O Agregado (17/04/2008)

O Agregado (17/04/2008)



Capítulo 4 -O Agregado

Sirius Black amava os superlativos. Era um modo de dar ênfase as suas idéias, e mesmo quando não era necessário, servia para prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa.Me escondi muito atrás da porta, e o vi passar com as suas calças brancas engomadas e sua camisa de linho branco.Usava as calças curtas para que não se amasassem.Era magro, chupado,com longos cabelos pretos e muito alinhados, teria os seus quarenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso como de costume, não de maneira preguiçosa, mas um devagar calculado e deduzido, de quem sempre tem algo a ser pensado.
Nem sempre ia naquele passo vagaroso e rígido. Também sabia ser rápido nos movimentos, tão natural nesta como naquela maneira. Ria largo, se via que era necessário, um grande riso sem vontade, mas comunicativo, a tal ponto que as bochechas, os dentes, os olhos, toda a cara, toda a pessoa, todo o mundo pareciam rir nele. Seu belo porte lhe ajudava e muito.
Era nosso agregado desde muitos anos. Meu pai ainda estava na antiga fazenda de Godric’ s Hollow, e eu havia acabado de nascer. Um dia apareceu ali se dizendo médico homeopata, levava um Manual e uma maleta. Estávamos em uma fase de crises. José Dias curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai lhe propôs ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. Black recusou, disse que trabalhava por vocação e instinto.
--Quem lhe impede que vá a outros lugares? Vá aonde quiser, mas fique morando conosco.
--Voltarei daqui a três meses.
Voltou dali a duas semanas, aceitou casa e comida, salvo o que quisessem. Quando meu pai foi eleito deputado e veio para Hogsmeade com a família, ele veio também, e teve o seu quarto ao fundo da casa. Um dia, quando voltaram as crises, meu pai lhe disse que cuidasse dos nossos escravos . Sirius Black ficou calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Tomara este título para ser aceito pela sociedade, e não o fez sem estudar muito e muito. Mas a consciência não lhe permitia aceitar mais doentes.
--Mas, você curou das outras vezes.
--Creio que sim,porém devido aos remédios indicados nos livros. Eles, sim, eles, abaixo de Deus. Eu era um charlatão... Não negue, os motivos do meu procedimento podiam ser e eram dignos, a homeopatia existe de verdade, e, por essa verdade, menti, mas é tempo de restabelecer tudo.
Não foi mandado embora como disse que merecia, meu pai já não podia dispensá-lo. Tinha o dom de se fazer aceito e necessário; sentiam falta dele, como de uma pessoa da família. Quando meu pai morreu, a dor que o atingiu foi enorme, disso sei embora não me lembre. Minha mãe que se tornara tão amiga quanto meu pai,não consentiu que ele deixasse o seu quarto.
--Por favor, fique Sirius Black.
--Então fico Dona Lílian.
Tive uma pequena parcela no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, e pendurou-as no quarto, por cima da cama. "Esta é a melhor herança”, dizia ele muitas vezes.
Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa sabedoria, não abusava, e sabia opinar obedecendo. E era amigo de minha mãe, respeitando-a, o que já o fazia suficiente. A roupa durava-lhe muito, ao contrário das pessoas que estragavam depressa o vestido novo, ele trazia o velho terno escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Estudava muito, posto que além de tudo, sabia o bastante para divertir as refeições e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio.Contava muitas vezes uma viagem que fizera à América , e confessava que se não fosse por nós, já teria voltado para lá. Tinha amigos no Brasil, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.
--Abaixo ou acima? Perguntou-lhe tio Remo um dia.
--Abaixo, repetiu Black cheio de veneração.
E minha mãe, que era religiosa, gostou de ver que ele punha Deus no devido lugar, e sorriu aprovando. Ele agradeceu de cabeça.
Minha mãe lhe dava algum ouro de vez em quando. Tio Remo, que era advogado, confiava-lhe todas as cópias de nossos documentos.

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N/A: Mais um capítulo aí...Obrigada pela força Barney!! Continuarei com a fic, pois sei agora que alguém a lê!!!

beijoss

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