Can't Talk About It



Can’t Talk About It




O amor nunca foi uma coisa na qual eu acreditei, e muito menos uma coisa que esperei por toda a minha vida. Com menos de dez anos já havia percebido que ele não havia sido feito para mim, e que eu nunca o sentiria verdadeiramente. Nem o amor, nem Sirius.

Eu gostava de irritá-lo durante as nossas brincadeiras infantis, durante as horas em que todos nós corríamos descontroladamente pelos terrenos da nossa casa; com o tempo os participantes das brincadeiras foram desaparecendo, crescendo, arranjando outras coisas para fazer. Menos nós. Já tínhamos passado a muito tempo da infância, já sabíamos que as nossas implicâncias não eram mais inocentes, e já não tínhamos vontade de simplesmente brincar de pega-pega; mas mesmo assim continuávamos com todo o ritual.

Acordar cedo durante as férias, tomar o café da manhã comportadamente – e esta era uma regra que apenas eu seguia. E logo após rumar cada um para um canto, sempre disfarçando. A maior esperança nunca poderia se misturar junto à pior de todas as criações dos Black. Eu não podia me misturar com Sirius, apesar de achar que, naquela relação tão incomum, quem sempre sairia perdendo seria ele, jamais eu. “Inocência a minha”, eu poderia dizer, mas, de certa forma, ele que realmente perdeu. Perdeu toda a dignidade, enquanto tentava me dar alguma sanidade ou integridade.

Éramos os mais exímios pintores, os melhores atletas, os que mais se destacavam na arte da paixão, e fomos eternamente os maiores atores. Poderíamos ser o que quiséssemos durante o tempo em que nos escondíamos no sótão mofado da mansão. Ou quando arriscávamos tudo para nadar no riacho que havia perto da fazenda de férias. Os maiores inconseqüentes daquela família, mas os que conseguiram sentir cada emoção de forma diferente, de forma verdadeira.

- Hipócrita. – Desdenhou.

O primeiro dos impasses, afinal. Meu noivado nunca foi bem aceito. Mas naquele momento ele não falava da aliança no meu dedo, nem do ar presunçoso que eu, mesmo sem entender o porquê, mantinha. Ele falava da maquiagem que eu passava pelo colo, depois nos ombros e pescoço.

- Você prefere que eu desça cheia de marcas
suas?
- Foi o que você sempre fez. – Ele deu os ombros, naquela displicência que tanto me fascinava.

Tudo nele conseguia me fascinar, ao mesmo tempo em que eu odiava ter que admitir isso. Eu preferia seus xingamentos e os seus atos bruscos, os atos e palavras que me machucavam e me deixavam viva. Não queria palavras de amor que qualquer um poderia me dar; queria o amor de um igual, o amor de um Black.

- Agora eu tenho um noivo. – Eu disse com uma displicência parecida com a dele, mas que na minha cabeça nunca poderia causar todas as sensações que a displicência
dele causava em mim.

Naquela época eu começava a pensar que quem realmente perdia alguma coisa era eu.

- Nós não podemos mais fazer isso. – Falei, sem convicção nenhuma, já que tudo o que queria era que ele ignorasse o que eu havia dito.
- Se a sua mente não agüenta mais tanta loucura. – Levantou-se, colocando sua calça jeans.

Pegou a camisa branca que usava na noite anterior e colocou-a sobre os ombros, ficando apenas de calça jeans e tênis.

- Nós não falamos mais sobre isso. – Continuou, ignorando o meu olhar sob o seu corpo; ele
adorava aquilo. – Mas como nós dois sabemos, os nossos corpos necessitam de doses infinitas de loucuras.
- Então continuamos
fazendo isso. – Completei com um sorriso malicioso nos lábios.

Aproximou-se de mim sem dizer uma palavra, me pegou pela cintura possessivamente e me beijou. Meu corpo foi parar contra a parede, sendo prensado pelo dele; pouco tempo depois ele se separou de mim, e falou, como se nada tivesse acontecido.

- Continuamos
fazendo. – Repetiu. – E não falamos sobre isso.

O fato era que nós não podíamos falar sobre aquilo, nem que quiséssemos. Era proibido demais.

Da mesma forma que eu queria dar um basta em tudo aquilo, eu precisava cada vez mais das doses de loucura que ele tanto falava, como se aquilo fosse o oxigênio que me fazia respirar; também era o que me deixava asfixiada. Sirius era daquele jeito; daquele jeito que mostrava saber que um dia eu lhe daria um fora e destruiria tudo de bom que havia nele e em sua vida. Mas ele não se importava.

Era isso que me fascinava. Ele sempre soube que nós não ficaríamos juntos, que nós não poderíamos falar sobre aquilo, e que nós não deveríamos fazer aquilo. Ele dizia que continuava comigo porque era proibido, apesar de saber que não conseguia me enganar. Ele também respirava o que nós tínhamos, e se asfixiava com o nosso relacionamento. E ele tinha coragem de levar até o final, ele queria levar até o final. Tão diferente de mim.

- Feche os olhos e finja que não é errado.

Era tudo o que ele dizia quando eu colocava os meus pensamentos sobre a mesa. Falava isso de forma indiferente. Sirius era inteligente o bastante para saber que, se implorasse por aquilo, eu já não estaria mais com ele; sabia que da forma que me tratava, ele me levava a querer decifrá-lo.

Mas com o tempo eu comecei a querer mostrar para ele que, apesar de ser tão indiferente como ele, ele deveria implorar para que eu continuasse ali. Eu passei a querer que, pelo menos uma vez na vida, ele fosse como os outros. Queria me sentir superior na presença dele, coisa que eu nunca conseguia me sentir. Ele era igual a mim, sabia todas as minhas mentiras e conhecia os meus refúgios.

- Preferia morrer a fingir alguma coisa
aqui. – Sussurrei depois de muito tempo, sem entender o motivo de falar tal coisa, ao mesmo tempo sabendo que o motivo era ele.

Ele entendeu perfeitamente o que eu disse. Entendeu que o “aqui” não queria dizer o seu quarto nem qualquer outro lugar, significava coisas superiores a um lugar; significava “ao seu lado”, apesar de eu não ter precisado falar isso em voz alta.

E eu preferia, realmente, morrer do que ter que fazer com que ele fosse mais um que tivesse que agüentar as minhas máscaras. Aquele era o nosso teatro, mas nada ali era fingimento.

- Você tem falado demais em
morte. – A voz dele quase falhou, e eu fui obrigada a encará-lo.

Estávamos na sacada do quarto dele, e a noite estava escura demais para poder admirar as estrelas, mas mesmo assim permanecíamos ali. Observei algumas nuvens escuras e pesadas, enquanto as palavras dele invadiam os meus ouvidos e me faziam pensar.

- É sobre isso que
eles têm falado. – Comentei sem emoção nenhuma.
- É isso que vocês têm feito, não é mesmo? – Revidou rapidamente.

Era isso que fazíamos, de qualquer forma. E eu não me importava em falar sobre isso com ele, apesar da promessa de não falar sobre
nada; nunca cumprimos as nossas promessas.

- Você fere, enquanto eu tento curar. – Murmurou, se afastando um pouco de mim.

Na época não entendi muito bem o que ele falava, já que ele não usava mais a indiferença comigo. Ele finalmente passou a se importar com tudo o que eu era e fazia. Eu destruía, enquanto ele tentava reparar os meus erros junto com os seus amiguinhos que, mesmo ainda estando na escola, tentavam fazer a diferença para o lado do
bem.

- Vai ser sempre assim. – Parei por um momento e suspirei, para logo depois voltar a falar com certo alívio. – Sempre haverá alguma coisa entre nós e,
finalmente você começou a se importar.

Então a indiferença voltou a tomar conta dele; não queria que terminasse daquele jeito, tão
rápido. Queria que ele o fizesse, para poder xingá-lo e amaldiçoá-lo, queria que ele demonstrasse fraqueza e covardia; queria ter motivos para poder machucá-lo também.

- Eu não me importo. – Se afastou mais um pouco. – Nunca vou aceitar, mas é a
sua vida.

Eu não estava entendendo o que ele falava, até que ele pronunciou aquelas palavras, que fizeram o meu corpo arrepiar-se e o meu cérebro parar por algum tempo.

- Só me importa o que você faz quando está do
meu lado. – Saiu da sacada, passando por uma longa cortina, segurando-a para eu poder passar também. – O que você faz nesses momentos é o vital para mim, então faça o que quiser no resto da sua existência.

Também entrei no quarto e ele se virou para mim, os nossos corpos perto o bastante para tocarem-se, mas ainda assim sem nenhum contato. E então eu fiz a coisa mais próxima de uma declaração que ele poderia receber, e foi a única que eu tive a loucura de fazer.

Beijei-o. Não da forma que costumava fazer, onde os sentimentos que eu transmitia eram paixão e desejo. Não, o beijei lenta e calmamente, mas ainda assim com urgência. Meus braços contornaram o seu pescoço e eu aproximei mais os nossos corpos, acariciava o seu rosto macio enquanto o beijava, na tentativa de poder memorizar cada pedaço dele, para quando eu não pudesse mais tocá-lo.

- O que
eu faço me atordoa, mas me fascina; me deixa de uma forma insanamente completa. – As minhas mãos percorreram os seus ombros e eu enterrei as minhas unhas ali. – Mas o que nós fazemos é o ar que eu respiro, Sirius. E é a toxina que me asfixia.

Ele começou a caminhar contra o meu corpo, me levando junto a ele, rumo a sua cama.

- Então você terá que escolher entre a sanidade e a loucura. – Me derrubou na cama, deitando-se em cima de mim logo depois. – Apesar de eu não saber qual delas nos representa.
.

A sanidade nunca esteve presente na nossa família, e nunca estaria. Já a loucura era o que nos nutria, o que nos enriquecia e o que nos deixava vivos. E Sirius tinha um pouco de cada uma; era o mais certo daquela família, o que menos delirava, mas podia ser o mais insano de todos. Era só uma questão de saber tocar nos pontos certos, atingir os sentimentos principais.

E eu não queria, de forma nenhuma, ter que escolher entre as minhas metades. Elas já estavam misturadas, e Bellatrix Black não existiria sem a loucura, mas não sobreviveria sem a sanidade que ele havia me dado. Ele me confundia, ao mesmo tempo em que me dava todas as respostas. E eu não gostava daquela sensação que eu tinha quando estava ao lado dele, de que ele sabia tudo o que eu pensava; não gostava nenhum pouco, apesar de achar que iria explodir quando isso não acontecia.

Achei que, talvez, ele ainda estivesse esperando que eu decidisse. Mas aquilo não era típico de Sirius. Ele era indiferente, mas lutaria por seus ideais até o fim. Mesmo que não soubesse onde esse fim levaria; mesmo que eu soubesse exatamente onde esse fim o levaria.

Não bateu na porta, nem fez sinal de que entraria, simplesmente abriu-a e entrou no meu quarto. Sem nem saber se eu estava sozinha, ou se seria seguro fazê-lo. Ele havia passado a não se importar com mais nada, no mesmo momento em que eu começava a me importar.

Ele tinha um malão pesado ao seu lado, e o largou no chão pesadamente, para logo depois rumar até onde eu estava. Me fez levantar da poltrona em que eu estava sentada com um puxão rude, colou os nossos corpos e tomou os meus lábios. Não havia paixão, desejo e nem ao menos pressa em seu beijo; havia punição e culpa.

Eu nunca gostei de quando ele se aproximava de mim, me beijava e logo depois agia como se nada tivesse acontecido. Todos aqueles beijos – que foram diferentes em cada compasso e nota – foram marcados por atos impulsivos e insanos demais.

Quando ele me largou e se afastou, eu continuei parada no mesmo lugar, vendo-o se afastar. Eu esperava que a poltrona ainda se encontrasse atrás de mim, porque eu tinha a sensação de que as minhas pernas falhariam a qualquer momento. Ele sempre teve um efeito estranho sob mim, mas a sua indiferença causava o pior de todos os efeitos.

Naquele momento eu percebi que não haveria apenas um dos lados a perder. Ambos acabariam perdendo, e teria sido muito melhor ter escutado as
ignorâncias que a nossa família dizia.

- Agora você já pode falar sobre isso. – Foi a única coisa que ele disse, num sussurro, antes de pegar o seu malão e ir embora para sempre.


Por um lado eu agradeci de ele ter feito o que fez, já que me poupou coisas demais. Mas mesmo assim eu queria machucá-lo, e continuei com esse desejo até que consegui realizá-lo.

E poderiam se passar milênios, que o desejo não acabaria. O desejo de destruir toda a displicência dele, toda a sua indiferença. Queria tê-lo novamente implorando, implorando por qualquer coisa, nem que fosse pela sua vida.

Tolice a minha pensar que algum dia ele iria implorar por alguma coisa, principalmente para mim. Era o orgulho, aquele maldito orgulho Black que nós sempre teríamos. E eram todas as malditas coisas na qual eu nunca quis acreditar, todas aquelas coisas comprovando-se ali na minha frente.

“Você pode fazer melhor que isso”

Eu sempre soube fazer qualquer coisa melhor do que os outros, e ele sabia disso. Então isso dava a ele a certeza de que eu também faria aquilo melhor do que qualquer um. Matá-lo seria a minha maior e melhor tarefa.

Depois de o fazer, e ver o sorriso dele continuar em seu rosto, eu não pude deixar de sorrir, de rir e de gargalhar. Enfim havia destruído tudo o que sempre me fascinara, enfim tinha destruído o que limpava os meus destroços, e agora nada mais segurava a minha loucura.

Só percebi após de um tempo que, afinal, eu nunca havia falado sobre aquilo.

Choris Romance says goodnight
Close your eyes and I'll close mine
Remember you, remember me
Hurt the first, the last between





(N/A):
Adivinhem...! MAIS UM surto de inspiração :D Eu fiquei sem internet nos últimos quatro dias, então eu tive bastante tempo sozinha com o meu Word, sem o MSN, Orkut e afins para me distrair. Enfim, eu gostei dessa song, espero que vocês também gostem =]
Beijos
Lisi Black

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