em toda a sua vida. Mal acabara de sentar-se no banco da cabine e já estava se levantando novamente. Tirou sua mala e ajudou Mione com a dela. Tinha que ser ali, ou não seria mais. Já havia reunido toda a coragem necessária para aquilo antes, conseguiria novamente.

Abriu a boca, mas as palavras não saíram. Fez um gesto para que a garota o seguisse e guiou-a até um canto mais deserto da estação. Seu coração acelerado, as mãos suando frio, e as palavras entaladas na garganta.



-Mione... Eu tenho que te falar uma coisa. – Não, estava errado. Já havia começado daquela forma antes e não havia dado certo. Ao menos havia iniciado o diálogo, agora tinha apenas que continuar. – Eu queria te dizer que... – Ele parou. Nunca havia pensado que pudesse sentir tanta dificuldade apenas para falar. Achava que seria mais fácil falar com os pulmões perfurados do que dizer aquelas palavras a ela.

-Você queria me dizer que... – Na verdade ela sabia, tinha quase certeza do que era. Havia esperado tanto por aquele momento. Precisava ouvir as palavras saírem da boca dele.

-É que... Eu só queria que você soubesse que... – Ele queria, realmente queria dizer que gostava dela, talvez até que a amava. Mas as palavras subiam por sua garganta como se ele fosse vomita-las a qualquer momento, então simplesmente entalavam, ficavam presas ali, sufocando-o. – Que... Mione, eu gosto de você. – Pronto. Ele havia conseguido. Dissera aquilo que há tanto tempo o atormentava.

-Ah... Ron! Era isso? Eu também gosto muito de você, você sabe disso. Você e o Harry são os meus melhores amigos no mundo inteiro. – Ela o estava torturando, sabia disso. Mas esperara tanto tempo, e fora tão bom ouvir aquelas palavras que simplesmente não pôde se conter. Teve que se segurar muito para não rir, tão engraçada era a cara que ele fizera.


Ele não estava conseguindo acreditar nos seus ouvidos. Aquilo não era verdade, aquilo simplesmente não podia ser verdade. Era fruto de sua imaginação. É! Isso. Ele havia apenas imaginado ouvir aquilo, por que, na verdade, ela não havia pronunciado aquelas palavras. Disfarçadamente ele colocou as mãos para trás e se beliscou com toda a força que pode reunir naquele momento. Doeu. Doeu muito. É, parecia que era verdade sim, ela realmente havia dito aquelas palavras. Será que era possível que ele fosse um ser tão incompreensível assim? Já não bastava o sacrifício que ele havia feito para dizer aquilo tudo uma vez, teria que repetir? Mas agora que começara teria que ir até o fim.



-Não Mione... Você não me entendeu. – Impossível. Colocara toda a coragem que tinha naquela última frase, não lhe restara nenhuma. Mas ele falaria. Ao menos uma vez na vida não deixaria a covardia vence-lo. – Você decididamente não me entendeu. Eu... Eu... Re... Realmente... Eu realmente gosto de você.
>br>-Eu também realmente gosto de você! Rony, o que você tem? – Ela quase chegava a sentir pena dele, tamanha era a tortura pela qual ele parecia estar passando. Quase. Por que na verdade ela estava adorando aquilo tudo. Tudo o que ela passara nas últimas semanas, todas as suas dúvidas, seus medos, a nostalgia... Tudo estava sendo soprado para longe com a brisa suave daquelas palavras.


Aquilo realmente não estava dando certo. Por mais que ele tentasse não conseguia se fazer compreender. Teve uma idéia. Ele não conseguia falar, mas ainda conseguia se mexer. Se não podia fazer com que ela compreendesse de uma forma, faria com que compreendesse de outra.



-Isso. – Foi a única resposta que ele deu àquela pergunta antes de começar a se aproximar cada vez mais dela, até finalmente beija-la. – Eu realmente gosto de você, Mione. – Disse após, finalmente, soltá-la. Era incrível, mas após aquele beijo ele conseguia pronunciar cada sílaba realmente bem. Deveria ter recorrido àquela saída mais cedo.

-Agora eu entendi. – Ela disse esboçando um lindo sorriso. Ela realmente não esperava por aquilo, mas foi o melhor que já lhe acontecera. – Ah, e... Eu também gosto de você. – E, dito isso, ela puxou-o pelo pescoço e eles voltaram a se beijar.



~*~



Há alguns metros de distância a cena era assistida por uma certa ruiva de olhos castanhos juntamente com um certo moreno de olhos verdes.



-Eu não te disse. Você me deve três galeões. – A garota ruiva disse estendendo a mão para o namorado.

-Maldita aposta. – Ele resmungava enquanto pagava para ela os galeões.

-Obrigado, foi muito bom fazer negócios com você, querido. – Ela disse exibindo um radiante sorriso e puxando-o para além da parede antes que o mais novo casal pudesse notar alguma coisa.



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