Lírio



Fascinação. No início era apenas isso que ela, seus sorrisos e seus cabelos me causavam. Apenas fascinação.

Até o dia em que a vi dançando, pela primeira vez, sobre a grama seca dos jardins do castelo. Era manhã de Natal, fria e sem nenhum resquício de neve, a escola estava vazia e os poucos alunos que restaram estavam recolhidos no quentinho confortável das salas comunais. Cansado de ouvir as discussões entre Sirius e Marlene, eu havia saído para relaxar, caminhar um pouco. Meus pés, já bem treinados, acabaram por me levar às margens lago, meu lugar preferido.

Eu andava de cabeça baixa, quando uma melodia suave me atravessou os ouvidos. Em alerta, eu levantei o rosto e olhei à frente. Lá estava ela, na outra margem, meio escondida perto das árvores. Sorrindo, sentei-me discretamente, escorado numa cerejeira e me pus a observá-la.

No alto dos meus 17 anos, achava que aquilo não me afetaria em nada, que aquele simples roçar de pés descalços no chão não me encantaria a ponto de me fazer apaixonar. Como estava enganado. 

Com a varinha, ela havia feito um feitiço para aquecer, impedindo o frio de atingi-la. De um radinho conjurado, vinha a melodia suave que a fazia rodopiar. Os cabelos escarlates reluziam e esvoaçavam a cada movimento, me encantando, me hipnotizando. As sardas vermelhinhas das bochechas coradas brilhavam de encontro ao sol morno da manhã, fazendo-me suspirar.

Durante um movimento mais brusco, ela se desequilibrou e caiu sentada no chão, mas isso não pareceu aborrecê-la nem um pouco, pois o som das risadas atravessou o lago e chegou até mim, contagiando-me, fazendo-me gargalhar junto com ela. Mas foi um erro. Assustada, ela se virou e deu de cara comigo, e assim, o riso deu lugar a uma expressão de raiva, como se eu tivesse invadido, espiado algo só dela.

Enraivecida, com o rosto rubro de vergonha, ela enfeitiçou uma pedra e jogo-a contra mim, e eu, distraído com os vários tons que ela atingia em questão de segundos, não pude me desviar, sendo atingido na cabeça. Caí no chão, desorientado, enquanto ouvia um grito de surpresa vindo de longe e passos rápidos, vindos em minha direção. Sentei-me e massageei minha cabeça, percebendo um filete de sangue que escorria paralelo aos meus cabelos rebeldes.

Preocupada e proferindo pedidos de desculpas intercalados com xingamentos, Lily sentou-se ao meu lado e conjurou uma caixinha com materiais de socorro. Sem querer afastar os toques delicados dela, eu não mencionei que poderíamos ir à enfermaria, aproveitando os cuidados que ela dirigia a mim. Quando acabou de fazer o curativo, ela levantou-se e sem dizer nada, apontou a varinha e convocou o casaco de inverno e os tênis. Então, ela murmurou um “Desculpe” baixinho e rumou para o castelo. Eu fiquei onde estava e fechei os olhos, relembrando os movimentos delicados e as risadas gostosas de Lily.

Durante meses, minha ruiva preferida não dançou. Todos os dias, eu andava até o lago e não a via, então, lembrava-me do Mapa do Maroto e ao consultá-lo, descobria que estava ora na biblioteca, ora no dormitório. Talvez não tenha dançado por medo de que eu aparecesse e atrapalhasse seu ritual. Mas acho que isso mudou depois de certo tempo.

Na semana da Páscoa, a escola se encontrava vazia novamente. Eu estava sozinho no dormitório do sétimo ano. Sirius e Remo tinham saído para dar um volta com Marlene e Emmeline, e Pedro tinha ido à cozinha comer mais um pouco.

Suspirando, eu me levantei da cama onde estivera deitado e dirigi-me à janela. Olhei diretamente para o lago, e na mesma hora, uma cabeleira ruiva entrou em foco. A dona das madeixas estava sentadinha escorada numa pedra, parecendo pensativa. Imediatamente, me veio à mente a idéia de ir até ela, mas pensei melhor e fiquei onde estava. Minutos depois, ela se levantou e marchou para dentro do castelo.

Sequer me mexi, quando, momentos depois, um perfume floral invadiu o quarto e me fez fechar os olhos e apenas sentir. Uma mão pequenina pousou em meu ombro, fazendo pressão e me obrigando a virar para encarar aqueles olhos esmeraldas que sempre estiveram em meus sonhos.

- Oi, James. – ela disse com a voz rouca, e foi o que me bastou para abraçá-la pela cintura e puxá-la para mim. Encostei minha testa à dela e sorri.

- Oi, Lily. – respondi num murmúrio e a beijei. Como há muito eu queria. Depois do que me pareceram ser vários dias de sol, eu a soltei e sentei-me na cama. Mirei a varinha na porta e tranquei-a com um feitiço. Lily me olhou com a testa franzida em interrogação e eu sorri. – Ruiva, faça uma coisa para mim?

- O que é? - Dança, Lily. – ela me lançou o sorriso mais bonito que eu já havia visto. E dançou. Só para mim, fazendo meu peito pular de felicidade. 

Era fascinação, mas passou a ser amor quando descobri que Lily Evans era perfeita para James Potter e James Potter era perfeito para Lily Evans. Era fascinação, mas passou a ser amor no momento em que vi aqueles pés descalços roçarem na grama seca.

Era fascinação. Mas não é mais.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------- N/A: e aí? meu primeiro romance! gostaram?? espero comentários, ok?? beeeijinhos

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