PSP



Eu sei, todos já escreveram; a Lily explicou nossa aparição, o Sirius manifestou seu ego absurdamente enorme, James declarou seu eterno amor pela ruiva, Remus os ridicularizou como costuma fazer. Mas eu, Peter, prefiro narrar as brigas. Não que eu seja barraqueiro e goste de uma encrenca cabeluda, longe de mim. Apenas quero deixar-lhe a par de tudo, afinal, é para isso que um diário serve, não? Então, vamos lá.

Cheguei ao quarto a mando de Padfoot, ver o que Moony estava fazendo que não lá embaixo, pronto para ir à Casa dos Gritos. Assim que o vi em sua cama, escrevendo em um caderno, não me lembrei do que poderia se tratar e me aproximei cautelosamente. Ele parecia absorto, contando nos dedos e falando coisas ininteligíveis. Mesmo assim, seguindo minhas ordens, sentei-me ao seu lado, o sobressaltando um pouco. Sorri convidativo, no que Remus continuou a me encarar como se eu estivesse atrapalhando algo. Ergui minha cabeça alguns centímetros para visualizar o que ele registrava desesperadamente, mas o mesmo escondeu, entre os lençóis, o diário. Suspirei; detesto quando os Marotos parecem me esconder alguma coisa, gosto sempre de estar sabendo de tudo que os envolve, afinal, somos todos amigos, não?

“Moony, o Pad pediu que eu viesse te apressar. Ele está doido para ter o espelho de volta.” Falei ao me levantar da cama, ainda olhando desejoso para o emaranhado de lençóis. Admito que sou um pouco xereta, mas eu quero apenas fazer parte da turma. Quero dizer, todos eles são excepcionalmente talentosos, indubitavelmente perfeitos, extremamente maravilhosos. Eu queria, ao menos, conhecer os segredos deles, me sentir, nem que por segundos, importante para o grupo. Nada mais que isso. Claro que o Remus não percebeu, levantando-se e se espreguiçando. Ele soltou um bocejo e passou a mão pelos cabelos lisos, cor de âmbar, assim como seus olhos castanhos incrivelmente claros. Parecia meio irritado. Não comigo, mas com o Sirius, meu mandante.

“Diga a Padfoot que já vou. Tenho que organizar meus horários, separar algumas folhas de História da Magia que Dorcas me pediu para copiar, tomar um bom banho e jogar xadrez com Jenna.”, respondeu, gesticulando impaciente a mão direita – como de costume –, como se me mandasse deixá-lo sozinho. O fiz, descendo as escadas do dormitório e me instalando no Salão Comunal. Sentei-me em uma cadeira próxima a lareira, onde Sirius, James, Lily, Jenna, Emmeline, Marlene, Dorcas e Mary estavam. Não sei exatamente o que Mary fazia ali, sendo que a Lily mal a suporta nas aulas. Na verdade, eu desconheço o motivo dessa inimizade, o mesmo com o Snape e nós, os Marotos. Eu apenas sigo os princípios de Prongs. Este foi o primeiro a me saudar de volta.

“Wormtail, o que o Moony está fazendo?”, perguntou no momento em que me viu a vontade. Umedeci os lábios, olhando para Padfoot, que por sua vez me encarava com contumácia, esperando uma resposta digna. Acho que Sirius estava começando a estressar com a demora de Remus; ele é bastante impaciente. Um estourado, eu diria. E o pior é que além de cabeça quente, Sirius é impulsivo; nunca age pensando nas conseqüências. Peguei uma almofada, abraçando-a contra meu corpo.

“Ele estava fazendo anotações em um caderno de capa vermelha. Não sei bem o que era.”, falei com simplicidade e Pad soltou um muxoxo de desaprovação, me fazendo arrepiar – sempre é assim. Sirius tem um poder de me aterrorizar que desafia a lei da magia reversa. Cara, é incrível como ele consegue me deixar tremendo de medo, como um porco acuado na hora do rebate. Deve ser porque seus olhos acinzentados se estreitam, como se pudesse azarar apenas com o olhar fuzilador, seus punhos cerram como se os preparasse para estraçalhar diamante – e conseguisse –, sua boca sustenta um sorriso frio, completamente desumano, e seu semblante não demonstra emoção alguma. Diga que não é de matar de pavor? Eu jamais queria ser a causa de uma reação dessas. Não mesmo –. James sorriu, acariciando as mãos da ruiva ao seu lado, que descansava sua cabeça ao ombro dele, sorrindo sutilmente. Sinto-me um tolo ao vê-los desse modo, apaixonados. Quero dizer, eu já tive meus momentos com garotas, mas nada duradouro. Atrevo-me a dizer que sou quase um Sirius; apenas me divirto e depois nunca mais as vejo. Só que no caso do Pad ele quem dá o fora.

“Worm, você acha que ele demorará muito?”, Prongs tornou a me questionar. Preciso dizer que Padfoot pareceu bem mais irritado? Pois bem, ele franziu o cenho e ouvia atentamente. Jenna o encarava de modo cauteloso; estava preparada para uma explosão. Toda vez que Sirius se irrita com alguém, ele esbraveja bastante, uma vez chegou a quebrar um dos vasos decorativos do Salão com um soco. Mas, sinceramente, tinha sido uma briguinha à toa com o James, naquela ocasião, sobre a Elle. Não me pergunte o por quê, nunca descobri do que se tratava. Principalmente porque depois disso o Pad aprontou com Snape, contando-lhe como entrar pelo buraco do Sagüeiro Lutador. Isso gerou uma briga ainda maior; James revoltou-se contra o melhor amigo, contando a travessura para Dumbledore. Eu incitei Remus a tomar satisfações com o Sirius pelo o que fez, mas ele parecia incapaz de zangar-se com o Black, como passamos a chamá-lo durante a semana que não nos falamos. Quero dizer, você não esperava que ficássemos ao lado dele, não é mesmo? Sirius fora completamente idiota. Entretanto, Remus não se importou, pois Severus permanecia a salvo e jurou nunca contar uma palavra do que vira. Não que James acreditasse na palavra do Ranhoso, tanto que passamos a segui-lo sem levantar suspeitas. Moony, em uma noite, aproximou-se de Padfoot e perguntou-lhe como pôde traí-lo daquele modo sujo. Mas Pad manteve-se calado ao sermão do amigo, seus olhos cintilando loucamente lacrimejantes. Ao fim do discurso, quando Moony já se afastava, ele o tomou pela mão, fazendo-o parar e ouvir seu pedido de desculpas. Juro que eu mesmo me emocionei. Jamais vira Sirius sequer derramar uma lágrima, entrementes, ajoelhado ao chão, chorando inconsolavelmente, pareceu-me mais humano. Sua fraqueza sempre fora nós, os amigos. Nosso desprezo o assassinava. James ficou dividido, mas Remus o perdoou, compreendeu o que o amigo passava, não o culpava por ser tão inconseqüente. Assim, voltamos a ser o grupo unido que sempre fomos. Suspirei e olhei para Sirius.

“Ele já estava indo tomar banho, mas falou que tinha de jogar uma partida de xadrez...”, comecei a explicar, contudo, calei-me ao vê-lo levantar do lugar que ocupava e dirigir-se para as escadas do dormitório.

“Sissi”, chamou-lhe Jenna, abrindo um livro de capa azul que trazia em seu colo, “não seja tão impulsivo quando chegar lá em cima.”, falou folheando e passando a ler. Eu a encarei confuso pelo conselho. Olhei para James e ele exibia o mesmo quê sensato que Jen costuma ter. Então compreendi que não era para Padfoot ralhar com Moony. Prongs encarou-me, dando uma piscadela sutil; eu deveria segui-lo e assegurar que nada fugisse ao controle. Levantei-me e corri escada a cima, entrei no quarto logo atrás de Sirius e o vi levantar o emaranhado de lençóis – aparentemente, Remus estava no banho –, pegar o diário e lê-lo. O acompanhei, obviamente. Não me culpe por ser curioso, quem não é?

Moony saiu do banheiro seminu, apenas de cuecas; acreditava estar só no quarto. Ao nos ver, arqueou as sobrancelhas e virou-se para Sirius que matinha o caderno a mão. O olhou de modo indignado, mas sereno. O outro, por sua vez, parecia levemente curioso e fazendo força para controlar sua raiva.

“Diga-me, Moony, o que significa ‘não tenho nada contra a Lene. Apenas ando investigando boatos suspeitos ao seu respeito’, porque esses boatos deveriam ser algo que eu deveria saber, não? Afinal, ela é minha namorada.”, Sirius cruzou os braços, coçando o queixo com fingida calma. Remus apenas tomou-lhe o diário, pegou as roupas que tinha separado da cama e vestiu a calça. Terminando de abotoá-la, encarou Pad com um sorriso sarcástico.

“Ora, sua morena não lhe contou? Engraçado como a confiança de vocês pode ser facilmente abalada. Diga-me você, Padfoot, o que seu próprio irmão gritou-lhe no Saguão de Entrada e você, por pura fanfarrice, esbofeteou-lhe.”, parecia que aquelas palavras saíam asquerosas, quase venenosas. Sirius, porém, pareceu não se abalar; coçou o queixo e umedeceu os lábios.

“Regulus não tem nada a ver com Marlene. É um sonserino mimado, como todos os outros. O fato de dizer ‘sua namorada é uma delícia’ comprova seu gosto por me azucrinar. Apenas isso.”, foi a vez de Remus coçar o queixo, sorrindo cinicamente.

“Ele não é o único a elogiar sua namorada, não é mesmo, Pad? Alguns corvos já o fizeram, detalhando as sensações e descrevendo seus beijos com exatidão, segundo você mesmo me confessou.”, sentei-me na cama, observando atentamente a expressão injuriada de Sirius e a debochada de Remus; ambos pareciam saber do que se tratava aquele assunto, mas um deles – o primeiro – não conseguia descobrir sozinho o que fazer.

“Marlene é uma garota popular, assim como eu. O que dizem pode ser fruto de seu passado, somente isso. Não acredito que ela...”

“Ora, Padfoot, poupe-me! Lene nunca ficou com outro garoto a não ser você! Sabe perfeitamente bem que ela sempre te amou e nunca desfrutou de outros rapazes por respeito a isso. Mas será mesmo que ela é a santa que todos julgam? Você não acha estranho o fato dela sumir por vezes, não demonstrar o mesmo carinho como fazia no começo de seu romance, deixar-te às sombras?”, Remus irritou-se, aproximando de Sirius e o sacudindo como se esperasse ouvir o chacoalhar de seu cérebro, checar se estava ali.

“Pare, Moony!”, advertiu, o empurrando e passando a mão nervosamente nos cabelos, “Marlene é tímida! E os outros querem me deixar enciumado, deixá-la, fazer com que ela fique livre para eles.”, parecia que Sirius esperava se convencer disso mais que a Remus.

“Padfoot, caia na real! MARLENE TE TRÁI! TE TRÁI!”, Remus esbravejou, cansado de tentar explicar toda a situação. Sirius ficou perplexo durante alguns segundos, mas depois recuperou a fala e, meio enraivecido e indignado, pôs-se a caminhar de um lado para o outro, procurando pensar.

“Lene nunca faria isso, Moony. Ela é doce, companheira, amável, sempre me quis...”

“Mas você sempre gostou de outra, não é mesmo? Sempre quis a E...”

“CALE A BOCA, SEU LOBO PULGUENTO!!”, Sirius estava fora de controle, seus olhos girando loucamente, ainda incapaz de crer em algo absurdamente óbvio. Eu mesmo já sabia. Severus tinha me contado.

“ENTÃO DEIXE DE SER TÃO LESADO, SEU CÃO SARNENTO!! VOCÊ SEQUER A AMA, PADFOOT! NÃO PRECISA SE PRENDER DESSA MANEIRA A QUEM NÃO LHE MERECE! ELA ESTÁ TE DEIXANDO MAIS GALHADO QUE PRONGS!!”, Sirius socou a parede, mas esta continuou imóvel; em reação, suas juntas começaram a sangrar.

“E MEU ORGULHO, ONDE FICA?! DIGA-ME, REMUS! QUEM EU QUIS NUNCA ME OLHOU COM OUTROS OLHOS! MARLENE SEMPRE ESTEVE AO MEU LADO, E QUANDO FINALMENTE ESTAMOS BEM, ME APRONTA!”, socou a parede com a outra mão, tendo o mesmíssimo resultado. Remus o socorreu quando ele ameaçou a socar novamente com as duas mãos ensangüentadas, tomou-lhe ferozmente pelo braço – julgo ser a lua cheia se aproximando – e o levou para onde eu estava sentado, pegando suas últimas faixas para encobrir os feios machucados. Sirius tremia de raiva, e eu de medo dele. Pobre Marlene.

“Escute, Padfoot, eu não tenho a absoluta certeza. Merlin queira que eu esteja errado, sinceramente. Por isso, precisamos descobrir a verdade. Tenho um plano, mas para isso você deve agir naturalmente, ou despertará suspeita e não a pegaremos no ato. Por favor, controle-se. Pelo menos uma vez em sua vida.”, implorou-lhe, terminando de enfaixar suas mãos e encarando os olhos cinzas. O vi arrepiar ao olhar gélido que Sirius o lançava. Porém, para nossa surpresa, Padfoot sorriu sincero, abraçando Remus e, ao soltá-lo, atrapalhou seus cabelos.

“Obrigado, Moony. Eu sei que posso contar contigo. E Wormtail, não conte a ninguém, ok? Meu orgulho não suportaria mais pessoas envolvidas.”, dirigiu-se a mim, dando-me palmadinhas no ombro. Fiz que sim com a cabeça.

“Então, façamos o seguinte: Alice. Ela sabe de tudo, claro. Temos que vigiá-la no Mapa do Maroto, principalmente quando estiver acompanhada por Marlene. Mas...”, Remus lançou um olhar desconfiando a Sirius, ainda risonho, “O que fará se descobrir que ela está mesmo lhe passando a perna?”

“Você verá, cara. Você verá. Sirius Black não nasceu para ser chifrado, ele quem chifra. McKinnon mal pode esperar...”, riu de como canino e misterioso, quase maléfico. Ergueu-se da cama, passando a mão pelos cabelos e se recompondo totalmente, “Tenho que ir. Atuar. Hm, por falar nisso, tem malhado, Moony? Está mais... fortinho.”, disse maroto ao sair do quarto, deixando-me com um Remus completamente ruborizado e risonho.

Sinceramente, esses meus amigos não têm jeito. São impossíveis. Por isso que os admiro tanto e gostaria de ser igual a eles. Sabe, mesmo com brigas de ‘cinco segundos’, somos inseparáveis. Pergunto-me se continuaremos assim, os nossos filhos tão amigos quanto nós, unidos. Espero que sim. Os admiro demais. Muito mesmo. E embora Sirius seja um ‘galhado’, ele ainda é bonitão e famoso entre as garotas. Tenho inveja dele. Mas inveja boa, claro. Marlene será destroçada, coitada. Pelo menos assim espero; adoro confusões.

Peter Stuart Pettigrew.

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