Olhos... Olhos insanos...



- Eu os vi... Perfuraram minha alma... Pior do que qualquer dementador... – murmurou Harry sentando no chão da sala de sua casa.
- Harry? Você já chegou? – perguntava uma voz doce vinda da cozinha, a voz o reconfortava de uma maneira incrível, mas os olhos ainda estavam em sua mente... Cinzas, olhos cinzas que revelavam a loucura ainda presente.
- Não agüento! Eu não suporto. – berrou o bruxo levantando e chutando o sofá.
- HARRY? – Gina mostrou-se indignada... Ela não entendia... Olhos... Olhos... – Esqueceu-se das crianças meu bem?
Ela o beijou levemente, o amor voltou ao seu coração, ele voltou a ser humano.
- Tome um banho quente, estou preparando o jantar.
Ele não protestou, caminhou lentamente pelo corredor, tentando não se lembrar... Fazendo força para apagar de sua mente...
Mas quando ele olhou o espelho e fitou os seus olhos verdes lembrou dos outros... Um olhar insano que o levava cada vez mais à loucura, loucura... Loucura...
Harry entrou no banho e deixou a água quente cair pelo seu corpo, como se elas pudessem limpar as impurezas do seu pensamento, limpar cada recanto de insanidade que devorava sua mente aos poucos.
“Onde você está com a cabeça Harry Potter?” Viu-se perguntando para si mesmo. “Você derrotou Lorde Voldemort, venceu na vida, é casado com a mulher de seus sonhos, tem duas filhas lindas... Vai deixar ele, justo ELE acabar com tudo?”. Ele mesmo respondeu: “Seus olhos... Não eram comuns... Tinham sede... Sede de vingança... Ele virá! Sim, ele virá! Minhas filhas!”.
Harry abaixou a cabeça e chorou, cada lágrima misturava-se com a água quente em seu rosto... Aquele não era Harry Potter, não o bom e velho Harry Potter... Ele tinha consciência disso, mas não assumia. Os olhos eram só uma desculpa, uma espécie de máscara, que está sendo culpado por aquilo que chamam de loucura, ele, Harry Potter... Louco? Talvez, depois de tantas pessoas mortas fulgurarem em seu campo de visão, em seus sonhos, sonhos de guerra, sonhos estranhos.
Saiu do banheiro lentamente, olhando para cada canto escuro da casa, olhando para cada centímetro onde ELE estivesse escondido, “Como poderia escapar de Azkaban? Como poderia estar ali, em frente a sua casa?” pensava freneticamente, talvez fosse melhor ir embora, deixar as coisas para trás... Ir para casa de Hermione e Rony, ir para um lugar onde aqueles olhos não possam perseguí-lo, onde aqueles olhos não poderiam fitá-lo, onde aqueles olhos seriam eliminados da sua mente.
- Papai! Papai! – era o grito que ouvia de longe durante o seu devaneio, era o grito que iluminava seus dias sombrios e chuvosos, era o grito que exalava o poder do sol dentro de casa.
- Estou aqui filha. – respondia sempre, saiu quase automático, pois não estava com cabeça para isso. A bruxinha entrou na biblioteca, era idêntica a Gina, cabelos, olhos, temperamento. Só tinha cinco anos.
- A mamãe, mandou avisar que o almoço sta na mesa. – ela disse do seu jeito encantador, que marejou os olhos de Harry.
- Pede pra ela guardar um pouco pra mim, tá?
- Tá.
Vendo sua filha sair ele se lembrou de toda dor e sofrimento que passou para chegar inteiro até aqui.
Lembrou de Voldemort, lembrou da profecia, lembrou-se de Lúcio Malfoy e seu filho, ambos enviados para Azkaban. E principalmente, lembrou daqueles olhos cinzas, odiosos, “Eu voltarei Potter, e você me sentirá por perto” ele havia exclamado antes de ser levado pelos aurores, antes de ficar louco com os novos dementadores, antes de conseguir fugir, antes de tentar cumprir sua palavra.
- Draco... Draco... Se não for agora, não será jamais... – disse bebendo um pouco de vinho. – Você já me enlouqueceu, já me fez sentir o gosto amargo da insanidade, agora só me resta a morte, o que será um imenso alívio.
Harry não viu o tempo passar, não viu quando o dia chegou e ele teria que sair de casa para trabalhar, seria novamente seguido por aqueles olhos, olhos que escureceriam o mais claro dia de verão.
- Harry...? Querido...? Porque você não foi dormir? Está tudo bem com você? – perguntou Gina entrando na biblioteca.
Nem a figura alegre e inocente de Gina fez o mundo voltar ao normal, o mundo girava, girava em torno daquilo que ele mais temia, daquilo que ele mais odiava no mundo: a vingança.
Ele disse algo parecido com: “Passando mal” e recusou-se a levantar do divã para fazer qualquer outro tipo de coisa durante aquele dia belo de verão, recusou-se a falar com suas filhas e recusou-se ver Gina, sabia que ELE estava presente, vigiando sua mente esperando o momento mais propício para descobrir fraquezas e acabar enlouquecendo Harry de vez.
- Oclumência... - murmurou o garoto sorrindo. – O que o Snape dizia mesmo? Snape... O professor mais odiado que tinha dado a vida para que Harry obtivesse sucesso.
Muitas pessoas fizeram isso, acabaram se sacrificando pelo povo bruxo e por Harry, que agora enlouquecia cada vez mais, vítima DELE, que entrava em sua mente o tempo todo, aos poucos eliminando a força do inimigo.
Harry tinha plena consciência disso, tinha plena consciência da morte...
Tanto que ele nem se importou quando ouviu a porta de casa ser aberta, não se importou quando viu um Draco Malfoy escadavérico entrar na biblioteca, não se importou quando ele gritou “AVADA KEDAVRA”, mas se importou com uma coisa: Os olhos, os olhos cinzas que cravaram em sua mente, que acompanharam-no por toda a eternidade.

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