Único (?)



MILAGRE DE NATAL

Os primeiros flocos de neve haviam começado a cair há uma semana. Brancos, fofinhos, imaculados. Agora, já cobriam boa parte das ruas e calçadas e, por toda a parte, famílias retiravam a neve acumulada da entrada de suas casas. Lily costumava associar aquela época do ano a milagres. A ruiva sorriu ao lembrar que fora naquela época do ano que ela havia realizado magia pela primeira vez. Queria tanto comer os biscoitos natalinos da mãe naquele natal e eles estavam demorando tanto para assar!

Ah, aqueles biscoitos! Como sentia falta deles agora, do cheiro deles, do sabor! E não se tratava apenas do sabor do chocolate, não, não era isso que os fazia assim tão especiais. Era, sim, o zelo com que a mãe os preparava. Aquele cuidado com cada um dos ingredientes, aquele carinho e, sobretudo, o fato dela só fazê-los no natal. Assim, eles ganhavam sabor de presentes, de neve, de família reunida, de sorrisos abertos e noites de cantoria sem fim. Tinham sabor da mais pura união. Em uma época em que ainda havia união.

Fora também naquela época do ano que ela ficara, pela primeira vez, longe da família em alguma festividade: o primeiro natal depois de ter entrado em Hogwarts. O mais triste e também o mais mágico – literalmente – dos seus natais. A moça sorriu com a lembrança, ao mesmo tempo em que uma lágrima solitária ia alojar-se no canto curvado de seus lábios. Que boba ela fora! Deixara de ir para casa tão somente por causa das hostilidades de Petúnia. De fato, desde a sua primeira manifestação de magia, as duas haviam começado a brigar em demasiado. Mas foi depois que Lily recebeu a carta de Hogwarts – melhor, depois que Lily recebeu a carta de Hogwarts – que as coisas mudaram realmente. Nada de conversas até a meia noite. Nada de escapulidas até a pracinha. Nada de cumplicidade.

A ruiva balançou a cabeça, afastando os maus pensamentos. Até porque não tinha como conservar maus pensamentos ao se dar conta de que, em um dia exatamente como aquele, ela descobrira o que era amar pela primeira vez. Não simplesmente gostar de um garoto, mas amar, aquele amor que te faz gargalhar sem motivo e aquece o peito como vinho mediterrâneo em uma noite fria. Há exatos 4 anos, ela descobrira o quanto amava James Potter.

Fora de repente. A conclusão de que o amava, claro, não o amor em si. Na realidade, já eram amigos desde o início do ano. E, naquele natal, seu pai a deixara. Charles Harry Evans dizia que ela era a luz dos olhos dele, mas a verdade é que ele era o sol do mundo dela. Eles compartilhavam tudo, desde o mesmo tom de olhos – um verde vívido e esmeraldino – até os gostos por comida e interesses. Ao contrário da mãe, ele não colocava panos quentes quando Petúnia a chamava de aberração. Ele era o único que sabia que ela fingia não ligar para os insultos, mas que à noite, quando recostava a cabeça no travesseiro, a garota chorava até dormir. E era ele quem se deitava com ela, abraçando-a por trás e consolando-a.

Até aquele natal, ela achava que só seria capaz de amar assim um homem na sua vida, e tinha a doce ilusão – típica dos inocentes – de que esse homem viveria até que ela estivesse preparada para vê-lo partir. Olhando pela janela, era como se Lily o visse acenando pra ela em meio à neve. De fato, ela nunca estaria preparada para vê-lo partir. E, de fato, ela amaria perdidamente outro homem na sua vida.

Foi o que ela descobriu naquele natal, enquanto chorava desesperadamente, em choque, sem chão, perdida, desejando morrer também... James a abraçou por trás, impedindo-a de ferir-se a si mesma em meio ao desespero. Ao contrário dos outros, ele não recuou quando ela gritou que ele se afastasse. Ele não reagiu quando ela tentou feri-lo, como que para esquecer a própria dor. E ele também não se deixou abalar quando ela simplesmente gritou em meio ao desespero, explodindo magicamente as janelas do dormitório de maneira involuntária. Ele simplesmente ficou lá, ao lado dela, sem deixar de abraçá-la. Naquela mesma noite, ela descobriu o poder dos braços de James de fazê-la sentir-se segura. Ele a manteve entre seus braços a noite toda e, quando os primeiros raios de sol começaram a despontar no horizonte, ela se rendeu ao cansaço. Dormiu sem sonhar, enquanto o moreno velava seus sono.

Dois anos depois, os flocos de neve foram testemunha de mais um dos milagres da sua vida. James a pedira em casamento no dia 24 de dezembro, em meio à tardia primeira neve do ano. Ela jamais julgara que pudesse se sentir mais feliz. O sol não brilhava no céu, mas parecia aquecê-la toda por dentro. A ruiva agora lembrava-se de ter agradecido a bondade de Deus, que lhe dava um novo Sol, como que ressarcindo-lhe pelo outro que ela perdera antes. Um jamais poderia substituir o outro, mas apesar de diferentes em vários aspectos, ambos a aqueciam da mesma forma.

Dois meses depois ela havia se tornado oficialmente Lily Evans Potter. Não conseguira esperar até o próximo natal, apesar daquela data ter tanto significado na vida dela. E ainda bem que ela não esperara, já que assim sua mãe pudera ser testemunha da sua mais absoluta felicidade. Rose Donnovan Evans morrera três meses depois. Lily jamais comeria aqueles biscoitos novamente. Não os mesmos, preparados pelas mãos preciosas daquela que jamais a abandonaria em seu coração. Uma outra lágrima juntou-se às anteriores no canto de sua boca e juntas elas trilharam o contorno do queixo delicado da ruiva. Sim, apesar de toda a dor da recente perda, o canto de sua boca ainda se curvava em um sorriso. Era impossível não sorrir com todas as lembranças tão especiais que ela tinha dos pais, dos amigos, de James...

E agora, novamente, Deus parecia abrir-lhe uma janela, apesar de ter fechado uma importante porta. Lily perdera a mãe, mas ganhara um novo presente. Ganhara um novo milagre, o seu milagre. Pensando agora, deu-se conta de que enganara-se enormemente: ela amaria, de fato, três homens na sua vida.


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N/A: Bom, antes de tudo, espero que vocês tenham entendido qual é o milagre da Lily e quem é o terceiro homem da vida dela... Essa fic é meio que um "surto da uma da manhã" - do tipo que se tem quando o sono não vem (que graça, rimooou!). Acho que eu tô um pouco emotiva, e ainda tem a chegada do natal etc...

Bom, na realidade o fim meio que é esse mesmo, mas se vocês gostarem, eu posso fazer uma continuação - com diálogos dessa vez haha - com o James aparecendo de verdade =P

Então não tem jeito galerinha... vocês vão ter que comentar!

Se quiserem a continuação, let me know... na verdade, eu acho que vou escrever de qualquer forma, porque ela já está na minha cabeça... mas só posto se houver interessados!

Beijooos =)



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