Verdades não ditas



Hermione caminhava calmamente pelos corredores em direção ao salão principal. Ela já não era mais a mesma menininha dentuça e metida à sabe-tudo que fora no passado. Agora ela já era uma mulher, uma bela mulher. Os anos haviam acentuado sua beleza e ela já não se exibia tanto por saber das coisas. Tornou-se mais recatada e misteriosa com seus assuntos.

Após as aulas ela disse aos meninos que iria até a biblioteca para terminar um trabalho, mas na verdade aproveitara o tempo para dar uma volta pelo castelo, rever seus lugares favoritos e lembrar dos muitos momentos de alegria que vivera ali. Era agora a última semana que passaria naquele castelo ao qual, durante tanto tempo, ela chamou de lar. Sem que percebesse uma lágrima solitária rolou por sua face, mas ela a secou rapidamente, como se aquele simples gesto pudesse desencorajar a formação de novas lágrimas.

Não estava com fome, mas não perderia a oportunidade de presenciar novamente um jantar no castelo de Hogwarts, pois talvez nunca mais pudesse ter isso novamente. Entrou no salão principal exibindo um radiante sorriso, escondera suas tristezas e temores com uma máscara de alegria. Não queria passara aos amigos aquele clima de nostalgia, seria muito chato caso mais alguém além dela ficasse naquele estado.

Sentou-se ao lado de Harry e de frente para Rony, como sempre fizera. Puxou para perto de si um prato com bolinhos e iniciou uma discussão com os amigos sobre qualquer assunto sem muita importância. Ela nunca fora de se envolver naquelas discussões banais que circulavam pela mesa da grifinória durante as refeições, mas agora ela queria aproveitar cada momento que lhe restava dentro do castelo e de repente as tais discussões começaram a parecer muito mais interessantes.

Após o jantar seguiu para a torre grifinória junto a Harry e Rony. Desta vez escolheram um caminho mais longo que passava por diferentes partes do castelo. Os três caminhavam calmamente pelos corredores apontando lugares onde viveram algumas de suas tantas aventuras dos anos de escola. Passaram pelo terceiro andar, pelo banheiro da murta, pela sala precisa e até mesmo pela enfermaria, onde passaram tantos dias internados após suas escapadas proibidas, entre outros lugares.

Voltaram para o salão comunal e encontraram uma festa surpresa de despedida. Ao que parecia os gêmeos Weasley haviam mandado alguns presentes para Gina e ela havia resolvido distribuir entre os amigos. Por isso quando os três entraram no salão comunal e se sentaram nas poltronas de frente para a lareira havia montes de fogos de artifícios voando pelo teto e vários alunos banguelas. Provavelmente eles voltariam ao normal dentro de algumas horas. Os três se serviram de cervejas amanteigadas e continuaram conversando com Gina e Neville.

Já passava um pouco da meia-noite e restavam apenas Harry, Rony e hermione no salão comunal quando Rony anunciou que estava com sono e iria dormir. Harry fez menção de se levantar para seguir o amigo, mas Mione fez sinal para que ele permanecesse sentado e esperasse que Rony fosse para op dormitório. Assim que este subiu eles iniciaram uma conversa.


-Você queria falar comigo? – Perguntou Harry fitando Mione.

-Queria. – Mione falou meio incerta. Ao ver que a amiga não se manifestava Harry resolveu incentiva-la.

-Algum problema Mione?

-Não. É que eu... Harry será que você podia me emprestar a sua capa da invisibilidade? É só essa noite, eu prometo que te devolvo hoje assim que você acordar. – Ela falou isso tudo tão rápido que harry teve que prestar muita atenção e teve bastante dificuldade para entender.

-Era só isso? Claro que eu te empresto Mione. Espera só um minuto. – E, dizendo isso, subiu as escadas em direção ao dormitório para apanhar a capa voltando poucos minutos depois e entregando-o a ela enquanto murmurava um boa noite.


Ela não sabia ao certo aonde ir, queria apenas sair daquela torre, pois já estava se sentindo sufocada ali. Caminhou se rumo pelos corredores durante muito tempo até que resolveu fazer uma visita à torre de astronomia. Sentou-se de frente para uma das janelas e se pôs a observar as estrelas. Várias lembranças começaram a passar diante de seus olhos, como um filme resumido de sua vida desde os onze anos de idade. Se viu ali, naquela mesma torre, esperando os amigos de Carlinhos Weasley que viriam aqui para buscar Norberto e leva-lo para viver com seus iguais.

A cada lembrança o coração dela se apertava um pouquinho mais. Mas haviam algumas que eram especiais, lembranças que a faziam sentir muito mais que quaisquer outras poderiam fazer.


~*~


Estava no terceiro ano. Caminhava junto com Rony para Hogsmead, Harry ainda não possuía sua autorização, por isso não podia acompanha-los.


-Nossa, como está frio aqui, acho que vou congelar. – Disse puxando o casaco para mais junto de si. Quando terminou de pronunciar a última palavra sentiu um braço passando por cima de seu ombro e olhou instintivamente para Rony.

-Assim você não congela. – Foi tudo o que ele disse.


Diante desse gesto ela levantou sua mão e entrelaçou seus dedos aos o amigo, que estavam pousados sobre seu ombro. Assim seguiram conversando alegremente até chegarem ao três vassouras.


~*~


Não queria ir embora dali. Não queria porque aquele lugar já fazia parte dela. Já se acostumara a acordar todos os dias mirando o teto branco acima de sua cama de dossel. Já se acostumara a fazer suas refeições enquanto ouvia o burburinho de seus amigos atrapalhando sua leitura. Já se acostumara a vê-lo sorrir para ela todos os dias. Já se acostumara as brigas sem importância e às reconciliações engraçadas.


~*~


-Eu realmente não sei por que você está lendo isso. Esse livro é muito chato e você já conhece toda a história. Vamos fazer algo diferente hoje. – Ele desfilava de um lado para o outro na sua frente. Tinham quinze anos e estavam esperando Harry chegar a cede da ordem.


-Rony eu gosto desse livro. Além do mais, caso você ainda não tenha percebido, não há nada mais interessante para nós fazermos então senta a bunda nessa cadeira e me deixar ler em paz! – Ela realmente não suportava aquele gênio inquieto do amigo. Aquela mania que ele tinha de ficar andando de um lado para o outro era profundamente irritante, mas ela não podia dizer isso a ele. Por que caso o fizesse ele continuaria, mas de propósito e isso a irritaria ainda mais.

-Mione você é muito chata às vezes, sabia disso? – Ele disse se jogando no banco á sua frente.

-Sabia, por que você não me deixa esquecer! – Dizendo isso fechou o livro com força e saiu andando em direção ao seu quarto, seguida pelos gritos da Sra. Black.


~*~


Como sentiria falta daquelas brigas. Como sentiria falta dele. A primeira impressão que teve de Rony era que ele era um idiota e, com o passar do tempo, acabou descobrindo que estava certa a respeito disso. Mas ele conseguia fazer com que ela se esquecesse de qualquer problema quando estavam juntos. Ela realmente gostava de sua companhia.


~*~


Ela estava sentada no gramado com as costas encostadas a uma árvore. Harry estava sentado a um lado seu e do outro Rony se encontrava deitado de barriga para baixo escrevendo freneticamente enquanto consultava alguns dados em um livro muito antigo da biblioteca.


-Mione posso ver a sua redação da Profa. Macgonagal sobre o feitiço da invisibilidade? – Rony disse virando-se para encara-la.

-Pode claro. Está na minha mochila em cima da cama do dormitório feminino do sexto ano lá na torre grifinória. Fique à vontade. – Ela respondeu sem ao menos tirar os olhos do pergaminho onde escrevia.

-Quando foi que você terminou? – Ele parecia um pouco pasmo com a agilidade da garota.

-Ontem à noite, enquanto você patrulhava os corredores.

-Ah. Então pra quem é esse dever? Que eu saiba você já está com tudo em dia. – Ele se apoiou na mão direita e começou a elevar a cabeça para tentar ver o pergaminho em suas mãos.

-Não é dever Rony, é uma carta.

-Carta pra quem mione? Você não escreveu para os seus pais ontem? – Falou Harry, que até agora estivera apenas observando a conversa dos dois.

-Não é para os meus pais. – Disse ela pousando a pena no gramado e dobrando o pergaminho. – É para o Victor.

-Krum? Você continua se correspondendo com aquele idiota? Antes dava até pra entender, ele era um grande jogador e tudo, mas agora... Você já viu como o time dele está mal? Nunca vi uma derrota tão feia em toda a minha vida como a do último jogo em que esse panaca participou.


Ela apenas recolheu suas coisas e saiu caminhando em direção ao castelo. Ignorar os comentários do amigo era a melhor coisa que podia fazer.


~*~


Fora a primeira vez que o ouvira falar mal do quadribol. Era tão engraçado vê-lo criticar seu esporte favorito. Tudo isso por ela, a única pessoa capaz de leva-lo aos extremos, do mais inofensivo bom humor até a mais assassina ira. Adorava deixa-lo com ciúmes, ou ao menos com o que ela julgava serem ciúmes.

Queria que não estivessem na última semana de aula do sétimo ano. Queria poder voltar ao primeiro dia de aula do primeiro ano e reviver cada uma daquelas tão adoradas cenas.
Mas isso era passado, já havia cometido vários erros e não podia fazer mais nada. Fora muito feliz até aquele momento, disso podia ter certeza.


~*~


Estava sentada com Victor em uma mesa ao fundo do três vassouras. Harry havia levado Rony a uma nova loja para artigos esportivos que abrira há poucos dias. Não queria que ele a visse ali, sentada com Victor. Não queria dar maiores motivos para que ele pensasse que havia algo mais que amizade entre os dois.

O sino na porta tocou, o que indicava que haviam chegado mais clientes. De repente sentiu que alguém caminhava rapidamente em sua direção. Pode apenas virar o rosto a tempo de ver Rony largar um embrulho na mesa diante de si e sair ventando do pub.


-Desculpe Mione. Ele comprou isso pra você e sem querer eu deixei escapar que você estava aqui, então ele quis entregar. – Foi tudo o que pode ouvir Harry dizer antes de agarrar o embrulho murmurar qualquer despedida para Victor e sair ventando atrás de Rony.


Encontrou-o sentado em uma pedra em um lugar afastado do povoado. Ele estava sentado de costas para ela, por isso não pôde vê-la se aproximar silenciosamente dele. Ela tocou em seu ombro com delicadeza e sentiu-o esquivar-se.


-Vai embora. Não quero falar com você agora. – Ele disse isso quase num sussurro. Sua voz estava embargada de um sentimento que ela não pôde reconhecer.


Respeitando as vontades do amigo ela saiu caminhando silenciosamente. Mas não voltou ao Três Vassouras, nem ao povoado tão pouco. Voltou caminhando para o castelo e passou o resto do dia trancada no dormitório em companhia apenas de seus livros.


~*~


A única vez em que o viu daquele jeito. Sempre que ele ficava triste ele procurava a companhia dos amigos para conversar e tentar esquecer os problemas, mas naquele dia ele quis ficar sozinho. Talvez tenha sido a única vez em que ele ficara tão triste, não sabia. Depois daquele dia ela também nunca mais sustentara qualquer tipo de contato com Victor. Achava que não suportaria ver Rony daquela forma novamente.


O vento batia em seu rosto e jogava seus cabelos para trás. Ela sabia o que era quilo que estava sentindo. Ela realmente gostava de Rony, não apenas como amigo. Mas tinha medo de dizer aquilo a ele. Tinha medo que ele não sentisse o mesmo por ela. Ele era tão misterioso, tão indecifrável nesses assuntos. Era incrível. Ela conhecia o amigo como um livro ao qual já lera e relera várias vezes, conhecia seu time favorito de quadribol, sua comida favorita, o que gostava de fazer o que não gostava... Tudo. Mas simplesmente não sabia nada a respeito dos sentimentos dele. Nunca soube.

Agora ela estava ali, sentada, refletindo sobre tudo o que já viveram juntos. Não pôde evitar que algumas lágrimas rolassem pela sua face ao imaginar que em menos de uma semana teria que se despedir e o veria, talvez, pela última vez.


~*~


Estava deitada na grama a beira do lago da lula gigante. Suas pernas estavam dobradas para cima e seus braços estendidos para o alto segurando Rony, que se encontrava de pé atrás dela curvado para frente apoiando-se em suas mãos. Ambos riam estridentemente. Era uma cena engraçada, já que Rony havia acabado de escorregar e quase voara com tudo em direção ao lago.

Ele já estava vermelho e não conseguia parar de rir por tempo suficiente para poder se levantar e se sustentar por suas próprias pernas, por isso mantinha-se naquela posição, apoiado em Mione. Esta por sua vez também ria muito e já quase não conseguia sustentar o peso do amigo sobre seus braços. Foi quando seus cotovelos se dobraram e o apoio de Rony cedeu.

Ela assistiu aquela cena em câmera lenta. Primeiro seus cotovelos se dobraram e foram baixando até baterem no chão e provocarem uma dor horrível, que ela não sentiu no momento. Então Rony veio caindo junto, cada vez mais para baixo, bem diante de seus olhos. Então aconteceu; ele terminou de cair e seus lábios se tocaram por uma fração de segundos que passou se arrastando como cinco minutos inteiros.

Eles já não estavam mais rindo. Rony se levantou o mais rápida e desajeitadamente que pode e se pôs a andar rapidamente em direção ao castelo murmurando alguma coisa sobre dever de casa. Ela ainda permaneceu deitada ali durante um bom tempo apreciando a beleza de um maravilhosos céu nublado.


~*~


Deitou-se no chão frio de pedra sem se importar se corria ou não o risco de sofrer um choque térmico.

Havia apenas duas opções para o dilema no qual ela se encontrava. Ou ela falava com Rony sobre seus sentimentos e corria o risco de estragar a amizade deles ou ela seguia em frente e tentava esquecer tudo aquilo.
Ela faria faculdade de poções e ele iria trabalhar na loja dos gêmeos. Não sabia se voltariam a se ver, pois nenhum dos três tocara no assunto de fim de ano ainda e ela não queria ser a primeira.


De um salto se pôs de pé, cobriu-se com a capa da invisibilidade e, dando um último olhar para o céu estrelado de madrugada, pôs-se a cainhar de volta a torre grifinória. Havia tomado sua decisão.

Não falaria nada. Caso ele sentisse algo por ela ele tocaria no assunto, caso contrário seria melhor que continuassem como amigos do que se tornarem apenas estranhos.

Não era uma decisão satisfatória, mas era a melhor que podia tomar. Ela não podia simplesmente deixar que seu mundo girasse em torno daquilo. Havia muito mais com o que se preocupar. Ela estava abandonando o mundo de segurança no qual vivia e se lançando a um mar de incertezas, onde teria que batalhar e conseguir tudo por si mesma. Tudo o que podia fazer era tocar sua vida em frente e ver o que aconteceria, tentando fazer sempre o melhor.


N/A:Eu disse que a história é baseada em fatos reains por que eu estou passando por um momento muito parecido com o que a Mione vive na fic. Acho mais fácil colocar os personagens na mesma situação que eu e tentar resolvê-la como se fosse um livro do que simplesmente ficar escrevendo em diários para desabafar. Essa é a primeira Ron/Mione que eu escrevo. Espero que tenham gostao de ler tanto quanto eu de escrever, por isso mandem comentários com suas opiniões, sejam elas boas ou ruins. Mas, por favor, se não gostaram digam ao menos o que está errado.


~*~Mil beijocas para todos!~*~

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