A versão dela
O relato dela
Eu nem sei como tudo isso começou! Acho que sempre gostei dele, mas nunca parei pra enxergar... Toda vez que eu chegava perto dele eu sentia um frio na barriga inexplicável, toda vez que ele me tocava eu ficava ofegante, todo sorriso que ele trocava comigo me deixava feliz o dia inteiro. O que é realmente um mistério pra mim é quando que essa paixonite de criança se tornou essa coisa tão grande que eu nem consigo mais controlar! Quando foi que aquela criança boba que o Sirius era cresceu e se tornou tão importante pra mim?
Agora vendo por esse lado, vejo que talvez ter permitido que a nossa amizade acontecesse foi um grande erro, acho que se eu não tivesse passado tanto tempo ao lado dele, se não tivesse enxergado o lado especial que ele esconde da maioria das pessoas, se não tivesse realmente visto que ele era uma boa pessoa, eu teria esquecido essa historia de criança e junto o esquecido.
Eu seria cínica se ignorasse o quanto ele foi importante pra mim quando eu mais precisei de apoio, que sem ele eu não teria passado pela perda dos meus pais da forma que eu passei. Sim, eu tive muitos amigos que me ajudaram, mas ele foi excepcional, ele me deu exatamente o que eu precisava. Compreensão, ele sofria junto comigo.
Mais do que isso, ele era quase como eu. Eu havia perdido a minha família que eu amava, e com eles, os meus únicos parentes vivos. Já ele, nunca teve exatamente uma família que ele houvesse amado, pois as diferenças de pensamento nunca os deixaram efetivamente amar uns aos outros. Mais do que a família, nós tínhamos uma vida em comum a partir da perda de meus pais. Ele não tinha um lar, e agora nem eu. Não que os meus pais tenham me deixado sem nada, eu ainda tinha uma casa, que, com muito trabalho e ajuda de um amigo também muito especial, meu querido Dumbledor, eu pude ficar e morar sozinha mesmo sendo menor de idade, mas ainda assim não era um lar. Não tinha calor, não tinha felicidade, não tinha harmonia. Era só o lugar que eu passava as férias por não ter outra opção. Já ele, não tinha lar pois não gostava de sua família, e passava a maior parte do tempo fora, e nunca soube exatamente a definição de moradia e família.
Eu me lembro exatamente quando a nossa amizade começou. Foi na primeira descoberta que fizemos das muitas coisas em comum que ainda iríamos nos dar conta que tínhamos. Que coisa em comum? O prazer de estar sozinho, de ouvir o barulho da quietude, de ler um livro ou olhar as cinzas de um fogo recém apagado, de estar acordado enquanto todos dormem, e descobrir que tal prazer poderia ser preenchido facilmente por outro. O prazer de uma boa e desejada companhia.
Em casa eu sempre tive o habito de levantar no meio da noite, ir para o escritório do meu pai do andar debaixo e ler um livro. No começo eu ia somente para ler, mas logo se tornou uma espécie de terapia, de tranqüilizante. Eu sempre tive uma sobrecarga muito grande antes de descobrir a bruxaria, da mesma forma que eu penso que os outros nascidos trouxas tiveram por não entenderem o porque de tantos eventos estranhos que acontecerem a sua volta. Dessa forma, levantar no meio da noite e fica simplesmente sozinha era um momento meu, onde eu acreditava que nada me atingiria, que era só eu e a solidão em pessoa que existíamos. Assim, eu esquecia de tudo, dos eventos estranhos, da forma que eu me sentia diferente. Eu passei a não só apreciar a leitura, mas o simples ato de parar para devagar, de escutar os barulhos noturnos, e de desfrutar da companhia de ninguém mais, ninguém menos que eu mesma.
Ao descobrir que eu era bruxa, tive minhas duvidas quanto as coisas que eu não entendia que me aconteciam esclarecidas e passei a conhecer gente como eu quando entrei para Hogwarts, mas meu não consegui deixar de lado minhas visitas a solidão de lado. Eu já não precisava psicologicamente dela, mas precisava fisicamente dela. Era um habito incorrigível, já fazia parte da minha vida, e eu não pretendia deixar de lado. Logo após a morte de meus pais, esses momentos seriam talvez o consolo que mais me ajudou a superar essa faze terrível da minha vida.
Em Hogwarts era mais difícil ficar sozinha do que em casa, em cada canto tinha dois alunos ou mais alunos, e logo eu percebi que se eu realmente queria manter o meu momento a sô, eu teria que fazê-lo mais tarde, quando não haveria ninguém por perto, ou pelo menos era o que eu pensava... O local escolhido foi o salão principal, era confortável e ou contrario de um horário mais cedo, estaria vazio. Mas o mais importante, não era proibido como o resto dos lugares a noite da escola. A lareira jazia sempre apagada, mas eu não me importava, a frio era um bom acompanhante para a solidão.
Lembro como se fosse ontem a minha primeira visita da madrugada ao salão comunal. Primeira de muitas. Já havia se passado duas semanas que eu tinha começado a freqüentar Hogwarts, e passada a euforia inicial, eu me vi em condições de por em prática o meu plano de visitas noturnas. Eu havia planejado tudo meticulosamente, fui dormir no horário em que todas as garotas do meu dormitório costumavam ir, e foi como se o meu corpo estivesse a par do meu plano, ele sabia que sua necessidade noturna seria atendida, e eu pude dormir até o horário que havia estabelecido para poder descer e acordei instantaneamente quando tal chegou. 3 horas da manhã. Nunca vou me esquecer desse horário.
Eu desci e vi que como eu havia imaginado, o salão estava vazio. Como era a minha primeira experiência naquele novo lugar, eu não levei nenhum livro. Fiquei até o sol começar a despontar apenas escutando o som do meu novo lar. Lar que depois da tragédia da minha família, se tornaria o único. Eram tantos os sons, e era tudo tão fantástico! Eu podia sentir o cheiro da magia. Eu ouvia, sentia e cheirava ela. Eu me dei conta naquela noite que eu não acharia nem uma se quer fresta em Hogworts que não estivesse infestada de magia e bruxaria. Eu amava aquilo.
Lembrança é uma coisa engraçada. Eu não me lembro em qual poltrona me sentei aquele dia, mas posso me lembrar que naquela noite eu mal me mexi no lugar em que eu estava sentada. Não me lembro o que eu estava usando, mas lembro que eu mantive um sorriso bobo no rosto todo o tempo em que admirava a solidão daquele lugar. Não lembro se senti frio aquela noite, mas lembro que senti como se Hogwarts fosse o lugar que eu havia de ser aceita como sempre quis. Logo eu iria descobrir que nem todos os alunos eram iguais, e que nem todos eles achavam que os nascidos trouxas eram como qualquer outro bruxo. Logo eu conheceria o termo sangue ruim. Não que eu realmente me importasse com como me chamavam, mas o que eu perderia por causa de gente que utilizava e acreditava nesses termos não seria de forma alguma indiferente a mim.
Minha primeira noite de solidão foi uma das únicas em que eu realmente me mantive só. Na segunda experiência eu conheceria a pessoa que mudaria toda a minha forma de sentir.
O despertar noturno da segunda noite foi como o da noite anterior, automática. Eu desci as escadas já me preparando para me deparar com uma sala desolada, quando ao caminhar o meu olhar pela sala, me deparei com a figura de um menino que eu pensei ter reconhecido de uma das aulas compartilhadas com a Sonserina que observava as cinzas da lareira como se elas lhe estivessem contando a mais interessante das historias. Mas ao observá-lo com maior atenção, vi que esse era mais bonito, e que ao contrario do outro, ele tinha um olhar bondoso, brincalhão mais extremamente bondoso. No momento em que eu reparava em seus olhos, ele se deu conta da minha presença, e nossos olhares se encontraram. Foi a primeira das muitas vezes em que o meu coração bateria mais forte pelo Sirius.
Naquele momento eu perdi a noção do tempo. Ao contrario das outras vezes em que nossos olhares se encontraram, eu não senti vergonha, não quis desviar e nem dei um sorriso para disfarçar, eu simplesmente não podia parar de olhar. Foi a primeira vez que o encarei, e eu mergulhei fundo nos olhos dele. Eu posso descrever em detalhes aqueles olhos. Azuis claro, tão claros que se aproximam de uma cor acinzentada. Uma profundidade inacreditável, um mistério envolvente. Um magnetismo. Os olhos dele são de um azul que dão paz. Que consolam e brincam ao mesmo tempo. Que brilham com toda a intensidade de uma hora para outra, mas que ficam obscuros com apenas um instante. Ao menos são assim os olhos dele pra mim. Foi a primeira coisa que eu reparei nele. Nele Sirius. Não no garoto que parecia com um qualquer da minha sala de defesa contra as artes das trevas, mas no Sirius em si.
Ao me dar conta de que eu estava o encarando, devo ter ficado vermelha dos pés até o couro cabeludo. Contudo não consegui deixar de reparar que enquanto eu não baixei o meu olhar, ele não parou de sustentar o olhar. Creio que aquela foi a única vez que eu vi o Sirius sem graça, e mesmo que na hora tivesse sido um constrangimento muito grande para mim, não posso deixar de dizer que me divirto me lembrando dessa velha lembrança do meu primeiro contato com Sirius.
A primeira coisa que me veio a cabeça foi dar meia volta e voltar ao dormitório. Mas indo contra todos os meus princípios de solidão noturna, me sentei no sofá de frente ao local em que ele estava sentado e fiquei ali por longos minutos, escutando dessa vez não a quietude como era de costume, mas o som do constrangimento, esperando que algum de nós acabasse com aquilo. Internamente pensei que ele iria se retirar. Não que eu desejasse isso, muito pelo contrario. Eu receava isso. Mas não foi o que ele fez. Ele ficou lá sentado, analisando todos os objetos da sala, e quando pensava que eu não estava olhando, eu.
Foi naquela noite em que deu-se inicio a primeira de nossas muitas conversas noturnas. No começo eu receei que ele me achasse estranha por ficar ali sozinha aquela hora, mas depois eu percebi que era o que ele fazia ali também. É como dizem, o nu não pode falar do mal vestido.
No começo foi estranho. Eu, uma garota do primeiro ano, ali no salão comunal, de pijama, parada na frente de um menino do segundo ano, também de pijama. A diferença de um ano não faz mais diferença, mas naquela época, pra mim, que estava no meu primeiro ano e mal conhecia ninguém, era uma diferença muito grande.
Nossa primeira conversa... Não foi nada de muito especial, nada memorável, mas muito importante. Não foi nem de perto a mais intensa que já tive com ele, nem a mais emotiva, nem a mais triste ou alegre, mas foi simplesmente a primeira. Eu me lembro perfeitamente de quase todas as palavra que eu troquei com ele aquela noite. A primeira vez que ele falou diretamente a mim, e que eu respondi diretamente a ele. Um simples boa noite...
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