A Caminhada



Sábado amanheceu exuberante em sol e repleto de pássaros tão festivos quanto os corações dos marotos.

Dumbledore tomava seu desjejum bem cedo no salão principal e somente alguns alunos se encontravam fazendo o mesmo àquela hora, e entre estes estavam os sete marotos reunidos, recebendo alegre e festivamente o membro fundador por tanto tempo afastado sabe Merlin por que.

O diretor tão querido e perspicaz não despregava os olhos dos sete amigos reunidos na mesa da Grifinória. Ele sabia que teria uma oportunidade muito agradável de conversar com a turma de alunos porque se dispusera e combinara de fazer uma suave caminhada matinal até o povoado em companhia deles.

Quando se encontraram logo depois do café da manhã no saguão, Dumbledore estava radiante como um garoto da mesma idade dos alunos animados que o aguardavam, mas encerrava no fundo da mente, nos mais recônditos recantos de seus mistérios, turbilhões de assuntos, antigos e novos, que se mostravam na eminência de serem novamente abordados, ou urgiam em teimar figurar insistente e perfurante na impertinente memória torturante das mazelas maiores de sua vida.

Mas claro que Dumbledore sabia em que precisaria deitar atenção primeira.
Sabia que seu irmão não o teria convocado à toa, e sabia mais, era importante Aberforth saber do êxito dos marotos, ao menos parcialmente, claro, afinal seu posicionamento, que era, alem, claro, de extremamente confortável para ele, muito favorável para a Ordem da Fênix, que através dele e dos ilustres freqüentadores do “Cabeça de Javali” poderiam ter acesso a informações vazadas e, estratégica e cautelosamente, adquiridas por ele sem maiores esforços do que uns wiskies de fogo por cortesia da casa, mas também muito arriscada, afinal ele sempre estava suscetível ao Legilimens dos comensais que freqüentavam seu pub, ou até a um Imperius. Claro que era muito bom em defesa contra as artes das trevas, mas mesmo o melhor duelista pode ser pego desprevenido. Portanto a visita ao “Cabeça de Javali” fora milimetricamente arquitetada, e Dumbledore estava preparado para contratempos que pudessem eventualmente surgir.

Mas antes, durante o percurso, precisava assegurar que os marotos realmente não participassem o outro maroto, que voltava debilmente para o convívio, de toda a aventura e de todas as descobertas realizadas pelo sexteto. Afinal o pequeno Pedro Petigrew estava definitivamente muito vulnerável.

_Como é bom ver você novamente no meio dos amigos Pedro. – Disse carinhoso o diretor ao baixinho que caminhava alegre, mas timidamente entre os outros, como se quisesse ficar escondido pelos demais.

_Andei realmente muito isolado Professor, e senti muita falta desses amigos, mas eles são maravilhosos e me aceitaram de volta, mesmo sabendo de tudo o que eu tenho passado.

_Pedro, meu garoto, entenda uma coisa: é nos momentos de turbulência que descobrimos os verdadeiros amigos, e estes são mais valiosos do que um rico tesouro, e nunca se esqueça disso: pelos amigos sempre vale a pena correr riscos e guardar a lealdade a todo o custo.

Diante dessas palavras de Dumbledore o pequeno rapaz corou levemente direcionando o olhar para os próprios pés.

_Ora, professor Dumbledore, mas Rabicho – interveio Tiago transbordando empolgação – é nosso irmãozinho, ele sempre será nosso amigão.

_E sempre haverá o momento certo para vocês voltarem á convivência agradável. Disse Dumbledore com um olhar significativo, cheio de intenções primeiro a Tiago, depois a Sirius, e depois percorrendo o resto de cada um dos marotos que caminhavam ao seu lado, parando por fim novamente no rostinho encabulado de Rabicho. – e bem... então aproveitem ao máximo a manhã em Hogsmead, pois devemos nos encontrar no três vassouras ao meio dia para retornarmos a Hogwarts. E até lá espero que encontrem bastantes novidades na “Dedos de mel” e guardem alguns doces pra mim. Lamentavelmente não terei tempo para ir até la.

_ Seu pedido é uma ordem Senhor. Compraremos bastante doces e deixaremos para comermos junto com o Senhor.

Aos últimos passos da agradável caminhada estabeleceu-se um leve silêncio não planejado, mas que transpirava cumplicidade entre os oito que caminhavam. Lílian vinha com Tiago um pouco atrás dos demais, e por isso tinha a visão de todos os amigos, e sagaz como só ela, notou algumas coisas as quais achou por bem devia comentar com Tiago.

_Pontas, repara no Sirius, ele é o cara que está mais feliz com o... digamos... retorno... de Rabicho, e você se lembra dos conselhos que Dumbledore nos deu, não é? Aliás, foi quase uma ordem. Não devemos contar a Pedro sobre.... você sabe...sobre o que encontramos...

_Entendi Lírio.....o que você está tentando me dizer é que se não segurarmos Almofadinhas ele vai dar com as línguas nos dentes não é?!

_Isso mesmo, e é bom não deixarmos esses dois sozinhos nem por um segundo. E além do mais você reparou no Rabicho? Porque ele fica olhando toda hora para os lados?
É como se ele estivesse morrendo de medo de ser visto.

_Foguinho, você esqueceu que o pai dele o proibiu de andar conosco? Ele está descaradamente desobedecendo o pai dele ao andar com a gente. É normal que esteja apreensivo.

_Ora Pontas, não acredito que você ainda está engolindo essa história dele. Sim, ele pode estar proibido de andar com a gente, mas o pai dele está a quilômetros de distância, e não tem a mínima chance de vê-lo conosco,e no mais ainda que isso acontecesse, conhecemos o Sr. Petigrew, é um homem afável, não puniria o próprio filho com uma cruciatus. Do que Petigrew tem tanto medo?

_Lili, concordo com o que disse sobre Sirius, mas acho que isso sobre o Pedrinho já é um tantinho de .... não se zangue por favor... um tantinho de paranóia.

_Está bem, está bem, vou tentar me preocupar menos com Rabicho. Mesmo porque o que está mais me intrigando é uma outra observação que estou fazendo desde que saímos de Hogwarts. Mais de uma vez já cruzei meu olhar com o de Dumbledore e notei algo. Tem muita preocupação nos olhos dele, muita angustia. Olha, repara bem agora Tiago. Ele ficou em silêncio e sua fisionomia se tornou de total preocupação e dor.

_Verdade Lili, Dumbledore deve ter muitas preocupações na cabeça, já ouviu aquele ditado, que quanto mais vasta a sabedoria , quão maior a responsabilidade?

_Sim, mas não me refiro só a isso. O que quero dizer é... o que traz Dumbledore a Hogsmead numa manhã de sábado?

_Bom, quem sabe ele não queira espairecer, passear, encontrar um pouco de descanso regado a Hidromel?

_Se fosse apenas diversão ele não teria dito que faltaria tempo para ir a Dedos de mel, não é verdade? E não estaria com este semblante carregado.

_E verdade Lili, sou obrigado a concordar. O que acha de o seguirmos para tentar descobrir o que o está afligindo tanto?

_Não vai funcionar Tiago, primeiro porque sabemos, ou ao menos ele disse, onde estará, no “Cabeça de Javali”. E demais a mais, não acho uma boa idéia deixar Pedro sozinho com Sirius, e muito menos convida-lo a seguir o diretor conosco.

_Então só nos resta ficar de olho e esperar que Dumbledore volte ao meio dia.


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