Uma vida toda pela frente



When the sun shines, we'll shine together
Told you I'll be here forever
Said I'll always be your friend
Took a note I'm a stick it out 'till the end
Now that it's raining more than ever
Know that we'll still have each other
You can stand under my umbrella



Ginny estava tão aliviada, triste e pesarosa. Queria chorar até não poder mais, queria correr e pular de alegria. E ainda assim, queria apenas deixar o peso das perdas tomar conta de si, sentar e chorar por longas horas, como se isso fosse trazer de volta as vidas perdidas.

Estava tão aturdida no meio desse mar de sentimentos, que mal percebera que andara caminhando aleatoriamente pelo grande salão. Andava por entre os escombros, corpos e pessoas. Pessoas que não sabiam se riam ou choravam, como ela; famílias reunidas, velando seus mortos e comemorando a vida. Tudo ali era um grande sonho e um grande pesadelo. O terror e a comemoração davam as mãos e andavam lado a lado. Então alguém a segurou pela mão, ela levou um susto e se virou. Encontrou duas grandes orbes azuis carinhosas e sonhadoras encarando-a incisivamente.

- Você precisa descansar - Luna disse como se estivesse prevendo o futuro dela, com um ar etéreo.

- Ah... bem. É, todo mundo precisa - respondeu sem saber exatamente o que fazer, ainda perdida.

Luna a puxou por entre aquela multidão de pessoas, até o hall de entrada. Ginny não tinha forças nem motivos para questionar, apenas a seguiu imaginando o que a amiga poderia querer.

- Vá para o seu salão comunal, descanse um pouco. Você foi incrível.

- Ah...

- Anda. Harry também estava precisando de um tempo sozinho. Talvez vocês precisem de um tempo sozinhos, juntos - dizendo isso ela se virou e voltou a entrar no grande salão.

Ginny ficou um pouco atônita, perguntando como Luna poderia saber onde Harry estava, e se perguntando também se queria vê-lo. Ou mesmo se ele queria vê-la. Se escolhera ficar sozinho, longe de todos, ela não deveria atrapalhá-lo. Ron e Hermione deviam estar com ele, os três compartilhavam algo do qual Ginny jamais faria parte. Ela não gostava de interrompê-los.

Com um suspiro cansado, começou a subir as escadas. Não tinha para onde ir mesmo. Se encontrasse os três com aquele típico ar confabulante, apenas iria para o seu próprio dormitório e descasaria. Não queria chorar, não queria comemorar. Os dois sentimentos eram conflitantes e intensos, ela não sentia que era justo escolher um deles para sentir. Talvez precisasse mesmo de um descanso.

Quando chegou ao corredor do sétimo andar, se deu conta de que não sabia qual era a nova senha para a entrada. Há muito tempo estava vivendo com os outros escondida na Sala Precisa... droga, seria uma perda de tempo tentar algo. Havia alguma chance da mulher gorda não ter mudado a senha? Na verdade... Ginny nem ao menos se lembrava qual havia sido a última senha. Albetos Algozes...? Invernium Solaris?

Antes que pudesse se reter e voltar, deu de cara com a mulher gorda, não soube o que dizer, estava pensando em pedi-la encarecidamente, dar-lhe motivos, explicar o cansaço da luta, mas não precisou de nada disso, o retrato apenas a sorriu.

- Entre, você deve estar cansada querida.

Ginny tentou sorrir de volta para ela. Não conseguiu, apenas acenou com a cabeça em agradecimento enquanto o quadro girava revelando o típico buraco, entrou.

Suspirou resignada ao ver o salão comunal deserto. Era tão atípico, o silêncio, o vazio... tudo naquele dia era atípico, era um dia que entraria para a história.

Estava já andando na direção de seu próprio dormitório quando ouviu um som de tosse. Virou-se e encontrou Harry, sentado em uma poltrona com um prato no colo e o que parecia ser um sanduíche de carne na mão.

- Você me deu um susto! – ele falou depois de parar de tossir.

- Estou tão feia assim? – perguntou com um tom maroto.

Harry riu sem jeito, e ela percebeu que sentia muita falta dele.

- Não. Você está sempre linda. É só que não esperava te ver aqui.

- Posso me sentar? – perguntou apontando para o lugar ao lado dele. Estava pronta para receber um não, ou uma desculpa, pronta para se virar e subir em direção ao dormitório. Era óbvio que ele queria ficar sozinho.

- C-claro.

Harry parecia sem jeito. Ginny sorriu para ele, tentando reconfortá-lo quando ela mesma sentia que precisava de consolo. Sentou-se a seu lado e ficaram um bom tempo em silêncio, enquanto ele comia seu sanduíche e ela olhava as formas do fogo na lareira sem enxergá-los, imaginava que aquela cor - a mais próxima das toras - era do tom exato dos cabelos de Fred ao sol. O mesmíssimo tom.

Bufou e sorriu. Estava sendo ridícula. Aquela havia sido uma comparação ridícula a se fazer. Não era hora de ficar sendo melancólica, ninguém precisava daquilo, ela não precisava daquilo. Olhou de esguelha para Harry e percebeu que ele descansava a cabeça no encosto, cochilando abertamente.

Ginny se permitiu um ato frívolo, esticou os dedos frios e passou-os pelo rosto sujo de Harry, delineando seus traços. Ele deu um leve tremor, encolhendo-se ao toque. Ginny sorriu do ato, mas não retirou a mão do rosto dele. Sentia que precisava tocá-lo, torná-lo real, saber que ele não sumiria dali do lado dela.

- Sua mão está tão gelada...

De repente duas orbes verdes a encaravam, os óculos tortos no rosto. Ginny ficou sem jeito, mas sorriu, dando de ombros.

- Deixa que eu as aqueço – e dizendo isso Harry começou a friccionar as mãos dela contra suas próprias, vez ou outra dava rápidos beijos por sobre elas, mirando as sardas esporádicas com carinho. – Acho que eu estou é sujando a sua mão... – comentou em tom de culpa após um tempo, olhava da mancha negra que surgia na mão de Ginny para seus dedos enegrecidos com unhas completamente sujas.

- Eu não ligo – respondeu ela um pouco mais prontamente do que deveria. – Eu não ligo. Gosto de dar as mãos com você – e deu de ombros, era verdade afinal.

Harry sorriu tolamente enquanto se recostava no sofá e parecia voltar ao cochilo, suas mãos dadas com as de Ginny, que se permitiu encostar a cabeça no ombro dele, mal notando a sujeira ou os rasgos ali na roupa.

Ele esticou um dos braços e a envolveu em um abraço quente e confortável. Ginny entrelaçou os dedos com os deles e percebeu que tinha agora pela frente uma perspectiva de dias, meses e anos para ficar naquela mesma posição com ele, aonde quer que fosse, quando quisesse. Nascia ali um novo mundo, um novo Harry, uma nova Ginny. Uma nova vida. Eles tinham a vida toda pela frente.

You can run into my arms
It's okay, don't be alarmed
Come into me
(There's no distance in between our love)
So gonna let the rain pour
I'll be all you need and more





N/A: Essa ficlet foi de certa forma embalada pela letra de Umbrella - Riahnna. A música como um todo não tem muuuito a ver não, mas a letra se encaixa como uma luva nessa ficlet *-*

Bom, chega de lenga lenga, e lembre-se, comentários não fazem o dedo cair e eu adoro saber se alguém pelo menos chegou até o fim da história, por isso, comente e me avise ;)

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