O curandeiro Albert Abbot



Disclaimer: Nada é meu, tudo é dela (JKR). Eu escrevo e ela não. Ela ganha dinheiro com isso e eu não. Oh mundo injusto!

AVISO: ESTE CAPÍTULO CONTÉM INSINUAÇÕES DE SLASH!

Este capítulo eu dedico as novas leitoras que comentaram: Elane Black, J. D. Leal, Aninha Snape, Mary Granger Weasley, Cidinha e Lety Snape. (desculpe se eu esqueci de alguém)
E também aos outros que não comentaram!
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O curandeiro Albert Abbot

O curandeiro – diretor do Hospital St. Mungus Albert Abbot olhava pela janela de seu escritório o sol que começava a se pôr. Era um homem alto e de aparência sólida, tinha a pele morena e os cabelos quase completamente brancos. E uma pequena ruga de preocupação entre os olhos azuis brilhantes. Ele admirava a paisagem tentando pôr em ordem seus pensamentos.

Havia poucos minutos recebera um chamado via flu de sua melhor curandeira. Hermione Weasley. Ele nunca se acostumara com seu nome de casada e, no entanto, ela já o usava a mais de dez anos. Quando ele se lembrava dela sempre revia a garota de dezoito anos que aparatara no saguão de entrada do hospital, poucas horas depois de terminada a segunda guerra bruxa, trazendo consigo um jovem louro com a pele muito queimada.

- Draco – murmurou Albert para a janela.

O jovem Draco Malfoy não corria risco de vida, por isso foi trazido pela garota e não por uma das equipes de resgate do hospital. O garoto sofria muito com as dores causadas pelos ferimentos, no entanto o que mais parecia martirizá-lo era dor na alma. Acabara de assistir a prisão da mãe e a morte do pai. A recuperação do herdeiro Malfoy seria lenta. Queimaduras causadas pelo feitiço de fogo maldito são difíceis de curar.

Albert apegara-se ao garoto que não falava com ninguém, ele podia ver a solidão e o medo dentro daqueles olhos cinzentos como o céu num dia de tempestade. Draco aguardava o dia em que o levariam para Azkaban, mas a oportuna intervenção do grande herói da guerra Harry Potter o salvara de compartilhar do mesmo destino de sua mãe. E essa era uma das memórias mais vívidas que o curandeiro tinha. O dia em que lhe trouxera a notícia de que estava livre. A primeira vez que se beijaram. O garoto perdido e sozinho e o homem cansado de lutar contra a morte.

Ainda hoje o peito magro e os braços firmes recobertos por uma pele imaculadamente alva pontuada por cicatrizes da guerra eram o seu refúgio mais querido. A saliva cristalina do garoto aplacava sua sede por compreensão, os lábios de Draco sobre sua pele pareciam arrancar todo o rancor e amargura de seu coração. Os momentos de prazer que o curandeiro compartilhava com o seu amante eram a única coisa que o faziam suportar a guerra perdida que travava todos os dias com a morte.

Maldita sociedade bruxa! Sempre preconceituosa! Se não eram os nascidos trouxas, eram os abortos, os homossexuais e o que mais fosse! Isso não tinha fim! Nunca seria possível aos dois assumir publicamente esse relacionamento. Não que Abbot e Malfoy pretendessem algum dia fazê-lo. O homem mais velho nunca faria nada para magoar sua esposa e seus filhos. Sua família era o que ele mais amava na vida. E Draco, bom, ele nunca abdicaria de sua posição de pilar, benfeitor e herói da comunidade mágica.

Esse relacionamento era só um meio de suavizar as vicissitudes que a vida impunha. Pois Draco também carregava um coração amargurado. Um dia, há muitos anos atrás, o garoto lhe confessara entre soluços e lágrimas, que fora ele quem, acidentalmente, matara Lúcio Malfoy.

Matar o próprio pai – pensou Abbot – eu nem posso imaginar a dor que ele carrega dentro de si.

A guerra é cruel. Principalmente para os sobreviventes.

Enquanto refletia sobre essa crueldade vislumbrou um clarão verde anunciando a chegada de sua visitante. O curandeiro dirigiu-se à lareira e estendeu a mão para auxiliá-la. No instante seguinte ele estava encarando o rosto pálido com olhos brilhantes e febris de Hermione. Abraçou e depositou um beijo gentil na testa da menina que ele amava como se fosse um de seus filhos.

- O que houve? – perguntou enquanto a guiava até uma das poltronas azuis que ficavam defronte sua imponente escrivaninha de mogno.

- Nada. – disse a garota afundando no assento macio.

Abbot lhe dirigiu um olhar interrogativo enquanto tomava lugar na poltrona à sua frente.

- Na verdade, pesadelos. – disse Hermione com um suspiro cansado.

- De novo?

- Sim. Fazia muito tempo desde a última vez.

- Então você vai se encontrar com ele?

- Hoje. Ele me mandou um bilhete mais cedo. – a ruga de preocupação no rosto do homem pareceu se acentuar e ela apressou-se a emendar – Antes do sonho.

- Precisa de alguma coisa então? – questionou ele.

- Não. Tenho tudo o que preciso. Obrigada.

- O que vai ser dessa vez?

- Vou cobrir o plantão noturno de Hermes Jorkins. Já tenho o bilhete. Só preciso que... – disse ela enquanto corava e desviava o olhar.

- Eu confirme sua estória – completou o outro com um sorriso divertido.

Hermione sorriu. Ela sabia que sempre podia contar com o amigo, ele a compreendera desde o início e era leal. Albert lhe dera os bilhetes em que pedia que ela fosse cobrir as faltas dos colegas de trabalho.

O curandeiro olhou para o lindo sorriso no rosto da mulher à sua frente e sua expressão tornou-se muito séria de repente:

- Você sabe que eu me preocupo muito com você, não sabe?

- Sim. Eu sei.

Abbot inclinou-se para frente e tomou nas suas as mãos frias de Hermione:

- Eu te amo muito, menina. – e beijou as mãos que repousavam nas suas – não quero te ver ferida.

Os dois olharam-se nos olhos e, em silêncio, mergulharam na compreensão que encontravam um no outro.

- Como está a paciente Longbottom? - perguntou Hermione, interrompendo o momento de ternura e aceitação que compartilhavam.

- Ainda na mesma. – respondeu. E a tensão no ar se tornou tão palpável quanto uma presença. Ou uma ausência.

- E Draco, como vai? - inquiriu ela.

- Não muito bem. – respondeu Abbot endireitando-se na poltrona. – Problemas com a mãe.

- Entendo. – murmurou ela. – E Daphne e Scorpius?

- Você conhece muito bem o Draco. Ele não deixa que essas coisas afetem os dois.

Hermione considerou a resposta do outro por um instante. Apesar da relutância de seu marido ela fizera amizade com o loiro. Sabia que ele era forte, decidido e faria qualquer coisa para poupar sua família. Nesses momentos ela tinha medo de Malfoy, ele ficava muito parecido com o pai.

- Sabe, eu me encontrei com Snape e a esposa no jantar beneficente da Sociedade dos Preparadores de Poções. Como é mesmo o nome dela? - perguntou Abbot, interrompendo as divagações de Mione.

- Berta. – respondeu.

- Isso mesmo! Berta MacPherson! Cerca de quarenta e cinco anos, alta, loira, olhos verdes, de família puro sangue e razoável fortuna.

- Ou seja, tudo o que Severo sempre quis.

- E aquele filho deles então, Alvo, creio eu que este seja o nome do garoto. – disse o homem sem prestar atenção ao comentário de Hermione – É como uma pequena cópia do pai, exceto pelos cabelos.

Mione não pode conter um sorriso. E depois completou:

- Eu sempre quis colocar uma peruca loira em Severo, para ver como Alvo será quando crescer!

Ambos não puderam conter as gargalhadas. Agradecidos pelo momento de leveza, engataram uma conversa banal sobre pessoas e acontecimentos familiares.

Já estava escuro lá fora quando se levantaram e seguiram até a lareira:

- Como estão Hugo e Rosa? – perguntou o diretor do hospital.

- Como sempre! Adoráveis, felizes, saudáveis, lindos e travessos!

Albert não pode conter um sorriso ao ver como o rosto da morena se iluminava ao falar dos filhos:

- E Rony?

- Anda não cabendo em si de tanta felicidade!

- Eu li no Profeta Diário que ele foi o responsável pela captura de Yaxley. O último comensal da morte cuja identidade era conhecida e ainda estava foragido.

Em resposta às suas palavras o curandeiro assistiu o rosto de Hermione se contrair e empalidecer:

- Às vezes eu me sinto tão culpada. – disse ela – Rony ainda se arrisca tanto, sempre acreditando que um dia isso vai acabar! Ele diz que nossos filhos viverão em um mundo sem maldade e violência. – e deu um suspiro dolorido enquanto se lembrava da inscrição sobre os portões da Academia de Aurores (SI VIS PACEM PARA BELLUM*) – Como se isso fosse realmente possível!

Abbot segurou Hermione firmemente pelos ombros, obrigando-a a encará-lo, falou num tom de voz muito sério:

- Não se culpe por mais nada, menina! – e aumentou a pressão em suas mãos – TODOS temos os nossos pecados e pagamos por eles! E eu sei - falou meneando a cabeça – que nada parece ser o suficiente para expiá-los, mas se nos deixarmos levar, seremos todos trancafiados na ala psiquiátrica deste respeitabilíssimo estabelecimento com as orelhas chiando e soltando fumaça como se fossem chaleiras. – e dizendo isso sorriu.

Ele recebeu um pálido sorriso em resposta. Então a abraçou e ficou observando enquanto ela embarcava nas chamas verdes da lareira. A pequena ruga de preocupação de novo entre seus olhos.

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* Si vis pacem para bellum é uma locução latina que quer dizer: “Se queres a paz, prepara a guerra”. Foi escrita pelo autor romano Publius Flavius Vegetius Renatus. A locução é uma de muitas provenientes do seu livro "Epitoma rei Militaris", que foi provavelmente escrito no ano 390 D.C. (Fonte: Wikpédia)

Oi pessoal, a campanha FAAF continua! Colaborem! Beijos e até o próximo capítulo.

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