NOITE DE AMORES IMPOSSÍVEIS

NOITE DE AMORES IMPOSSÍVEIS



Draco Malfoy mal continha sua alegria. Seu plano dera trabalho, mas funcionara às mil maravilhas. A poção precisara ser cozinhada o dia inteiro e os diversos colegas se revezaram nessa tarefa. Mas o que mais lhe dava satisfação era o fato de que usara a Professora MacGonagall, a própria diretora da Casa de Grifinória, para fazer aquele maldito Potter beber a cerveja amanteigada com a poção.

E o idiota, de tanta raiva, nem percebera.

Draco estava feliz e ria sem muitos motivos. Sua parceira, Pansy Parkinson, mesmo sem saber de todo o plano, prontificara-se a ajudá-lo e agora ria, satisfeita, agarrada ao braço do garoto loiro.

Crabbe, Goyle e Zabini seguiam a dupla, cada um acompanhado de garotas de sua própria casa. A certa altura, Goyle, que parecia satisfeito que o plano tivesse funcionado, mas não conseguira, certamente por seu intelecto limitado, apreciá-lo em sua inteireza, não se agüentando, perguntou a Draco:

- Mas Draco, será que finalmente você poderia dizer que raio de poção era aquela? - Será que o Potter vai sumir para sempre ou algo parecido? - conjeturou o garoto.

- Não tanto Goyle, mas com certeza será muito mais divertido - respondeu Draco.

O garoto que efetivamente, até aquela altura, nada revelara sobre a poção, saboreou, por um momento, o efeito do suspense, mas finalmente respondeu:

-Aquela é a poção do " Liquor Potentiae", que maximiza os efeitos de qualquer bebida que se tome. E, a essa altura, o nosso amiguinho Potter deve estar totalmente, irremediavelmente e perdidamente...

-BÊBADO! - gritaram os outros, alegremente.

xxx

Dino e Gina caminharam devagar até um canto distante do salão. A ruiva ruminava silenciosa que aquela parecia ser uma noite de oportunidades perdidas. Dino, por sua vez, estava aparvalhado, não somente pelo que acontecera àquela tarde, mas pela desconfiança de que o que acontecera possuía um motivo, e esse motivo respondia pelo nome de Harry Potter.

O episódio que Dino remoia em suas lembranças ocorrera logo após Gina e Hermione se despedirem e a ruiva descer novamente para a Sala Comunal. Dino a esperava ali, aborrecido com seu sumiço após o almoço, quando a ruiva partira repentinamente sem nem se preocupar em dizer para onde iria.

- Pensei que não fosse mais vê-la hoje – disse, finalmente, mal contendo a raiva que sentia.

- Por que a ironia Dino? – tornou a garota, não parecendo muito disposta a contemporizar com o namorado.

- Por quê? – indagou ele, agora totalmente indignado – Porque você some, de repente, como se algo tivesse te perturbando e vai embora sem nem me dizer para onde vai!!! É por isso!!!

- Francamente, Dino Thomas – e a garota assumiu um ar sério – não me consta que eu tenha que fazer um relatório para você de todas as minhas atividades. E se você está achando que é o meu dono só porque estamos namorando, é melhor este namoro começar a fazer parte do passado. Sabe por quê?

O garoto não se atreveu a responder.

- Porque eu sou dona do meu próprio nariz! – Disse isso e deu-lhe as costas, deixando-o à mercê das risadas de uns poucos alunos que se encontravam na Sala Comunal naquele momento.

Agora, enquanto se acomodavam em uma das mesinhas mais distante do burburinho, o ressentimento de Dino parecia ter sumido. Não que não tivesse amor próprio, mas descobrira que a falta que sentia daquela ruivinha ao seu lado superava qualquer aborrecimento que um briga ou outra pudessem ter lhe causado. E foi com esse sentimento que falou calmamente:

- Te procurei, para virmos ao baile, mas me disseram que você já tinha vindo... eu – e hesitou por um momento - queria te pedir desculpas Gina!

A garota balançou a cabeça, demonstrando sua impaciência.

- Não estou mais chateada com você!

- Então nós vamos ficar bem? – Dino perguntou, ansioso.

Ela estudou o seu rosto por um instante. Sabia que o que iria dizer não seria fácil, mas mentir não era uma opção naquele momento.

- Receio que não seja bem assim, Dino. – começou a garota – Não, por favor, não diga nada antes que eu termine – suplicou para o garoto que fazia menção de interrompê-la. – É só que eu não sei mais se namorar você é a coisa certa.... para nós dois.

- É por causa do que eu fiz?

- Não tem nada a ver com o que você fez!

- É por causa dele, não é? – Dino disparou a pergunta antes mesmo de pensar, o ciúme falando mais alto em seu peito.

Gina descobriu, então, que ele sabia, mas não se deu ao trabalho de responder. Permaneceu calada.

- Mas eu não acho que ele goste de você como eu gosto – E antes que Gina pudesse reagir, Dino a havia tomado nos braços e roubado um toque dos lábios da garota.

Gina reagiu, mas não imediatamente e o tempo que perdeu foi o suficiente para que um garoto de olhos verdes testemunhasse o que parecia ser apenas mais um beijo entre dois namorados, para depois partir, rápido, com o coração apertado e uma raiva queimando o peito internamente.

Quando finalmente se livrou de Dino, Gina sabia que Harry tinha estado ali e que suas chances com ele, se um dia tivessem existido, tinham acabado de ser sepultadas definitivamente.

xxx

Não muito distante dali Hermione e Rony contemplavam o céu encantado do castelo que, naquela noite, mostrava uma miríade de estrelas brilhantes, oscilando no firmamento com suavidade quase hipnótica. Desde que chegaram ao baile haviam sentado naquele canto, esquecidos de tudo, contentados com o contato de suas mãos entrelaçadas.

Hermione ainda ria internamente da reação de Rony quando a vira. O garoto pareceu que ia falar, mas se atrapalhou com as palavras, engasgando-se. No fim, contentara-se em soltar um longo e baixo assovio e estendeu-lhe a mão para ajudá-la a descer as escadas do dormitório, num gesto que Hermione tomou como sendo de elogio.

Embora se sentissem bem na companhia do outro e, naquele momento, mais ainda, parecia que uma barreira invisível se erguia quando as palavras tinham que entrar em cena. E o fato é que uma verdade, por mais incontestável que seja, precisa ser revelada para se tornar conhecida. Mas foi rumo ao desconhecido que nossos amigos partiram quando finalmente começaram a conversar naquela noite.

- Rony – disse Hermione, finalmente, parecendo repentinamente preocupada – você viu o Harry por aí? Quer dizer, será que não é melhor o procurarmos?

- Ah Mione – Rony disse despreocupadamente – se eu tivesse vindo sem um par provavelmente estaria me escondendo debaixo do palco. Mas ainda bem que eu – ia dizer “que eu convidei você”, mas, envergonhado, não continuou – bem... que eu tenho um par, não é mesmo?

- Foi por isso então que você me convidou? Para não pagar um mico? – a voz de Hermione continha uma ponta de irritação.

- Não Mione... você sabe que eu... que nós... somos amigos. E do Harry também! – completou o ruivo, como se não fosse o suficiente.

“Ronald Weasley, você é um idiota!” – pensaram os dois ao mesmo tempo.

- Talvez você fosse se divertir mais se tivesse vindo com a Lilá, não é mesmo Uon Uon – Hermione dissera em voz alta o que desejara apenas ter pensado. Mas era tarde demais.

Rubro do queixo até a ponta das orelhas, Rony torcia as mãos numa tentativa desesperada de se controlar. Mas foi inútil.

- Da mesma forma como você se divertiu muito com o Victor Krum naquele baile! – O ruivo levantou-se abruptamente – Acho que é melhor eu ir procurar o Harry. - E partiu, deixando uma bonita garota de vestido preto à beira das lágrimas.

Pouco tempo depois, uma mão pousou no ombro de Hermione. Assustada ela se virou e contemplou Harry Potter, seu amigo, encarando-a com um olhar estranhamente sério.

xxx

Apesar de ser um pouco atrapalhado, Neville Longbotton não raro demonstrava possuir uma sensibilidade incomum. Fora assim, no primeiro ano da escola quando enfrentara os próprios amigos, tentando impedir que se metessem em mais confusões. Fora assim durante o ano passado, quando as reuniões da AD eram uma válvula de escape para a solidão ou para a infelicidade e ele não se furtara em juntar-se aos amigos para enfrentar comensais da morte no Ministério. Era assim, diariamente, em seu talento nas aulas de herbologia. E fora assim quando Neville identificara em Luna Lovegood uma alma gêmea.

Ele sabia que por trás do jeito esquisito da garota, escondia-se alguém que sofria. Escondia-se alguém carente de amigos e de cuidados. Escondia-se alguém que dizia sempre a verdade, por mais incômoda que fosse em sua sinceridade, numa tentativa de tornar o sofrimento menos intenso.

Naquela noite, Neville não se preocupava se Luna seria ou não um par romântico. Queria apenas, por hora, mostrar que era seu amigo de verdade e cuidar dela como nunca sentira vontade de fazê-lo por outra pessoa em sua vida.

Por isso, quando viu seu amigo Harry Potter se aproximar, não teve receio nenhum em deixar Luna com ele, enquanto ia buscar uma bebida para a garota.

xxx

Cerca de quarenta minutos antes...

A vertigem de Harry durara menos de um segundo, mas quando se levantou o mundo não estava menos confuso para ele. A noite ainda não tinha terminado e já passara pela humilhação de ir ao baile sem um par, de ser alvo das brincadeiras do idiota do Malfoy e, o pior tudo, de ver Gina partir para um canto distante do salão com Dino Thomas.

A explosão de raiva, no entanto, não aconteceu, pois uma sensação estranha foi invadindo lentamente a mente de Harry, deixando-o surpreendentemente calmo. Pareceu sentir uma centelha de euforia crescer e tomar conta de todo o seu ser e, repentinamente, ele se sentiu vivo, feliz, confiante, capaz de enfrentar quaisquer perigos, ainda que dissessem respeito a uma certa garota ruiva. Parecia que tinha tomado a Felix Felicis novamente!

Quão enganado estava nosso herói! Harry não sabia, mas a poção de Draco Malfoy funcionara melhor que o esperado e a pior faceta de sua personalidade aflorara, estimulada pela beberagem que o sonserino lhe dera. Não ia tropeçar em suas próprias pernas ou engrolar sua língua quando falasse com alguém, o que não significava que, com o misto de euforia e irresponsabilidade que sentia, não fosse se envolver em confusões de natureza bem mais perigosa.

Harry sentia-se único, sentia-se pronto para tudo, sentia-se pronto para Gina. E foi com essa resolução que partiu na mesma direção em que ela e Dino Thomas haviam ido poucos minutos atrás. Seu demoniozinho interior lhe dizia que aquela relação estava por um fio e não terminaria aquela noite sem que dissesse para a ruiva tudo o que sentia.

Seu olhar varria o salão, procurando, mas ainda não os vira em lugar nenhum. Passou por Simas, apressado, que dançava animado com uma das irmãs Patil. Rodeou o salão do outro lado do palco, até que finalmente os enxergou em uma mesa mais afastada.

Enquanto se aproximava seus olhos não desgrudavam de Gina. Observava-a conversando baixinho com Dino. De repente a ruiva ficou silenciosa e quando Harry finalmente chegou a uma distância suficiente para que o vissem, o que pretendia dizer morreu ali mesmo, em sua garganta, pois Dino acabara de puxar Gina para si e eles se beijaram... um beijo calmo, sereno, que tinha, Harry pareceu crer, o sabor de reconciliação. Passou ligeiro pelos dois, sem nada falar, com a frustração e o ódio revolvendo-se em seu peito.

- “Por Merlin!”- clamou Harry, em seu íntimo – “como ela podia!?. Sentia que era tão fácil para ela beijar aquele garoto, ou qualquer outro, quanto seria difícil para ele beijar qualquer garota que não fosse justamente ela! – E um desejo ardente de vingança se formou em sua mente entorpecida.

Nesse momento viu Rony passar ao seu lado, pálido, sem nem mesmo notá-lo. Mais a frente, sentada, estava uma bonita garota de preto, em cujos olhos cintilavam lágrimas brilhantes.

- “Rony, você é um idiota” – pensou Harry e se aproximou, pousando a mão no ombro de Hermione.

Ela pareceu despertar de um sonho distante quando o encarou, ali parado, olhando-a seriamente.

- Posso sentar? – perguntou Harry – Ou você está muito triste para querer a minha companhia?

A garota não agüentou e as lágrimas finalmente escorreram pelo seu belo rosto. Harry sentou-se e ela o abraçou, por um momento, dando vazão à sua tristeza.

- O que foi que o Rony aprontou dessa vez Mione ? – Harry perguntou e afagou o rosto da garota carinhosamente.

- Ah Harry, é melhor a gente não falar disso.- Hermione desconfiava que Harry sabia daquilo que ela sentia pelo ruivo, mas nunca se sentira confortável para desabafar com ele.

- Não posso deixar de pensar que ele é um tolo – o garoto disse, de repente – Uma garota tão bonita, inteligente e amiga assim não é um artigo muito fácil hoje em dia – E um sorriso apareceu em seu rosto.

A garota também sorriu, deixando-se ficar mais rosada do que o normal e, segurando a mão de Harry, disse:

- Ainda bem que você é meu amigo Harry.

Ele perdeu a paciência subitamente. Soltou a mão da garota e se levantou. Encostou-se numa espécie de corrimão que delimitava a área de cadeiras e ficou admirando a passagem dos casais. Hermione recostou-se a seu lado.

- O que foi Harry? – perguntou.

- Estou cansado Mione. Só isso. Cansado de ser sempre o amigo de todos, o cara bonzinho. Mas eu não quero ser só o cara bonzinho - Repentinamente o beijo que presenciara entre Dino e Gina voltou à sua lembrança de maneira amarga e ele completou – E, hoje, eu não gostaria de ser somente seu amigo...

- O que você quer dizer com isso Harry? – assustou-se Hermione. Estava perplexa com a revelação do amigo.

- Não quero dizer nada.... quero fazer – E foi se aproximando lentamente de Hermione.

- Harry... não.... – a garota hesitou debilmente.

Harry então a segurou pela cintura e ela, entre surpresa e enlevada, deixou-se abraçar e, esquecida por um momento de tudo, mergulhou na profundidade daqueles olhos verdes que a miravam. O moreno avançou lentamente, olhando-a fixamente. Afastou uma mecha de cabelo que dançava no rosto de Hermione e tocou seus lábios levemente. Aquele toque provocou um frenesi que percorreu todo o corpo da garota e, ainda que não o amasse, a atração física que sentiu venceu qualquer barreira, transformando-se no beijo mais intenso que Hermione dera em sua vida.

Com uma ponta de satisfação, Harry puxou-a mais para si, começando a beijá-la ardentemente até que, antes mesmo que tivessem olhado, antes mesmo que tivessem certeza, pressentiram que mais alguém presenciara aquele momento.

Olharam e viram Rony, olhando para eles como se tivesse visto a própria face da morte. Seu rosto lívido mostrava espanto e mágoa. Tentou falar, mas as palavras não saíram. Nada do que pudesse dizer conseguiria exprimir o que estava sentindo. Deu as costas e saiu sem nem saber para onde ia.

Hermione olhava, estarrecida, com as mãos na boca, mas quando olhou para Harry viu que ele simplesmente... sorria. Não podia crer no que estava vendo! Não podia crer no que tinha feito!

As lágrimas vieram fácil dessa vez e ela deixou Harry sozinho, confusa demais para entender tudo o que tinha acontecido.
Harry ficou apenas parado, entorpecido. Não conseguia sentir culpa ou remorso. Nada do que se passara era motivo para vergonha. Ao contrário, mostrara a Gina do que era capaz!

Ainda não começara a cambalear quando se afastou dali a passos lentos, mas sentia um torpor cada vez mais forte. No meio do salão alguém o cumprimentava de longe . Alguém de quem ele se lembrava vagamente. Sentindo que precisava urgentemente desanuviar as idéias, direcionou seus passos para onde Neville e Luna acenavam inocentemente.

Aproveitando-se da presença do amigo, Neville acenou rapidamente e afastou-se dizendo que ia buscar uma bebida.

Harry mal o notou. Olhava para Luna como se nunca a tivesse visto. A garota parecia divertida com aquele súbito interesse e quando Harry aproximou-se perigosamente, ela, por um momento, achou que ele não estivesse em si, talvez dominado secretamente por alguma criatura invisível. O que houve em seguida, entretanto, sucedeu-se tão rapidamente que a garota ficou sem reação.

- Você está muito bonita– disse Harry, aproximando-se mais um pouco.

A loira deu um passo para trás, vermelha. Harry nunca a tinha visto envergonhada e a achou realmente uma graça naquela situação. O garoto não sabia o motivo, mas estava decidido a beijá-la. Tudo o atraía para ela e, alheio a tudo o mais, aproximou-se até quase tocar os lábios de Luna.

- Acho que você realmente não quer fazer isso – disse ela, parecendo recobrar a lucidez por um momento.

- E porque você acha isso?

- Considerando que eu vim com o Neville e que você e ele são amigos, suponho que você realmente não queira fazer isso – disse a garota, mas a sua sinceridade nem sequer arranhou o escudo que deixara Harry totalmente insensível. Ele aproximou-se mais um pouco, dizendo:

- E eu suponho que você nem imagina o que se passa na minha cabeça. – disse, finalmente beijando-a.

- Harry – pediu a garota, afastando-o de si – não faça isso comigo.

Seu tom de voz continha quase uma súplica. Harry não a ouviu. Beijou-a novamente.

- Não! – gritou Luna e saiu correndo, afastando-se dali o mais rápido que pôde.

O salão girava e girava e os casais apareciam como um borrão na vista de Harry. Sentiu-se fraco, cambaleou, mas foi ajudado por uma mão que o segurou e o levou para longe dali.

xxx

Gina tivera vontade de dar um soco em Dino Thomas, mas não o fez. Levantou-se calmamente e partiu, dizendo somente um “Acabou, Dino”, sem nem sequer olhar para trás.

Não sabia o que pensar, nem o que fazer. Não sabia se procurava Harry para que pudessem conversar àquela noite. Não sabia nem mesmo se devia procurá-lo. Não tinha certeza de nada. Uma parte de si queria deixar tudo para trás, correr para o quarto e apagar aquela noite da memória. A outra não queria a segurança, mas a aventura e sabia que devia procurar Harry o mais rápido possível. Qual das duas iria prevalecer?

- “Quem você está querendo enganar Gina?” - A garota respondeu a si mesma – “Quando foi que você já fugiu da raia?” – E saiu de seus devaneios, sabendo exatamente quem devia procurar no meio da multidão.

xxx

Longe dali um garoto ruivo, sentado no gramado, contemplava um lago em que a lua faiscava em milhares de ondinhas formadas por uma brisa leve e refrescante.

Após o espanto inicial, Rony havia se achado um tolo sem precedentes. Como ele pudera se enganar tanto a ponto de achar que Hermione podia gostar dele? Estava claro para ele agora que ela e Harry se gostavam e apenas uma piedade que ele abominava podia justificar que, até aquele momento, nada tivessem dito para ele.

Sentia-se péssimo, enganado, traído, mas ao mesmo tempo recriminava-se por isso. Como podia se sentir enganado se ele próprio nunca disse para Hermione, ou mesmo para Harry, que gostava da garota mais do que tinha medo de confessar a si próprio?

Não, não tinha o direito de se sentir desse jeito. Certamente Harry a faria muito mais feliz do que ele, um garoto pobre e sem nada para oferecer, cuja única glória era ser amigo de Harry Potter, o Eleito.

Balançou a cabeça, triste, e tomou uma resolução. Falaria com Harry. Se ele e Hermione realmente se gostassem, ficaria feliz pelos amigos e seguiria sua vida. Não seria ele a colocar obstáculos aos dois amigos que mais prezava na vida.

Levantou-se e rumou de volta ao salão.

xxx

Hermione correra até as escadarias e ali se sentara, abraçando os próprios joelhos. Lágrimas que não conseguia controlar escorriam abundantemente pela sua face.

O que se perguntava é como uma noite que prometia ser tão perfeita transformara-se no pior dos seus pesadelos. Por que Harry fizera aquilo? O que Rony estaria pensando dela agora? O que diria Gina quando soubesse de tudo? Ela se perguntava, incessantemente, sem conseguir achar respostas minimamente satisfatórias.

Se Harry realmente gostava dela, por que não tinha dito antes? Por que no baile? Justamente no baile em que Rony a tinha convidado? O que mais a machucava, contudo, era o sorriso que vira o rosto do amigo em contraponto ao sofrimento que o rosto de Rony revelara. Só a lembrança fazia doer seu coração.

A garota não se conformava. Sabia que precisava conversar com Rony. Antes, porém, precisava acertar os ponteiros com Harry. Precisava entender o que acontecera. Precisava saber ou nunca conseguiria transmitir a Rony ou Gina nem uma infinitesimal noção do tremendo engano que aquilo tudo fora. E a garota, soerguendo-se, foi a terceira personagem que, em um mesmo momento, decidiu partir em busca de Harry Potter.

Por um dos misteriosos desígnios que apenas o destino conhece, apesar de os três terem partido de locais diferentes e tomado rotas distintas, seus passos os levaram para um mesmo local e quando chegaram, ao mesmo tempo, na pequena antecâmara que precedia o grande salão do baile, o que viram os fez momentaneamente congelar.

Quase na penumbra, recostado em uma parede, Harry beijava Romilda Vane sofregamente. Seus corpos, encostados, pressionavam-se mutuamente, enquanto suas mãos passeavam livremente pelo corpo um do outro, num balé ao mesmo tempo animalesco e sensual.

Gina parou, perplexa, o ciúme tomando conta de si. Hermione pareceu igualmente chocada e levou as mãos ao rosto, um grito contido na garganta. Rony, no entanto, passou rapidamente da surpresa à raiva e ao ver no rosto de Hermione um sofrimento que para ele era insuportável, caminhou para Harry e o agarrou pelas vestes, socando-o ferozmente sem conter o ódio que sentia.


O que ocorreu em seguida foi uma confusão de passos e gritos. As garotas precipitaram-se para Rony, tentando afastá-lo. Alguns Sonserinos apareceram repentinamente e provocaram uma tremenda confusão, chamando a atenção dos demais alunos para a cena que ali se desenrolava. Harry não reagiu, sentiu o nariz quebrar e o sangue aquecer-lhe o rosto. O mundo escureceu à sua volta e antes de desmaiar escutou, ao fundo, vozes e gritaria, uma Professora MacGonagall que dava ordens ferozmente e uma gargalhada que parecia pertencer a Draco Malfoy.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.