Por Pouco



Por Pouco

Quando Hermione fechou a porta do banheiro, ainda pensando no rapaz de olhos verdes, ouviu um ruído atrás de si, e virou-se, assustada. Era Kevin, sentado na beirada de sua cama, a beber. Enfrentou-o, e não gostou do que viu: Kevin tinha os seus olhos vermelhos, e Hermione se apercebeu de que a garrafa que ele tinha em sua mão já estava meio vazia. Mas, como ele...? “Droga! A janela!” Olhou de relance para o seu lado direito e os seus olhos pousaram sobre as venezianas entreabertas, confirmando o inevitável. Ele invadira o seu quarto através da janela aberta sem dizer ou fazer barulho absolutamente algum, o que não deixava de ser impressionante, pois parecia consumido pela bebedeira.
De repente, ele se levantou, cambaleando. Hermione recuou, alarmada.

— Quer um trago? — a sua voz estava fanhosa por causa da bebida. A de Hermione saiu calma, mas por dentro tremia.

— Não, obrigada.

— É claro que quer. — prendeu-lhe os dois braços com uma mão e com a outra levou a garrafa à boca dela. Levantou o fundo, entornando-lhe uísque para a blusa, mas assim mesmo fazendo com que uma boa porção de líquido tivesse entrado pela boca de Hermione, apesar do esforço que ela fazia para lhe resistir.

— Pare! Deixe-me em paz... largue-me!

Ele riu-se, observando o mal-estar dela enquanto as lágrimas lhe enchiam os olhos e a atirou para cima da cama.

— Dispa-se.

— Kevin... por favor... — ela começou a se levantar e a recuar para longe dele, mas Kevin lhe agarrou as pernas e a empurrou para o chão, se ajoelhando e atirando a garrafa para longe. O quarto ficou a cheirar a uísque barato. — Por favor... não... — não lhe disse que era virgem. Não sabia o que lhe dizer. Estava a chorar quando ele lhe arrancou a blusa.

— Costuma dar umas com os outros, não é verdade, amor?

— Não sou seu amor... pare com isso! - a seguir, com um punho fechado, lutando pela vida, ela o atingiu. Atingiu-o em cheio no olho, e ele gemeu, mas agarrou-a e esbofeteou-a com força. Com tanta força que a deixou sem fôlego.

— Ordinária! Disse-lhe para se despir! – lhe tirou as calças com uma mão, mantendo-a no chão com a outra, com todo o seu peso sobre ela, e Hermione pensou que ele lhe ia partir os braços. Mas não se importava. Ele teria de matá-la antes de possuí-la. Lutou como um animal selvagem, mas não podia competir com ele. Kevin atirou-a várias vezes para o chão, praguejando e insultando e, de repente, com um som seco, lhe arrancou as calças. As coxas pálidas de Hermione surgiram perante os seus olhos. Ela tremia.

— Não... Kevin... por favor... - soluçava quando ele lhe arrancou a tanguinha, continuando a segurá-la com uma mão forte, os braços dela bem acima da cabeça, os joelhos a mantendo quieta.

Acariciou-a com a mão livre, e enquanto ela continuava a soluçar e a implorar, Kevin começou a desapertar as suas calças. No entanto, antes que ele conseguisse fazer fosse o que fosse, Hermione sentiu todo o peso masculino sobre si desaparecer a pouco e pouco, até evaporar por completo. Trêmula de pavor, ela abriu os olhos. Viu Willian arrastá-lo pelos pés até um canto do quarto, abrir uma gaveta qualquer da cômoda e pegar a primeira peça de roupa que lhe apareceu à frente.

— Se vista e saia daqui, Hermione. — ele disse com certo tom de piedade oculto, evitando 0lhar o corpo totalmente nu da garota encolhida de medo e vergonha.

Em estado de choque e sem falar palavra alguma, Hermione se ergueu tomada pela sensação de embaraço, seu rosto ora pálido, ora corado. Ela envolveu a roupa em torno de si com os dedos bastante trementes e correu dali como uma menininha afligida aos tropeções.

Willian deixou o quarto feminino logo de seguida, tendo o cuidado de trancar a porta depois de sair. Quando voltou, Kevin continuava no mesmo sitio, a rir baixinho, como um mongolóide. Aquilo o enfureceu de tal maneira, que ele sequer pensou duas vezes antes de jogar a água fria que trouxera em um recipiente pela cabeça abaixo.

Além de sentir o líquido frio escorrer pelo seu peitoral, Kevin sentiu também algo sólido… cubos de gelo. A água estava a ponto de congelá-lo, mas em vez disso, ele despertou de mau humor, com a cabeça pesada, dorida. E para seu desespero, Willian começou a berrar com ele.

— Hei! — Kevin interrompeu em voz baixa, elevando os braços em sinal de impotência, enquanto sua cara se contraía de consternação.

— Como pôde? — Willian andava irrequieto pelo quarto pequeno. Parou abruptamente. Aos seus pés jazia uma garrafa de uísque quase vazia ou vazia. Riu irônico. Claro que se enganara redondamente quanto à teoria de uns copos a mais… Pra quê continuar a encobrir se a prova estava mesmo debaixo do seu nariz? Em vez de copos, fora uma garrafa pela goela abaixo. — Ela ainda é uma garota… — seus olhos azuis percorriam indignados os farrapos que minutos atrás seriam o sutiã e a calcinha de Hermione. A sua Hermione… De súbito, tudo começou a se tornar insuportável, o riso maquiavélico de Kevin, o cheiro a álcool emaranhado no ar, os trapos espalhados no chão… Agoniava-se só de pensar que poderia ter chegado tarde demais a casa, quando Kate lhe pediu mais dez minutos de seu tempo… Só de pensar que o pior poderia realmente ter acontecido…

Largou um longo suspiro. Estava tudo bem, ou pelo menos, parte disso estava bem.

— Vou levar-te a casa. — Willian informou em tom seco.

*

Como ela não imaginara aquela probabilidade? Como fora tão burra em não perceber? Talvez… talvez gostasse mesmo dele e, cega, não conseguia ver a realidade nem a verdade. Não… ela não podia gostar daquele monte de insignificância. Ele era esperto como os cães, e ela fora enganada. Nada mais havia além de um engano interesseiro por parte dele.

Sentindo-se uma miserável, Hermione enxugou as lágrimas teimosas e puxou o cobertor até o pescoço, adormecendo perto do alvorecer.

Levava flores até a sepultura robusta de Johanne Granger. Ajoelhava-se e começava a soluçar tristemente, confessando que não havia alguém que cuidasse dela, senão ela própria. Ninguém que gostasse dela, senão ela própria. Que apesar de tudo, sentia-se sozinha e perdida. E suplicou, gritou, para a mãe a vir buscar. Mas a única resposta foi apenas um burburinho ventoso, o ar morno a envolvendo como uma bolha protetora. Algo parecido com a sensação de um déjá vu.
Será que Hermione entendera a mensagem?


*

Acordou com os raios de sol penetrando as frestas da veneziana branca e, assim, iluminando o quarto de hóspedes. Um dia quente e harmonioso se iniciava. Hermione conseguia ouvir de longe o leve piar dos pássaros. Entretanto, a sua mente, devagar, repassava o deprimido acontecimento de ontem à noite. A ânsia de vômito roncou no seu estômago, obrigando-a a erguer-se de um pulo e correr apressada para o banheiro interligado ao vestíbulo.

Meia hora depois, Hermione possuía um rosto tão pálido quanto os mortos, o cabelo ondulado completamente desalinhado, os olhos vazios sem brilho nem ânimo, o pijama escuro meio amassado, mas com estranha perfeição emoldurada em seu corpo. Nem desse jeito ela deixava de ser linda, Willian observou, sentado na beirada da cama grande.

— Eu vim ver se você tava bem. — ele começou, pretendo explicar a sua presença quando Hermione arqueou as sobrancelhas em uma pergunta silenciosa. — Mas como você não me respondeu, decidi entrar.

Hermione sentou-se ao seu lado e, como a coragem para fitá-lo sumira, ela preferiu fixar o olhar num ponto inferior da parede à sua frente. Todavia, a sua reação não passou despercebida aos olhos de Willian, que a contemplava ao pormenor, sério e intenso. Ela corou com a atenção exagerada, quase soltando uma gargalhada amarga quando ele falou:

— Ouvi barulhos vindos do banheiro. Má-disposição? — o som másculo era suave e amigável.

Hermione hesitou por uns instantes, acabando, depois, por encolher os ombros laconicamente. A sua voz naquele momento era pouco confiável, e é claro que ela se sentia pessimamente mal. Na verdade, não estava interessada em falar sobre o quer que fosse, não quando a conversa chegaria a outros extremos, com voz fraca ou não, com disposição ou não.

Para sua surpresa, Willian tomou lentamente a sua mão gelada entre as dele. Ela permitiu a carícia meiga dos dedos fortes.

— Hermione… — indiretamente ele lhe pediu para ela o olhar. Ela o fez. — Ao contrário do que você pensa — Willian se cravou na profundidade cor de mel sombria. —, eu sou seu amigo.

Que mais haveria de ser?

Hermione continuou em silêncio. Será que ele não percebia que ela não queria conversar? Podia até parecer uma egoísta insensível, mas droga, ela não merecia a pena nem a compaixão de ninguém, ela não queria misericórdia. Será que era difícil deixá-la a sós com a sua infeliz melancolia?

— Vou ligar pra Gina e ela te faz companhia. — apesar da bondade, Willian compreendeu a luta que ela travava interiormente. Bem, se Hermione não desejava a sua simpatia ou o seu apoio, ele não iria forçá-la a nada.

Ergueu-se com certo pesar, ela notou, sentindo-se ainda mais miserável por dispensá-lo de modo tão frio. Tudo bem, ele era filho de Grace, o seu sangue cruel circulava nas veias dele, mas tinha de admitir… Willian inalava sinceridade.

Ele já abrira a porta quando Hermione se levantou subitamente.

— Willian! — o seu rosto transmitia uma ansiedade brusca. Ele virou-se muito rápido, com o coração aos pulos. — Obrigada.

Será que ele esperava ouvir outra coisa? Pelos traços meio que desiludidos, meio que surpresos, talvez sim. Mas então, ele abriu um sorriso afetado e tão atraente que Hermione sentiu um súbito fascínio por ele.

— Sempre às ordens senhorita! — Willian galhofou, saindo do quarto com um ar brincalhão.

Hermione deu consigo mesmo a sorrir sozinha no meio do aposento.

*

— Alô?

Sentada com as pernas cruzadas, Gina saboreava um gelado na esplanada de uma lanchonete quando o seu celular começou a tocar. Retirou-o da bolsa e surpreendeu-se. Willian? Ele nunca lhe ligava. Mas também, pouco importava.

Aqui é Willian.

Ela revirou os olhos.

— Eu sei ler.

Do outro lado da linha, Willy fazia uma careta. Mas não era hora para discórdias, pensou. Com bastante delicadeza, ele introduziu o assunto, informando-a sobre os terríveis detalhes e por fim convidando-a a passar por lá por casa.

Gina estava pálida até à raiz dos cabelos ruivos. Como aquele sacana tivera o atrevimento de violentar a sua amiga? Aquele cafajeste ambicionara estragar a pureza de sua amiga à força. Roubar-lhe a inocência e toda a sua doçura… Destruí-la como mulher… Imbecil!

— Não arranje mais sarilhos. — Willy avisou de imediato, percebendo o seu silêncio.

Ainda em meio em seus pensamentos, Gina demorou um pouco a raciocinar sobre a advertência repentina.

— Fique tranqüilo. Com certeza Hermione não deseja que se espalhe a novidade aos quatro ventos. O problema… — ela debatia enraivecida com a própria idéia, uma idéia bem real no mundo “Kevin”. — O problema é o que o seu amigão irá ventanear por aí? Falando no diabo…

Ela desligou o celular sem pré-aviso. Abriu a bolsa e pegou alguns centavos, colocando-os em cima da mesa. Levantou-se e seguiu o fulano que virou na esquina próxima.

Esquecera-se do combinado. Do sigilo. Do máximo de cuidado a ter com a situação delicada. E agora avançava na direção oposta à casa de Hermione. Esquecera-se de tudo, menos da presa, a maldita presa que se movia à sua frente, solitária e carente de ajuda, assim como ela própria. Um para um. Um para uma, corrigiu sarcástica.

Louca, ela estava louca de raiva.

Não demorou muito até demonstrar o que lhe ia na alma…

Completamente descontrolada, ela galgou de encontro às costas de Kevin e, sem pensar, totalmente fora de si, o empurrou com uma força incrível que ele acabou por cair ao chão.

— COBARDE!

O berro era ainda pior que um tiro na perna. A cabeça estava refluída da conseqüência de bebida a mais. Mal conseguia mexer-se para se erguer e tomar o domínio sobre situaçãozinha. Não estava com paciência para ouvir insultos por causa da sua queridinha amiga Hermione, mas a merda da ressaca não ajudava em nada e aquela louca estava em superioridade porque o apanhara distraído e sem energia até para apertar um botão.

Gina pegou em um pedregulho do tamanho de sua mão para fazer sabe-se lá o quê…

— Vamos conversar… — ele tentou acalmá-la, enquanto se levantava de modo esquisito, encostando-se à parede, subitamente alarmado.

— NÃO QUERO CONVERSAR! — postou-se na frente dele, mas não o suficiente para que Kevin a desarmasse ou tomasse partido sobre ela, a pedra erguida na altura de seu ombro. — VOCÊ VAI MANTER O BICO BEM FECHADO! OUSE HUMILHAR MINHA AMIGA E EU TE DESFIGURO ESSE ROSTO NOJENTO SEU IMBECIL!

Ah, como era gostoso ameaçá-lo. Graças a Deus ele estava em aquele estado lastimoso, ou a chantageada seria ela mesma.


*

Com os olhos molhados, Draco ria sem parar, mas o riso morreu assim que viu uma ruivinha um pouco… muito… demasiado… irada.

— Será melhor a gente ir lá? — interrogou Harry, vacilante, olhando de Gina para Kevin e de Kevin para a pedra que ameaçava voar na sua direção.

*

— Você é uma peste, sabia? — Kevin rebateu em tom rouco. — Sabia também que sua amiguinha é bem gostosinha?

— SEU PORCO!

O que aconteceu depois foi com uma velocidade demasiado veloz para que Gina entendesse com eficaz clareza.
Lembrou-se de se flexionar para a frente num gesto violento, a pedra quase voando de sua mão tensa de tanto apertar o granizo, a transformação da face irônica de Kevin para a face chocada… Dois braços fortes rodearem o seu corpo furioso e a voz áspera em seu ouvido soletrando “Calma, miúda!”… Ela debateu-se com todas as suas forças, mas os braços masculinos pareciam aço, arrastando-a para trás.

— ELE TÁ FUGINDO! — Gina berrou para o rapaz de olhos verdes que tentava sacar-lhe a pedra da mão. Contorceu-se mais uma vez nos braços do loiro corado, mas Kevin já desaparecera.

— Larga essa pedra antes que machuque alguém.

Gina desistiu e deixou a pedra cair no chão. Onde ela estivera com a cabeça? Hermione precisava dela, e ela ali, armando escândalo quando na verdade era a última coisa de que necessitava.

Draco parecia estourado quando a soltou. Bufando, sentou-se. No entanto, não podia esconder a atração por aquela rapariga docemente bruta.

— Mas o que foi isto? — Harry interrogou, por fim.

— Eu tenho de ver Hermione! Me desculpe!

— Mas quem é Hermione? — o mau presságio de que a sua intuição estivesse correta era frustrante. — Hei! Espere! — advertiu ele, quando Gina começou a afastar-se, correndo.

“Droga! Aquela ruivinha não existe!” Draco pensou.
— Você vai atrás del…? — a sua voz definhou acompanhada com uma careta, pois Harry não mais se encontrava ao seu lado. Levantou-se e seguiu os dois.


ALELUIA! EU POSTEI! Me desculpem este atraso mesquinho, mas é que dei tantas voltas com o capítulo, e já devem ter notado que não saiu totalmente igual à prévia… Bem, eu quero aproximar os casais principais, Harry/Hermione, Draco/Gina o mais rápido possível…
Não se preocupem que esse Kevin logo vai ter o que merece… por enquanto ele agora vai amansar e depois atacar… mas, já viram mais um probleminha pro casalzinho h/h? o verdadeiro problema… ou dilema!
Eu quero agradecer a todos os vossos comentários, todinhos… os viciados, os desesperados, todos… gente obrigada de coração. Desculpem por demorar tanto assim… conto com os novos comentários, ok?
Próximo capítulo… vou tentar não demorar… depende da quantidade das pessoas que comentarem. E espero que tenham gostado do capítulo… é eu sei, não tem muito que se gostar, mas pronto. Espero que satisfaça pelo menos um pouquinho a vossa exigência e gosto.
Mais uma vez obrigada a todos que leiam, votam, comentam a fic. De coração e alma. Bjao pra todos vocês.

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