Peças



Cada palavra de Cho ecoou pela minha cabeça por um bom tempo até que eu desistisse de encontrar algum sentido no que ela dissera. Apesar de tudo que ela, Lilá e Luna me disseram, algo está faltando, algo não se encaixa e eu não sei dizer exatamente o que é.


No entanto, algo dentro de mim está pedindo para parar, algo está me avisando que o que está por trás de tudo isso é pior do que eu imagino. É como se meu subconsciente estivesse implorando para eu me afastar de tudo que o envolva, ou as conseqüências serão piores do estão agora. Por outro lado, algo dentro de mim diz que agora que eu comecei, não posso parar. Eu pulei de cabeça nessa história e vou até o fim, mesmo que tenha que me afogue por causa disso.


Eu sei que o Draco já percebeu o que eu estou fazendo, ele me olha como se reprovasse minha atitude ao mesmo tempo em que tenta se reaproximar de mim, mas eu não consigo olhá-lo sem imaginar tudo que ele deve ter feito comigo. Meu coração ainda bate forte ao vê-lo, minha respiração ainda falha, mas os segredos dele me impedem de pensar em perdoar tudo: antes, eu preciso descobrir tudo. Preciso saber o que ele esconde de mim com tanto medo de ser descoberto.


Por mais que já tenha escutado muito sobre isso, eu não encontro uma resposta. A peça chave do quebra-cabeça está faltando e ninguém quer me entregá-la; ela está escondida em algum lugar, e com minha força de vontade eu terei que procurá-la.


 


 


 


Precisei de um tempo para refletir desde a última vez que escrevi, então acabei ficando um pouco embaixo de uma das árvores, em frente ao lago, presa em meus devaneios, até que Draco se aproximou, como sempre. Quando será que ele vai desistir de me procurar? E quando meus sentimentos por ele vão mudar? Por que toda a raiva que eu sinto por ele não são o suficiente para diluir os meus desejos?


Ele não parecia muito feliz, algo em seu olhar implorava por atenção; parecia até que ele queria me dizer algo, mas não conseguia encontrar as palavras certas. Desviando seu olhar de mim, ele fitou meu diário e perguntou se podia escrever nele ao invés de falar.


Fiquei em choque por um momento. Meu diário nas mãos dele? Nunca! Acabei sendo mais grossa do que deveria, deixando minha raiva sair por palavras mal medidas, as quais pegaram de surpresa o loiro, que ficou irritado comigo pela primeira vez, levantou-se e foi embora.


Na pressa de se afastar de mim, Draco deixou cair um pequeno caderno de seu bolso. Um pequeno diário, o qual eu ainda não tive coragem de abrir. Eu sinto que ao abrir, todo o meu mundo vai mudar: pode tanto melhorar, quanto desabar de vez, e eu não sei se estou preparada para nenhuma das duas alternativas.


Agora que tenho a peça que faltava em minhas mãos, eu não a quero mais.


 


 


 


Já se passaram semanas desde que tenho o diário de Draco em minhas mãos, mas ainda me falta coragem de abri-lo. Não conversei com mais ninguém desde então, não preciso mais, as respostas que eu quero estão mais próximas do que jamais estiveram, eu apenas não quero descobrir a verdade, não mais.


Draco nem sequer se deu falta do que perdeu. Já cheguei a pensar que ele deixou cair de propósito, apenas para me dar a informação que eu tanto queria, sem ter que me falar nada, sem ter que enfrentar a minha fúria logo depois. Minhas suposições têm muitas chances de estarem certas, até porque ele nem sequer me olha desde então, parece que está fugindo de mim, assim como eu estou fugindo dele, e de todos.


Sempre que tenho um momento livre, corro para o quarto, para dar uma olhada no diário, pensando que talvez tenha a coragem o suficiente para ler nos minutos que eu tenho de intervalo, mas a covardia toma conta de mim.


Eu vou enlouquecer.

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