Segunda-feira




Auditório
10:15, ouvindo o discurso de boas vindas do Mr. Boring


Primeiro dia de aulas. Dia do reencontro entre velhas (ou nem tanto) amigas, dia de acordar cedo, dia de se arrumar toda para vir pro colégio, dia de desfilar com seu mais novo namorado, dia de ouvir um discurso otimista do nosso querido diretor, Mr. Boring – na verdade é “Bording”, mas quem liga? – e de, principalmente, ter todo o seu reino de volta aos seus pés.

Se você for Claire Weddings.

Mas se você for apenas mais um mero estudante da Hogwarts High School, é apenas o dia de rever seus amigos, odiar cada vez mais os professores, vestir uma roupa bacana – mas não tão bacana quanto a da Claire, afinal, ninguém é tão cool quanto ela. –, é o dia de ver se há algum novato bonito, dia de torcer para cancelarem a aula de geografia e, inevitavelmente, dia de lamentar por não ter nascido igualzinha a Claire.

Porque só assim você conseguiria tudo o que quisesse. Absolutamente tudo. Seja porque seu pai é o presidente de uma grande indústria local, ou simplesmente porque ela é a garota mais bonita do colégio.

Muitos podem negar – coisa que eu sempre faço. –, mas ela é realmente invejável. Estamos na metade do ensino médio e ela já tem o corpo de uma modelo da Victoria’s Secret, enquanto a maioria de nós - me incluo nesse grupo. – mal sabe o real motivo de usar sutiãs. Sem mencionar suas pernas, que ela fez questão de deixar à mostra hoje, meio que para comprovar que todos esses anos de tênis que ela vem praticando fizeram efeito. Ou talvez seja algum novo tratamento estético que ela fez nas férias de verão.

A Weddings também tem o cabelo mais bonito que eu já vi. Eles são longos, loiros e lisos, mas estão sempre brilhosos e impecáveis. Sempre mesmo.

E como se não bastasse, para acabar com qualquer esperança que ainda tivéssemos em nossos corações de que a vida poderia ser justa, ela ainda namora com ELE.

ELE é simplesmente o cara mais gostoso bonito lindo divino perfeito indescritível que poderia existir. ELE é alto, mas não é um alto estranho que nem o cara do time de basquete. ELE é bonito, na verdade é mais que bonito. ELE é engraçado (ok, essa parte me contaram, já que eu nunca tive coragem o suficiente para falar com ele). ELE é simpático, tão simpático que já sorriu pra mim uma vez no corredor! Ou talvez tenha sido pra um cara do time de futebol que estava atrás de mim. Mas sorriu, isso prova que ele é simpático. ELE é sexy, é tão sexy a ponto de fazer todas as garotas entrarem em curto circuito quando ele passa perto. Juro. Nunca vi coisa assim. Até as garotas do terceiro ano piram quando ele passa, fazendo com que o corredor, o refeitório, ou qualquer lugar onde ele esteja explodir em cochichos e risadinhas de garotas alvoroçadas. ELE é… AMANZING!

Eu o conheço desde, vejamos, desde a quarta série. Ele era meu vizinho nesse tempo e todos os dias nós íamos um para a casa do outro jogar videogame, ou fazer qualquer coisa que melhores amigos fazem nessa idade. Tudo bem que eu não tinha esse interesse que eu tenho por ele hoje em dia, mas digamos que já o achava o garoto mais bonito da sala. E isso já é muito para uma menininha de dez anos.

Nessa época nós éramos muito felizes, até o pai do James ser transferido para a Austrália. Quando soubemos disso achamos o máximo, afinal ele ia conhecer cangurus e, quem sabe, poderia até ter um como bichinho de estimação.

Depois que os Potter foram embora houve um tipo de revolução, e de repente todas as minhas habilidades com videogames e lutas contra os meninos tornaram-se inúteis, já que os critérios para se tornar popular passaram a ter haver com saber usar o tipo certo de roupa e conseguir se maquiar sem parecer uma palhaça. E digamos que eu não me saí muito bem no começo.

Então depois de longos quatro anos na Austrália -- anos os quais eu passei praticamente sozinha, a não ser pela minha melhor amiga, Dorcas M. –, em Janeiro do ano passado, eles voltaram. Eu não o reconheci até ouvir seu nome ser chamado na aula de inglês.

- Potter? – Chamou Miss Tams, que tem quase a idade da minha avó, mas nunca se casou.

O que deve ser uma coisa bem difícil de se enfrentar. Nunca ter casado e estar com quase sessenta e tantos anos, eu quis dizer. Mas ela não parece se abater muito com isso, pelo menos na maioria das vezes. Na maior parte do tempo ela é uma boa velhinha que gosta de ler, a não ser quando ela acorda de mal-humor (ou percebe a dura realidade de que ela não irá deixar descendentes nesse planeta, para continuarem a nossa magnífica missão de destruir a Terra) e começa a distribuir criticas e notas baixas.

Bom, ao ouvir o seu nome James levantou a mão. Mas não como todo mundo faz, porque ele não é como todo mundo, obviamente. Pra ser sincera ele levantou a mão de um jeito que eu nunca tinha visto antes, foi tão charmoso e legal. Deve ser o jeito australiano de levantar a mão.

Acho que foi aí que Claire tomou conhecimento da existência do James também, mas ao contrário de mim, que sou uma pessoa tímida, ela não perdeu tempo e foi logo puxar assunto com ele. Bem na minha frente.

A coisa foi totalmente humilhante. Nós, eu e James, estávamos na fila do refeitório, pra pegar o nosso almoço e tudo o mais. Nunca fui do tipo que acolhe os novatos, nem nunca fui escolhida para mostrar as nossas instalações a nenhum visitante, mas estava sentindo uma vontade enorme de ser solidária com ele. Mostrar o colégio e essas coisas, você sabe.

Passei cerca de um minuto encarando a nuca dele – que é a nuca mais linda que eu já vi. Não que saia por aí encarando muitas nucas masculinas nem nada disso, mas a dele é realmente muito bonita. Tão bonita que não deve existir nenhuma sequer parecida. Mas enquanto eu fazia uma análise minuciosa de como os cabelos castanhos dele ficavam incrivelmente loiros quando chegavam no pescoço, Claire passou na minha frente e falou:

- Hei, Potter, né? – E sorriu jogando aquele cabelo, que só pode ser peruca. – Eu e meus amigos estávamos pensando se você não gostaria de almoçar com a gente e nos contar como são as coisas lá na Austrália.

E ele, claro, aceitou sentar na mesa dos populares. Desde então Claire tentava conquistar James, o que ela finalmente conseguiu um pouco antes das férias de verão. Não que ele fosse a pessoa mais difícil do mundo de se conquistar, mas quando se chega num colégio novo você deve analisar se não há melhores opções antes de se misturar definitivamente com um certo grupo. Pelo menos me pareceu isso.

Realmente acreditei que não passaria de uma semana, que no caso seria a última semana de provas. Coisa que não aconteceu. Na verdade, acho que eles até aprofundaram o relacionamento deles, se é que você me entende.

Porque em Julho meus pais, que sempre foram muito amigos do casal Potter, marcaram um jantar na casa deles. No começo eu não queria ir. Sabe como é, eu provavelmente ia fazer alguma coisa terrivelmente vergonhosa e ficaria marcada na memória dele como uma garota desastrada ou estranha. Ou os dois. Mas resolvi ir, a vontade de vê-lo em sua própria casa foi maior do que o meu medo de cometer suicídio social.

Mas James não estava lá.

Eu passei dias pensando na roupa perfeita para usar, passei horas me maquiando, arrumando meu cabelo (que é meio grande, então dá um certo trabalho, apesar de não ser cacheado), escolhendo o sapato que combinasse perfeitamente com tudo. Eu cheguei até a tentar ensaiar alguma coisa pra falar com ele. Alguma coisa legal e engraçada, que com certeza nunca sairia da minha boca sem horas de ensaio na frente do espelho.

Assim que chegamos em frente a casa dos Potter -- que fica na mesma rua que a minha, apenas uns dois quarteirões de distância. – minhas mãos começaram a suar frio, minhas pernas tremiam, minha boca ficou seca. E todo o meu esforço e essas minhas reações emocionais exageradas foram para ouvir a Tia Sarah (a Sra. Potter me disse pra chamá-la assim. Ela me disse que eu sempre a chamei assim, então não ia contrariar a minha futura sogra uma pessoa tão gentil.) dizer:

- Oh, desculpem pelo James não estar aqui. – Ela começou a explicar quando meu pai perguntou sobre ele. – Ele foi passar o final de semana numa casa de praia com os amigos.

Imagino que tenha sido na casa de praia dos Weddings. Já ouvi falar que todos os verões ela convida os “amigos mais íntimos” – que seriam mais do que eu jamais tive. – para passarem uma temporada na sua casa na praia. E não acho que ele tenha ido só à casa de praia. Acho que eles passaram as férias de verão inteiras juntos, já que não o vi nenhuma vez.

Tinha esperanças dele ter acabado com a Miss Perfeição e estar muito deprimido em casa, precisando do ombro de uma amiga como eu. Mas pelo visto eles estavam treinando para fazer isso logo no primeiro dia de aulas.

- Não suporto essa garota. – disse encarando Claire Weddings, que parecia estar engolindo seu namorado. – Ela já ouviu falar em “motel”?

- Não sei como ela ainda tem coragem de ir para a aula depois disso. – Dorcas disse.

E depois de uma maravilhosa demonstração de como começa o acasalamento dos primatas, eu e Dorcas seguimos para nossa aula de “Projetos Pessoais”, que é bem ridícula, porque se você parar pra pensar bem ninguém naquela sala, a não ser o James e os amigos dele, tem nenhum Projeto Pessoal.

Mas em geral as aulas de PP não são tão chatas. Na grande parte das aulas James e a banda dele discutem coisas sobre a banda, enquanto eu e Dorcas cuidamos do jornal do colégio: The Hogwart’s News. Pra falar a verdade nem temos MUITO o que fazer com o jornal, já que somos apenas colunista e fotógrafa, respectivamente, mas até que dá pra escrever algumas linhas em uma aula. E tirar umas fotos legais, no caso da Dorcs.

E o melhor dessa aula é que somos só eu e James. Bom, não eu e ele, mas sem a Claire, eu quis dizer. O que já é uma grande coisa, porque quando ela está perto dele ninguém pode chegar nem perto. Não que eu chegue muito mais perto dele quando ela não está por perto. Mas eu bem que queria.

E não é só James que faz essa aula valer a pena. Como eu disse tem todo o resto da banda nessa mesma sala. “The Rogues Guys” – esse é o nome da banda. Bem sugestivo pra mim. 66’ – é formada pelo James, claro, Sirius Black, Remus Lupin e Frank Longbottom. E vale totalmente a pena assistir a um ensaio deles, não só pelo James, mas os outros rogues guys também dão um show.

- Licença. – Ouvi alguém na sala falar.

Nem me dei ao trabalho de olhar quem estava falando, afinal não era comigo. Não que ninguém fale comigo, é só que sempre é a Dorcas ou o pessoal do jornal. Mas eu não sou uma anti-social, apenas não sou cheeleader nem nada que me torne extremamente adorada por ninguém.

- Oi? – Disse a mesma voz, só que agora me cutucando.

Me virei.

Era uma menina que eu nunca tinha visto antes. Ela era do tipo que poderia facilmente se tornar amiga da Claire, o que quer dizer que ela era bonita. Porque um dos critérios para andar com ela parece que é ser bonita, como essa garota. Ela tinha cabelos longos e escuros, pele pálida e uma boca grande, como essas que estão na moda. Mas a dela não parecia ter sido adquirida com um preenchimento.

- Hum, eu sou notava e… -- Ela começou a falar meio atrapalhada.

- Dorcas M. – Disse Dorcas sorrindo para ela e estendendo a mão.

A garota pareceu extremamente aliviada com isso. Talvez do lugar de onde ela veio as pessoas dão socos nos novatos ou algo do tipo.

- Marlene McKinnon. – Ela respondeu mais à vontade. – Mas podem me chamar de Lene.

- Lílian Evans. – Falei tentando ser simpática. – Lily, se você preferir.

- Como eu ia dizendo, eu sou novata, então… o que se faz nessa aula de – ela pegou o horário dela e leu: -- “Projetos Pessoais”?

- Bom, está vendo aqueles três ali? – E apontei para três caras estranhos que nunca ficavam acordados durante uma aula, do mesmo jeito que nunca tinham aulas separados.

- Estou.

- Eles estão desenvolvendo seus projetos pessoais. Então fique à vontade. – Dorcas concluiu a minha explicação.

McKinnon olhou em volta, procurando algum projeto para ser desenvolvido, ou algo assim. Então voltei ao meu caderno, onde eu estava tentando escrever um texto sobre a volta as aulas para o THN. O que é bem difícil quando se tem James Potter dentro das mesmas quatro paredes que você.

Porque é impossível não ficar olhando como ele fica lindo tentando organizar uma festa para lançar The Rogues Guys. Digo, não vai ser bem a primeira apresentação deles, já que eles vão tocar no festival de outono do colégio, daqui a mais ou menos um mês.

- Já conseguiu algum lugar, Remus? – James perguntou sério.

Ele fica lindo sério. Parece mais adulto, sem falar que ressalta o maxilar largo e os olhos castanho-esverdeados dele.

- Ainda não, mas o Boring não falou que a gente vai tocar naquela festa do colégio?

- Mas temos de fazer um show de verdade, meu caro Moony – Sirius falou piscando um olho e jogando o cabelo para trás.

- Quem é aquele? – Lene perguntou.

- Qual?

- O que está olhando pra cá. – Ela respondeu a Dorcas.

Não resisti e dei uma olhada no grupo e, para minha grande surpresa, James estava olhando pra mim. Pra mim!

- James Potter. – Eu disse me virando imediatamente para encarar minhas anotações.
Gosh, talvez ele tenha visto que eu passei os últimos minutos olhando descaradamente para ele. Ou quem sabe foi um dos caras, porque eu vi o Frank falando alguma coisa no ouvido do James. Ótimo, agora ele deve achar que eu sou uma louca completa, e ainda por cima, tarada que não consegue nem se controlar em seu próprio projeto pessoal durante a aula e tem que ficar secando o pobre e indefeso James que só estava tentando organizar uma festa para tocar.

- Ele é bonito. – Lene falou.

- Que bom que você concorda com todas as garotas desse colégio. – Comentei.

- Não quer me dizer que ele é o cara mais gato daqui, né? – Ela falou incrédula.

De que mundo ela veio? Porque, tipo, James Potter é o cara mais lindo que eu jamais vi e verei. Tirando talvez os óculos dele. Mas fora isso ele é perfeito. Milimetricamente projetado para mim. *-*

- Para algumas de nós, é. – Dorcas disse me encarando.

- Shh! – Fiz para ela.

Ela quer que todo o colégio saiba? Porque bastava ela me dizer que esse era o seu desejo que eu publicaria na minha coluna no jornal do colégio uma manchete assim: Lílian Evans pede James Potter em casamento.

- Você é afim dele? – Ela perguntou totalmente interessada no assunto.

Mas eu não ia começar a falar disso com uma garota que eu acabei de conhecer. Quer dizer, eu não falaria sobre isso se eu gostasse dele. Porque eu não gosto. Só acho ele totalmente pegável. Bem pegável.

- Nãaao. Só acho ele bem bonito.

- Bom, eu gostei do de cabelo preto. – Lene disse. – Quem é?

- Você tem bom gosto. – Dorcas aprovou. – Aquele é Sirius Black, o único cara que supera James Potter no quesito mais garotas correndo atrás dele.

Lene riu.

- Vocês são engraçadas, sabia?

O que tinha de engraçado naquilo eu ainda não entendi muito bem. Vai ver ela achou que era uma piada, aquela coisa de realmente ter muita menina atrás do Sirius e do James.

Mas não deu tempo de perguntar a ela o que tinha de tão engraçado na gente - tirando talvez a minha bolsa com muitos bottons, que eu não acho engraçada, mas vai saber. --, porque o sistema de som do colégio foi ligado e pudemos uma mensagem que com certeza alguém tinha deixado escrita na mesa da telefonista, porque ela nunca fala nada além do “Hogwarts High School, boa tarde com quem o senhor gostaria de estar falando?”

- Queridos estudantes, sejam bem vindos a mais um ano letivo. Nosso querido diretor, Mr. Bording, solicita que todos vocês dirijam-se ao auditório, onde haverá um pequeno discurso de boas vindas. Por favor, sem correria. – Ela acrescentou rapidamente. – Tenham todos um ótimo dia e um ótimo ano letivo.

Então nós três nos levantamos e, infelizmente, ficamos atrás dos meninos na hora de sair da sala, já que eles estavam mais próximos da porta e tal. E apesar dos corredores estarem apinhados de alunos tentando chegar ao auditório e conseguir um bom lugar – que no caso seria perto da porta, assim poderíamos sair de lá mais rápido. – Claire conseguiu encontrar seu namoradinho antes mesmo que pudéssemos dar cinco passos fora da sala.

Eu chamo isso de insegurança. Por que ela parece ter uma necessidade de mostrar a todo mundo o tempo todo que ela tem tudo de melhor? Simplesmente porque ela é uma garotinha mimada e insegura. Que não é o tipo certo pro James. O tipo certo para ele seria uma garota bonita, divertida, inteligente, companheira e amiga, não uma menininha que só quer usá-lo para exibição.

Nós três, eu, Lene e Dorcas, nos sentamos na última fila da parede perto da porta. Sabe como é, num caso de incêndio ou de estarmos quase morrendo de tédio é mais fácil sairmos. Enquanto James e Claire se sentaram na primeiríssima fila, típico dela, sempre querendo chamar atenção. Mas James pareceu um tanto indeciso quando viu que seus amigos estavam indo se sentar na penúltima fila, perto de mim.

Não sei se foi impressão minha, mas ele passou o discurso todo olhando aqui para cima. Quando a namoradinha dele não o agarrava desnecessariamente. Bom, talvez fosse porque os amigos dele estão aqui, mas acho que ele olhou pra mim. De novo.

E agora que o casal maravilha acabou de se levantar, James olhou novamente para cá, e sorriu. E dessa vez eu tive certeza que era para mim, porque os amigos dele já estavam quase lá embaixo ao passo que eu estava olhando diretamente para ele.

Ele sorriu para mim. Nem sei se vou conseguir almoçar.





Ainda segunda-feira,
Caminho pra casa da Lene


Esse foi, tipo, o MELHOR almoço que eu já tive! Mesmo com a comida desse lugar, que é um nojo, esse ainda foi o melhor horário de almoço que eu já tive. Na vida inteira!

Vamos aos fatos.

Assim que saímos do auditório já era horário de almoço, então todos aqueles primatas alunos saíram desesperados para o refeitório, porque todos estavam morrendo de fome. Isso ou talvez todo mundo estivesse tão entediado quanto eu e não suportasse mais ouvir uma palavra sequer sobre como o colégio estava mais do que satisfeito em nos receber de volta.

Então Lene, Dorcas e eu nos unimos à multidão e seguimos para o refeitório. Sabe, o refeitório é um ótimo lugar para se estudar toda a fauna da Hogwarts High School. Existem basicamente três grandes grupos na HHS:

Losers. É triste, mas realmente existe esse grupo. São os mais diversos tipos de pessoa, que na maioria das vezes não tem nada em comum, e que por algum acaso da vida, acabaram juntos. O que é realmente uma coisa muito estranha de se ver. Eles quase nunca são convidados pra nenhum evento social, não são queridos, bem vistos, nem reconhecidos pela maior parte da população do colégio. Subdivide-se entre: nerds, esquisitos e retardados.

Anônimos. São, de longe, a maior parte do corpo estudantil. São pessoas comuns. Não são abominados, como os losers, mas também não são adoradas, como o grupo que veremos a seguir. Eu, até onde sei, me enquadro nesse grupo. Geralmente as pessoas têm um sentimento de indiferença por nós, o que já uma grande coisa. Subdivide-se entre: Anônimos totais, anônimos a nível escolar e aspirantes a popular.

Populares. Os mais bonitos, mais simpáticos – nem sempre --, os mais ricos, os mais descolados, os mais bem vestidos, os mais invejados, os mais adorados, os mais queridos, os mais requisitados e os mais bem vistos – aparentemente—de todo o colégio. Esse é o grupo do Potter. Subdivide-se entre: Atletas, Líderes de torcida, patricinhas e derivados.

E esses notáveis grupos ficam visivelmente separados, como se cada um pertencesse a uma dimensão diferente. Por exemplo, Rachel Stuart (uma notável riquinha mimada patricinha) acabou de passar ao lado de Louis Spore (típico nerd, que é apaixonado por ela desde sempre) como se tivesse à frente o caminho inteiramente vazio até a sua mesa, que é a mesa dos populares. Eles, os populares, sentam na mesa que fica bem no meio do refeitório, para que nós possamos observá-los enquanto eles desfilam com todo o seu glamour pelo salão, como se fosse um desfile de moda, ou algo assim.

Bom, como já puderam observar, eu e o James pertencemos a esferas distintas, logo sou invisível para ele. O que é bastante irritante essa coisa de universos paralelos, porque pessoas que claramente nasceram umas para as outras – eu e James – não temos a menor chance de viver o nosso amor, graças às perversas regras da sociedade estudantil.

- Hei, onde fica o banheiro? – Lene perguntou.

- Primeira à direita, depois segunda à esquerda. Aí você conta três portas do lado direito e é lá. – Eu disse rapidinho.

Mas acho que eu falei rápido demais, porque ela ficou me olhando com a maior cara de interrogação.

- Deixa que eu vou com você. – Dorcas disse. – Guarda o nosso lugar na fila, Lil?

- Claro.

E segui para a fila, que estava bem grande, por sinal.

Lá estava eu, na minha, cumprindo o meu papel na organização social do colégio – que é aquela coisa de ser invisível, muda e desprovida de opinião – quando notei que alguém estava atrás de mim na fila. Achei que era a Dorcas e a Lene, que já tinham voltado. Aí eu me virei e acabei encarando uma pessoa que não era a Lene, nem era a Dorcas. O que eu já devia saber, porque não fazia nem dois minutos que elas tinham saído para ir ao banheiro, e elas provavelmente passariam meia hora se olhando e conversando, como duas garotas normais que vão ao banheiro.

E é claro que eu não podia simplesmente pensar nisso antes de me virar e encarar James Potter. Sozinho. Alone. Sem amigos, sem namorada, sem qualquer pessoa que pudesse distraí-lo a ponto dele não notar eu e meus cabelos escarlates.

O que deveria ter acontecido a seguir, se eu fosse uma pessoa normal, seria eu ter me virado imediatamente e seguir com toda a coisa de ser invisível, já que eu não sou ninguém para mudar as regras da civilização humana. Mas não.

Obviamente eu não consigo nunca ir pelo caminho mais fácil e correto. Ou talvez foram aqueles olhos castanho-esverdeados que me hipnotizaram (?). Não sei. Só sei que devo ter ficado olhando pra ele com a maior cara de babaca, porque no segundo seguinte ele abriu um sorriso perfeito e o vi dizer alguma coisa. Que eu nem ouvi, por sinal, porque os meus neurônios estavam ocupados demais com suas sinapses nervosas aumentadas a uma freqüência vinte vezes maior que o normal /momento nerd off/, para tentar entender se eu estava mesmo vendo aquilo acontecer diante dos meus olhos ou se eu tinha esquecido de comer de manhã e estava delirando.

Mas a segunda hipótese estava completamente descartada, porque a minha mãe sempre deixa meu café-da-manhã prontinho. Então descartada essa possibilidade só me restou uma: James Potter tinha sorrido pra mim de novo e, ainda mais, tinha falado comigo!

E foi bem aí que eu percebi que não tinha escutado uma palavra do que ele tinha dito.

- Desculpa, -- me vi dizendo. – mas o que você disse mesmo?

Maravilha. Grande Lily! Sério mesmo, a pessoa precisa ser um gênio para conseguir se queimar tanto assim em menos de dois minutos. Acho que isso é um talento, algum tipo de dom natural.

- Que a fila ta andando. – Ele respondeu ainda sorrindo.

- Ah! – Respondi apressadamente olhando para a fila, que realmente tinha avançado. – Me desculpa, é que eu não vi. Estava só…

E eu comecei a ter uma verborragia.

Para quem não sabe, verborragia é quando uma pessoa começa a falar que nem uma louca, sem parar nem para respirar. Eu tenho crises freqüentes desse mal e, em geral, são quando estou nervosa. Porque eu, ao contrário das pessoas normais, que quando ficam nervosas se calam com vergonha, começo a falar desesperadamente, como se minha vida dependesse daquilo. E eu estava bem nervosa, já que eu tinha acabado de pagar o maior mico na frente – e de frente! – do James e tal.

E como se não fosse o bastante ficar falando descontroladamente, também devo ter ficado corada, porque eu senti minhas bochechas começarem a esquentar. E esse é um dos problemas de ser assim, ruivinha e tal. Porque você fica vermelha com qualquer coisa e principalmente nas horas erradas.

- Não esquenta, não… qual é mesmo o seu nome? – Ele perguntou antes que eu ficasse da cor dos meus cabelos.

- Lílian E… -- Mas antes que eu conseguisse terminar de responder ao James fui interrompida por um berro histérico.

- JAAAMIE!

Preciso mesmo dizer quem falou isso? A única pessoa capaz de fazê-lo: Claire.

Ela estava sentada na mesa dos populares e estava acenando para ele ir logo.

- Bom, o dever me chama. – Ele disse se virando novamente para mim e acrescentou piscando: -- Nos falamos depois, Liliane.

Então ele se virou se seguiu para o seu mundinho, bem longe da minha realidade. Porque nós estudamos no mesmo colégio, na mesma série, temos algumas aulas juntos, mas nossos mundos são completamente distintos.

Na verdade, ele deve ter falado comigo por engano, ou talvez ele tome remédios controlados e tenha apenas esquecido de tomá-los hoje. O que não deve ser verdade, porque, olha só pra ele, nunca uma criatura como ele tomaria remédios controlados.

Só de olhar dá pra ver, totalmente, que ele não precisa de remédio nenhum. Como diz a minha vó, se melhorar estraga. Tipo, quantos caras de um metro e oitenta, totalmente em forma, com cabelos lindos e dono de um sorriso mais do que perfeito você conhece? Sem falar nessa bunda, que é totalmente linda.

- Lil? Você ‘ta bem? – Dorcas perguntou me analisando.

Eu devia estar com a maior cara de tacho, ou alguma coisa assim, afinal eu estava observando James se distanciar com aquela bunda sexy e nem vi as duas chegando. Lene e Dorcas, eu quis dizer.

- Não… Quer dizer, sim! Estou perfeitamente bem. Maravilhosamente ok. Totalmente, estupendamente, magnificamente, divinamente bem. – Disse com um sorriso radiante se formando na minha face.

- Você gosta dele, né? – Lene perguntou indicando James.

- Eu? Não. – Disse categórica. -- Claro que não.

E tudo poderia continuar assim. Ninguém sabendo que eu tenho uma paixão louca recém-descoberta por James Potter e eu tendo a minha paz para poder pensar nele o tempo todo. Mas não, Dorcas tinha que começar a rir bem na minha cara.

- AIOSUDIOAUSDOIAUSDUDSOAUDOSAIDOASIUD, qual é Lil? – Ela disso enquanto morria de rir.

- Confessa! – Lene se juntou a Dorcas tentando me arrancar alguma informação.

- Não gosto, não. – Disse pegando um pedaço de torta alemã para sobremesa.

- Lily’s in love, Lily’s in love, Lily’s in LOVE… -- As duas começaram a cantar na frente de todo mundo!

Agora é oficial, eu já posso me matar.

- Calem a boca! – Eu disse entre dentes.

- Então é sério? – Lene disse com os olhinhos brilhando.

- É.

- Que liiindo! – Ela disse enquanto se sentava à mesa conosco.

Não sei de que planeta ela veio, mas parece que lá estar gostando de alguém é a coisa mais maravilhosa de todos os tempos, porque ela ficou totalmente empolgada com essa perspectiva.

- Acho que vocês combinam! – Ela disse virando-se nada discretamente para onde ele estava sentado lindamente (?) conversando com seus amiguinhos populares. – Quer dizer, vocês dois juntos ficam lindos!

- Mas o que aconteceu pra você ficar com mais cara de boba do que o normal? – Perguntou Dorcas a comédia.

- Nada demais.

Só que eu nunca fui muito boa em mentir, sabe. E não é que James Potter ter falado comigo na fila do almoço fosse a coisa mais emocionante do mundo – ok, talvez fosse mesmo, mas eu só queria guardar aqueles três minutinhos da minha vida só pra mim. Então, nenhuma das duas acreditou em mim e simplesmente me forçaram a contar.

- Tudo bem, eu conto. – Tomei fôlego e disse: -- Ele falou comigo.

- Como assim, amicá? Conta tu-do!

- É, Lil, conta!

Aí eu contei tudo a elas. O que não vou repetir, porque se eu o fizer a professora de inglês vai ter certeza absoluta de que eu não estou escrevendo a redação sobre as minhas férias que ela mandou todo mundo fazer. O que é ridículo, afinal isso é tema de redação pra segunda série. Me recuso a fazer isso.

M: E aí, o que vamos fazer?

L: Hoje ainda é segunda, Lene. Aqui a gente não sai muito no meio da semana.

D: Agora era pra gente estar fazendo essa redação.

M: Não isso! Sobre o gostosão da Lil, o que a gente vai fazer?

L: Vocês não vão fazer nada sobre o gostosão. Até porque ele nem é meu gostosão :S

D: Mas poderia ser…

M: Isso aí! Acho que a gente poderia começar com umas mudanças. Depois da aula lá em casa, pode ser?

L: Mudanças? Não, obrigada. Sou feliz assim. E acorda, Lene, somos totalmente diferentes!

D: Onde você mora, Lene?

M: Aqui pertinho do colégio, vocês vão comigo.

L: Eu não vou a lugar nenhum!

D: Combinado então, depois da aula na sua casa, Lene.

M: Beleza.

Tudo bem, eu fui completamente ignorada, mas quem liga, não é mesmo?

Só sei que não vou pra casa da Lene hoje, não vou fazer mudança nenhuma e, infelizmente, não tenho nenhuma chance com ele. Porque eu gostar de James Potter tudo bem. Nutrir um amor platônico por ele, beleza. Sonhar em beijar aquela boca totalmente beijável, ok. Mas me iludir achando que isso pode se tornar realidade? Qual é, não sou tão iludida assim. Porque que cara, em sã consciência iria trocar a sua namoradinha loira e perfeita por, hum, mim? Nenhum, fato.

Então, vamos à minha redação sobre as férias.

Minhas Férias de Verão


As minhas férias de verão foram, como de costume, as mais entediantes possíveis. Nas primeiras semanas dividi o meu tempo entre ficar na piscina da casa da minha melhor amiga, Dorcas Meadwes e trabalhar na livraria/café que fica a três ruas da minha casa. Porque eu estou juntando dinheiro pra comprar o meu carro, porque daqui a dois meses eu faço dezesseis anos e se eu tiver metade do dinheiro fica mais fácil meus pais pagarem o resto. Mas a minha felicidade só durou duas semanas, porque Dorcas teve de viajar pra casa da avó dela e eu fiquei sozinha na cidade. E para melhorar descobri que o amor da minha vida estava na casa de praia de uma vadia cheeleader se agarrando com a respectiva dona da casa. Como é de se esperar de qualquer pessoa que descobre coisa de tal magnitude, passei o resto dos meus dias enfurnada na livraria-café lendo romances durante o expediente e tentando entender porque a minha vida não podia simplesmente ser igual à de uma dessas heroínas dessas histórias, que sempre tem um final feliz com o cara dos seus sonhos. Também passe um tempo considerável comendo chocolates e engordando, devo ter ganhado uns três quilos. Na verdade a única coisa boa desse verão foi que a minha irmã, Petúnia, foi para a faculdade, o que significa que serei filha única pelo resto do semestre, quando ela vai voltar para o Natal. Não que eu seja uma pessoa solitária ou autista, é só que… bem, você não conhece minha irmã, Miss Tams, ela é a coisa mais insuportável que jamais pisou na face da Terra. Ah, quase me esqueci da parte mais emocionante das minhas férias de verão: fui visitar meus avós escoceses, mas como não tenho nenhum primo da minha idade que more lá passei o tempo por lá revirando a biblioteca deles, o que não foi muito produtivo, já que os livros nem eram em inglês…

- Vai passar o resto do dia aí mesmo, Lils?

Olhei em volta e a sala estava toda se levantando, acho que tocou. O que é ótimo, porque eu não sobreviveria a mais dez minutos disso aqui.

Então guardei minha redação na mochila, porque eu não posso entregar esse tipo de coisa à minha professora de inglês. Sem falar que ela entenderia total quem era a suposta cheeleader e seu respectivo namorado.

- Vamos logo, estamos atrasadas. – Lene disse enquanto eu e Dorcas andávamos calmamente pelo corredor. Leia-se: éramos atropeladas.

- Atrasadas? A gente não ia para sua casa? – Dorcas perguntou sem entender.

Mas logo ela entendeu o que Lene queria dizer.

Havia um carro preto, desses que você nunca viu pessoalmente, mas tem certeza que é bem mais caro do que todo o dinheiro que você conseguiria juntar em horas de trabalho na Reading (a livraria na qual eu trabalhei no verão, e se você quer saber, eles pagam muito mal). E de dentro do carro saiu um cara alto de terno e óculos escuros. Para a minha surpresa, e da Dorcs também, Marlene estava se dirigindo para o carro.

- Boa tarde, Srta McKinnon. – O fulano de preto cumprimentou.

- Bom dia, Wood. – Ela cumprimentou com a maior naturalidade, enquanto eu ficava estática do lado do carro. – Essas são Evans e Meadwes, elas vão pra casa comigo, tudo bem?

- Sim, Srta.

Olhei para a Dorcas, e ela também estava pasma, como eu. Afinal ninguém vai para o colégio num carrão daqueles (a não ser as Cheerleaders riquinhas e metidas), muito menos de motorista.

- Vocês vêm ou não? – Ela perguntou como se a gente estivesse dispensando ela.

E entramos no carro, que é mais impressionante ainda por dentro. Acho que cabe a minha casa inteira aqui. Tá, foi um exagero, mas o carro é BEM grande. Nunca vi uma BMW tão grande assim, ficadica.

Não vi direito para que lado do colégio nós fomos, porque fiquei meio encantada com tantas coisas no carro. Eu sou meio que vidrada nisso. Quer dizer, é uma BMW de luxo! Olha só esses bancos de couro e esse revestimento. Sem falar que o motor deve ter mais cavalos do que muita fazenda. AOISDHOIASDHOAISHD :x ignorem isso.

- Ah, desculpem a bagunça da casa. É que acabamos de nos mudar, então ainda tem muita coisa que vai chegar. -- Lene disse assim que o carro parou. – Chegamos! Lar doce lar.

E tenho que dizer que essa também é a casa mais deslumbrante que eu já vi.





Segunda-feira (de novo)
Minha casa, tarde da noite


Eu disse que não queria mudança nenhuma, desde o começo. Falei àquelas duas piradas que se elas tocassem em um fio de cabelo meu que fosse, elas iam apanhar, e feio. Mas Dorcas e Marlene não me ouviram, de jeito nenhum.

Assim que chegamos na super casa da Lene ficamos paralisadas. Quer dizer, eu e a Dorcas não estamos acostumadas a ir em casas tão surreais (?) o tempo todo. Pra falar a verdade eu moro numa dessa casas inglesas meigas, com um jardim na frente, sem muro nem nada. É uma casa bacana e igual a todas as outras da Privet Drive, mas eu gosto dela. Dorcas mora duas ruas depois de mim e a casa dela também é nesse estilo da minha, só que a casa dela tem piscina no quintal.

Mas a casa da Lene é totalmente diferente das nossas casas. Pra começar tem portões. Uns bem grandes, de ferro todo trabalhado. Assim que você passa dos portões tem um jardim e-nor-me esperando você do outro lado. Enorme e mais do que lindo. Aí quando você está totalmente encantado com aquele gramado perfeito e com aquelas flores tão delicadas, você olha pra frente e se depara com a casa. Não é que eu seja uma garota interesseira nem nada, dessas que dão valor às coisas mundanas(?), mas, fala sério, olha só essa casa! Ela é toda branca, sabe? Num estilo meio século XVII, toda branquinha. Linda de morrer. E olha que só estou falando da parte de fora da casa.

O carro parou e eu não queria sair ainda estava de boca aberta olhando pra casa e pros jardins.

- Lil? ‘Cê tá bem? – Lene perguntou já fora do carro.

- É… anham, estou sim. – E saí rapidinho do carro.

Então nos dirigimos à porta. Mas antes mesmo que a gente batesse na porta ou tocasse a campainha, ela se abriu. Sinistro. Mas não era nenhum fantasma ou vampiro que tinha aberto a porta, foi só a governanta da casa, como Lene explicou depois.

- Boa tarde, Mrs Gingdown. – Ela cumprimentou a senhora que havia aberto a porta.

Ela parecia bem simpática com os seus cabelos totalmente brancos e bochechas rosadas. Além de ser gordinha e baixinha. Eu sei que isso pode ser um preconceito, mas eu sempre acho que as pessoas gordinhas e baixinhas são mais simpáticas. Talvez porque elas aparentem comer tudo o que elas querem, ao invés de se matarem em regimes, o que faz elas serem bem mais felizes do que aquelas senhoras magras, altas e com cara de azedas que vivem contando cada caloria que elas comem.

- Bom dia, Srta McKinnon. – Ela cumprimentou com aquele sorriso que só as avós sabem dar.

Quer dizer, que eu achei que só as avós conseguissem, porque ela não é avó da Lene e deu esse mega sorrisão de cento e vinte dentes. O que não quer dizer que ela não seja avó de ninguém. Tipo, ela pode ter uns vinte netinhos que todo natal vão pra casa dela ceiar e dar milhões de beijos na vovó *-*

Mas voltando ao assunto…

Nós entramos na casa da Lene, e meudeusdocéu! Que puta casa ela tem! É tudo divinamente decorado e arrumadinho. Acho que minha mãe teria um troço se viesse aqui. Porque, tipo, a minha casa não é um chiqueiro nem nada, mas ela definitivamente não é assim. Afinal, que pessoa tem um hall desse tamanho? Fora os McKinnon. Bom, não vou nem tentar descrever tudo, porque eu nem sei mesmo o nome de todas aquelas coisas caras chiques que tem lá. Então vamos logo para a parte em que chegamos ao quarto da Lene.

- Desculpa a bagunça, mas é meu quarto então… sem formalidades. – Ela disse enquanto abria a porta do quarto dela, no segundo andar e tal.

Só tenho uma coisa a declarar sobre o quarto da Lene: é totalmente a cara dela. Quer dizer, ele é totalmente rosa! Não tão rosa, mas o papel de parede é cheio de detalhes cor-de-rosa, a cama (de dorsel. Bem princesa mesmo) tem umas cortinas rosa clarinho, as cortinas do quarto também são rosa… enfim, praticamente tudo tinha rosa ali! O que é bem diferente do meu quarto, que não tem toda essa coisa de decoração combinando. Na verdade ele simplesmente não tem uma cor, como o da Lene. No geral ele parece uma grande – ou nem tanto assim – bagunça.

Então a primeira coisa que eu pensei quando pus meus pés ali, foi que eu não tinha nada a ver com Marlene McKinnon. Menos ainda do que eu imaginava.

- Então – Marlene começou enquanto tirava seus sapatos de alguma marca famosa, mas como eu não sou muito ligada nessas coisas não sei qual era mesmo – por onde vamos começar?

- Começar o quê? – Perguntei me sentando em uma cadeira perto de algo que parecia uma penteadeira ou qualquer coisa do tipo.

- Sua transformação! – Lene disse com gritinhos histéricos.

- Acho que devemos começar pelas unhas. – Dorcas sugeriu.

Então era isso, eu estava mesmo sendo apunhalada pelas costas.

- Já disse que não vou fazer nada disso. – Falei cruzando os braços.

- Lil, você gosta do James, certo? – Dorcas perguntou aproximando-se de mim.

Hesitei. Afinal eu estou bem a fim dele, mas isso não quer dizer que eu vá fazer uma mega transformação que nem naqueles programas de tevê, e ainda correr atrás dele feito uma louca. Não mesmo.

- Sim, mas isso não…

- Então vamos ter que mexer em uma coisinha ou outra aqui. – Lene disse me avaliando. – Nada demais, afinal não queremos mudar você, só queremos que seja mais - como posso dizer? -, notada. É, isso mesmo. Queremos que ele apenas lhe note. E, convenhamos, você anda se camuflando no colégio, assim fica difícil de notar.

- É, Lily. Só vamos acentuar suas qualidades, nada que vá causar grandes impactos. – Dorcas continuou.

Então os dois projetos de cientistas loucas começaram a fazer as minhas unhas. O que não foi muito fácil, já que eu tenho problemas com isso. Minhas unhas. Porque quando eu era pequena eu roia unhas e agora elas são frágeis como as de uma criança, e vivem quebrando.

- O que você sabe sobre ele? – Lene começou a perguntar enquanto passava uma camada de base na minha mão esquerda.

- Ele quem? – Perguntei totalmente distraída com uma revista que ela tinha me entregado.

- James Potter, idiota. – Dorcas disse do banheiro, onde estava procurando alguma coisa.

- Ah, sobre o James. – Disse ainda lendo o artigo.

- É, sobre ele, bobinha. O que você sabe?

- Nada demais, eu acho. Sei onde ele mora, quem são seus amigos… e outras besteiras. Éramos melhores amigos antes dele se mudar. – Disse displicentemente.

- Pára tudo! – Marlene estava com os olhinhos brilhando novamente. – Vocês eram melhores amigos?!

- Hei! Dessa eu também não sabia. – Dorcas disse enquanto derrubava alguma coisa.

- É, nada de muito importante. – Falei tentando convencer a mim mesma. – Ele nem deve se lembrar.

- Lily, claro que isso é importante! Como vocês já se conhecem é só se reaproximarem.

- É isso aí. O que é bem mais fácil do que se vocês não se conhecessem. – Dorcas disse voltando com uma arma do banheiro.

- O que você vai fazer com i-isso?

- Arrumar o seu cabelo, né? Pra quê mais serve um secador?

- Vocês não vão mexer nas minhas madeixas, falou?

- Lil, isso é necessário. – Lene falou toda calma, como se tivesse que lidar com garotas no meu estado de desespero todos os dias. – Sem falar que ela só vai tirar o volume e deixar seu cabelo um pouco mais liso e arrumado.

- Têm certeza? – Perguntei ainda na dúvida.

Porque não se entrega seus lindos e ruivos cabelinhos a qualquer um. Não mesmo. Sem falar que duvido muito que Dorcas tenha qualquer experiência no ramo capilar (?). Quer dizer, o cabelo dela não precisa desse tipo de coisa, já que ela tem o cabelo curto e com ele é cortado todo repicado, então essa coisa de desarrumado é quase que o estilo do cabelo dela. Ao contrário do meu, que é liso, mas é bem comprido, então fica aquela coisa meio… estranha.

Na verdade eu sou toda estranha, com esses meus cabelos ruivos e tudo o mais. Já que ruivos não são a coisa mais comum do mundo. Sem falar nessa minha altura espetacular. Sabe, meu sonho sempre foi ser alta *-* Mas a natureza não me favoreceu, e eu fiquei assim com esses meus maravilhosos um metro e sessenta e quatro centímetros, enquanto a minha doce irmã Petúnia ficou altíssima e magérrima. A vida realmente não é justa.

Mas voltando à sessão de tortura a qual fui submetida.

Tentei até protestar sobre toda a coisa da Dorcs arrumar o meu cabelo, até porque ela nunca foi muito boa em trabalhos manuais nem nada.

- Dorcs, tem certeza que você sabe o que está fazendo? – Perguntei assim que ela ligou aquele bafo quente na minha nuca. – Quer dizer, você já fez isso antes?

Ela riu. Na verdade ela e Lene riram com gosto, tanto gosto que até me senti envergonhada. Porque, pra falar a verdade, eu não tinha entendido a graça da coisa, eu mesma não tenho muitas experiências com o secador.

- Lily, como você acha que eu me arrumo todas as manhãs, bobinha? – Ela me disse ainda rindo.

- Você arruma o seu cabelo? – Perguntei na dúvida.

- Mas é claro que sim! E eis o meu truque. – Ela disse erguendo o secador e a escova redonda.

Então, pelo que eu pude perceber, até hoje, eu era a única garota de toda High School que não usava os benefícios de certos artifícios da tecnologia estética atual.

Mas posso dizer que assim que toda a coisa de vento quente na minha cabeça começou eu só pude pensar em mandar ela parar com aquilo. Quer dizer, uma porcaria de vento escaldante não podia fazer nada que valesse tanto a pena. Só que antes de ter chance de reclamar daquilo, Lene se levantou e me mandou fechar os olhos.

- Não vou fazer isso.

- E como, diabos, você espera que eu faça a sua sobrancelha? – Ela perguntou revirando os olhos.

- Você vai mexer no meu rosto?! – Disse me erguendo um pouco.

- Lily, fica quieta! – Dorcas brigou comigo, dando um belo puxão no meu cabelo. – E é claro que vamos fazer as suas sobrancelhas, vai ficar lindo.

- Por favor. – Lene disse com aqueles olhos grandes e castanhos me encarando como se fosse o que ela mais queria no mundo.

- Tudo bem.

Me arrependi imediatamente de ter deixado ela fazer isso, porque isso dói! E depois da maravilhosa sessão de tortura quase chorando por causa da dor nos meus olhos e ainda ter uma louca puxando meu cabelo o tempo todo, achei que aquilo tudo já tinha acabado. Mas não, elas resolveram me depilar com cera.

Posso dizer que essa coisa de cera dói ainda mais do que a sobrancelha. Não entendi direito porque eu tinha que fazer a perna com cera, mas elas falaram que dura mais e que fica mais bem-feito.

Depois disso ainda provamos milhares de roupas da Lene, numa coisa que ela chamou de “montar meu estilo”. Só que as coisas da Lene não faziam muito o meu estilo. Tudo bem que só tinham roupas lindas e tal, mas… não eram nada Lílian Evans, sabe?

Então depois de provar o closet dela inteiro (sim, ela tem um closet) conseguimos escolher uma roupa pra eu usar amanhã no colégio, na minha apresentação oficial da “nova Lily”. Pelo menos foi o que elas me falaram. Mas não tenho certeza se vou usar isso amanhã. Quer dizer, isso simplesmente não vai funcionar. O máximo que vai acontecer vai ser todas aquelas pessoas metidas e ignorantes da HHS começarem a rir de mim e soltarem piadinhas sobre quem eu penso que eu sou.

Melhor falar logo à Dorcas que não vou poder fazer isso amanhã, mesmo com todo o esforço dela no meu cabelo, que realmente ficou lindo.

Lily That’s what you get. says:
Dorcs, sinto muito, mas eu não vou poder fazer isso amanhã.

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Do que você está falando?

Lily That’s what you get. says:
Toda a coisa de aparecer amanhã mudada. Não dá pra mim.

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Lílian Elisabeth Evans, você andou usando algum tipo de droga?

Lily That’s what you get. says:
Ainda não. Mas se eu fizer aquilo amanhã, acho que vou ter que usar :x

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Então deixe de ser idiota!

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Você gosta do James, então eu não vou deixar você desistir assim dele.

Lily That’s what you get. says:
Mas eu nem gosto dele tanto assim.

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
¬¬

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Não me venha com essa, estava escrito na sua testa “I love james potter” desde que ele chegou.

Lily That’s what you get. says:
Eu sei… mas isso não vai adiantar de nada! Ele só vai achar que eu sou uma esquisita maior ainda que quer parecer alguém legal, e que na verdade só ficou mais FREAK :S

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Não me venha com essa.

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Tenho que ir dormir, mas amanhã de manhã eu passo aí pra gente ir juntas pro colégio.

Docas. Wanna rock’n’roll all night and party every day! says:
Lov yá. Xoxo.

Lily That’s what you get. says:
Xxxxxx

Dorcas wanna rock’n’roll all night and party every day parece estar offline.

É, parece que não terei escapatória. Pobre de mim.

Melhor ir dormir antes que eu desista totalmente dessa idéia maluca.


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NA: oi, cara de boi :D ai, que vergonha, não sei nem como começar essa NA. Bom, primeiramente MIL desculpas a todas as pessoas que estiveram esperando esse capítulo por tanto tempo (se é que alguém ficou esperando esse capitulo). Mas eu tive vestibular ontem, então estava estudando como uma condenada nos últimos tempos, sorry. Mas agora tenho tempo livre para voltar a escrever e todas essas coisas :D ainda vou ter minhas provas do colégio, mas o pior já passou mesmo :)
Desculpa também pelo capítulo que está um lixo, eu sei. Mas é que eu comecei a escrevê-lo a tanto tempo atrás que não consegui desenvolver direito o que eu tinha pensado, mas eu prometo que o próximo capitulo vai estar melhor, maior e vai ser mais rápido, ok?
Acho que é só isso mesmo, pessoal. Continuem lendo e comentem, se possível.

Beijos,

Raah B. Potter

N/B: ooow, Raissano. Mais um vez tu faz um drama, e no fim o capítulo ta tão divertido *-* A questão é que eu fiquei super curiosa pra saber a reação de todo mundo no outro dia, sabe? NÃO DEMORE PRA ESCREEEEEEEEEVER! Haha, capitulo perfeito, como sempre. Beeijo.

Lisa Prongs



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Comentários (2)

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