Desculpas e promessas



Rose não agüentava mais de aflição.Precisava saber o que acontecera com ele, mas era praticamente impossível conseguir alguma notícia.Àquela hora, ele deveria de estar na Ala Hospitalar e entrar lá estava fora de questão.Enfiou os nós dos dedos na boca, e sentou-se na poltrona em frente à lareira, olhando nervosamente para as chamas que crepitavam suavemente, quase que dançando.Será que ele estava bem? Algo a dizia que não.A queda havia sido feia, e ele havia sido carregado para fora do campo inconsciente.Fechou os olhos, rezando baixinho para que nada de muito grave acontecesse a ele.

-Ahn, Rosie? – A ruiva sentiu uma leve cutucada no seu braço, e abriu seus olhos repentinamente, dando de cara com Al, a olhando genuinamente preocupado.O amigo sorriu ternamente e perguntou, com uma voz carregada de cautela. – Você...Está se sentindo bem? Eu combinei de caminhar pelos jardins com Chloe, mas se você está se sentindo mal eu fico com você.Não tem nenhum problema!

Rose sorriu e apertou a mão de Al. Confiava nele quase que cegamente, mas não podia contar a ele o porque de estar sentindo-se preocupada.Isso era algo que não podia compartilhar mesmo com o seu melhor amigo. – Imagina Al. Só estava pensando nos N.I.E.M’s. Pode ir passear com a Chloe, você merece.Sorriu e soltou a mão do garoto, que balançou a cabeça, dando uma risadinha sarcástica. – N.I.E.M’S...Sei.Se eu não te conhecesse tão bem! – Al deu um beijo na face de Rosie, e despediu-se. – Vou indo...Se você se sentir à vontade pra me contar o que houve, só me procurar.

Rose soltou um suspiro, e abanou fracamente para Al. Precisava saber o que havia acontecido com Scorpius.Era praticamente sua obrigação, já que de certo modo, a culpa havia sido sua.Se ao menos tivesse batido naquele balaço com um pouco menos de força...Mas afinal, quem o mandou não se equilibrar direito em cima daquela vassoura? Isso era o que ela estava tentando enfiar na sua mente, mas a informação não estava penetrando. Malfoy...O rico e poderoso Malfoy não sabia nem se esquivar de um balaço inocente de uma garota.Que vexame. Era isso que estavam dizendo por aí, mas Rose não conseguia pensar assim.Os seus pensamentos estavam sendo dominados por sua cara de pavor quando caiu da vassoura e sobre como ele a olhou nos olhos durante a queda.

Sem nem saber o que estava fazendo, Rose levantou-se da poltrona e saiu do Salão Comunal.Deu uma rápida olhada no seu relógio, e sorriu ao constatar que o horário estava mais do que próprio.Ao toque de recolher, todos os alunos usualmente voltavam aos seus dormitórios, deixando os corredores livres e desimpedidos.Continuou a caminhar, ainda no corredor da Mulher Gorda e ouviu um barulho vindo de um corredor próximo dali.Rose olhou rapidamente para lá, e viu a gata do zelador, miando baixinho, como se soubesse que ela ia infringir o regulamento.Como não conseguiu encontrar nenhum esconderijo bom o suficiente, Rose saiu correndo em disparada, olhando ocasionalmente para trás.Arfando, chegou às portas da Ala Hospitalar, e apoiou-se nos joelhos para recompor-se da corrida desenfreada.

Abriu-as cautelosamente, e arriscou uma espiada para dentro do vestíbulo.Praticamente todas as camas estavam vazias, exceto por uma, lá longe, ocupada por um garoto de cabelos muito loiros e pele muito pálida.Olhou de um lado para o outro, tentando perceber algum sinal de Madame Pomfrey, a enfermeira.Nada.A enfermaria estava no mais completo silêncio.Com um pulo, entrou no vestíbulo, e fechou a porta.Caminhando com passos leves, Rose atravessou a sala, em direção ao último biombo.Sua respiração estava pesada, e agora que estava ali, desejava nunca ter vindo.Mas agora era tarde demais, e antes que pudesse prever, viu-se cara a cara com Scorpius deitado na cama, com um braço quebrado e um hematoma perto do pescoço, que estava com uma aparência lastimável.Rose levou as mãos à boca e deixou escapar um gemido silencioso, antes de desabar em uma cadeira ao lado da cama do garoto.

Não podia acreditar que ela havia feito isso com ele.Rose nunca fora adepta à violência nos jogos de quadribol, mas contra ele, sempre abusou da sua força.Nem sabia o porque disso.Apenas gostava de lembrar-lhe quem mandava e quem podia mais.Sentiu-se ridícula, e deixou seus ombros caírem, enquanto uma lágrima escorria do seu olho.Todos aqueles anos, tentando ser a melhor em tudo o que fazia, para machuca-lo sempre que ganhasse a oportunidade.Na maioria das vezes, Rose ganhava os desafios imaginários, por causa da sua inteligência que superava a de Scorpius.Mas agora ele estava deitado em uma cama, recuperando-se de um acidente que ela própria causara, por que as brincadeiras haviam ido longe demais.Odiou-se por inteiro, e em seguida, encostou sua mão direita na dele (a que não estava enfaixada), por puro princípio de proteção.Era quase como um juramento silencioso de que não iria mais lhe fazer mal.Mas o toque da mão quente de Rose, fez Malfoy despertar.

-Rose...O que houve? – Scorpius a olhava assustado.Seus olhos acinzentados estavam arregalados e o loiro endireitou-se rapidamente no travesseiro, o que fez suas costas arquearem de dor.Soltou um gemido baixo e olhou para Rose, dessa vez com faíscas na sua direção. – Veio aqui pra zombar de mim, é? Eu sei o que todos estão falando! Que não sou competente o bastante nem para me desviar de um balaço idiota!

Rose, ainda assustada com o seu repentino despertar, levantou-se num pulo, fazendo a cadeira em que estava sentada bater com estrépito no chão.Olhou para Scorpius, enxugando as lágrimas que recentemente haviam brotado dos seus olhos e tentou explicar-se, quase que implorando para que ele a entendesse.

-N-não! Eu não faria isso, você sabe que não! – Sua voz ficou mais firme, e Rose aproximou-se do colchão, olhando Scorpius nos olhos. – Olha...Eu...Bem, queria saber como você estava.Essa é a mais pura verdade.Porque eu aceito a minha parcela de culpa no que aconteceu... – Ela corou e desviou o seu olhar. – Também queria pedir desculpas.Eu sabia que você estava concentrado demais no pomo atrás da minha cabeça para reparar que eu estava jogando um balaço na sua direção...Eu fui estúpida e ridícula, eu sei disso.Mas não me julgue.Não vim aqui para ridiculariza-lo.Sei que é um exímio apanhador, e não acho que seja verdade o que todos estejam falando.

Por uma razão ainda desconhecida, Malfoy corou, fitando o seu braço enfaixado. – Tá, eu aceito as suas desculpas.E obrigado pelo elogio.Também acho que você é uma exímia batedora.Eu que o diga, não é mesmo? – Scorpius sorriu fracamente, e encarou Rose, que ainda estava um tanto transtornada.O garoto levou a sua mão livre até sua face, e enxugou os resquícios de lágrimas que haviam ficado no seu rosto.Rose, assustada, se afastou, tropeçando em seguida na cadeira que estava no chão. – Eu não mordo sabia? Ou será que o Sr. Thomas não a deixa ficar perto demais de mim? Porque disso eu não desconfio! – Scorpius falou, girando os seus olhos, impaciente.

-Eu sei que você não morde! E eu e o James terminamos ontem à noite, você sabe disso.Porque você foi o pivô da separação! – Disse Rose, se arrependendo logo em seguida.Não podia deixar claro que o motivo do rompimento do namoro havia sido ele, mas a droga já estava feita.Mas afinal, fora ele o culpado de tudo.Por causa dele, que havia dado um beijo na sua face no meio do café da manhã, James achou que estava acontecendo alguma coisa entre eles.Quer dizer, ele já estava desconfiando há um bom tempo e aquilo havia sido a gota d’água.Não que Rose de fato reclamara.Já não agüentava mais o namorado e só estava precisando de coragem para terminar tudo.Mas não precisava falar isso justo para o Sr. Ego Malfoy, que provavelmente se encheria de orgulho.

-Não vai me dizer que foi por causa daquele beijo! Que na verdade não foi um beijo...Foi um cumprimento de bom dia! Ele é mesmo muito antiquado, não é mesmo? – Disse Scorpius, que não podia conter um certo entusiasmo na maneira como rebateu.

-Tá esquece o James! Isso aqui é sobre nós dois. Quer dizer...Você entendeu.Acho que eu já vou indo, então...Vi que você está bem e tudo mais.Já pedi desculpas e você me desculpou.Preciso ir dormir. – Rose se afastou e no seu íntimo, esperava que ele a chamasse de volta.Caminhou devagar, atravessando a Ala Hospitalar com cautela, com medo de que a enfermeira pudesse aparecer de repente.Desapontada, Rose apoiou sua mão na maçaneta e girou-a. – Rose! Espera...Eu preciso falar com você.Assunto sério.

-A garota sorriu, ainda virada para a porta, e fechou a pequena fresta que havia aberto.Arrumou uma mecha insistente que caía sobre o seu olho, e desfez aquele sorriso bobo que ainda brincava nos seus lábios.Só assim virou-se para o garoto, e caminhou em sua direção novamente.Seus olhos estavam vidrados na garota, o que a fez ficar toda arrepiada.Sua expressão estava séria e parecia realmente que o assunto do qual iriam conversar era de extrema importância.Quando chegou perto do biombo, Rose juntou a cadeira que havia deixado cair e sentou-se nela, arrumando sua saia que estava um pouco amassada.Olhou para Scorpius, e tentou parecer o mais casual possível, dando até uma risadinha abafada. – Então, estou aqui – de novo.É melhor você falar logo, senão irão me descobrir aqui e eu receio que isso não vai ser legal.E ainda vão começar a comentar sobre nós dois, imagina só! – Rose revirou os olhos e continuou: - Mas você já deve estar acostumado, não é mesmo? Quero dizer...Ser encontrado no meio da noite com uma garota.Eu lembro muito bem de você e a Kelly P... – Mas foi interrompida bruscamente por Scorpius que soltou um muxoxo e começou a falar.

-Poxa Rose! Você não me deixa esquecer aquele lamentável episódio.Faz décadas que aquilo aconteceu.Deixa pra lá! – Rose ficou com a impressão que Scorpius achara que ela estava com ciúmes da ridícula da Kelly Prescott.Mas quando abriu a sua boca para rebater, foi interrompida novamente por Scorpius, que fez um sinal com o dedo indicador para ela ficar quieta e voltou a falar. – Deixa-me falar por um minuto, ok? Depois você fala o que bem entender. – Scorpius suspirou e olhou para o seu colo. – Eu preciso deixar bem claro uma coisa, pra você entender.Eu preciso que você entenda, porque isso é muito importante pra mim, de verdade. Rose arregalou os olhos e cruzou as pernas.Sabia que o que o garoto iria falar era de suma importância, dado ao modo como ele falava.Ele sempre falava num tom brincalhão e sarcástico, mas sua voz estava profunda, quase solene. – Então...Vou ir direto ao ponto porque odeio lengalengas.Bem...Eu não consigo parar de pensar em você e sei que você sente alguma coisa por mim também.Não adianta fazer essa cara, porque alguma coisa você sente.Eu via o modo como você me olhava quando eu beijava a minha namorada.Eu sei como é, porque eu me sentia da mesma forma com o James.Eu tinha vontade de trucidar aquele garoto patético – desculpe -, mas me segurava porque respeito você. – Rose já deslizava da cadeira e começava a suar frio. O que diabos ele estava falando?

-Depois daquele beijo que rolou entre a gente eu só penso em você! Só você consegue me deixar fascinado ao mesmo tempo em que morro de raiva.Só você responde as perguntas da professora de um jeito sexy e maravilhoso.Só você sabe como levar um homem à loucura.Você é a sabe-tudo mais interessante que eu já conheci. E...foi só por você que eu me apaixonei.E se você não quiser levar isso adiante, eu te entendo.Mas não vou desistir antes de lutar por você.Porque sei que é contigo que eu quero passar o resto da minha vida...Ou ao menos quero tentar. – Scorpius sorriu e olhou para Rose, suplicando por uma resposta.A ruiva sentiu seu corpo estremecer à medida que seus olhos acinzentados avaliavam sua alma e a faziam perder o fôlego. – Eu...Eu não sei o que dizer!

Seus olhos estavam marejados de lágrimas e sua mente insistia em voltar ao fatídico dia em que tudo acontecera.Aquele maldito dia de chuva, em que Rose caíra numa poça de lama no caminho da aula de Herbologia.Todos já estavam entrando na estufa, e Rose exclamava palavrões para a poça enquanto murmurava feitiços para secar-se, inutilmente, pois a chuva a deixava mais molhada que antes em segundos.Ouviu passos que espalhavam água e lama e descobriu que Scorpius vinha em sua direção, inacreditavelmente sozinho, pois ele sempre estava rodeado de capangas ou fãs histéricas.O garoto a ajudou, mas quando estavam indo para a aula, Rose tropeçou num toco de árvore e inevitavelmente, Scorpius caiu por cima.Seus corpos estavam colados, e a chuva fazia com o que o cabelo loiro do garoto caísse displicentemente sobre a sua testa.A respiração de Rose estava falhando e não estava nem aí que sua blusa branca estivesse mostrando mais do que realmente deveria.Seus lábios estavam separados por centímetros e Scorpius já não agüentava mais a tortura de estar tão perto da garota que estava afim por meses, quem sabe anos.Sem pensar duas vezes, o loiro encostou seus lábios nos dela, a levando a loucura com seu beijo sexy, devagar e provocante.Mas os dois perceberam a loucura e separaram-se logo em seguida, bicando um ao outro como sempre, como se nada tivesse acontecido.Desde àquele dia, nada mais havia sido comentado e dito sobre o assunto “nós dois” entre eles.Até hoje.

-Scorpius... – Começou Rose, baixinho, enquanto olhava nos olhos do garoto. – Você tem noção do que você está falando? Eu sou uma Weasley, lembra? Uma Weasley! Nós nunca seremos aceitos por ninguém...Nem pelas nossas próprias famílias! Isso não significa nada pra você? – Rose já não pôde evitar: começou a chorar.Lágrimas salgadas corriam livremente pelo seu rosto.Deixou a cabeça cair, sendo apoiada pelas suas mãos.

-Não, não significa nada! E eu sei muito bem o seu sobrenome! E não importa, Rose! Você sabe que não.Nossos pais querem o nosso bem, se eles souberem o quanto a gente se importa um com o outro, nada de ruim irá acontecer.Eles vão aceitar. – Scorpius falava com uma certa urgência na voz.Vendo que Rose desabara chorando, bateu com a mão no colchão e a chamou. – Vem cá.

Rose levantou a cabeça e o olhou, ainda chorando silenciosamente.Levantou-se da cadeira e sentou-se na borda do colchão, mas Scorpius fez um sinal de negativo com a cabeça.Ela entendeu, e deitou-se ao seu lado, acomodando-se no seu peito, um pouco apreensiva.Nunca havia deitado na mesma cama que um garoto e isso era um tanto quanto constrangedor.Mas Scorpius estava mexendo nos seu cabelo ruivo de uma maneira tão suave que era quase impossível sentir-se mal nos seus braços. – Eu prometo que não vou deixar nada de ruim te acontecer, mesmo se todos estiverem contra nós.Isso é uma promessa e um Malfoy nunca quebra uma promessa. – Rose sentiu que Scorpius levantava seu queixo e se aproximava devagar, sorrindo de uma maneira encantadora.

Rose fechou os olhos e permitiu-se sentir um beijo que ansiava por muito tempo.Seus lábios se encaixavam de maneira quase simétrica e suas línguas entrelaçavam-se de um modo quente ao mesmo tempo em que romântico.A mão de Scorpius se perdia nos cabelos cheios e ruivos de Rose, do mesmo modo que a dela bagunçava o seu cabelo loiro e cuidadosamente arrumado.Scorpius sugou o lábio inferior da menina, e começou a beijá-la no pescoço, fazendo uma excursão por sua pele quente.Rose aproveitava a sensação mais maravilhosa que já havia presenciado, explodindo de felicidade por dentro.As lágrimas que antes salpicaram seu rosto já não estavam mais presentes e a sua respiração estava pesada. – Você...não...sabe...quanto...tempo eu...esperei...por isso! Falou Rose com sua voz entrecortada.Scorpius parou de sugar seu pescoço e soltou uma risada que foi abafada pela proximidade dos dois. – Não mais do que eu. – Scorpius de um selinho nos lábios da garota e falou, corando. – Acho melhor pararmos por aqui.Nós não devemos fazer isso numa cama de hospital comigo todo quebrado.

Rose soltou uma exclamação e deu um tapa leve no ombro do garoto. – Você está insinuando que eu iria deitar com você logo no nosso primeiro encontro? – Os dois riram e beijaram-se uma última vez, antes de pegarem no sono por completo.Ainda havia muitas coisas a serem ditas, discutidas, repensadas, mas aquele simplesmente não era o momento.Rose nunca havia sentido-se tão confusa/feliz/culpada num intervalo de menos de uma hora.Sabia que o namoro com Scorpius traria muitas complicações, mas nada valia mais à pena do que estar ao seu lado.Mesmo com todo o problema entre as famílias, as brigas, as discussões, Rose sabia que iriam dar certo.Ou como dissera Scorpius, se esforçariam ao máximo para que desse.Porque o que sentiam um pelo outro era inevitável.E isso ninguém podia mudar.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.