O bruxo e o machado



Ronald Abílio Weasley aproveitou as férias de verão, logo após a conclusão do quinto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, para treinar quadribol com sua irmã Ginevra Molly Weasley. Ele ensaiou várias táticas de defesa no gol, sua posição oficial no time da Grifinória em Hogwarts do qual seu melhor amigo, Harry Potter, era o capitão. Rony e Gina, como eram mais conhecidos, ensaiaram jogadas e defesas no jardim de sua casa, conhecida como Toca Weasley localizada no vilarejo de Ottery St. Catchpole, sob o intenso sol do verão que deixava os dias muito claros e longos e o céu muito azul. Eles aproveitavam os intervalos entre as várias atividades que os pais lhe atribuíam para treinar. Os cinco irmãos mais velhos de Rony e Gina, Gui, Carlinhos, Percy e os gêmeos Fred e Jorge, estavam todos fora de casa a trabalho. Algumas vezes, os gêmeos apareciam na Toca quando conseguiam uma folga em sua loja, a Gemialidades Weasley, localizada no Beco Diagonal. Assim, as tarefas domésticas eram passados pelo Sr. e Sra. Weasley para Rony e Gina. O casal de irmãos ajudava na organização da casa e limpeza do jardim antes de realizarem seus treinos.

Em uma manhã de sol forte e de pouco vento, Rony, às pressas, fez a desgnomização do jardim, que consistia em retirar os gnomos de lá para evitar que estragassem as plantas, e catou as folhas secas na grama. Em seguida chamou Gina para mais um treino, mas teve que esperar a irmã terminar de ajudar a mãe no preparo dos pratos para o almoço que naquele dia estava especialmente caprichado porque o Sr. Weasley havia ganhado um dia de folga como prêmio por seu excelente desempenho na chefia da Seção do Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, no Ministério da Magia.

Quando Gina finalmente chegou ao jardim, começaram a treinar. Gina lançou a goles para o gol com toda a sua força e Rony conseguiu agarra-la e evitar o ponto da irmã. Desde que começaram a treinar, no início das férias escolares, Rony havia feito um grande progresso, estava defendendo muito bem e ficando cada dia mais atento e criativo em suas defesas. Ele mal podia esperar para mostrar tudo que aprendeu a Harry. Gina lançou novamente a goles para o gol e Rony defendeu mais uma vez e em sua cabeça fantasiou o momento. Imaginou-se no grande estádio de Hogwarts na final do torneio de quadribol. As arquibancadas estavam lotadas e a torcida muita animada com bandeiras da Grifinória, apitos e gritos de guerra. Rony parecia outra pessoa no gol, estava seguro e muito atento. O ataque do time rival da Sensorina tinha muito trabalho para conseguir marcar pontos. A pontuação do jogo empatava e desempatava constantemente, Grifinória e Sensorina se revezavam na liderança da partida e Lino Jordan, o narrador, levava a torcida à loucura a cada ponto conquistado. Draco Malfoy, apanhador da Sensorina, tentava derrubar Harry Potter de sua vassoura toda vez que a Grifinória passava à frente no placar, os dois trocaram esbarrões durante toda a partida. Gina lançou a goles denovo e Rony se viu cara acara com o artilheiro da Sensorina, placar empatado, todo o estádio gritava o seu nome, bandeiras agitadas, os olhos da multidão direcionados para ele. E então, Rony fez uma defesa espetacular tirando a chance da Sonserina passar a frente na pontuação. A torcida foi ao delírio, Lino Jordan anunciava entusiasmado e em alto som o grande feito de Ronald Weasley sob os gritos histéricos dos alunos que o aplaudiam de pé. Harry Potter apanhou o pomo de ouro no minuto seguinte e a Grifinória foi a grande campeã do torneio imaginário na mente de Rony. Harry lhe deu os parabéns pela defesa brilhante. Hermione Granger se aproximou de Rony , o abraçou, beijou seu rosto e disse:

_ Ron, você é incrível, beijando-o novamente.

Em seguida seus companheiros o agarraram e o ergueram em seus braços para dar a volta da vitória no campo. Lino Jordan gritava seu nome a plenos pulmões junto com a multidão:

_ Rei, rei ! Weasley é nosso rei!

Inesperadamente uma forte dor no rosto fez Rony despertar de seus devaneios, tudo começou a girar em volta dele e sua visão ficou escura. Gina o havia acertado com a goles e ele caiu da vassoura rapidamente em direção ao solo. A garota gritou e o corpo de Rony parou no ar a apenas dez centímetros do chão. Seu pai estava à frente dele com a varinha apontada em sua direção. O Sr. Weasley havia lançado um feitiço em Rony no último segundo impedindo que filho se esborrachasse no chão. Em seguida, ele desfez o feitiço e Rony completou os últimos dez centímetros da queda de maneira suave. Gina desceu de sua vassoura e correu para o irmão deitado no chão e perguntou:

_ Ron, você está bem?
_ Sim, Gina. Eu estou bem, respondeu Rony respirando com dificuldade.
_ O que houve? Perguntou o Sr. Weasley tocando o rosto muito vermelho de Rony.
_ Gina e eu estávamos treinando quadribol, eu me distrai no gol e a goles me acertou, respondeu Rony com vergonha de contar ao pai e a irmã tudo que fantasiou em sua cabeça no momento em que sentiu a pancada no rosto.

O Sr. Weasley ajudou Rony a se levantar e disse:

_ Rony, estamos sem estoque de lenha para o inverno. Gostaria que você fosse até a floresta e cortasse madeira para guardarmos, se você estiver se sentindo bem.

O desanimo tomou conta de Rony. Ele havia planejado gastar o resto do seu dia jogando com Gina e sonhando com o dia em que realmente estaria na final de quadribol em Hogwarts. Pensou em mentir para o pai, dizer que estava muito mal devido ao pequeno acidente, mas antes que ele tivesse tempo de recusar o pedido o Sr. Weasley continuou:

_ Vou rapidamente fazer algumas compras para a sua mãe, mas volto para o almoço. Na mesa da cozinha está o meu machado. Leve-o, pois ele é bem melhor para cortar a lenha. Quando chegar, ajudo você a guardar a madeira. Não demoro. Até mais, disse o Sr. Weasley saindo em seguida.

Muito a contra gosto, Rony se dirigiu para a floresta do vilarejo de Ottery St. Catchpole nos arredores da Toca Weasley. O calor era forte, sem brisa, o sol brilhava intensamente no céu azul sem nuvens e o seu rosto ainda ardia por causa da pancada. Ele transpirava e suas faces estavam quase tão vermelhas quanto seus cabelos ruivos quando chegou em meio às árvores da floresta. Rony olhou ao seu redor com a mão na testa protegendo os olhos do sol escaldante. Havia árvores muito altas e de troncos muito grossos com muitos galhos cheios de folhas que Rony não conseguiria cortar e nem carregar. Seguiu em frente à procura de árvores menores, porém quanto mais ele andava, mais via somente árvores frondosas. Continuou a caminhar, gotas de suor escorriam pelo seu corpo e ele sentia a camisa branca e úmida colar em sua pele. O rosto latejava sob o sol, Rony o sentia como se houvesse levado várias pancadas. Ele começou a ficar preocupado, pois nunca havia penetrado a floresta tão profundamente, já fazia muito tempo que ele não ia lá e teve medo de se perder. Quando era criança, Rony ouvia muitas histórias sobre aquela floresta. Eram histórias sobre bruxos que lá se perderam sem jamais voltar para casa, assombrações e seres místicos que supostamente habitavam o interior da mata e não costumavam ser muito gentis com visitantes. Quando se tornou adolescente, seu irmão Fred lhe contou que a maior parte das histórias eram inventadas pelos pais para evitar que os filhos pequenos entrassem na floresta e se perdessem ou machucassem. Mesmo assim, Rony sempre olhou para a antiga floresta com uma certa desconfiança e nunca se atreveu a percorre-la mais adentro. Procurava pegar a lenha sempre o mais próximo possível da Toca.

O calor havia aumentado e Rony desejou desistir da procura por madeira, voltar para casa, tomar um copo de água bem fresca e se deitar em uma boa sombra. Pelo caminho, os pássaros cantavam animados nos galhos das árvores como se saudassem o verão. Subitamente um forte estralo fez alguns pássaros fugirem voando e o coração de Rony disparou dentro do peito. Ele tirou a varinha da cintura, olhou para trás e viu um cervo negro, muito grande correr em meio ás árvores. O animal parecia mais assustado com o jovem bruxo do que Rony com ele e fugiu a galopes desaparecendo entre os grandes troncos. O garoto continuou caminhando e já pensava mesmo em desistir quando chegou a um ponto da floresta onde havia árvores pequenas de galhos finos e secos. Rony parou e olhou a seu redor à procura de uma árvore mais fácil de ser cortada até que achou uma e se aproximou. O suor em seu corpo era mais intenso, já se sentia cansado antes mesmo de começar a carregar a lenha e ficou alguns segundos parado, diante da pequena árvore, como que tomando coragem para o trabalho. Em sua mão suada pendia o velho machado de seu pai que estava na família há muitos anos e havia pertencido ao seu avô. Era um machado de lâmina prateada enegrecida pelo tempo e muito arranhada pelo corte de inúmeras árvores ao longo de muitos anos e o cabo era de madeira também já bem escurecida. O machado era mágico, possuía um encantamento que bastava erguê-lo e ele cortava o tronco das árvores sozinho e à noite, em sua lâmina, brilhava uma bela luz azul. Mas, até com a magia o tempo era implacável, a lâmina já não cortava a madeira com a eficiência de tempos passados e várias vezes Rony viu a luz azulada do machado se ascender nas mãos de se pai e pode notar que ela já estava fraca e sombria. O tempo lhe roubara o brilho e a intensidade. Apesar de tudo isso, o velho machado tinha um grande valor para o Sr. Weasley como uma relíquia ou uma jóia rara de família.

Na família Weasley vários objetos possuíam grande valor, porém apenas valor sentimental. Com a família numerosa e o baixo salário do pai no Ministério da Magia não era possível haver luxo na Toca. A família de Rony sempre viveu de maneira modesta na casa, seu pai nunca ligou para as regalias do dinheiro e criou seus sete filhos com muito amor e atenção, mas sem condições de dar conforto a eles. Por várias vezes Rony se revoltara na infância, e até em sua adolescência, por ter de usar as roupas velhas e surradas que pertenciam a seus irmãos mais velhos. Não se lembrava de qual foi a última vez que vestiu uma roupa nova e até o seu uniforme de Hogwarts era usado, tinha sido também de seus irmãos, e Sra. Weasley estava sempre fazendo ajustes nele conforme Rony crescia. Ele sempre ouvia de seus pais que não era necessário dinheiro e luxo para ser feliz e que valia a pena ter bom coração e ser honesto, pois bruxos ambiciosos e de coração em trevas sempre eram castigados e que grandes recompensas viriam para bruxos puros, honestos e de bom caráter. Rony admirou por muitos anos o discurso dos pais e tinha muito orgulho de ser filho do Sr. Weasley, mas ultimamente andava descrente de todos esses valores, pois via bruxos inescrupulosos e maus como Lucius e Draco Malfoy cada vez mais ricos e desfrutando de inúmeras regalias a começar pela mansão extremamente luxuosa em que pai e filho viviam junto com a mãe esnobe, Narcisa Malfoy. Draco estudava com Rony em Hogwarts, pertencia a Sonserina e era o maior inimigo de Harry. Garoto loiro, esnobe, interesseiro e mau, Draco não media esforços para conseguir o que queria, passava por cima de qualquer um para alcançar seus objetivos e mantinha os amigos dominados sob seus pés como Crabbe e Goyle também alunos da Sonserina. Pensar em tais coisas estava deixando Rony inquieto ultimamente, ele não achava que deveria ser mau, mas a recompensa de que seu pai sempre lhe falava já estava tardando e ele continuava sem recursos mais pobre do que Harry, que havia perdido os pais quando ainda era um bebê, mas tinha uma fortuna em moeda bruxa, os desejados galeões, que eles haviam deixado de herança para o garoto. Além disso, havia algo que o deixava ainda mais revoltado por ser pobre que era os seus sentimentos por Hermione Granger, sua colega na Grifinória. Seu amor por ela aumentava a cada ano que estudavam juntos, mas lhe faltava coragem para demonstrar à garota algo mais que amizade em parte por sua timidez, mas também por causa de sua condição. Hermione tinha olhos castanhos como os cabelos encaracolados, era muito inteligente, estudiosa e certamente venceria na vida. Rony pensava que alguém como ela jamais se casaria com um rapaz tão pobre e ele desejava ardentemente ser mais inteligente, vencer na vida, ter muitos galeões e pedi-la em namoro oferecendo-lhe uma bela jóia diante de uma mesa coberta de pratos requintados e bebidas caras para impressiona-la.

Rony sabia que tudo isso não passava de sonho e já que não tinha tanto talento para os estudos quanto Hermione, via no quadribol sua grande chance de ser alguém na vida, brilhar e conquistar a garota de seus sonhos. Por isso, treinava exaustivamente em casa naquelas férias de verão para um dia ser um astro de quadribol de preferência com um contrato milionário. Mas, naquele momento, o que estava diante dele era a realidade materializada no sol que lhe queimava o rosto, no machado em sua mão e na árvore a sua frente esperando para ser cortada. Rony ergueu o machado, soltou-o e ele começou o seu trabalho batendo sem agilidade sua lâmina gasta contra o tronco fino da pequena árvore. O garoto ficou por alguns minutos observando o trabalho lento do velho machado, mas o calor era insuportável e ele foi para a sombra de uma outra árvore maior bem próximo dali. Tratava-se de uma macieira de poucas folhas e frutos também escassos e pequenos. Rony pegou uma maçãzinha, sentou-se à sombra da árvore apoiando as costas em seu tronco e começou a come-la. A fruta era tão pequena que ele logo a devorou cuspindo as sementes. À sombra da macieira, Rony pode sentir pela primeira vez naquela manhã, uma leve brisa tocar em seus cabelos e refrescar-lhe o rosto suado. Ele fechou os olhos, uma sensação de leveza tomou conta de seu corpo e acabou adormecendo sob o som continuo das machadas que ecoava pela floresta.

Quinze minutos havia se passado quando Rony abriu os olhos. O garoto tinha cochilado aos pés da pequena macieira e correu os olhos em seu entorno. Uma pequena árvore estava tombada perto dele e o velho machado caído sobre ela. Rony esfregou os olhos, se levantou devagar e foi em direção à árvore caída. Ele pegou o machado e, sem paciência de esperar seu trabalho lento, começou ele mesmo cortar os galhos. Empilhou cinco galhos cortados próximo de si e secou a testa suada com as costas da mão. Quando se preparava para partir o tronco da árvore, Rony pode perceber uma leve melodia vinda de algum lugar do interior da floresta. Era uma cantiga muito suave em voz feminina, mas com um idioma que ele não conseguia distinguir. A música encantadora se misturava aos cantos dos pássaros da floresta e ele olhou para todos os lados tentando identificar de onde ela vinha. Deu as costas para a madeira no chão e começou a caminhar em direção de onde ele pensava vir o som. Andou a passos lentos e temerosos por uma pequena distância até que notou que a bela canção soava mais alto a seus ouvidos. Rony continuou a caminhar sem ao certo ter a noção de para onde estava indo e aquele canto, aquela voz o atraia muito e ele se deixou levar como se flutuasse no ar. A medida em que andava, começou a ouvir também o som de água caindo e acelerou o passo. Água fresca para beber e lavar o rosto era tudo que Rony estava desejando no momento e começou a correr.

Rony chegou a beira de um rio largo que corria em meio à uma vegetação muito fechada diferente da paisagem habitual da floresta. Naquele lugar até o ar era diferente, mais fresco e úmido e os raios solares, que refletiam nas águas cristalinas, pareciam mais suaves em luz e calor. À margem do rio era ornamentada por plantas que possuíam diversas flores de variadas cores, formas e tamanhos. As árvores eram muito altas e as folhas muito verdes. Sob seus pés, o chão era macio coberto por gramíneas verdes e espessas como um grande tapete. Uma pequena e bela cachoeira derramava suas águas sobre o rio distorcendo a imagem das plantas nele refletidas. Rony desejou pular de cabeça dentro do rio, nadar até à pequena cachoeira e se refrescar sob o véu de água cristalina, mas logo desistiu, quis apenas matar a sede. Ele se aproximou da margem ajoelhou-se, colocou o velho machado sobre uma pedra coberta de musgos, e enfiou as mãos na água. Pequenos peixes prateados fugiram assustados com o movimento das mãos do garoto dentro do rio. Rony fechou as mãos em forma de concha, lançou um pouco de água em seu rosto, nuca e cabelos e começou a bebe-la. A água era muito fresca e ele se sentia aliviado a cada gole que tomava. Depois de ter se refrescado e saciado sua sede, Rony percebeu que a melodia suave que ouvira havia cessado. À beira do rio não conseguiu avistar nenhuma mulher ou vestígios da presença de alguém. Tomou mais gole da água e quando se levantou esbarrou o cotovelo no cabo do machado que caiu dentro rio e desapareceu rapidamente em meio à escuridão da profundeza das águas. Rony se desesperou.

Ajoelhado à margem do rio ele enfiou o braço na água o mais profundo que conseguiu, mas não alcançou nada. Rony ficou por alguns estantes tentando enxergar o fundo do rio, pensou em tirar a calça e a camisa e pular na água, mas quando começou a desabotoa-la percebeu que as águas do rio começaram a se agitar e ele se afastou vendo o seu reflexo se distorcer cada vez mais no espelho d’água. No meio do rio se formou um violento redemoinho, árvores e plantas à margem se agitaram devido a uma súbita ventania que surgiu. Folhas e pétalas de flores se espalhavam pelo ar, a cachoeira cessou a sua queda d’água. O paredão de pedras, antes coberto pelo véu de água, ficou totalmente à mostra. Do centro do redemoinho começou a surgir alguma coisa que Rony, a princípio, não conseguiu distinguir. Uma sereiana de longos cabelos azuis e pele muito branca surgiu em meio às águas revoltas do rio. Um manto de água cristalina deslizava de sua cabeça descobrindo-lhe o rosto e revelando seus belos olhos tão azuis quanto os cabelos. Seu corpo era metade peixe, de escamas reluzentes e prateadas, e metade mulher formosa. Os longos cabelos azuis, que lhe cobriam os seios, estavam enfeitados por pedrinhas brilhantes e pequenas flores brancas. A bela elemental manteve-se dentro da água com seu corpo à mostra apenas da cintura para cima e sua metade peixe submersa na água. O vento e as águas se acalmaram e a sereiana encarou o rosto assustado de Rony e se aproximou dele deslizando na água. Ele deu alguns passos para trás e caiu sentado depois de pisar de mau jeito em uma pedra atrás de si. O coração de Rony estava disparado, o olhar da sereiana era inquietante, ele queria correr, mas suas pernas tremiam muito. Depois de alguns segundos ele pode ouvir a voz suave da elemental.

_ Não tenha medo jovem bruxo. Não vou lhe fazer nenhum mal.

Rony reconheceu a voz, era da bela sereiana a doce canção que ele ouvira momentos antes. O olhar dela o deixou desconcertado. Parecia-lhe que a criatura podia enxerga-lo por dentro e ler seus pensamentos. Para se livrar daquele olhar, ele se levantou e falou tenso:

_ Me desculpe, eu não queria incomodar... eu só estava...
_ Faz muitos anos que não vejo mortais por aqui. O que deseja?
_ É que... bem, eu estava com sede, fui beber a água e o meu machado caiu no rio. Na verdade, o machado é do meu pai e ele vai me matar quando souber o que eu fiz.
_ Seu machado caiu nas águas?
_ Sim, caiu.
_ Aguarde um instante, jovem bruxo.

A sereiana mergulhou suavemente e a ponta de sua calda desapareceu na água. Segundos depois ela retornou trazendo nas mãos um machado de lâmina de bronze e cabo de madeira.

_ É este o seu machado? A sereiana perguntou a Rony.
_ Não, não é este.

E a sereiana mergulhou novamente e retornou em seguida com um machado de lâmina de prata reluzente e com o cabo de madeira bordado com fios de ouro.

_ É este o seu machado?
_ Não, esse não.

A sereiana deu mais um mergulho e retornou à superfície com um machado de lâmina de ouro com o cabo de madeira cravejado de diamantes que cintilavam à luz do sol.

_ Seria este o seu machado, jovem bruxo?
_ É um machado muito bonito, mas esse não é o meu, respondeu Rony admirando a beleza da ferramenta.

E pela quarta vez a sereiana desapareceu nas águas do rio retornando com um novo objeto nas mãos. Tratava-se de um machado de uma beleza e encantamento jamais vistos por Ronald Weasley. Ele possuía uma lâmina de ouro muito dourada e cintilante e um grande cabo de madeira nobre cravejado de diamantes e esmeraldas que brilhavam intensamente.

_ Seria esse o seu machado perdido?

Rony não pode responder imediatamente. A beleza do machado cravejado de pedras preciosas fascinava-o de uma maneira entorpecente e em sua mente veio todos os benefícios que poderia ter se possuísse um objeto valioso como aquele. Era como se a luz que vinha das pedras do machado projetasse imagens à frente de Rony e ele se viu pegando o esplêndido artefato da sereiana e em seguida se encontrava muito bem vestido, morando em uma grande e suntuosa mansão com toda a sua família confortavelmente instalada e Hermione Granger estava trajada com um deslumbrante vestido branco, coberta de belas jóias, sorrindo em seus braços e dizendo:

_ Ron, você é maravilhosos. Eu te amo.

E de repente, notou o olhar profundo e impetuoso da bela sereiana surgir em meio às imagens esperando por sua resposta. E como que quebrando o encanto a voz de seu pai lhe veio a mente. “Seja sempre bom e honesto, meu filho”. Rony não teve coragem de mentir, de enganar a sereiana, respirou fundo e respondeu:

_ Isso é a coisa mais fantástica que já vi na vida, mas infelizmente não é esse o meu machado.

A sereiana olhou por alguns instantes para o reluzente machado em suas mãos e o brilho das pedras refletia em seu rosto pálido. E então, ela o soltou e ele caiu suavemente na água e desapareceu. A sereiana mergulhou sua mão dentro do rio e puxou um machado de cabo de madeira escura de lâmina gasta para o profundo alívio de Rony.

_ É esse, é esse o meu machado, falou Rony aliviado estendendo a mão em direção à sereiana.

_ Este aqui? Tem certeza? Ela perguntou como se lhe desse uma última chance, mas ele não vacilou em sua convicção.

_ Sim. É o antigo machado do meu pai. Está na nossa família há muitos anos e é de grande valor para ele. Eu estava com muito medo de tê-lo perdido para sempre. Não queria causar essa tristeza ao meu pai.

A sereiana deslizou na água até chegar bem próximo a Rony que pode sentir um suave odor de rosas que vinha dela.

_ Aqui está o seu machado, jovem bruxo, disse ela entregando-o a Rony e em seguida ergueu os braços. As águas do rio se agitaram novamente e de dentro dele saíram flutuando o machado de bronze, o de prata, o de ouro e o belíssimo machado de diamantes e esmeraldas. Ela fez um movimento com a mão direcionando os quatro machados para Rony e eles pousaram a seus pés.

_ Quero que leve estes tesouros com você, meu bom rapaz, como recompensa pela sua honestidade, seu coração puro e por esse amor que tem dentro de você iluminando-lhe a alma, disse a sereiana sorrindo pela primeira vez.

Rony demorou alguns segundos para entender o que a sereiana estava lhe oferecendo. Seus olhos se encheram de água.

_ Tudo isso, para mim?
_ Sim, você merece.
_ Você, desculpe, a senhora não sabe o que está me oferecendo. Isso significa outra vida para mim, falou Rony com a voz embargada.
_ Como eu disse, você os merece. Já faz muito tempo que os elementais tentam não perder a fé nos homens, bruxos ou trouxas, mas está difícil porque o coração humano está cada dia mais cheio de ódio e ganância. Homens como você são raros. Vá e leve consigo esse tesouro, contudo jamais permita que o dinheiro lhe corrompa o coração, seja bom e justo, divida com quem necessitar e terá sempre prosperidade, saúde, sorte e felicidade em sua vida.

Dito isso, a sereiana começou a submergir lentamente até que desapareceu por completo nas águas cristalinas do rio.

Uma intensa alegria tomou conta de Rony enquanto ele partia em direção à Toca Weasley carregado em seus braços, não um feche de lenha, mas sim o precioso machado de seu pai e os outros quatro oferecidos pela sereiana. Antes de se afastar totalmente do rio ele ouviu o barulho das águas da cachoeira que voltaram a cair emitindo um som muito suave de queda d’água. E tudo estava diferente na sua forma de enxergar o mundo que mudou apesar de continuar o mesmo, as árvores eram mais verdes, o sol mais brilhante, as flores do caminho mais cheirosas e o ar em seus pulmões mais puro e cheio de vida.

Enquanto caminhava em meio á floresta, Rony podia escutar, ao longe, a bela canção entoada pela voz doce da elemental das águas e pensou na vida maravilhosa que o aguardava daquele momento em diante. Ele estava feliz como jamais se sentira em sua existência. Graças ao tesouro conquistado, Rony poderia realizar seus sonhos de dar conforto a sua família e, principalmente, teria condições para finalmente ter em seus braços a garota que mais amou em toda a sua vida.

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