In Memorian



A verdade desabou sobre minha cabeça, nua e crua. Mas eu não queria e não podia acreditar. Não quando eu sabia que aquilo me machucaria mais do que eu era capaz de suportar.

Pode parecer egoísmo e na verdade era. Mas eu não conseguia dar importância à dor dos outros, nada parecia se comparar à minha própria. Ver os outros despejando lágrimas por ele era uma coisa falsa, enchia-me de raiva e indignação, porque ninguém sentia o que eu sentia por ele, ninguém era mais importante para mim do que ele. Ninguém vivia para ele como eu vivia e ele não vivia para ninguém como vivia para mim. Nós éramos a mesma pessoa dividida em dois.

Uma parte gigantesca fora arrancada sem piedade de mim. A parte vital, que me fazia respirar e acordar todos os dias havia partido para nunca mais voltar e eu não sabia como sobreviveria sozinho. O coração ainda batia, vazio e involuntário. Se estivesse do meu lado, já teria parado e me deixado partir com ele.

No início, um estado de dormência tomou conta do meu corpo e da minha mente. Nada fazia sentido e a dor da perda permanecia alojada em um lugar distante, entorpecida. Mas, pouco a pouco, à medida que os dias passavam, essa maldita dor agonizante foi percorrendo cada centímetro, cada veia, cada espaço da mente e do coração, rasgando-me, acabando com o que ainda restava de mim.

Perdê-lo foi como viver num mundo sem ar. O oxigênio não chegava até meus pulmões e respirar parecia uma façanha tão difícil, que apenas super-heróis conseguiriam.

Era tão doloroso acordar e não vê-lo na cama ao lado, dormir e não fazer uma última graça antes de se entregar ao sono, que eu achava que minha vida havia parado naquele dia terrível. Nós éramos dois antes de virmos ao mundo, nós éramos irmãos e amigos antes de chorarmos pela primeira vez. Nós nos entendíamos antes de sabermos falar, apenas com olhares. Fomos dois por dezenove anos, nunca ficamos separados antes, então como era suposto que eu vivesse bem sozinho? Com quem eu faria planos para criar nossos futuros filhos com o jeito Weasley de ser? Com quem eu iria promover a loja e ficar rico. Nada seria o mesmo.

O dia do enterro foi o pior de todos. Era a confirmação de que nunca mais eu veria o sorriso, o brilho nos olhos, a careta que ele fazia quando tinha uma idéia, o prazer de brincar e rir. Aquilo tudo se tornara um passado muito distante e minha nova realidade era diferente. As pessoas lançavam flores sobre o túmulo, algumas choravam, outras faziam fofoca. Papai e mamãe choravam abraçados, olhando de relance para mim de tempos em tempos. Gina tampava a boca, tentando, com fracasso, conter os soluços desesperados que lhe consumiam. Depois de mim, ela era a pessoa mais apegada ao meu irmão. O choro dela comprimia meu coração e fazia minhas lágrimas saltarem com força, sem que eu pudesse contê-las. Quando a sepultura foi fechada, as pessoas começaram a ir embora. E antes que pudesse me conter, antes que baixassem o túmulo até o buraco, eu levantei-me e corri em desespero até ele.

Joguei-me sobre a sepultura e chorei. O choro mais doloroso de toda a minha vida. Eu gritava de dor, agarrado ao túmulo, tentando impedir nossa separação definitiva. Eu gritava seu nome, implorando que não fosse embora, pedindo que me levasse com ele. Senti um par de mãos em meu ombro e quando me virei, dei com minha mãe, com o rosto inchado. A velha Molly me puxou, com toda a força que ainda lhe restava, contra seu corpo, agarrando-me com desespero. Era a primeira vez que eu chorava com minha mãe, já que meu egoísmo me impedia de ver além do meu sofrimento. Ela fazia carinho em meus cabelos, enquanto eu ainda chorava em seu ombro, como se eu fosse uma criança machucada. E na verdade eu era. Uma criança imatura com uma grave ferida aberta no peito.

Aos poucos eu fui me acalmando, soltei-me do abraço da mamãe e agachei-me ao lado do túmulo. Passei a mãe no lugar onde estaria seu rosto, e então eu disse adeus. O adeus mais definitivo de todos.

Isso já faz anos. A dor ainda está aqui, alojada em algum lugar, mas está domada para não derrubar-me. Hoje, só resta uma saudade gostosa, daqueles tempos felizes, regados a risadas e brincadeiras infantis e imaturas.

Hoje, meu filho faz aniversário e a primeira coisa que me disse foi: “Papai, eu quero um pântano falso de presente. Para deixar todo mundo preso para sempre na minha festa!”. Eu ri, lembrando do dia em que abandonamos Hogwarts, do dia em que enchemos a escola com o nosso pântano. O espírito festeiro e brincalhão do meu irmão foi herdado pelo meu filho, até o nome é o mesmo.

Fred, realmente você não vai nos abandonar. E assim eu choro a última lágrima. A mais feliz.

Fred Weasley, in Memorian


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N/A: E aí? O que acharam?

É meu primeiro drama, então relevem quaisquer coisas, ok?

Bom, já sabem, é aquele esquema: comentem (por favor, por tudo que é sagrado! Por MÉRLIN!) e façam a Lívia (a autora que vos fala) feliz!

;D

Se não gostarem, podem até xingar. *autora fecha os olhos e reza para que todos gostem. Abre um olho de cada vez, vê se está tudo certo e então, sai de fininho, olhando para os lados. Dá um tchauzinho e vaza*

Não liguem, eu sou meio mongol mesmo!

Ok, relevem. É o nervoso!

;D

Comenteeem!

Beijo

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Comentários (1)

  • Lily Proongs

    Não preciso dizer que estou soluçando aqui. ai aiA morte do Fred sempre foi meu ponto fraco.Linda demais essa fic.Beijos :) 

    2012-04-29
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