Why Does It Always Rain On Me?

Why Does It Always Rain On Me?



Capítulo Um

Why Does It Always Rain On Me?


- Lily Luna, Albus Severus, James Sirius!

O chamado partiu do andar de baixo e foi alto o suficiente para que todos os envolvidos se sobressaltassem. Quando Ginny Weasley chamava seus três filhos daquela forma, o assunto era grave, e todos ali tinham um motivo - mesmo que secreto - para serem chamados pelos dois primeiros nomes.

Lily, ao sair para o corredor, encontrou o irmão mais velho parado à porta de seu quarto com o mesmo olhar de desentendimento que ela tinha no rosto.

- Será que foi por causa da torta que estava na geladeira e nós comemos sem perguntar? – perguntou ele, franzindo a testa. – Quase sempre, tortas aqui em casa são para ocasiões especiais.

A ruiva fez que ia responder, mas a voz da mãe a interrompeu:

- Ei, vocês três! Não estão escutando?

- Já vamos, mãe! – respondeu Albus, surgindo do fim do corredor. – Eu comi um pedaço muito pequeno – sussurrou para os irmãos. - Então, a menor parcela de culpa é minha. – Albus ergueu os braços, como que se declarando inocente. Lily estreitou os olhos, ameaçadora.

- O pedaço foi menor, mas a idéia foi sua! – contrapôs. – Seja lá o que for, temos duas opções: descemos de uma vez ou fugimos pela janela e nos escondemos na casa da frente.

- Como se ela não fosse saber que estaríamos escondidos lá – James deu um riso abafado de deboche. – Bem, vamos indo. Se eu morrer por causa dessa torta, morrerei feliz.

Foram descendo as escadas em fila, os três forjando a expressão mais despreocupada possível. Ginny estava sentada no sofá, mexendo com uma colher o que parecia ser chá. Ao escutar a chegada dos filhos, ergueu os olhos da xícara e sorriu.

Os três pararam em frente à mãe e esperaram que ela falasse. A mulher, porém, continuou sorrindo, quase que com emoção, olhando de um para o outro.

- Nossa, como o tempo passa. Nem acredito que um dia vocês couberam aqui – ela indicou o próprio abdômen, os olhos cheios de lágrimas.

- Mãe, eu juro que o menor ped... O quê? – Albus, que começara a se justificar antes que Ginny pudesse concluir sua fala, interrompeu bruscamente ao se dar conta do que ela realmente falara. Parecendo não ter prestado atenção no que o filho dissera, a mulher prosseguiu:

- Eu sei que as coisas têm andado estranhas ultimamente, mas tudo vai se ajeitar – falou comovida. – Eu prometo.

Por alguns segundos, ninguém disse nada. James foi quem quebrou o silêncio.

- Mãe... as coisas não têm andado estranhas ultimamente.

Ginny levantou-se e sorriu para o mais velho. Beijou a testa de cada um e foi saindo da sala; porém, ao subir o primeiro degrau, virou-se novamente e, ignorando a incompreensão estampada nos rostos dos três, disse:

- Não se atrasem para o jantar hoje, ok? Eu e seu pai temos um assunto importante a tratar com vocês.

James, Albus e Lily ficaram em silêncio até que os passos da mãe não mais fossem ouvidos. Alguma porta bateu no andar de cima, provavelmente a do quarto de Harry e Ginny. Lily deu um passo à frente e encarou os dois irmãos.

- O que foi isso? – perguntou. – A última vez em que eu a ouvi falar desse jeito foi no seu jantar de formatura, James.

- Eu sei! – disse ele. – Raramente a mamãe fica emocionada desse jeito.

- E, pensando bem – falou Albus -, nossos pais andam meio estranhos ultimamente.

- Estranhos como?

- Ontem eles estavam conversando baixo sobre alguma coisa, aqui na sala. Quando eu desci, pararam de falar na mesma hora.

- Ah! – exclamou Lily. – Semana passada, eu passei pelo escritório e ouvi papai dizer algo do tipo: “Como as crianças vão reagir?” e mamãe respondeu que nós iríamos nos acostumar, com o tempo e que “essas coisas” acontecem.

- Não quero parecer maldoso, mas... – James fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras certas. – Isso soa como divórcio para mim.

Os outros dois arregalaram os olhos, como se uma verdade brutal houvesse se abatido sobre a casa. Lily colocou uma mão sobre a boca.

- Gente, sem pânico – consertou James, sem sucesso. – Eu disse “soa”, pode ser que...

- Mas você tem toda razão! “Saudades dos velhos tempos”, “mudanças”, “como as crianças vão reagir”! – Albus repetiu as falas dos pais, contando-as nos dedos. – Só pode ser isso.

- Ah, Merlin falou Lily, claramente abalada. – E agora, e agora, e agora, e agora? Eu não entendo!

Nem James e nem Albus pareciam ter uma resposta para dar. Ninguém na família Weasley tinha pais separados. Os Potter nunca consideraram ser os primeiros.

- Nós temos que esperar até a noite para saber. Não podemos ficar aqui o resto do dia, especulando – manifestou-se James. – Vou até o Ministério. Vou checar novamente o Departamento de Aurores.

James abriu um largo sorriso. Albus e Lily, que já estavam acostumados com as visitas freqüentes do irmão ao Ministério da Magia, não compartilharam a animação.

- Mas os N.I.E.M’s só chegam na próxima semana – falou Albus, erguendo uma sobrancelha.

- E você nem sabe se tem a pontuação necessária para se tornar auror – completou Lily.

- É lógico que eu tenho, Lily. Já disse isso mil vezes; se vocês me escutassem, lembrariam – respondeu o rapaz, presunçoso. – Ah, e, por Merlin, arrumem uma ocupação que não seja pensar em soluções mirabolantes para o possível divórcio dos nossos pais ou ir para a casa da Rose e do Hugo passar o dia inteiro fazendo nada por lá – falou, dirigindo-se à porta.

- Você quer dizer, “arrumem uma ocupação que não seja fazer o tipo de coisa que eu faço”? – retrucou Albus. James lançou-lhe um olhar torto, mas não objetou.

- Tchau – despediu-se. Pela janela da sala, Lily e Albus viram o irmão desaparatar.

- E então, o que parece mais atrativo: bolar soluções mirabolantes para o possível divórcio dos nossos pais ou passar o dia inteiro fazendo nada na casa dos nossos primos? – perguntou Lily, como se James nunca houvesse dito nada.

- Os dois. Pensar em soluções mirabolantes, na casa da Rose e do Hugo. Rose tem uma imaginação ótima, diga-se de passagem.

- Provavelmente, devido ao açúcar dos biscoitos que ela esconde no guarda-roupa – disse Lily, distraidamente.

- O quê? – Albus deixou cair o queixo. – Então é por isso que eles sempre somem misteriosamente quando eu vou lá pedir por um!

- Você já considerou comprar com o seu próprio dinheiro?

- Mas é claro que não. Que idéia... – riu-se o garoto. – Ah, Rose. O que mais você esconde de mim?




Rose Weasley mal abrira as cortinas naquele dia.

Apenas uma fresta da janela estava destampada, possibilitando que um ínfimo de luz entrasse no quarto. E, por mais escondida que estivesse, ela olhava para a casa da frente o tempo todo, com medo de encontrar Albus, Lily ou James olhando-a por alguma janela. Ainda que a vissem, não saberiam o que a prima estava escrevendo. Afinal, Rose sempre estava escrevendo algo na mesa de estudos. A verdade era que, por mais que odiasse admitir, a própria Rose sabia - e quem a conhecesse e soubesse o que ela estava fazendo também sabia - que a única coisa que queria esconder era a própria culpa.

- Você é uma mentirosa – falou, olhando-se em um pequeno espelho de bolsa que estava sobre sua mesa de estudo.

Lily dissera-lhe uma vez que era ela a pessoa mais confiável da família para se contar um segredo. Rose guardava, aconselhava e, se necessário, não tocava novamente no assunto. Ela tinha aquele tato que poucos possuíam. Agora, porém, ocultava algo importante de Hugo e seus três primos, as quatro pessoas que mais sabiam sobre sua vida.

A carta já estava terminada. Assinou-a e depois depositou o papel em um envelope. “Onde eu coloquei a cola?”, pensou consigo mesma, segurando o envelope aberto nas mãos. Ao se levantar para buscar o lacre, porém, a voz de Albus chamou-a do andar de baixo.

- Rose, desça aqui!

Como se sua própria consciência quisesse pregar nela uma peça, veio-lhe a lembrança: havia Albus. A pessoa que mais precisava e merecia saber.

Ela olhou do envelope aberto para a porta. Ainda não avistara a cola. “Tudo bem, Rose, o segredo não vai pular do envelope e entrar nos ouvidos de ninguém”, pensou, deixando a carta sobre a mesa.

Ao descer as escadas, viu o irmão e os dois primos, Albus e Lily, travando uma discussão ávida sobre algo que, dentre as vozes que ela pôde distinguir em meio à confusão, estava relacionado a divórcio.

- Quem é que vai se divorciar? – perguntou ela, sentando-se em uma poltrona. – Ah, meu Deus. Teddy e Victorie? Mas eles acabaram de se casar!

- Eles, não. Ainda não – falou Lily, séria. – Meus pais.

- Como?! Tem certeza? Onde foi que vocês...

- Na verdade, ninguém tem certeza de nada, pelo que eu entendi da história – disse Hugo, interrompendo-a. – Eu bem que estou tentando explicar que talvez não haja nada, mas quem escuta o pirralho da família?

- Nós entendemos o que você quis dizer – respondeu Albus. – Acontece que há muitas evidências. Muitas coincidências.

- Por que eu continuo não entendendo nada? – Rose cruzou os braços. Lily tomou fôlego e despejou a história em um só fôlego. A conversa recente com sua mãe, as atitudes dos pais, os diálogos sussurrados.

- Então, vai dizer que “pode não ser nada do que nós pensamos”? – indagou Albus, indicando Hugo com um gesto de cabeça.

- Não, apenas que... talvez não seja nada do que vocês pensam – concluiu Rose tranquilamente.

- Ah! – Hugo olhou para o teto, teatralmente. – Obrigado por me apoiar.

- Mas, Rose! É bem mais fácil dizer isso quando a situação não é diretamente com você! – protestou Lily, nervosamente.

- É claro que é diretamente comigo – respondeu a mais velha. – Se os pais de vocês realmente se separarem vai ser quase como se fossem os meus.

- Além do mais, imagina se vocês não fossem mais nossos vizinhos. Seria como ter uma família perdida – disse Hugo.

Lily deitou a cabeça no ombro do primo e Albus apenas suspirou.

- De qualquer forma, como nós podemos ajudar? – perguntou Rose, dando um tapa leve no ombro do primo, que estava encostado no braço de sua poltrona.

- Bem, para começar – respondeu Albus, aproximando seu rosto do da prima e alargando os olhos de forma bizarra. – Você poderia me fazer um favor.

Rose recuou, olhando-o com estranheza.

- Se você vai me pedir um beijo, saiba que não está me conquistando desse jeito.

- Eu não quero um beijo. Eu quero um biscoito.

- Um... O quê?

- Você sabe do que eu estou falando, Rose Granger Weasley.

Ela olhou incriminadora para Lily, que agora desviara o olhar para a janela.

- Lily!

- Desculpe, estou deprimida demais para me justificar no momento.

- Albus, você... EI!

O garoto subia as escadas apressado, e Rose foi em seu encalço. Antes de subir, virou-se para a prima novamente.

- Sem mais “pagamentos mensais”, ok?

Hugo e Lily permaneceram em silêncio, enquanto os passos da mais velha se distanciavam. Depois, olharam-se, como se a situação fosse monótona demais para ser levada a sério.

- E então, Hugo? Me dê uma solução.

- Ah, sim. Nosso problema – começou ele. Interrompeu a fala, porém, quando Lily deu uma ligeira risada. Hugo sentiu-se corar.

- O que foi? – perguntou.

- Desculpe, não foi nada – respondeu ela.

- Lily, odeio quando você me manda esquecer.

Ela fez um gesto de descaso com as mãos, mas esclareceu.

- É que eu acho legal que você chame de “nosso problema”. Gosto que você se importe. Só isso.

Lily deu um beijo na testa do garoto. Hugo nunca apreciara muito o jeito como a prima o beijava. Os beijos na testa eram como os que suas avós, tias e sua mãe lhe davam. E Lily não era, nem de longe, mais velha a ponto de dar-lhe um beijo na testa.

- Lembra quando nós éramos menores e você ficou com ciúmes quando eu disse que Rose era a irmã mais velha que eu nunca tive? – perguntou ela. O garoto anuiu com a cabeça. – Então, eu acabei por nunca dizer isso, mas você é o irmão mais novo que eu nunca tive, sabia?

Ele fez uma pausa e respirou profundamente, contendo uma resposta.

- É, acho que sim.

- Que ótimo.
Lily virou-se para a janela e ficou a fitar a rua e as casas à frente. Àquela hora, tudo era tranqüilo por lá. Em Julho, especialmente, já que a maioria das famílias vizinhas viajava. Vez por outra, o silêncio era interrompido por alguma porta batendo ou pelo som dos gritos de Albus e Rose, no andar de cima. E havia o olhar torto de Hugo, que falava mais alto do que mil palavras. Lily gostaria de dizer que desde sempre soube. Em vez disso, porém, preferia fingir que não prestava atenção em nada além da vida que acontecia fora de casa.

- Bem, eu acho que vai ficar tudo bem – tornou Hugo, colocando uma mão sobre o ombro da prima. Lily fingiu despertar repentinamente de sua fingida distração.

- Você acha?

- Tenho certeza.




- Bem-vindo ao Ministério da Magia. Por favor, informe seu nome e o objetivo de sua visita.

- James Potter, visita ao Departamento de Execução de Leis da Magia. Ei, alguém já te disse que sua voz é muito bonita?

A mulher não falou nada pelo que pareceram ser cinco segundos. James apenas sorria, imaginando a reação dela.

- Visitante, por favor, apanhe o crachá e prenda-o ao peito de suas vestes.

- Logo eu estarei trabalhando no Ministério, sabia? Nós vamos acabar nos encontrando por aí.

- Visitante, por favor, apanhe o crachá e prenda-o ao peito de suas vestes – a mulher repetiu, com firmeza. James fez pouco do desagrado dela, mas colocou o crachá na camisa.

- Já que você não quer se identificar para mim, vou te dar um nome. Que tal Cornelia?

- O Ministério da Magia deseja-lhe um dia muito agradável.

- Cornelia, você devia...

- SR. POTTER, O MINISTÉRIO LHE DESEJOU UM DIA TERRIVELMENTE AGRADÁVEL!

James sufocou uma risada.

- Ok, Cornelia. Nos vemos depois, em um futuro próximo.

O elevador estava silencioso quando James entrou aos risos. Alguns olhares indiferentes direcionaram-se a ele, mas o rapaz não se importou. Quando o elevador alcançou o andar do QG dos Aurores, saiu ainda com o sorriso se esvaecendo em seu rosto.

- Filho!

Harry chamou-o, estando a uma pouca distância da porta do elevador. James foi até ele, olhando tudo à volta. Visitava aquele lugar desde criança e, ainda assim, tudo parecia novidade quando voltava.

- Então, você veio mesmo – disse o pai. – Achei que iria preferir curtir o resto das férias em casa.

- Eu nunca achei que diria isso, mas não vejo a hora de voltar a estudar – respondeu James, sentando em uma cadeira próxima da mesa de Harry. – Quer dizer, eu adorava Hogwarts, mas a Academia de Aurores deve ser a melhor coisa que vai me acontecer.

James abriu um sorriso sincero para o pai, que retribuiu, ainda que com uma notória veia de preocupação no rosto. Harry respirou fundo. Não podia mais adiar aquela conversa. Sem ter certeza de como começá-la, disse:

- James... você sabe que é preciso uma nota muito grande para entrar na Academia, não sabe?

Com um quê de incompreensão no rosto, o rapaz meneou a cabeça.

- Em resumo, tente não se cobrar tanto. Existem milhares de outras opções.

- Eu agradeço, mas só existe essa opção para mim – respondeu James, sério.

Harry deu um sorriso.

- Eu já esperava essa resposta.

O rapaz devolveu o sorriso, mas não disse nada. O pai prosseguiu:

- Eu sempre achei que a sua convicção mudaria um pouco com o passar dos anos, sabia? Mas parece que você tem muito claro o que quer.

James sabia que tinha algo do pai que nem Albus e nem Lily possuíam: o gosto pela aventura. Ele sabia que as histórias que ouvira de Harry quando criança não eram deslumbrantes em realidade como eram em sua mente, mas tinha, bem no fundo, a vontade de fazer grandes coisas como aquelas. Ser auror representava toda aquela possibilidade para James. Os sete anos em Hogwarts, as noites de sono perdidas com estudo, as manhãs de sábado passadas na biblioteca, todo o seu esforço teve uma razão.

Harry tentava esconder sua preocupação com o fascínio descabido do filho mais velho. Quando o garoto, ainda criança, lhe contou que gostaria de “ser a mesma coisa que ele era”, Harry o apoiou, mas pensou que os anos o fariam mudar de idéia. Albus e Lily também já quiseram ser o que eram os pais, mas acabaram por mudar de idéia, como Ginny e Harry previram que aconteceria. Apenas James se fixou com aquilo. E, por mais que tentasse apoiar o filho da melhor forma possível, Harry imaginava como ele receberia um possível fracasso.

- Pai, não se preocupe comigo – insistiu James, ao ver a expressão do homem ao olhá-lo. – Sei que vou conseguir. Sinceramente, acho que no ano passado dormi mais na mesa da biblioteca do que na minha própria cama. Eu mereço realizar o que eu quero.

O rapaz fez uma careta de desagrado e Harry sorriu.

- Certo, vou ser um pai legal e ficar do seu lado – ele se levantou da cadeira. – Só queria que você soubesse que existem outras escolhas. Mas vamos indo, sim? Quero te mostrar tudo até hoje à noite. Não podemos nos atrasar para o jantar hoje.

James repentinamente pensou em seus irmãos e na discussão que tiveram mais cedo. Provavelmente, agora, estavam contando toda a situação a Rose e Hugo e os quatro estariam brigando por algum motivo tolo que surgira no meio da conversa.

- Pai, sobre esse jantar... – disse ele, enquanto seu pai apanhava uma chave – não entendi muito bem o motivo dele.

Impassível, Harry limitou-se a um “falaremos sobre isso depois”.

- Esse suspense está me dando nos nervos – falou James para si mesmo, enquanto caminhavam pelos corredores.

O que conversara com seus irmãos no começo da tarde, porém, não o assustava, não enquanto estivesse ali. Era como se já pertencesse àquele grupo.

James adorava aquele lugar.




- Isso é um absurdo, Albus.

Rose repetira aquela frase outras vinte vezes nos últimos cinco minutos. Albus apenas ria da expressão indignada da prima e dava outra mordida nos biscoitos de encontrara.

- Absurdo é você esconder comida no quarto. Isso é algum tipo de transtorno alimentar que eu não conheço?

- Não! Esta situação toda é culpa sua! Que tal comprar seus próprios biscoitos em vez de acabar com os meus?

O garoto riu novamente, mas Rose cruzou os braços.

- Quer ficar com o último? – perguntou ele, mostrando um único biscoito no interior da caixa. Ela fez um gesto com as mãos, dispensando.

- Obrigada, estou sem fome.

Rose tinha – e Albus percebera aquilo desde o primeiro momento em que a vira naquele dia – uma ruga de preocupação na testa. Uma ruga que só aparecia quando algum problema a deixava realmente tensa. Agora, por exemplo, a menina permanecia sentada, de braços e pernas cruzadas, com o olhar preso a um ponto fixo, como se estivesse fazendo sérias reflexões sobre alguma coisa. Estava muito parecida com o jeito como ficava enquanto realizava algum exame, na escola. A diferença é que, durante as avaliações, ela, vez por outra, sorria de satisfação.

- Essa ruga – disse Albus, apontando a testa da prima – me diz que há algo errado. Alguma coisa que eu deva saber?

“Alguma coisa que você deva saber, mas nada que eu queira contar”, pensou ela, forçando um sorriso.

- Não é nada – falou Rose. – Nada está errado, Al.

- Esse sorriso é de quando você está mentindo – acusou-a. A garota revirou os olhos.

- Eu não tenho nenhum “sorriso mentiroso”.

- Tem sim. E você costuma torcer os dedos, também.

- Albus! – Rose abanou as mãos no ar, como se quisesse desprender os dedos da mão. Olhou em volta. Lily e Hugo não pareciam estar em casa. Talvez fosse uma boa hora para contar à primeira pessoa que ela gostaria que soubesse.

Tomando fôlego, começou:

- Nos últimos meses, eu... – Rose fez uma pausa. Albus esperou que ela prosseguisse. Tentou novamente: - Eu tenho...

Mais uma pausa.

- Estou começando a ficar assustado – falou o garoto. – É grave?

- Não, não é grave. Apenas... Certo, lá vai. Eu e...

Quando Rose estava prestes a contar, porém, foi atingida na cabeça por dois objetos macios que, sem mesmo ver, constatou serem duas almofadas. Eram Lily e Hugo, na janela da varanda, jogando travesseiros e outras coisas para dentro de casa. Albus, parecendo ter esquecido imediatamente da conversa que estavam prestes a ter, reagiu, atirando almofadas do sofá da sala nos outros dois.

- GUERRA! – gritou Hugo, perdido entre as almofadas e travesseiros que eram atirados de um lado para o outro. Ele e Lily pularam o parapeito e se atiraram sobre os outros dois.

- Pegamos vocês! – exclamou Lily, ainda pendurada no pescoço de Rose. Afastou os cabelos do rosto e sentou-se no braço do sofá. Hugo gargalhava.

- Rose, a cara que você fez foi muito engraçada! – falou, ofegante.

- Deve ter sido – Rose tentou soar animada, mas ainda estava em estado de nervosismo, devido ao que estivera prestes a fazer.

- Nós estávamos discutindo aqui – manifestou-se Albus, terminando o último biscoito da caixa – quais seriam os motivos da Rose estar tão cabisbaixa ultimamente.

- Eu também gostaria de saber isso, mais tarde – falou Lily, largando o ar sorridente e adquirindo uma expressão solene. – Agora, nós temos que ir nos arrumar para o tal jantar, Al. E eu me comprometi a ajudar a mamãe na cozinha.

- Tinha me esquecido disso – disse ele, colocando uma mão na testa. – Minha vontade de ir a esse negócio é quase nula.

Os dois, a contragosto, levantaram-se e foram saindo.

- Voltaremos mais tarde – avisou Lily aos primos.

- Sem almofadas, de preferência – falou Rose.

Lily deu uma piscadela e fechou a porta atrás de si. Hugo, aflito, franziu a testa e virou-se para a irmã.

- Lily está muito preocupada com essa história de divórcio – disse.

Rose bagunçou amigavelmente os cabelos do garoto.

- Você gosta muito dela, não é?

Ele hesitou por alguns instantes.

- Do mesmo jeito que você gosta, oras. – Hugo puxou com força um fiapo que sobressaía em sua camisa. Não olhou para Rose.

- Não. Eu percebo o seu olhar. Eu conheço esse olhar. – Embora a menina não soasse pejorativa, ele continuou quieto por alguns instantes. Rose não insistiu. Conhecia bem o irmão para saber que ele não falaria daquilo tão imediatamente.

- Algum conselho? – perguntou ele, fitando o chão.

- Bem, eu não vou ser uma daquelas pessoas chatas que falam: “Diga o que você sente”, porque sei que fazer isso é bem mais difícil do que parece. Mas eventualmente, você terá que fazer isso, sabe.

Hugo concordou, olhando distraidamente para algum ponto perdido da sala. A opção menos atrativa era a mais indicada, e Rose não era a primeira a lhe dar aquele conselho.

- Há alguns meses, no último trinta e um de Dezembro, eu fiz uma lista de objetivos, e esse foi o número um - explicou o garoto. – Até agora não me bateu nem um pouco de coragem.

- Talvez ela nunca venha a “bater”. Você é que vai ter que tirá-la de algum lugar, sinto dizer.

- Eu sei. Bem, sou um grifinório – Hugo bateu no próprio peito, com orgulho. Rose riu. Seu irmão sempre conseguia deixar momentos como aquele menos constrangedores do que deveriam ser.

- Só posso te desejar boa sorte, garoto grifinório – A ruiva levantou-se e foi indo em direção das escadas. – Vou subir. Tenho que terminar uma coisa.

- Ah, Rose – chamou ele. A garota se virou. – Obrigado.

Hugo ergueu o polegar e ela devolveu o gesto. Ouviu os passos de sua irmã se distanciando e depois o fechar da porta. Olhou para a casa da frente, com queixo apoiado no encosto do sofá. Os últimos resquícios de luz que raiavam no céu esvaeciam atrás da casa dos Potter.




- Se seu pai se atrasar, juro que vou ficar brava.

Lily ergueu uma sobrancelha para a mãe, enquanto colocava os copos sobre a mesa. Ginny estivera anormalmente irritadiça naquele dia, e isso começara após o choro injustificado e a conversa nostálgica do começo da tarde. Enquanto preparavam o jantar, ela se queixara de não ter conseguido escrever nenhuma palavra para a próxima coluna da seção de esportes do Profeta. Lily teve o cuidado de lidar com o que fosse frágil na cozinha, pois sempre que sua mãe apanhava algum objeto de vidro ou gesso, a menina tinha a impressão de que o que quer que fosse seria quebrado.

Antes que respondesse, porém, James e Harry entraram pela porta, rindo e conversando.

- Mãe, você não vai acreditar no que...

- Vocês se atrasaram! – protestou ela, indo até os dois, com as mãos na cintura.

Harry consultou o relógio da sala.

- São sete e quinze, Ginny.

- E que horas nós combinamos?

- Sete horas, mas...

- Harry, eu quero me livrar desse peso o mais rápido possível. Nós precisamos dizer a eles. – Ela lançou um olhar furtivo a ele. – Vamos jantar.

Os três irmãos se olharam pelo canto do olho, mas ficaram calados. Assistiram à batalha silenciosa que os pais pareciam travar entre si.

- Certo, vamos – concordou Harry, parecendo cansado demais para discutir.

Repentinamente, o ar de Ginny mudou para um sorriso contido. Sem mais delongas, os cinco sentaram-se à mesa.

- Fiz o prato preferido de vocês, crianças – falou, olhando para os filhos.

- Parece ótimo. – Albus olhou para o que estava posto à mesa. – Mas qual era o assunto que vocês tanto querem tratar conosco?

Ginny abriu a boca para responder, mas Harry se adiantou.

- Que tal jantarmos antes? – sugeriu, já se servindo.

Albus fez que ia insistir. James lançou-lhe um olhar furtivo, e o garoto desistiu.

Ninguém além de Harry e Ginny parecia estar com muita fome. Os outros três apenas brincaram com a comida, impacientes, enquanto esperavam que os pais terminassem.

- Tudo ótimo – disse Harry, cruzando os talheres no parto. Ginny sorriu, depois virou-se para os filhos, que já não escondiam o desgosto pela demora.

- Provavelmente vocês estão se perguntando por que toda essa cerimônia para dar uma notícia, certo? – Ela sorveu um gole de água, nervosamente. – Bem, não é uma notícia qualquer. Hum... Harry?

- Nos últimos tempos – falou Harry, sob o olhar de aprovação da esposa – vocês talvez tenham percebido algumas mudanças em mim e na sua mãe. O que acontece é... Hum... Ginny?

- Ah, pai, fala logo! – Lily deu um tapa na mesa, fazendo com que a louça tilintasse. – Vocês vão se divorciar.

Harry e Ginny olharam-se espantados. Albus deu um chute leve na irmã por baixo da mesa.

- Foi você que disse isso a eles? – perguntou o pai. Ginny arregalou os olhos.

- É claro que não! – protestou ela. – Por que eu diria isso? Mesmo que nós fôssemos nos separar, eu não daria a notícia sem você.

- Então... vocês não vão se separar? – perguntou James. – Ufa. Viram? – Ele olhou triunfante para Albus e Lily. - Eu disse que não era nada.

- Disse, é? Que eu saiba, você ficou tremendo nas bases depois da conversa de hoje à tarde – acusou Albus. - Não minta!

- Mas afinal, de onde vocês tiraram essa idéia? – perguntou Ginny, dividida entre a surpresa e o riso.

- Bem, havia evidências – argumentou Lily. – Toda aquela história de “saudades dos velhos tempos”, as conversas sussurradas, os...

- Filha, filha – chamou Harry, colocando uma mão sobre a da garota. – Não é nada disso. O que nós queremos contar a vocês é que... Ginny, você quer falar?

A mulher acenou positivamente.

- James Sirius, Albus Severus e Lily Luna – falou, tomando fôlego. – Eu estou grávida.


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